sábado, 11 de julho de 2015

#189 1965 O PLANETA DOS VAMPIROS (Terrore nello spazio, Itália, Espanha)


Direção: Mario Bava
Roteiro: Mario Bava, Alberto Bevilacqua, Callisto Cosulich, Antonio Román, Rafael J. Salvia (versão original), Ib Melchior, Louis M. Heyward (versão americana), Renato Peristrinero (história)
Produção: Fulvio Lusciano, Salvatore Billitteri (Produtor Associado), Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson (Produtores Executivos)
Elenco: Barry Sullivan, Norma Bengell, Ángel Aranda, Evi Marandi, Stelio Candelli, Franco Andrei, Fernando Villena

O Planeta dos Vampiros é o filme mais incomum de Mario Bava. Foge bastante do estilo que o mestre italiano do macabro estava acostumado a desenvolver na sua carreira até então, e posteriormente, já que aqui ele investe no campo da ficção científica. E mais uma vez, eleva os padrões do gênero devido a sua genialidade e completo domínio da técnica de se criar a ilusão do cinema, mesmo com orçamentos baixíssimos. Produção italiana e espanhola, o título mercadológico que ganhou nos EUA e consequentemente foi utilizado aqui no Brasil não faz o menor jus ao enredo sinistro de O Planeta dos Vampiros, que em sua versão americana, distribuída pela AIP de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson, ganhou toques no roteiro de Ib Melchior, diretor e roteirista do lisérgico Viagem ao Planeta Proibido de 1959. Os terríveis inimigos espaciais do inóspito e selvagem planeta Aura, onde as naves Argo e Galliot são obrigadas a fazer uma aterrissagem forçada, ao partirem para um expedição em busca de um misterioso sinal emitido da rocha espacial, não tem absolutamente nada a ver com vampiros, antes que você me pergunte, mas sim com parasitas espaciais invisíveis, que vivem em um espectro vibratório diferente dos seres humanos e tomam posse de corpos mortos, trazendo-os de volta a vida, tornando-os hospedeiros escravos de suas vontades. Está mais para O Planeta dos Zumbis, na verdade. Com a nave avariada após terem sido arrastadas por meio de uma poderosa força gravitacional e presos naquele planeta, a tripulação da Argo, liderada pelo capitão Mark Markary (Barry Sullivan, ator americano do longa), após uma intensa luta entre eles, possuídos por algum tipo de influência espacial com o objetivo que destruíssem uns aos outros, têm de procurar pela outra nave, Galliot, onde o Capitão Sallas emitiu um sinal de socorro. Vestidos com o uniforme dos X-Men e capacetes amarelos de motocicleta, eles vasculham o exterior do planeta virtualmente desabitado, com atmosfera compatível com oxigênio (afinal eles podiam respirar sem capacete espacial numa boa) até encontrarem toda a tripulação da outra nave, mortos, aparentemente vítimas do mesmo ataque de cólera que atingiu os astronautas da Argo. Os mortos são enterrados e os engenheiro da nave precisam tentar restaurar os reatores atômicos para que eles saiam do local o quanto antes, pois há uma pesada atmosfera sinistra que indica que não é uma boa ficar naquele planeta terrível. É então que eles descobrem o verdadeiro plano das criaturas alienígenas habitantes de Aura, que possuíram os astronautas e levantaram-nos de suas tumbas: migrar para um outro planeta, como bons parasitas, pois seu habitat havia sido destruído e eles precisam de um novo lar, nem que isso custe a exterminação completa dos seres que já habitam o mundo para o qual eles migrarem. Claro que Mark e sua equipe tentarão impedir que eles cheguem à Terra, nem que isso custe suas vidas, mas será que eles terão sucesso em enfrentar essa terrível e dominadora força? Esse final de parágrafo pareceu sinopse de contracapa de DVD, não pareceu? Uma cena em particular do filme é simplesmente incrível, um dos melhores momentos do terror/ sci-fino cinema de todos os tempos. É quando Mark e a brasileira Norma Bengel, interpretando Sanya, uma das tripulantes da Argo, encontram uma outra nave alienígena destruída no planeta, que teve um terrível destino trágico, e ficam presos dentro dessa nave, em um ambiente claustrofóbico e com uma carga absurda de tensão que realmente é de cagar nas calças, pontuados por uma mórbida fusão de trilha sonora com assustadores efeitos sonoros. Ainda mais por encontrarem dois esqueletos gigantes de criaturas alienígenas que tripulavam aquela nave espacial, deixando extremamente claro o quanto é perigosa a força que habita o planeta Aura. E assim, uma ova que Ridley Scott e Dan O’Bannon alegam nunca terem assistido O Planeta dos Vampiros, porque obviamente Alien – O Oitavo Passageiro foi visualmente e atmosfericamente inspirado no filme de Bava (além da inspiração já confessa de O Terror que Vem do Espaço, claro). Principalmente nesta cena que eles encontram a outra nave e seus fósseis espaciais. E falo mais, até o recente Prometeus, espécie de prequela da mitologia Alien, percebe-se claramente ser influenciado por essa obra. A AIP resolveu financiar e co-produzir a fita de Bava exatamente por conta do sucesso comercial ao distribuir nos EUA os filmes anteriores do italiano, A Máscara de Satã e As Três Máscaras do Terror.O Planeta dos Vampiros ainda contou com o financiamento da Italian International Film de Fulvio Lucisano e da espanhola Castilla Cooperativa Cinematográfica. Mas apesar disso, o orçamento era extremamente baixo para uma produção deste porte e aí que a técnica brilhante de Bava como realizador e sua imensa criatividade entraram em cena, usando truques óticos para compensar a falta de grana. Segundo Tim Lucas, biógrafo de Bava, o planeta Aura foi concebido com apenas duas rochas de gesso. Isso mesmo, duas! Bava usou uma técnica de espelhos no set para conseguir multiplicar o efeito visual do ambiente inóspito do planeta, utilizando jogo de cores e de luz e sombra na fotografia para deixar aquelas rochas de gesso com a aparência desejada de um local lúgubre e sinistro, e cenários obscurecidos por névoas, além do uso de miniaturas sobre uma mesa, valendo-se do famoso processo Schüftan, comum no cinema no começo do século XX, inventando por Eugene Schüftan, utilizado pela primeira vez em Metrópolis de Fritz Lang, que consiste em colocar uma chapa de vidro num ângulo de 45 graus entre a câmera e as miniaturas, para dar a noção de tamanho e profundidade desejada na hora dos atores contracenarem com o ambiente. Bava além disso, para a concepção visual de seu planeta e do interior da espaçonave, pega emprestado as histórias de ficção científica da literatura pulp, abusando de botões e objetos que piscam intermitentemente, excêntricas máquinas, lutas coreografadas, armas futuristas espaciais, figurino estilizado, cabelos, maquiagem, tudo, para criar um ambiente único, lisérgico, colorido, sufocante e deliciosamente kitsch. E mais uma vez, o mestre cuida de todos os detalhes de O Planeta dos Vampiros com muito esmero, atentando-se a todos os detalhes impecáveis da direção de arte, fotografia, figurino, efeitos especiais, como sempre, isso sem contar a brilhante forma como ele conduz o desenvolvimento do longa até seu final pessimista, criando um clima de suspense constante e momentos de verdadeiro horror espacial.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/17/189-o-planeta-dos-vampiros-1965/

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