Direção: Mario Bava
Roteiro: Mario Bava, Alberto
Bevilacqua, Callisto Cosulich, Antonio Román, Rafael J. Salvia (versão
original), Ib Melchior, Louis M. Heyward (versão americana), Renato
Peristrinero (história)
Produção: Fulvio Lusciano,
Salvatore Billitteri (Produtor Associado), Samuel Z. Arkoff e James H.
Nicholson (Produtores Executivos)
Elenco: Barry Sullivan,
Norma Bengell, Ángel Aranda, Evi Marandi, Stelio Candelli, Franco Andrei,
Fernando Villena
O Planeta dos
Vampiros é o filme mais incomum de Mario Bava. Foge bastante do
estilo que o mestre italiano do macabro estava acostumado a desenvolver na sua
carreira até então, e posteriormente, já que aqui ele investe no campo da
ficção científica. E mais uma vez, eleva os padrões do gênero devido a sua
genialidade e completo domínio da técnica de se criar a ilusão do cinema, mesmo
com orçamentos baixíssimos. Produção italiana e espanhola, o título
mercadológico que ganhou nos EUA e consequentemente foi utilizado aqui no
Brasil não faz o menor jus ao enredo sinistro de O Planeta dos Vampiros,
que em sua versão americana, distribuída pela AIP de Samuel Z. Arkoff e James
H. Nicholson, ganhou toques no roteiro de Ib Melchior, diretor e roteirista do
lisérgico Viagem ao Planeta Proibido de 1959. Os terríveis inimigos
espaciais do inóspito e selvagem planeta Aura, onde as naves Argo e Galliot são
obrigadas a fazer uma aterrissagem forçada, ao partirem para um expedição em busca
de um misterioso sinal emitido da rocha espacial, não tem absolutamente nada a
ver com vampiros, antes que você me pergunte, mas sim com parasitas espaciais
invisíveis, que vivem em um espectro vibratório diferente dos seres humanos e
tomam posse de corpos mortos, trazendo-os de volta a vida, tornando-os
hospedeiros escravos de suas vontades. Está mais para O Planeta dos Zumbis, na
verdade. Com a nave avariada após terem sido arrastadas por meio de uma
poderosa força gravitacional e presos naquele planeta, a tripulação da Argo,
liderada pelo capitão Mark Markary (Barry Sullivan, ator americano do longa),
após uma intensa luta entre eles, possuídos por algum tipo de influência
espacial com o objetivo que destruíssem uns aos outros, têm de procurar pela outra
nave, Galliot, onde o Capitão Sallas emitiu um sinal de socorro. Vestidos com o
uniforme dos X-Men e capacetes amarelos de motocicleta, eles vasculham o
exterior do planeta virtualmente desabitado, com atmosfera compatível com
oxigênio (afinal eles podiam respirar sem capacete espacial numa boa) até
encontrarem toda a tripulação da outra nave, mortos, aparentemente vítimas do
mesmo ataque de cólera que atingiu os astronautas da Argo. Os mortos são
enterrados e os engenheiro da nave precisam tentar restaurar os reatores
atômicos para que eles saiam do local o quanto antes, pois há uma pesada
atmosfera sinistra que indica que não é uma boa ficar naquele planeta terrível.
É então que eles descobrem o verdadeiro plano das criaturas alienígenas
habitantes de Aura, que possuíram os astronautas e levantaram-nos de suas
tumbas: migrar para um outro planeta, como bons parasitas, pois seu habitat
havia sido destruído e eles precisam de um novo lar, nem que isso custe a
exterminação completa dos seres que já habitam o mundo para o qual eles
migrarem. Claro que Mark e sua equipe tentarão impedir que eles cheguem à
Terra, nem que isso custe suas vidas, mas será que eles terão sucesso em
enfrentar essa terrível e dominadora força? Esse final de parágrafo pareceu
sinopse de contracapa de DVD, não pareceu? Uma cena em particular do filme é
simplesmente incrível, um dos melhores momentos do terror/ sci-fino cinema
de todos os tempos. É quando Mark e a brasileira Norma Bengel, interpretando
Sanya, uma das tripulantes da Argo, encontram uma outra nave alienígena
destruída no planeta, que teve um terrível destino trágico, e ficam presos
dentro dessa nave, em um ambiente claustrofóbico e com uma carga absurda de
tensão que realmente é de cagar nas calças, pontuados por uma mórbida fusão de
trilha sonora com assustadores efeitos sonoros. Ainda mais por encontrarem dois
esqueletos gigantes de criaturas alienígenas que tripulavam aquela nave
espacial, deixando extremamente claro o quanto é perigosa a força que habita o
planeta Aura. E assim, uma ova que Ridley Scott e Dan O’Bannon alegam nunca
terem assistido O Planeta dos Vampiros, porque obviamente Alien – O Oitavo Passageiro foi visualmente e
atmosfericamente inspirado no filme de Bava (além da inspiração já confessa de O Terror que Vem do Espaço, claro). Principalmente nesta cena
que eles encontram a outra nave e seus fósseis espaciais. E falo mais, até o
recente Prometeus, espécie de prequela da mitologia Alien, percebe-se
claramente ser influenciado por essa obra. A AIP resolveu financiar e
co-produzir a fita de Bava exatamente por conta do sucesso comercial ao
distribuir nos EUA os filmes anteriores do italiano, A Máscara de Satã e As Três Máscaras do Terror.O Planeta dos Vampiros ainda
contou com o financiamento da Italian International Film de Fulvio Lucisano e
da espanhola Castilla Cooperativa Cinematográfica. Mas apesar disso, o orçamento
era extremamente baixo para uma produção deste porte e aí que a técnica
brilhante de Bava como realizador e sua imensa criatividade entraram em cena,
usando truques óticos para compensar a falta de grana. Segundo Tim Lucas,
biógrafo de Bava, o planeta Aura foi concebido com apenas duas rochas de gesso.
Isso mesmo, duas! Bava usou uma técnica de espelhos no set para conseguir
multiplicar o efeito visual do ambiente inóspito do planeta, utilizando jogo de
cores e de luz e sombra na fotografia para deixar aquelas rochas de gesso com a
aparência desejada de um local lúgubre e sinistro, e cenários obscurecidos por
névoas, além do uso de miniaturas sobre uma mesa, valendo-se do famoso processo
Schüftan, comum no cinema no começo do século XX, inventando por Eugene
Schüftan, utilizado pela primeira vez em Metrópolis de Fritz Lang,
que consiste em colocar uma chapa de vidro num ângulo de 45 graus entre a
câmera e as miniaturas, para dar a noção de tamanho e profundidade desejada na
hora dos atores contracenarem com o ambiente. Bava além disso, para a concepção
visual de seu planeta e do interior da espaçonave, pega emprestado as histórias
de ficção científica da literatura pulp, abusando de botões e objetos que
piscam intermitentemente, excêntricas máquinas, lutas coreografadas, armas
futuristas espaciais, figurino estilizado, cabelos, maquiagem, tudo, para criar
um ambiente único, lisérgico, colorido, sufocante e deliciosamente kitsch.
E mais uma vez, o mestre cuida de todos os detalhes de O Planeta dos
Vampiros com muito esmero, atentando-se a todos os detalhes impecáveis da
direção de arte, fotografia, figurino, efeitos especiais, como sempre, isso sem
contar a brilhante forma como ele conduz o desenvolvimento do longa até seu
final pessimista, criando um clima de suspense constante e momentos de
verdadeiro horror espacial.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/17/189-o-planeta-dos-vampiros-1965/
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