Direção: José
Mojica Marins
Roteiro: José
Mojica Marins, Aldenora de Sá Porto
Produção: José
Mojica Marins, Augusto Pereira, Antonio Fracari (Produtor Associado)
Elenco: José
Mojica Marins, Tina Wholers, Nadia Freitas, Antonio Fracari, José Lobo
Zé do Caixão está de volta! O
expoente máximo do terror nacional, o coveiro mais famoso do cinema brasileiro,
quiçá mundial, ataca novamente em Esta Noite
Encarnarei no Teu Cadáver, continuação direta de À Meia-Noite Levarei sua Alma de 1964. E convenhamos,
mais uma vez José Mojica Marins dá ao seu filme um dos melhores títulos de
filmes de terror de todos os tempos! Foram essas maldições (levarei sua alma,
encarnarei no teu cadáver) que transformaram o personagem em um dos mais
famosos e mais agourentos do país. O temido coveiro Josefel Zanatas, ou Zé do
Caixão para os mais chegados, continua sua insana busca por um filho, para
perpetuar a sua espécie como homem superior. Após sobreviver ao infortúnio do
final do primeiro filme, agora Zé rapta seis mulheres para entre elas, escolher
sua parceira, que também seja uma mulher superior, livre de medo e crenças, a
fim de ficar grávida do coveiro. Nesse processo de escolha, ele faz as
pobrezinhas comerem o pão que o diabo amassou, agora com a ajuda de Bruno, seu
capanga corcunda e deformado, ao melhor estilo assistente de cientista louco.
Assustando-as com aranhas, ele acaba escolhendo Márcia, a única que não teve
medo dos bichos asquerosos. As demais terão um destino sombrio, já que as joga
em um fosso cheio de cobras venenosas que as matarão em poucos minutos. Só que
antes de Jandira (interpretada pela ex-miss Tânia Mendonça), uma das cativas,
morrer, ela roga a praga que encarnará no cadáver de Zé, atormentando-o pelo
resto do filme. Mojica sempre foi um dos mais inventivos e originais cineastas
do cinema nacional, isso sem a menor dúvida, mesmo sendo completamente
marginalizado. Com o inusitado sucesso de À Meia-Noite Levarei sua Alma,
os produtores Augusto Pereira e Antônio Fracari levantaram o dinheiro
necessário para o diretor fazer sua sequência. Com orçamento maior que de seu
primeiro trabalho, vemos toda a criatividade de Mojica aflorar em um filme
muito superior que seu predecessor, tanto de forma técnica e narrativa, com
maior liberdade para a construção de sua história, até trabalhar de forma
melhor em seus cenários, como por exemplo, o lúgubre pântano, que nada era mais
que uma poça cheia de água em um quintal de uma sinagoga no bairro do Brás,
onde foi filmado 95% do longa. Além disso, Mojica foi capaz de ousar ainda mais
nesse segundo filme da trilogia, mantendo em nível de ebulição sua
idiossincrasia de tripudiar sobre os costumes tão enraizados na cultura popular
brasileira, elevando o grau da sua blasfêmia como uma metralhadora giratória de
questionamentos morais e religiosos, e também aumentando o uso de sangue,
mortes grotescas, sexualidade e misoginia. Mas, o ponto alto do filme, mais
impressionante e assustador, é quando em um sonho, Zé é arrastado por um
encosto para o inferno, e lá conhece a tortura e danação que o espera por toda
a eternidade, numa cena realmente chocante, única colorida de todo o filme, com
dezenas de almas condenadas sofrendo e sendo espetadas por diabos com
tridentes, filmada em uma matiz de cores quentes e frias estouradas, dando a
impressão de uma poderosa viagem lisérgica, que faria Dario Argento ficar
corado. Fora os diálogos mordazes e provocativos. Mais um daquelas pérolas
brilhantes de Mojica, ao condenar o irmão de sua escolhida e filho do seu
arqui-inimigo a uma armadilha mortal, conclamando que Deus o salve de queimar
uma corda que segura uma pedra, que se despencar, esmagará sua cabeça, ele
solta: “Se for para o céu, dê alô para Deus. Mas se seu destino for o inferno,
dê meu endereço para o Diabo!”. É ou não é um gênio? Mas claro que a censura
não deixaria barato toda essa heresia em plenos anos de chumbo do nosso país, e
para o final de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver foi se obrigado
a colocar uma resposta moralista e católica de Zé do Caixão reconhecendo Deus
como seu legítimo pai e salvador, em seus minutos finais e pedindo perdão para
encontrar a redenção na cruz, ignorada quase quarenta anos depois no terceiro
filme que fecha a trilogia, A
Encarnação do Demônio.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/01/201-esta-noite-encarnarei-no-teu-cadaver-1967/
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