sábado, 18 de junho de 2016

#628 1992 O MISTÉRIO DE CANDYMAN (Candyman, EUA)


Direção: Bernard Rose
Roteiro: Bernard Rose (baseado no conto de Clive Barker)
Produção: Alan Poul, Sigurjon Sighvatsson, Steve Golin; Clive Barker (Produtor Executivo)
Elenco: Virginia Madsen, Tony Todd, Xander Berkeley, Kasi Lemmons, Vanessa Williams, DeJuan Guy, Marianna Elliott

Candyman, Candyman, Candyman, Candyman, Candyman! Tô escrevendo isso na frente de um espelho para ver se um negão com um gancho na mão aparece para me estrebuchar! Afinal, essa é a tônica da trama de O Mistério de Candyman, um dos “clássicos dos anos 90”, baseado no conto “O Proibido” de Clive Barker, presente na coletânea “Livros de Sangue”. Em um primeiro olhar nada meticuloso, pode-se imaginar que o personagem Candyman, vivido pelo eterno coadjuvante de filmes B, Tony Todd, é mais uma tentativa de emular Freddy Krueger e se iniciar uma nova série slasher aos moldes de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13. Um personagem é morto de forma cruel e volta à vida munido de uma arma cortante (nesse caso um gancho substituindo sua mão decepada) para matar suas vítimas. A cena de abertura também parece seguir o mesmo padrão slasher movie: uma babá leva seu namorado bad boy para casa (que é interpretado por Ted Raimi, o irmão do Sam) e reza a lenda urbana de que se você repetir cinco vezes o nome de Candyman na frente do espelho, ele irá aparecer (tipo a nossa Loira do Banheiro, saca?). Eis que o casal de corajosos evoca a entidade e se dão mal, obviamente. Só que aí já começa a pintar qual é o verdadeiro subtexto por trás de O Mistério de Candyman: a luta de classes e a exclusão racial. E mais que isso, diferente dos filmes adolescentes de matança, temos um Clive Barker por trás, como produtor executivo, o que garante uma profundidade maior nos personagens e suas motivações. Além de uma direção segura de Bernard Rose, que tenta evitar o máximo do clichê do personagem, com sua voz grave, poderes hipnóticos, trajes e trejeitos. Helen Lyle (Virginia Madsen) é uma antropóloga que está escrevendo sua tese de pós-graduação sobre lendas urbanas, quando se depara no conto de Candyman. Por meio de testemunhas, ela descobre que na comunidade carente de Cabrini Green, localizada na periferia de Chicago, conhecida por sua criminalidade, violência e falta de saneamento básico, onde a população negra de baixa renda da cidade vive, há um rumor de que não só a lenda urbana existe, como está fazendo vítimas por lá. Claro que ela não acredita nas superstições e acaba por praticar o ritual que traz o monstro ao seu encalço. Ela adentra pelos apartamentos descuidados de Cabrini Green e não vai demorar para descobrir que não foi uma boa ideia evocar Candyman, e que a lenda na verdade tem seu fundo de realidade, quando a criatura sobrenatural atende ao chamado, iniciando um poder hipnótico controlador sobre a garota, subsequente a uma série de terríveis assassinatos que acabarão a incriminando e fazendo sua própria sanidade ser questionada. A origem de Candyman remete ao ano de 1890, quando Daniel Robitaille era filho de um escravo negro que acumulou uma pequena fortuna trabalhando na confecção de sapatos. Só que ele acaba se apaixonando e engravidando a filha branca de um fazendeiro poderoso, e o pai da moça resolve se vingar, espancando o pobre diabo e levando-o onde hoje está localizado Cabrini Green. O senhor e seus empregados o amarram, cortam uma de suas mãos e o lambuza de mel, de modo que um enxame de abelhas o ataca (daí o nome, Candyman, que teria como tradução livre Homem-Doce). Depois ele tem seu corpo queimado e suas cinzas espalhados por todo o vilarejo. Ou seja, o verdadeiro medo presente em Candyman, não vem de seu gancho enferrujado ou do seu séquito de abelhas, mas sim, das preocupações referentes aos relacionamentos amorosos e sexuais de homens negros com as mulheres brancas caucasianas. E também o medo dos negros, pobres, sem condições melhores de vida saírem de seus guetos e adentrarem nos suntuosos bairros e prédios da classe média alta (como bem identifica a cena de abertura com a babá branca sendo trucidada em sua segura e confortável casa do subúrbio). São questões sociais muito bem pontuadas nas entrelinhas, entre a fotografia gótica do esconderijo de Candyman, que é obrigado a viver entre as paredes, a tonelada de gore que Rose imprime no filme e a excelente trilha sonora de Philip Glass. Além é claro, da atuação acima da média de Madsen e a eficácia de Todd em encarnar o personagem e meter medo. Mas o foco mesmo está na segregação racial que existe na América há séculos, e toda a repressão é representada pelo anti-herói negro, assustador e violento, que virá em busca de vingança se for chamado. Fora isso, O Mistério de Candyman é extremamente anos 90 e um filme que em seus moldes só poderia funcionar naquele período. Até as questões urbanas são inerentes àquela década: a escalada da violência na periferia, guerra de gangues, drogas, tudo acontecendo em comunidades sem segurança e com seus muros pixados, alocadas em complexos habitacionais intencionalmente separados do resto da cidade. Não que hoje em dia seja diferente, mas a estética é outra. Mesmo com seu final trágico e pessimista e a subida de tom com relação aos seus paresslashers, O Mistério de Candyman conseguiu fincar mais um personagem icônico no panteão dos movie maniacs (segundo de Barker, depois de seu Pinhead de Hellraiser – Renascido do Inferno), faturar mais de 25 milhões de dólares de bilheteria (mediante o baixo orçamento de seis milhões) e garantir mais duas sequências, fechando uma trilogia.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/18/628-o-misterio-de-candyman-1992/

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