sexta-feira, 31 de julho de 2015

#212 1968 O GATO PRETO (Yabu no naka no kuroneko / The Black Cat from the Grove, Japão)


Direção: Kaneto Shindô
Roteiro: Kaneto Shindô
Produção: Nichiei Shinsha
Elenco: Kichiemon Nakamura, Nabuko Otowa, Kiwako Taichi, Kei Satô, Taiji Tonoyama

Antes que alguém me pergunte (ou se pergunte), esse filme não tem nada a ver com o famoso conto homônimo de Edgar Allan Poe, que inclusive inspirou diversas adaptações cinematográficas. O Gato Preto é um dos maiores exemplares do cinema de horror japonês, dirigido por Kaneto Shindô, diretor de outro clássico da Terra do Sol Nascente, Onibaba – A Mulher Demônio. Na verdade, Onibaba e O Gato Preto possuem uma grande semelhança narrativa, passando-se no mesmo momento histórico do Japão medieval, o período Sengoku, trazendo como pano de fundo os efeitos que essa longeva guerra civil teve no povo japonês, principalmente nas mulheres, que viam seus maridos e filhos irem para a guerra e nunca retornarem, sendo largadas à sua própria sorte em uma sociedade brutalmente machista. Onibaba representa a luta de classes, a opressão, e traz a história de duas mulheres, uma sogra e sua nora, que vivem juntas no limiar da subsistência enquanto aguarda o filho / marido retornar, e incumbe-se de entocar e matar samurais que se perdem na vasta plantação de junco onde moram em um trapiche, para trocar suas armas por comida. Aqui em O Gato Preto, a estrutura é extremamente parecida, só que menos opressora e mais fantástica (sendo que o elemento do terror surge apenas nos momentos final de Onibaba): duas mulheres, uma sogra e sua nora, que enquanto aguardam o filho / marido retornar, são estupradas e mortas por um grupo de soldados samurais, que ainda colocam fogo em sua casa. Um gato preto, importante simbolismo para toda a trama, aparece e lambe o sangue das duas falecidas. Do além, elas juram vingança (como todo bom espírito japonês que se preze) e fazem um pacto com o demônio, de matar todos os samurais, chupando seu sangue e o oferecendo ao demônio como oferenda. Para tal feito, elas retornam do além-túmulo como espíritos errantes, e atraem todos os samurais que passarem pelo bambuzal perto de sua antiga residência, na região de Kyoto (onde também se passa Onibaba), perto do portão sul de Rashomon, para a armadilha sobrenatural. A jovem convence o soldado de que está com medo de atravessar o sinistro bambuzal, e pede ajuda para acompanhá-la até sua casa. Lá ele é bem recebido pela velha (que ela diz ser sua mãe), que embebeda o samurai de saquê, enquanto a jovem começa a seduzi-lo sexualmente. Aí não dá outra: o espírito enfurecido da garota ataca o samurai, cravando seus dentes no pescoço do pobre diabo, matando-o e bebendo seu sangue, depois se transformando em um gato preto. Seguidamente, diversos samurais são mortos, até que um general dá a missão para um samurai recém-promovido descubrir quem está matando todos os seus soldados. Ao chegar ao local, vem a revelação que irá permear o restante do filme: o samurai é na verdade filho da velha e marido da jovem, que havia sido levado de casa para a guerra e ao retornar, encontrado apenas as cinzas. Então um dilema irá se construir, já que elas são obrigadas, por conta do pacto, a matar todos os samurais, mas não conseguem fazer o mesmo com o próprio filho e marido, ainda mais com o reacender da paixão do casal. Por outro lado, há a pressão do general para que aqueles terríveis monstros sejam destruídos. E para ilustrar, todo esse desenrolar será mostrado por meio de um misto de poesia sublime com horror fantasmagórico, ao melhor estilo artístico do cinema oriental, contando também com a belíssima fotografia preta e branca de Kiyomi Kuroda, e a trilha sonora de Hikaru Hayashi, rústica, utilizando tambores e bambus. Ambos também acompanharam Shindô em Onibaba. Mais uma vez, somos submersos nas alegorias e lendas do Japão feudal de forma competente, já que o roteiro, também de Shindô, é baseado em um conto folclórico japonês. Muito diferente do stablishment causado pelo J-Horror moderno, principalmente após o sucesso estrondoso de Ring – O Chamado de Hideo Nakata, O Gato Preto é calcado em uma elegância visual peculiar, investe no terror psicológico sem nenhum jump scare, e aposta em movimentos sinuosos de câmera e na dança graciosa das almas penadas, que apesar de diabólicas, ainda são dotadas de um sentimento de sofrimento humano. Isso tudo além de momentos de extrema violência gráfica quando são cometidos os assassinatos, tornando-o um filme de terror perfeito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/12/212-o-gato-preto-1968/

AQUARIUS 1ª TEMPORADA 2015




#211 1968 O ESTRANHO MUNDO DE ZÉ DO CAIXÃO (Brasil)


Direção: José Mojica Marins
Roteiro: Rubes Francisco Luchetti, José Mojica Marins (história)
Produção: José Mojica Marins, George Michel Serkeis, Christo Courcouvelis (Supervisor de Produção)
Elenco: José Mojica Marins, Luis Sérgio Person, Vany Miller, Nelita Aparecida, George Michel Serkeis, Íris Bruzzi, Oswaldo de Souza, Nidi Reis

Não pense que só a Amicus vivia de antologias de terror nos anos 60, não. O nosso expoente nacional, dirigido pela lenda José Mojica Marins, é muito mais cruel e sádico do que qualquer filmezinho inglês de contos de horror do período. O Estranho Mundo de Zé do Caixão é sinônimo da transgressão do cinema brasileiro de horror. Em plena década de 60, Brasil passando pela Ditadura Militar, Mojica me aparece com um filme contendo três histórias macabras, recheadas de violência explícita, gore e nudez feminina, que abordam temas como canibalismo, necrofilia, estupro, tortura, sadismo e até vampirismo! Com o devido sucesso de seus filmes anteriores, À Meia-Noite Levarei sua Alma e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, Mojica escancara de vez toda sua estética marginal, e mais uma vez rompe as rupturas apostando no cinema de gênero da Boca do Lixo paulistana, dando uma tapa na cara da sociedade conservadora e nos padrões do cinema nacional feitos até então, trazendo argumentos completamente violentos e desmiolados, adentrando mais profundamente em sua filosofia niilista, popularesca e existencialista propagada pelo seu famoso personagem, Josefel Zanatas (ou Zé do Caixão, para os mais chegados), mesmo que ele dê título ao filme, mas não apareça no longa (apesar do personagem do último conto ser uma variação do mesmo). Mas o seu apelo ao cinema trash de horror é muito mais físico e brutal em O Estranho Mundo de Zé do Caixão, do que no terror psicológico e de cunho estritamente religioso de seus dois primeiros filmes. Início da parceria entre Mojica e o roteirista Rubens Francisco Lucchetti, que escreveu os contos a partir da ideia original do diretor, o filme traz três episódios distintos, com estéticas e ideias completamente diferentes, que vai do clássico ao contemporâneo, com cenas realmente perturbadoras, que obviamente foi mutilado de forma impiedosa pela censura, mas com sorte o filme foi preservado para as plateias posteriores, e incluso no excelente box do mestre lançado pela Cinemagia em 2002. O primeiro conto, O Fabricante de Bonecas, traz a história de um popular fabricante de bonecas local, conhecido pelo extremo realismo de seus produtos, feitos por suas quatro belas e jovens filhas, principalmente pelos seus olhos. Bom, bonecas de porcelana já são assustadoras por si só, como já sabemos. Um grupo de assaltantes resolve invadir a casa do velho, para roubá-lo, ao descobrir que ele guarda seu dinheiro em sua oficina. Primeiro eles atacam o velho com um canivete, considerando-o morto, para depois estuprarem suas filhas. Obviamente as coisas não sairão como o esperado para os belos escroques, e vamos descobrir de onde vem o realismo dos olhos das bonecas. No elenco deste segmento, está o diretor Luis Sérgio Person, pai de Marina Person, como um dos criminosos. O segundo, Tara, é uma poesia mórbida silenciosa de Mojica, desprovida de diálogos, que nos remete aos traços do expressionismo alemão, trazendo diversas referências estéticas claras do cinema mudo. Um vendedor de balões (George Michel Serkeis) tem um fetiche por uma garota que vê passar todos os dias na rua, seguindo-a e observando todos os seus atos, até quando em seu casamento, ela é assassinada por uma rival megera ciumenta. É na morte, que o vendedor encontra a sua única chance de conseguir chegar até a garota, rompendo as barreiras e paradigmas morais e religiosos e praticando sexo com o cadáver. Após o ato consumado, ele a veste de volta e finalmente calça em seus pés um par de sapatos que recuperou quando a moça os deixou cair ao fazer uma compra. Para finalizar, a cereja do bolo. O conto Ideologia é o mais brutal e pesado dos três. Mojica interpreta o professor Oãxiac Odez (anagrama de Zé do Caixão), louco de pedra que desenvolve uma bizarríssima teoria do instinto sobre a razão, utilizando-se de métodos nada ortodoxos para comprová-la. O professor convida um rival e sua esposa para um jantar em sua casa, para apresentar as provas da sua teoria sobre a redução do ser humano ao instinto completo quando exposto às condições mais primárias de sobrevivência, sobrepujando a razão, o amor e demais sentimentos. Para isso, recorre as mais brutais sessões de orgia (ou bacanal do diabo, depravação de débeis mentais, como ele define) tortura, cárcere, chicotadas e canibalismo. Capturando-os e mantendo-os cativos por sete dias, inspirando-se na cronologia da criação bíblica do Universo por Deus, Oãxiac leva-os até o limite para provar sua tese. No final bombástico, o personagem de Mojica e sua trupe realizam um farto banquete das suas vítimas. O Estranho Mundo do Zé do Caixão tem grandes problemas técnicos, orçamentários e estéticos. O principal é a pobreza na edição de som (pelo menos da versão do DVD que eu assisti), sendo que há vezes em que o áudio abafado mal consegue ser ouvido, principalmente no primeiro segmento. Além disso, há sempre uma reviravolta religiosa cristã em sua conclusão, para dar uma amenizada, como nos filmes anteriores, onde o mal não acaba impune, e a ira de Deus irá castigá-los por todas as suas blasfêmias e heresias. Algumas declamações sem sentido de Zé, como no início do longa, e também a música tema, composta pro Mojica e cantada por Edson Lopes e o grupo de samba Titulares do Ritmo, são completamente dispensáveis. Mojica atinge o nível do grotesco, indo além da simples estética do cinema marginal brasileiro, mesmo que dialogue de forma travestida com questões sociais e religiosas. Em O Estranho Mundo de Zé do Caixão, já se projeta uma tendência, e pioneirismo do diretor, por assim dizer, ao trash, à cultura grindhouse, ao exploitation e ao torture porn, que até hoje são subgêneros dos mais controversos e adorados pelos fãs do horror moderno. Quando digo que o cara é um gênio, está aí a prova.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/11/211-o-estranho-mundo-de-ze-do-caixao-1968/


#210 1968 DRÁCULA O PERFIL DO DIABO (Dracula Has Risen From the Grave, Reino Unido)


Direção: Freddie Francis
Roteiro: John Elder (baseado no personagem criado por Bram Stoker)
Produção: Aida Young
Elenco: Christopher Lee, Rupert Davies, Veronica Carlson, Barbara Ewing, Barry Andrews, Ewan Hooper, Michael Ripper

Drácula está de volta, no terceiro filme da Hammer em que Christopher Lee encarna o chupador de sangue mor: Drácula – O Perfil do Diabo. E este título em português, hein? Imagino este o título de matéria com um perfil de Drácula naquelas revistas de fofocas, estilo Caras, sabe? Enfim, na minha opinião, Drácula – O Perfil do Diabo é um dos mais bacanas da série. Violento, sanguinário, cruel. Christopher Lee representa um vampiro do mal MESMO mesmo aqui. Tem umas quatro ou cinco falas apenas, mas só de olhar para a cara do sujeito com aqueles caninos pontiagudos e seus olhos vermelhos, já dá o maior medo de encontrá-lo por aí em uma esquina escura da Transilvânia. Dirigido por Freddie Francis, mesmo diretor de O Monstro de Frankenstein (que recebeu esse filme no colo pelo mesmo motivo do anterior, pois Terence Fisher, escalado para dirigir, havia sofrido um acidente de carro), e escrito por Anthony Hinds (sob o pseudônimo de John Elder), Drácula – O Perfil do Diabo já começa com os dois pés no peito, com um padre e seu assistente mudinho encontrando uma bela donzela morta em plena igreja, difamada pelo Drácula. Por conta disso, obviamente a população do vilarejo vive assustada por estar sob a sombra de seu castelo e pararam de ir à igreja aos domingos, que ficou largada às moscas. Até monsenhor Ernest Mueller (Rupert Davies) chegar ao local, dar um esporro no padre e em todos os aldeões supersticiosos, e resolver subir até o castelo de Drácula no topo da montanha, onde ele jazia congelado há um ano, desde o final de Drácula – O Príncipe das Trevas. Ele leva o deprimido e medroso padre (Ewan Hooper) para subir a montanha e colocar uma gigantesca cruz na entrada na porta, para que aquele mal nunca se liberte de lá e o povo volte a frequentar a paróquia local. Só que o padre com medo fica pela metade do caminho enquanto o monsenhor continua sua procissão. Uma tempestade se forma, e a ventania acaba derrubando o padre, que cai no chão ensanguentado. E eis que, milimetricamente, o sangue cai bem na boca de onde Drácula jazia, e o traz de volta à vida. Com seus poderes hipnóticos, Drácula ira transformar o padre em seu ajudante para lhe encontrar novas donzelas para que ele possa sugar o sangue. Nesse ínterim, vamos conhecer Paul (Barry Andrews), um jovem padeiro, ajudante de bar, estudante de medicina e ateu convicto, que namora a inocente e certinha sobrinha do monsenhor, Maria Mueller (Veronica Carlson). Todo mundo sabe que o Drácula é o mais talarico dos monstros, e obviamente ele vai querer dar uma chupada na jugular da moça loira. Mas antes disso ele vai se aproveitar da ruiva Zena (Barbara Ewing), que é preterida por Paul, mesmo arrastando uma asa para cima dele e usando decotes lascivos ao melhor estilo filmes da Hammer. Drácula suga seu sangue, a transforma em uma rameira do inferno, e depois também dá uma gelada na coitada, trocando-a pela inocente Maria. Coitada da Zena! Daí irá se seguir aquela velha batalha do mocinho contra o monstro das trevas pela alma da garota. Só que aí tem um pulo do gato que faz Drácula – O Perfil do Diabo sensacional. Como disse lá em cima, Paul é ateu, então cruzes, estacas, tudo que ele usar contra o vampiro não irá funcionar, porque é preciso fé. E você pensa que no final vai rolar aquela babaquice dele encontrando Deus, tornando-se um cristão fervoroso para destruir Drácula. Nada disso, ele continua irredutível em sua crença, e a redenção para destruir o sanguessuga vai vir mesmo do padre, quando Drácula é empalado pela cruz na montanha, e ele se redime rezando para a vil criatura da escuridão ser destruída de uma vez por todas. Até o próximo filme da franquia, claro. Drácula – O Perfil do Diabo foi o filme comercialmente mais rentável da Hammer, e durante a produção, foi o estúdio foi presenteado com o UK Queen’s Award for Industry. Christopher Lee gosta de contar a história sobre esse prêmio, pois o prêmio foi dado enquanto eram filmadas as cenas finais com Drácula empalado nas rochas, e um grupo de dignitários do governo britânico assistindo Lee gritando e com sangue jorrando por todos os lados. Após a cena, com estômago embrulhado, um ministro inglês virou-se para a mulher e disse: “Esse homem é um membro do meu clube?”. Dá-lhe Hammer. Dá-lhe Christopher Lee!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/10/210-dracula-o-perfil-do-diabo-1968/

quinta-feira, 30 de julho de 2015

#209 1968 O CAÇADOR DE BRUXAS (Witchfinder General / The Conqueror Worm, Reino Unido)


Direção: Michael Reeves
Roteiro: Tom Baker, Michael Reeves (baseado na obra de Ronald Bassett e no poema de Edgar Allan Poe/não creditado)
Produção: Louis M. Heyward, Arnold Miller, Philip Waddilove, Tony Tense (Produtor Executivo), Samuel Z. Arkoff (Produtor Executivo – não creditado)
Elenco: Vincent Price, Ian Ogilvy, Rupert Davies, Patrick Wymark, Wilfred Brambell

O período de caça às bruxas foi um dos mais sombrios e ignorantes da história da humanidade. Calcada em cunhos político-religiosos, esse movimento começou no século XV e teve seu apogeu no século XVI e XVII, principalmente nos países católicos europeus, França e Inglaterra, onde aqueles que seguiam as antigas práticas pagãs eram perseguidos, torturados e caçados em nome de Deus. Muitas mulheres injustamente foram julgadas, condenadas à forca e à fogueira, principalmente entre os anos 1550 e 1650, os mais histéricos e violentos desse período da Idade Moderna. É exatamente neste período que se passa a história de O Caçador de Bruxas. Além do momento histórico citado acima, o pano de fundo também se passa durante a Guerra Civil Inglesa, que foi de 1642 a 1649, entre os partidários do Rei Carlos I e o parlamento, liderado por Oliver Cromwell. Foi após o término desta guerra, com a condenação à morte de Carlos I, que possuía um regime de poder absolutista, que se iniciou o sistema de governo inglês que conhecemos hoje, onde a figura do rei é praticamente decorativa e quem comanda o país é o Primeiro Ministro e o Parlamento. Elucidado o momento histórico que o filme é ambientado, O Caçador de Bruxas é um das melhores interpretações de Vincent Price como protagonista (ele próprio considera tal) e um dos seus mais violentos e controversos filmes. Dirigido por Michael Reeves, e feito com um orçamento de 100 mil libras, o roteiro de Reeves e Tom Baker é baseado no livro homônimo de Ronald Bassett e no poema The Conqueror Worm de Edgar Allan Poe, de forma não creditada. Co-produzido pela American International Pictures, a primeira opção do diretor para o papel do inquisidor caçador de bruxas Matthew Hopkins era Donald Pleasence, porém, como a AIP estava financiando o longa e distribuiria nos EUA, insistiu que o papel deveria ser de Price, e mesmo a contra gosto, Reeves aceitou goela abaixo. E com todo respeito a Pleasence que é um excelente ator, a escolha de Price foi acertadíssima. Nunca se viu o ator de forma tão vilanesca, e impiedosa, um personagem cheio de si e arrogante, como no papel do General caçador de bruxas, onde deixou de lado suas atuações teatrais exageradas dos filmes de Roger Corman, por exemplo, e fez um papel extremamente sério. Hopkins e seu cruel assistente, John Stearne (Robert Russell) vão de vilarejo em vilarejo inglês, alegando falsamente seguir ordens do Parlamento para processar e executar bruxas, procurando homens, mulheres, padres, ou o que for, acusados de bruxaria, atendendo as solicitações dos moradores locais, em troca de dinheiro. Fazendo o papel de juiz, júri e carrasco, enquanto Stearne é o responsável pelas mais terríveis torturas, como nefastas práticas de confissão, que sempre resultava no enforcamento das pobres mulheres condenadas, ou pior, quando eram queimadas vivas. Certo dia eles vão até Brandestone em busca de um padre acusado de ter parte com o satanás. Só que o padre John Lowes (Rupert Davis) tem uma sobrinha, Sara, que é noiva do soldado do exército de Cromwell, Richard Marshall (interpretado por Ian Ogilvy). Sara tenta convencer Hopkins a não matar o padre, não revelando que é sobrinha dele, em troca de favores sexuais. Porém não surte efeito e o padre é condenado à forca. Quando Marshall descobre o acontecido, casa-se secretamente com a moça e pede para Sara se esconder em Levaenham, enquanto o soldado procura vingança e promete matar Hopkins pelo que ele fez. Porém, Hopkins e Stearne acabam por indo até essa vila para atender ao chamado dos magistrados locais e descobre que Sara está lá. Ela e Marshall são capturados e torturados em um castelo, acusados imparcialmente de bruxaria.
AVISO DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Na dramática e impactante cena final, Marshall consegue se livrar enquanto seus companheiros de exército aproximam-se do castelo para ajudá-lo. Marshall pega um machado e ataca violentamente Hopkins, o esquartejando. Quando os soldados entram e veem o caçador de bruxas agonizando, eles atiram para dar cabo de sua vida, e Marshall surta de vez e fica gritando que eles tiraram-no dele, por não darem a chance do soldado matá-lo. Enquanto isso, a brutalmente torturada Sara, aparentemente à beira da loucura, começa a gritar de forma descontrolada repetidamente. As filmagens de O Caçador de Bruxas foi marcada pelas constantes desavenças entre o diretor Michael Reeves e o astro Vincent Price. Os dois desde o começo não se deram nem um pouco bem. Reeves nem foi buscá-lo em Heathrow quando ele desembarcou em Londres, como um tapa de luva de pelica em Price e na AIP. Quando foi recebido pelo co-produtor Philip Waddilove, ele disse: “ Leve-me até seu maldito geniozinho”. O diretor tinha apenas 24 anos na época. Quando chegou pela primeira vez na locação, Reeves disse na lata: “Eu não queria você. Ainda não quero, mas estou preso a você”. Claro que a relação iria azedar. E a troca de carinhos não parou por aí. Quando Reeves fazia alguma sugestão no set, Price era contra e argumentava: “Eu já fiz 87 filmes. E você já fez quantos?”, e Reeves rebatia: “Eu fiz três, só que bons”. Em outra cena, de pirraça Reeves pediu para Price disparar sua pistola em movimento enquanto cavalgava, bem entre as orelhas do cavalo. Uma discussão terrível aconteceu, pois o cavalo poderia reagir de forma violenta ao disparo. Reeve insistiu, Price obedeceu e literalmente caiu do cavalo. O ator não se machucou, mas ficou extremamente puto com o acidente. Para terminar a sessão fofoca, no último dia de filmagens, Price de birra apareceu bêbado no set. Reeves então ordenou que o ator Ian Ogilvy na cena final, ALERTA DE SPOILER DE NOVO, atacasse Price violentamente com seu machado cenográfico. Reeves morreria de forma prematura, um ano depois com apenas 25 anos, quando estava na pré-produção de seu próximo filme, O Ataúde do Morto-Vivo, sendo substituído por Gordon Hessler, mas antes recebeu uma carta de dez páginas de Price elogiando o filme no ano seguinte, após ver seu corte final, dizendo que finalmente entendia o que o jovem diretor tentava alcançar. O Caçador de Bruxas também sofreu uma mutilação impiedosa da inquisi… ops, censura britânica. Três minutos foram cortados por “excesso de brutalidade sádica, explorando a violência e sadismo por razões comerciais” segundo os censores ingleses. Por isso é altamente recomendável assistir à versão do diretor, lançada em DVD em 2001, que tem muito mais sangue e impacto visual nas cenas de tortura.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/09/209-o-cacador-de-bruxas-1968/

#208 1968 AS BODAS DE SATÃ (The Devil Rides Out / The Devil’s Bride, Reino Unido)


Direção: Terence Fisher
Roteiro: Richard Matheson (baseado na obra de Dennis Wheatley)
Produção: Anthony Nelson Keys
Elenco: Christopher Lee, Charles Gray, Nike Arrighi, Leon Greene, Patrick Mower

A dobradinha entre o diretor Terence Fisher com o ator Christopher Lee nos presenteia com As Bodas de Satã, um dos melhores filmes da Hammer, dessa vez sem monstros ou vampiros, e sim com uma história de satanismo e magia negra. A trama é uma adaptação da novela de Dennis Wheatley, The Devil Rides Out, onde seu consultor criativo não foi ninguém menos que Aleister Crowley. O grande escritor e roteirista Richard Matheson, responsável por livros e filmes como O Incrível Homem que Encolheu, Mortos que Matam (e a refilmagem Eu Sou a Lenda), Encurralado e Ecos do Além, e alguns episódios das séries Além da Imaginação e Histórias Maravilhosas, foi o responsável por transportar o conteúdo do controverso texto de Wheatley para às telas. No interior da Inglaterra, o Duque Nicholas Richleau (Lee) recebe seu velho amigo Rex Van Ryn (Leon Greene) para se encontrar com Simon Aron (Patrick Mower), filho de um falecido amigo dos dois. Nicholas e Ryn visitam Aron de surpresa e flagram-no em meio a um encontro de 13 pessoas, que na verdade são membros de uma seita satânica. Com certo conhecimento de causa, o duque descobre o que está se passando por ali e que Aron e sua amiga Tanith Carlisle (Nike Arrighi), serão batizados por Mocata (Charles Gray), perverso líder do culto, para que sejam  servos do demônio para sempre. Os heróis acabam raptando o jovem e tentam de toda forma impedir Mocata e seus asseclas de prosperarem em conseguir a alma dos dois, o que não vai ser nada fácil, pois Mocata continua os perseguindo, possui uma extraordinária capacidade hipnótica e não podemos esquecer, está mancomunado com satanás. O tema satanismo e suas seitas eram muito fortes nos anos 60. O próprio O Bebê de Rosemary de Roman Polanski, lançado no mesmo ano, já trazia uma outra visão sobre complôs e cultos ao demo. E As Bodas de Satã é uma das maiores referencias cinematográficas nesse assunto, já que toda a trama está envolvida em rituais, conhecimento do oculto, seitas e conjurações. O diabo propriamente dito até aparece por duas vezes no filme, evocados por Mocata, em cenas até impressionantes e assustadoras para a época. A primeira é na sala do observatório da mansão de Aron, onde uma negro de aparência assustadora e olhar maligno aparece da fumaça e só se afasta quando o personagem de Lee atira um crucifixo nele. A segunda, é na forma de Baphomet, ou Bode de Mendes, durante um sabá na floresta realizado na cerimônia de batismo de Simon e Tanith. Dessa vez ele é vencido novamente pela cruz e pelo acender do farol de milha de um calhambeque (???!!!). Isso sem contar quando o tinhoso opera na forma de uma aranha gigante e como Anjo das Trevas, em determinado momento chave do filme quando tenta quebrar um círculo de proteção criado por Nicholas. Uma pena que os efeitos especiais, extremamente datados, acabem tirando o encanto da cena e transformando-a em um pastiche nos dias de hoje. Interessante que dessa vez, Christopher Lee faz às vezes de mocinho (considerando esse seu papel favorito nos filmes da Hammer), que usa seu conhecimento do oculto para salvar o dia e tentar desbaratar os seguidores de Mocata, que é um verdadeiro nêmese à altura. As Bodas de Satã é uma produção de uma coragem imensa, tendo em vista todo o burburinho que um filme como esses poderia levantar em uma sociedade conservadora como nos anos 60, com um roteiro extremamente intrigante, perfeito para os fãs de histórias que envolvam as forças das trevas, e a batalha sem fim entre o bem e o mal. E claro, que queiram se divertir com mais uma produção clássica dos estúdios Hammer e se deliciar com a intepretação de Cristopher Lee nas telas.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/08/208-as-bodas-de-sata-1968/

#207 1968 O BEBÊ DE ROSEMARY (Rosemary’s Baby, EUA)


Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski (baseado na obra de Ira Levin)
Produção: William Castle, Dona Holloway (Produtora Executiva)
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy

Sempre que começa a se discutir sobre os mais importantes filmes de terror de todos os tempos, os maiores clássicos é inevitável não pensar em O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski. E não é por menos, dada a excelência do longa. O tema satanismo, complô e cultos diabólicos vem à tona com a história da mulher que foi escolhida, dentre todas as mulheres do mundo, como frisa sua vizinha na sequência final do filme, para dar luz ao Anticristo. Rosemary (atuação fantástica de Mia Farrow, possivelmente a melhor de sua carreira) e seu marido, o ator fracassado Guy (interpretado por John Cassavetes) mudam-se para um velho apartamento em Nova Iorque (filmado no Edifício Dakota), onde há histórias bizarras de ser palco de acontecimentos sinistros e antiga moradia de bruxos. Logo o casal torna-se amigo dos esquisitíssimos vizinhos de parede, Mirian e Roman Castevet, que na verdade fazem parte de uma seita satânica, com o qual Guy faz um pacto: a gestação do filho do coisa-ruim na esposa (em uma emblemática cena onde ela é estuprada em torpor pelo próprio satanás, em meio a um delírio onde fica se perguntando se aquilo é um sonho ou está realmente acontecendo) em troca de sucesso e fama na carreira de ator, que logo começa a se concretizar quando o rival que havia ganhado o papel que deveria ser seu, repentinamente fica cego. Polanski magistralmente vai nos conduzindo nesse terror psicológico com primazia, focado primeiramente nos nuances, nas sugestões, nos pequenos detalhes, até a coisa toda descarrilhar para um final simplesmente incrível. E pode colocar nessa conta dos tais pequenos detalhes: a visita inicial do casal para alugar o apartamento, onde encontram junto com o senhorio um pesado armário que foi movido do lugar por uma senhora idosa para bloquear a porta de uma dispensa, sabe-se lá o porquê; barulhos estranhos no subsolo; cânticos que podem ser ouvidos através das paredes; as lendas urbanas dos antigos residentes bruxos do edifício; Rosemary ter ganhado de presente um colar com uma erva fedorenta que pertencera a antiga garota que vivia com os Castevet até resolver se suicidar; e os métodos não convencionais utilizados por Rosemary durante a gestação, aconselhada pelo casal bruxo e o comparsa obstetra, Dr. Abraham Sapirstein. Impossível não se envolver com os protagonistas da trama e não nutrir certos sentimentos pelos mesmos. Primeiro pela sonsa e subserviente Rosemary, que faz absolutamente tudo que mandam e só muito tarde começa a sacar que as coisas estão errada. Tipo, ela sente dores terríveis desde o primeiro mês de gravidez, começa a perder peso e apresentar uma aparência esquelética nada saudável. Oi? Se você estivesse esperando um filho, você imaginaria exatamente que acontecesse o contrário, certo? Mas não, Rosemary fica ali, boboca e passiva. Nem ao menos para desconfiar do marido, que OK, está mancomunado também, mas que não dá o menor suporte para a esposa e está sempre reticente e esquivo com relação aos seus medos e problemas. Também não dá para passar incólume com o casal vizinho e principalmente com a pentelha da Sra. Castevet, com sua mania enxerida, voz irritante e ficando para cima e para baixo com aqueles sucos nojentos oferecidos a Rosemary. Por sinal, atuação soberba de Ruth Gordon, que ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante No final, onde Polanski acertadamente não mostra a tal horrenda aparência do recém-nascido, o que fica mais evidente é o questionamento que o diretor joga sobre a controvérsia entre o satanismo e o cristianismo, já que Rosemary, uma garota educada em colégio católico, será a nova Maria, só que ao contrário. Além disso, a concepção do Anticristo acontece coincidentemente quando o Papa está em visita aos Estados Unidos.  Outro questionamento que sobra ao final do longa é qual será a reação da mãe com relação ao seu filho? Ela honrará seus deveres cristãos em renegar o bebê e confrontar a seita ou seu instinto materno será mais forte e ela abraçará a causa em nome do fruto nascido de seu ventre? Polanski responde da melhor forma possível. Para finalizar, só para não passar batido vale sempre lembrar das várias “maldições”, tragédias ou terríveis coincidências que se abateram sobre pessoas ligadas a O Bebê de Rosemary, como a morte da esposa grávida de Roman Polanski, Sharon Tate, assassinada pelos membros malucos da organização de Charles Manson ou o assassinato de John Lennon bem em frente ao malfadado Edifício Dakota, onde foi gravado o longa. Sinistro!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/07/207-o-bebe-de-rosemary-1968/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
482 1968 O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby) 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

FEAR CLINIC (EUA, 2014)



#206 1967 VIY O ESPÍRITO DO MAL (Вий / Viy or Spirit of Evil, União Soviética)


Direção: Konstantin Ershov, Georgi Kropachyov
Roteiro: Konstantin Ershov, Georgi Kropachyov, Aleksandr Ptushko (baseado na história de Nikolai Gogol)
Elenco: Leonid Kuravlyov, Natalya Varley, Aleksei Glazrym, Nikolai Kutuzov, Vadim Zakharchenko

Baseado no mesmo conto de Nikolai Gogol, escritor ucraniano do século XIX, que inspirou também o clássico de Mario Bava, A Máscara de SatãViy – O Espírito do Mal dos soviéticos Konstantin Ershov e Georgi Kropachyov é um filme exuberante, assustador e divertido. Com o intuito de mostrar a batalha travada entre a fé e as forças sobrenaturais da natureza, Viy – O Espírito do Mal é plenamente reconhecido no gênero pelo excelente trabalho do mestre da cinematografia fantástica russa Alexandr Ptushki, mago dos efeitos especiais, que através de uma excelente composição de efeitos óticos e de maquiagem surpreendente, cria um espetáculo visual tétrico na sequência final do longa, apresentando todo tipo de criatura das trevas, animais, demônios, esqueletos, monstros, bruxas e o impressionante Viy, o tal espírito do mal. A história do filme se concentra no jovem Khoma Brutus, vulgo, O Filósofo, estudante de teologia que certa noite se perde no campo com outros dois amigos e aceita o convite de uma babushka para repousar em seu celeiro. Acontece que a velha na verdade é uma horrenda bruxa, que acaba usando o filósofo como uma vassoura humana e voando com ele pelos céus (e lá vamos nós…). Depois de se libertar, espancá-la e deixá-la inconsciente, observando-a com uma mistura de culpa e horror, o rapaz a vê se transformando em uma bela e jovem mulher, e foge assustado. Ao voltar até o convento, Khoma descobre que foi requisitado por um fidalgo de um vilarejo próximo à Kiev, para que ele faça uma vigília de três noites ao corpo de sua filha que acabara de morrer, para que rezasse por sua alma. Detalhe que a moça, antes de falecer, disse que queria unicamente que Khoma fizesse essas orações e passasse as noites velando seu cadáver em uma antiga igreja. Claro que nesse angu teria caroço, pois o filósofo logo nota uma estranha semelhança na garota, com alguém que não sabe identificar. Apenas com sua fé hesitante para protegê-lo, além de altas doses de vodka, o filósofo vai lá passar suas noites, quando desde a primeira, a garota levanta-se do seu caixão para assombrá-lo. Khoma faz então um círculo protetor de giz, morrendo de medo apesar de ficar repetindo para si mesmo que um cossaco não tem medo de nada, e impede que a jovem bruxa lhe faça algum mal, por não conseguir transpor a barreira do encantamento, mesmo com suas investidas em seu caixão voador. Mas é na terceira noite que realmente o bicho pega. Enfurecida, a moça morta-viva conjura todo seu poder sobrenatural na impressionante noite final, onde os efeitos especiais de Ptushki fazem-se valer, assim como a excelente fotografia de Viktor Pishchalnikov e Fyodor Provorov, onde apenas o filósofo está em cores e todo o resto do cenário e das terríveis forças das trevas que a bruxa reivindica, estão em preto e branco, tomados pelas trevas. Mãos assustadoras brotam das paredes e do solo, demônios de toda a sorte, deformados, altos, anões, invadem o local, assim como gatos, lobos, vampiros e lobisomens, atacando o jovem em um ritmo alucinante, onde os diretores abusam de giros de 360º de câmera. Suas orações não surtem nenhum efeito contra aquela poderosa investida do mal, principalmente quando o tenebroso Viy entra na igreja, para liderar aqueles espíritos malignos errantes, convocados pelos poderes da bruxa em busca de vingança. Daí, não haverá círculo de giz que possa proteger O Filósofo antes que o galo cante e encerre a terceira noite de horror. No diálogo final entre dois homens encarregados de pintar a igreja, um deles afirma que se Khoma não houvesse fraquejado, a bruxa nada poderia contra ele. Bastava benzer-se e cuspir-lhe no rabo, dando a entender que a verdadeira hesitação de sua fé foi o motivo do infortúnio do companheiro, como o próprio texto de Gogol diz: “Cada indivíduo irá sofrer… Apesar do que se possa dizer, o corpo depende da alma”. Ou seja, o escritor escancara o pessimismo oferecendo uma fábula moral sobre os perigos em vacilar quando se confronta o mal verdadeiro. A metragem curta (apenas 77 minutos) transforma Viy – O Espírito do Mal em uma rápida experiência no terror russo, reto, direto, sem enrolação, com uma das mais bem executadas e apavorantes sequências finais que o gênero já mostrou, em detrimento a todo o clima leve do restante do filme. É um conto de fadas de horror, que representa outra cultura, outros credos, mas sempre com a mesma forma de encarar as forças do mal e do sobrenatural. Hoje pode até não assustar alguém que tenha mais que 13 anos, mas é um belíssimo exemplar do cinema fantástico.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/06/206-viy-o-espirito-do-mal-1967/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
477 1967 Vij, O Espírito do Mal 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O AMULETO (Brasil, 2015)


CIRKELN (Suiça, 2015)


SUPERMAN & BATMAN INIMIGOS PÚBLICOS (EUA, 2009)


#205 1967 AS TORTURAS DO DR DIÁBOLO (Torture Garden, Reino Unido)


Direção: Freddie Francis
Roteiro: Robert Bloch
Produção: Max J. Rosenberg, Milton Subotsky
Elenco: Jack Palance, Burgess Meredith, Beverly Adams, Peter Cushing, Michael Ripper

Com o sucesso de As Profecias do Dr. Terror, o estúdio inglês Amicus resolveu investir pesado nos filmes estilo portmanteau, aqueles que trazem várias antologias de terror interligadas por um fio narrativo. As Torturas do Dr. Diábolo, foi seu segundo filme neste gênero, que ainda renderam mais seis posteriores. Dirigido por Freddie Francis, mesmo diretor de Dr. Terror e com astros no elenco do quilate de Burgess Meredith, Jack Palance e Peter Cushing, infelizmente o resultado de As Torturas do Dr. Diábolo é bem fraquinho. Seus quatro contos, escritos por Robert Bloch, mesmo autor do livro que deu origem a Psicose, de Alfred Hitchcock, são dispensáveis, com histórias bem fraquinhas, que valem mais mesmo por curiosidade e todo aquele clima característico dessa safra de filmes dos anos 60. Cinco estranhos estão em um parque de diversões de Londres e entram na câmara de horrores do Dr. Diábolo (vivido por Meredith, o Pinguim do seriado camp do Batman) em busca de excitantes e aterrorizantes experiências. Lá, uma atração adicional para os de coração forte, e que tenha mais cinco libras extras para gastar, é uma boneca da divindade feminina Atropos (vivida por Clytie Jessop, que faz uma ponta em todos os segmentos) que através das linhas do destino, revela o sinistro futuro dos ali presentes. A primeira história, Enoch, é uma das mais intrigantes e assustadoras. Colin Williams (Michael Bryant) é um playboy desprezível, único herdeiro de um tio cheio da grana, que quer se aproveitar do tio enfermo e acaba matando-o para por a mão em seu dinheiro. Revirando o antigo casarão em busca de ouro escondido, ele acaba por descobrir um misterioso gato que vivia preso no porão. O problema é que esse gato não é um bichano qualquer, e sim, um receptáculo do espírito de uma bruxa, nomeado Balthazar, que tem poderes telepáticos e um voraz apetite por carne humana, controlando a mente de Colin e levando-o à loucura, arranhando seu cérebro como um felino qualquer arranha um poste de madeira. Um detalhe interessante é que o gato não é preto, como de costume nas histórias de terror, e sim malhado. O segundo segmento, fraquíssimo, Terror Over Hollywood, é sobre Carla Hayes (Beverly Adams) uma jovem e bela atriz que topa de tudo para conseguir tornar-se uma estrela de cinema. Ao saber que a amiga terá um encontro com um agente do show business, ela estraga o vestido da companheira de quarto e vai ao encontro em seu lugar. Lá conhece os produtores Bruce Benton (Robert Hutton) e o galã Eddie Storm (John Phillips) e acaba se envolvendo numa terrível trama que envolve conspirações no alto escalão hollywoodiano, um médico com pinta de cientista louco e androides. O terceiro conto, Mr. Steinway é uma excelente mistura de elementos bizarros e fantásticos, extremamente conveniente para esse tipo de filme. Dorothy Endicott (Barbara Ewing) é uma jornalista que se apaixona pelo virtuoso pianista Leo Winston (John Standing). Só que o piano dele, chamado de Euterpe (divindade grega musa da música) começa a se tornar ciumento e possessivo, atrapalhando o processo criativo do pianista, tentando separar o casal apaixonado e assassinar a moça. Sim, é isso que você leu. Um piano assassino com vontade e movimentos próprios. É simplesmente genial. O quarto e melhor segmento, The Man Who Collected Poe traz uma disputa afinadíssima entre Ronald Wyatt (Jack Palance) e Lancelot Canning (Peter Cushing) para ver quem é o maior colecionador de obras e artefatos de Edgar Allan Poe. Wyatt vai visitar Canning na América para conhecer sua vasta coleção, e após uma noite de bebedeiras, uma visita ao porão revela manuscritos atuais nunca publicados do escritor americano, com a mesma caligrafia. Acontece que o avô de Canning, que começou a coleção, era um ladrão de cadáveres e havia colecionado as próprias cinzas do Poe, que o trouxeram de volta à vida através de magia negra. Ao assassinar Canning, Wyatt adentra outro compartimento abaixo do porão e encontra o escritor em pessoa vivo e preso, suplicando pela morte, para que assim o terrível pacto com o demônio seja quebrado e ele possa descansar em paz. Só que sempre que um pacto é quebrado, outra alma deve tomar o lugar daquela libertada. Eu disse que eram cinco estranhos, certo? Acontece que Gordon Roberts, o outro sujeito na câmara de horrores do Dr. Diábolo, vivido por Michael Ripper, figurinha carimbada de alguns filmes da Hammer (Epidemia de ZumbisA Serpente…), não quer ver seu futuro e tremendamente assustado com tudo que está acontecendo, pega a tesoura que Atropos corta os fios da vida e brutalmente assassina o anfitrião do show. Quando todos os demais fogem assustados, a cena se revela combinada entre os dois cúmplices. Porém Wyatt continua no local fumando seu cachimbo, que é quando será revelada a verdadeira identidade do Dr. Diábolo. Apesar de que seu próprio nome já diz tudo… Como disse lá em cima, As Torturas do Dr. Diábolo vale como curiosidade, principalmente pela excelente atuação de Meredith e seus diálogos bem escritos, e a deliciosa disputa entre Jack Palance e Peter Cushing no último segmento. Falta força e inventividade para classificá-lo como uma antologia de terror de primeira linha. Mas oferece conteúdo suficiente para uma divertida sessão de sábado.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/05/205-as-torturas-do-dr-diabolo-1967/

terça-feira, 21 de julho de 2015

#203 1967 A MORTALHA DA MÚMIA (The Mummy’s Shroud, Reino Unido)


Direção: John Gilling
Roteiro: John Gilling, John Elder (História)
Produção:Anthony Nelson Keys
Elenco: André Morell, John Phillips, David Buck, Elizabeth Sellars, Maggie Kimberly, Michael Ripper

A Mortalha da Múmia é o terceiro filme envolvendo o monstro egípcio enfaixado do estúdio inglês Hammer, famoso por imortalizar outras conhecidas criaturas sobrenaturais como Drácula e Frankenstein. Aqui a produção segue a mesma linha tanto dos filmes anteriores da própria Hammer, como da franquia da Universal da década de 30 e 40: uma vingativa múmia retorna do seu sono milenar para cometer uma série de assassinatos contra aqueles que perturbaram o descanso eterno de seu amo. Dirigido pelo competente John Gilling, que também já havia entregue ao estúdio Epidemia de ZumbisA Serpente (ambos de 1966), A Mortalha da Múmia em sua abertura nos leva a uma viagem ao tempo para o ano 2000 a.C., onde a esposa do faraó Men-Ta morre ao dar a luz ao seu primogênito, Kah-To-Bey, futuro rei do Egito. Sem perceber a conspiração que seu irmão invejoso, Amen-Ta estava preparando para tomar o trono, o faraó torna-se uma vítima fácil do ataque do irmão que foi acumulando um poderoso exército enquanto o próprio preocupava-se apenas com os assuntos que envolviam o bem estar do filho. Ao estourar a insurreição, Amen-Ta ordena que seu fiel escravo Prem, fuja com Kah-To-Bey para impedir que ele fosse assassinado. Porém durante a travessia pelo inóspito deserto, o garoto faraó acaba morrendo e enterrado em um túmulo improvisado no meio do deserto, vestido com uma mortalha que continha dizeres que traziam encantamentos relacionados à vida e a morte. Pois bem, durante a década de 20, uma expedição liderada pelo proeminente egiptólogo Sir Basil Walden (André Morell) e financiada pelo milionário arrogante Stanely Preston (John Phillips), partem em busca do túmulo perdido de Kah-To-Bey, junto do filho de Stanely, Paul Preston (David Buck), Harry Newton (Tim Barrett) e a bela Claire de Sangre (que lembra um pouco a musa Barbara Steele, com o mesmo tipo de beleza peculiar, porém loira). Ao chegar ao local onde o corpo do jovem faraó repousa, logo o grupo é ameaçado por Hasmid (Roger Delgado), guardião protetor da tumba e dos mortos que roga uma maldição nos aventureiros. Sem se abalarem, o corpo de Kah-To-Bey é levado para o museu em Mezzara e retifica-se que a múmia encontrada anteriormente e creditada a Kah-To-Bey era na verdade de Prem, utilizando um amuleto real dado pelo menino antes de morrer. Só que o famigerado Hasmid, auxiliado de uma velha cartomante irritante chamada Haiti (Catherine Lacey), lê as inscrições proibidas da mortalha e traz a milenar criatura de volta à vida para se vingar daqueles que violaram o túmulo de seu amo. Um por um, começando pelo Sir Walden, vão sendo assassinados pela força descomunal do monstro esfarrapado, chamando a atenção da polícia local, que não consegue encontrar nenhuma explicação lógica para os assassinatos, cedendo a superstição levantada por uma suposta maldição da múmia, que só poderá ser interrompida quando Claire, a especialista em hieróglifos do grupo que adentrou na tumba da Kah-To-Bey, ler o encantamento da mortalha que poderá devolver a criatura ao seu sono eterno. A Mortalha da Múmia é uma boa surpresa. É um filme interessante, claro que sem o mesmo charme de A Múmia da Universal com Boris Karloff ou o filme homônimo do final da década de 50 com Christopher Lee interpretando o monstrengo. Mas é muito melhor que toda a franquia interminável da Universal (que tinha um filme mais chato que o outro) e a bomba homérica que foi Sangue no Sarcófago da Múmia, último da série da Hammer, quando o estúdio inglês já estava em franca decadência. Gilling consegue fazer a história fluir de forma simples e coesa, contando com boas atuações tanto de John Phillips como chauvinista Stanley Preston, quanto do vilanesco Hasmid de Roger Delgado ou mesmo o capacho de Preston, o pobre Longbarrow, vivido pelo ator fetiche de Gilling, Michael Ripper (que esteve presente nos três filmes da Hammer do diretor). Um ponto que fica devendo é a maquiagem da múmia, interpretada por Eddie Powell, frequente dublê do estúdio. Não pense encontrar o mesmo trabalho detalhado e impressionante de Roy Ashton em Christopher Lee, ou mesmo do mestre Jack Pierce em Karloff. Aqui, a criatura de George Partleton é das mais pobrinhas, e nem parece que está envolta em bandagens, e sim nitidamente usando trajes brancos mesmo para simulá-las. Culpa do baixíssimo orçamento do filme, já que os principais recursos financeiros eram gastos com os filmes de Frankenstein e de Drácula. Uma curiosidade de A Mortalha da Múmia é que erroneamente a narração da abertura do filme é creditada a Peter Cushing e em muito locais é publicado que o ator inglês (que estrelou Frankenstein Tem de Ser Destruído, filme que era exibido na apresentação dupla junto de A Mortalha da Múmianos cinemas) foi o narrador, porém segundo o IMDb, a Hammer não tem nenhum registro de quem narrou a abertura, mas que definitivamente não foi Cushing. O filme chegou a ser lançado no Brasil pelo serlo Dark Side, da Works Editora, junto com diversos outros títulos da Hammer, trazendo o título de A Mortalha da Múmia (tradução literal do original), ignorando o nome que recebeu quando foi exibido na televisão brasileira: O Sarcófago Maldito.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/03/203-a-mortalha-da-mumia-1967/

domingo, 19 de julho de 2015

#202 1967 FRANKENSTEIN CRIOU A MULHER (Frankenstein Created Woman (Reino Unido)


Direção: Terence Fisher
Roteiro: John Elder
Produção: Anthony Nelson Keys
Elenco: Peter Cushing, Susan Denberg, Throley Walters, Robert Morris, Peter Blythe

Parodiando o filme de Brigitte Bardot, E Deus Criou A Mulher, aqui Frankenstein Criou a Mulher. O filme mais nonsense da franquia da Hammer, fugindo completamente de qualquer tipo de argumento baseado no original de Mary Shelley, resultado numa divertida e interessante bobagem sem tamanho do estúdio inglês. Com a volta do diretor Terence Fisher à série (responsável pelos dois primeiros filmes, A Maldição de Frankenstein e A Vingança de Frankenstein), Peter Cushing mais uma vez vive o papel do Barão Frankenstein, dessa vez com suas malucas pesquisas voltadas para um assunto um tanto quanto mais filosófico e metafísico: a alma humana. Com a ajuda do cirurgião Dr. Hertz (vivido por Thorley Walters), os experimentos do cientista agora consiste em isolar a alma humana e preservá-la (!!!???), podendo transferi-la para dentro de um corpo morto (!!!!???), e de uma vez por todas, desvendar todos os mistérios de vida e morte. Hertz tem um ajudante, Hans (Robert Morris) que vive atormentado por ter visto seu pai sendo degolado na guilhotina quando pequeno, acusado de assassinato. Sua grande paixão é a torta e deformada Christina (interpretada pela playmate austríaca Susan Denberg, em um excelente trabalho de maquiagem de George Partleton), filha do taberneiro Kleve. Certa noite, após uma experiência bem sucedida, Frankenstein manda o jovem na taverna buscar uma garrafa de champanhe, e lá ele se estranha com três dândis nojentos e arrogantes, que abusam do dono do estabelecimento e fazem troça com a garota deformada. Hans toma as dores e eles começam uma briga feia. Os dândis bêbados, chefiados pelo crápula Anton, após serem expulsos do bar, resolvem arrombar o lugar na calada da noite para beber vinho de graça. Só que Kleve volta para a taverna e encontra os três, que acabam assassinando-o. Tendo em vista a confusão da noite anterior e um casaco de Hans ter sido encontrado no local, somado ao fato do pai dele ter sido um assassino, Hans é injustamente preso, julgado e condenado ao mesmo destino do pai, mesmo tendo um álibi que ele não revela, já que passou a noite com Christine. Ao ver o amado perder a cabeça na guilhotina, a desesperada Christine também resolve dar cabo de sua vida, atirando-se da ponte e morrendo afogada. Dois acontecimentos perfeitos para o Dr. Frankenstein colocar seu plano em prática. Ao receber o corpo de Hans para estudos médicos após ser degolado, ele utiliza uma engenhoca para capturar e prender a alma do rapaz, que depois é transferida com sucesso para o corpo de Christine, que também é totalmente remodelada através de cirurgia plástica, e de uma filhote de cruz credo, vira uma gostosa e sensual loira provocante. O enredo então ganha tons transexuais com o espírito de Hans vivendo no corpo da moçoila. Só que vez ou outra, uma voz dentro de Christine, que pertence a Hans, começa a dominá-la em um sangrento ato de vingança, onde ela irá caçar impiedosamente os três dândis responsáveis pela morte de seu pai e de incriminar Hans, para suprir o desejo dos fãs por sangue. Christine, desconhecida do vilarejo por estar completamente mudada devido às cirurgias de Frankenstein e Hertz, então começa a abusar de decotes, malícia e sedução para fazer os excitados homens caírem em sua teia e poder matá-los cruelmente, expediente que se tornaria famoso nas produções da Hammer na década seguinte: a exploração do corpo feminino. Frankenstein Criou a Mulher é considerada por muitos críticos como um dos melhores filmes da Hammer. Apesar do roteiro absurdo de Anthony Hinds (usando o corriqueiro pseudônimo de John Elder), a trama envolve muito mais uma história que é calcada no sobrenatural, com uso da tecnologia, do que os monstros carniceiros putrefatos que estamos acostumados a imaginar ao pensar nas criaturas de Frankenstein, dando um ar de originalidade nunca antes praticado tanto pelo próprio estúdio inglês, quanto pelas produções anteriores da Universal. E também vale sempre dar um destaque positivo à competência de Terence Fisher atrás das câmeras, cada vez mais fluído e dominando todas as técnicas de composição de cenas, paisagens, reconstrução de época (mais um ótimo trabalho de Rosemary Burrows e Larry Stewart no figurino e Felix Sergejak na direção de arte dos cenários) e a trilha sonora de James Bernard, compositor chefe do estúdio. Aliado a tudo isso, Frankenstein Criou a Mulher ainda tem o galante Peter Cushing afiadíssimo mais uma vez e toda a explosão de sexualidade da deliciosa Susan Dereng interpretando a mais bela criação do Dr. Frankenstein.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/02/202-frankenstein-criou-a-mulher-1967/

sábado, 18 de julho de 2015

#857 2009 ANTICRISTO (Antichrist, Dinamarca, Alemanha, França, Suécia, Itália, Polônia)


Direção: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Produção: Meta Louise Foldager, Peter Garde (Produtor Executivo)
Elenco: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg

Já vou logo dizendo no começo desse post que eu tenho um baita bode de Lars Von Trier. Se quiser, pode atirar as pedras, mas eu não gosto de Dogville, não gosto de Manderlay, eu não suporto Melancolia e principalmente Dançando no Escuro e não vi Ninfomaníaca. Mas Anticristo eu tenho que dar o braço a torcer. O cineasta dinamarquês chama esse filme de o mais importante de toda sua carreira e é aqui que ele exorcisa todos os seus demônios. E um filme que tem essa conotação pessoal, vindo de um cara como Trier, que passou dois anos mergulhado em uma depressão profunda, não poderia ter um resultado mais perturbado, dramático e niilista. E Anticiristo é mais um exemplo claro daqueles filmes que extrapolam o limite do gênero terror e como ele não se resume somente a estereótipos, como muitos ainda pensam. Trier é filho de pais ateus e desde os 12 anos seu livro de cabeceira é “O Anticristo” de Nietzsche, ensaio anti-cristão do filósofo alemão. Nessa sua produção, o diretor usa e abusa de uma criação estética singular, de uma beleza plástica perfeita, com fotografia de Antony Dod Mantle, para julgar e subverter os valores cristãos e humanos em quatro capítulos: Luto, Dor (Caos Reina), Desepero (Feminicídio) e Os Três Mendigos, além de um prólogo e um epílogo. O prólogo é o fio condutor que vai marcar o destino dos dois personagens principais, interpretados por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, em uma das cenas mais lindas e marcantes de toda a história do cinema. Toda filmada em câmera lenta e em preto e branco, o casal está transando (visto como algo moralmente errado e reprovado pela Bíblia) em uma cena de sexo explícito e orgasmo abundante, enquanto acidentalmente seu filho pequeno foge do berço em direção à morte ao cair de uma janela, tudo isso com um trecho da ópera Rigoleto de Händel tocando ao fundo. Ver essa cena em alta definição é um verdadeiro desbunde. Ela, incapaz de conseguir lidar com a dor da perda entra em um estágio de culpa e depressão profunda, e Ele que é terapeuta, resolve transformá-la em sua paciente e tentar ajudá-la a superar a morte da criança. Durante o processo, os dois resolvem se isolar em uma cabana no meio da floresta ironicamente conhecido como Éden. Ironicamente porque o que eles irão passar ali está o mais longe possível do significado literal da palavra. É muito mais próximo do inferno na terra. Cercado de metáfora e elementos extremamente bizarros e estranhos, como o aborto de um cervo ou uma raposa desgranhenta que olha para a terra e diz em alto e bom som: “O caos reina”, Anticristo desenvolve uma batalha psicológica e tortuosa entre os dois personagens, extrapolando a dualidade entre os opostos, a culpa, a negligência e a repressão sexual e joga o espectador em uma espiral de desconforto e violação das ideias e desapego dos valores, até que em seus dois últimos capítulos, transforma a fita em uma espécie de toture porn sublime, se é que um dia você imaginou que isso fosse capaz de acontecer. E tu vais se sentindo mal durante todo o andamento do filme, recheado de cinismo e desilusão, achando que está invadindo a vida e a intimidade daquele casal ao tentar acompanhar com demasiado choque as brutais e realistas conversas e sessões terapêuticas, que vem trazendo à tona percepções sobre a verdadeira natureza do medo e do instinto humano, tudo isso em cenas que deixam um gosto amargo na boca, amparadas por uma beleza singular narrativa e visual e doses cavalares de sexo e nu frontal. Então vamos presenciado o total descontrole emocional da personagem de Charlotte Gainsbourg, conhecendo um pouco mais sobre a pesquisa de sua tese sobre o feminicídio e como as mulheres eram brutalmente assassinadas por homens, principalmente na Idade Média, por serem uma espécie de semente do mal pecadora. E Ela abraça essa causa e vira refém de seus medos e de suas neuroses numa demonstração atroz de misandria, onde o terror que até então era psicológico, transforma-se em visceral e gráfico graças a contundentes cenas de tortura, mutilação genital e assassinato. É preciso ter muito estômago para assistir Anticristo. E estar no clima principalmente. É polêmico e pesado, chegando ao ponto mais puro do  horror da psique humana e do condicionamento do medo e do pecado. Causou um imenso bafafá no Festival de Cannes de 2009 (como já é de praxe tratando-se de Lars Von Trier) e foi alvo de vários tipos de críticas, das mais positivas às mais negativas. Uma coisa é certa: é impossível passar incólume ao filme. Você pode detestá-lo ou você pode odiá-lo. Mas é um mergulho dentro do abismo. E como o próprio Nietzsche escreveu em outra obra: “quando se olha muito tempo para o abismo, o abismo também olha dentro de você”.
FONTE: https://101horrormovies.com/2016/06/17/857-anticristo-2009/

THE 13th UNIT (EUA, 2015)


#201 1967 ESTA NOITE ENCARNAREI NO TEU CADÁVER (Brasil)


Direção: José Mojica Marins
Roteiro: José Mojica Marins, Aldenora de Sá Porto
Produção: José Mojica Marins, Augusto Pereira, Antonio Fracari (Produtor Associado)
Elenco: José Mojica Marins, Tina Wholers, Nadia Freitas, Antonio Fracari, José Lobo

Zé do Caixão está de volta! O expoente máximo do terror nacional, o coveiro mais famoso do cinema brasileiro, quiçá mundial, ataca novamente em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, continuação direta de À Meia-Noite Levarei sua Alma de 1964. E convenhamos, mais uma vez José Mojica Marins dá ao seu filme um dos melhores títulos de filmes de terror de todos os tempos! Foram essas maldições (levarei sua alma, encarnarei no teu cadáver) que transformaram o personagem em um dos mais famosos e mais agourentos do país. O temido coveiro Josefel Zanatas, ou Zé do Caixão para os mais chegados, continua sua insana busca por um filho, para perpetuar a sua espécie como homem superior. Após sobreviver ao infortúnio do final do primeiro filme, agora Zé rapta seis mulheres para entre elas, escolher sua parceira, que também seja uma mulher superior, livre de medo e crenças, a fim de ficar grávida do coveiro. Nesse processo de escolha, ele faz as pobrezinhas comerem o pão que o diabo amassou, agora com a ajuda de Bruno, seu capanga corcunda e deformado, ao melhor estilo assistente de cientista louco. Assustando-as com aranhas, ele acaba escolhendo Márcia, a única que não teve medo dos bichos asquerosos. As demais terão um destino sombrio, já que as joga em um fosso cheio de cobras venenosas que as matarão em poucos minutos. Só que antes de Jandira (interpretada pela ex-miss Tânia Mendonça), uma das cativas, morrer, ela roga a praga que encarnará no cadáver de Zé, atormentando-o pelo resto do filme. Mojica sempre foi um dos mais inventivos e originais cineastas do cinema nacional, isso sem a menor dúvida, mesmo sendo completamente marginalizado. Com o inusitado sucesso de À Meia-Noite Levarei sua Alma, os produtores Augusto Pereira e Antônio Fracari levantaram o dinheiro necessário para o diretor fazer sua sequência. Com orçamento maior que de seu primeiro trabalho, vemos toda a criatividade de Mojica aflorar em um filme muito superior que seu predecessor, tanto de forma técnica e narrativa, com maior liberdade para a construção de sua história, até trabalhar de forma melhor em seus cenários, como por exemplo, o lúgubre pântano, que nada era mais que uma poça cheia de água em um quintal de uma sinagoga no bairro do Brás, onde foi filmado 95% do longa. Além disso, Mojica foi capaz de ousar ainda mais nesse segundo filme da trilogia, mantendo em nível de ebulição sua idiossincrasia de tripudiar sobre os costumes tão enraizados na cultura popular brasileira, elevando o grau da sua blasfêmia como uma metralhadora giratória de questionamentos morais e religiosos, e também aumentando o uso de sangue, mortes grotescas, sexualidade e misoginia. Mas, o ponto alto do filme, mais impressionante e assustador, é quando em um sonho, Zé é arrastado por um encosto para o inferno, e lá conhece a tortura e danação que o espera por toda a eternidade, numa cena realmente chocante, única colorida de todo o filme, com dezenas de almas condenadas sofrendo e sendo espetadas por diabos com tridentes, filmada em uma matiz de cores quentes e frias estouradas, dando a impressão de uma poderosa viagem lisérgica, que faria Dario Argento ficar corado. Fora os diálogos mordazes e provocativos. Mais um daquelas pérolas brilhantes de Mojica, ao condenar o irmão de sua escolhida e filho do seu arqui-inimigo a uma armadilha mortal, conclamando que Deus o salve de queimar uma corda que segura uma pedra, que se despencar, esmagará sua cabeça, ele solta: “Se for para o céu, dê alô para Deus. Mas se seu destino for o inferno, dê meu endereço para o Diabo!”. É ou não é um gênio? Mas claro que a censura não deixaria barato toda essa heresia em plenos anos de chumbo do nosso país, e para o final de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver foi se obrigado a colocar uma resposta moralista e católica de Zé do Caixão reconhecendo Deus como seu legítimo pai e salvador, em seus minutos finais e pedindo perdão para encontrar a redenção na cruz, ignorada quase quarenta anos depois no terceiro filme que fecha a trilogia, A Encarnação do Demônio.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/01/201-esta-noite-encarnarei-no-teu-cadaver-1967/