Direção: Bernard Rose
Roteiro: Bernard Rose (baseado no conto
de Clive Barker)
Produção: Alan
Poul, Sigurjon Sighvatsson, Steve Golin; Clive Barker (Produtor Executivo)
Elenco: Virginia
Madsen, Tony Todd, Xander Berkeley, Kasi Lemmons, Vanessa Williams, DeJuan Guy,
Marianna Elliott
Candyman,
Candyman, Candyman, Candyman, Candyman! Tô escrevendo isso na frente de um espelho
para ver se um negão com um gancho na mão aparece para me estrebuchar! Afinal,
essa é a tônica da trama de O Mistério de Candyman, um dos “clássicos
dos anos 90”, baseado no conto “O Proibido” de Clive Barker, presente na
coletânea “Livros de Sangue”. Em um primeiro olhar nada meticuloso, pode-se
imaginar que o personagem Candyman, vivido pelo eterno coadjuvante de filmes B,
Tony Todd, é mais uma tentativa de emular Freddy Krueger e se iniciar uma nova
série slasher aos moldes de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13. Um personagem é morto de forma cruel e
volta à vida munido de uma arma cortante (nesse caso um gancho substituindo sua
mão decepada) para matar suas vítimas. A cena de abertura também parece seguir
o mesmo padrão slasher movie:
uma babá leva seu namorado bad boy para
casa (que é interpretado por Ted Raimi, o irmão do Sam) e reza a lenda urbana
de que se você repetir cinco vezes o nome de Candyman na frente do espelho, ele
irá aparecer (tipo a nossa Loira do Banheiro, saca?). Eis que o casal de
corajosos evoca a entidade e se dão mal, obviamente. Só que aí já começa a
pintar qual é o verdadeiro subtexto por trás de O Mistério de Candyman: a
luta de classes e a exclusão racial. E mais que isso, diferente dos filmes
adolescentes de matança, temos um Clive Barker por trás, como produtor
executivo, o que garante uma profundidade maior nos personagens e suas
motivações. Além de uma direção segura de Bernard Rose, que tenta evitar o
máximo do clichê do personagem, com sua voz grave, poderes hipnóticos, trajes e
trejeitos. Helen Lyle (Virginia Madsen) é uma antropóloga que está escrevendo
sua tese de pós-graduação sobre lendas urbanas, quando se depara no conto de
Candyman. Por meio de testemunhas, ela descobre que na comunidade carente de
Cabrini Green, localizada na periferia de Chicago, conhecida por sua criminalidade,
violência e falta de saneamento básico, onde a população negra de baixa renda
da cidade vive, há um rumor de que não só a lenda urbana existe, como está
fazendo vítimas por lá. Claro que ela não acredita nas superstições e acaba por
praticar o ritual que traz o monstro ao seu encalço. Ela adentra pelos
apartamentos descuidados de Cabrini Green e não vai demorar para descobrir que
não foi uma boa ideia evocar Candyman, e que a lenda na verdade tem seu fundo
de realidade, quando a criatura sobrenatural atende ao chamado, iniciando um
poder hipnótico controlador sobre a garota, subsequente a uma série de
terríveis assassinatos que acabarão a incriminando e fazendo sua própria
sanidade ser questionada. A origem de Candyman remete ao ano de 1890, quando
Daniel Robitaille era filho de um escravo negro que acumulou uma pequena
fortuna trabalhando na confecção de sapatos. Só que ele acaba se apaixonando e
engravidando a filha branca de um fazendeiro poderoso, e o pai da moça resolve
se vingar, espancando o pobre diabo e levando-o onde hoje está localizado
Cabrini Green. O senhor e seus empregados o amarram, cortam uma de suas mãos e
o lambuza de mel, de modo que um enxame de abelhas o ataca (daí o nome,
Candyman, que teria como tradução livre Homem-Doce). Depois ele tem seu corpo
queimado e suas cinzas espalhados por todo o vilarejo. Ou seja, o verdadeiro
medo presente em Candyman, não vem de seu gancho enferrujado ou do seu séquito
de abelhas, mas sim, das preocupações referentes aos relacionamentos amorosos e
sexuais de homens negros com as mulheres brancas caucasianas. E também o medo
dos negros, pobres, sem condições melhores de vida saírem de seus guetos e
adentrarem nos suntuosos bairros e prédios da classe média alta (como bem
identifica a cena de abertura com a babá branca sendo trucidada em sua segura e
confortável casa do subúrbio). São questões sociais muito bem pontuadas nas
entrelinhas, entre a fotografia gótica do esconderijo de Candyman, que é
obrigado a viver entre as paredes, a tonelada de gore que Rose
imprime no filme e a excelente trilha sonora de Philip Glass. Além é claro, da
atuação acima da média de Madsen e a eficácia de Todd em encarnar o personagem
e meter medo. Mas o foco mesmo está na segregação racial que existe na América
há séculos, e toda a repressão é representada pelo anti-herói negro, assustador
e violento, que virá em busca de vingança se for chamado. Fora isso, O
Mistério de Candyman é extremamente anos 90 e um filme que em seus moldes
só poderia funcionar naquele período. Até as questões urbanas são inerentes
àquela década: a escalada da violência na periferia, guerra de gangues, drogas,
tudo acontecendo em comunidades sem segurança e com seus muros pixados,
alocadas em complexos habitacionais intencionalmente separados do resto da
cidade. Não que hoje em dia seja diferente, mas a estética é outra. Mesmo com
seu final trágico e pessimista e a subida de tom com relação aos seus paresslashers, O
Mistério de Candyman conseguiu fincar mais um personagem icônico no
panteão dos movie maniacs (segundo de Barker, depois de seu Pinhead
de Hellraiser – Renascido do Inferno), faturar mais de 25
milhões de dólares de bilheteria (mediante o baixo orçamento de seis milhões) e
garantir mais duas sequências, fechando uma trilogia.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/18/628-o-misterio-de-candyman-1992/
Nenhum comentário:
Postar um comentário