Direção: Terence Young
Roteiro: Robert Carrington,
Jane-Howard Carrington (baseado na peça de Frederick Knott)
Produção:
Mel Ferrer
Elenco: Audrey
Hepburn, Alan Arkin, Richard Crenna, Efrem Zimbalist Jr., Jack Weston, Julie
Herrod
Um Clarão nas
Trevas é um senhor filme de suspense. Praticamente perfeito em
todos os elementos que o compõe, desde a direção fluente de Terence Young, ao
roteiro muito bem construído de Robert e Jane-Howard Carrington (baseado na
peça de Frederick Knott) e atuações irrepreensíveis, com destaque para os dois
oscarizados Audrey Hepburn (no melhor papel de sua carreira?) e de Alan Arkin. Sabe
aquele tipo de filme que te prende do começo ao final? Inteligente, intrigante,
que sabe muito bem explorar todas as nuances e construção da história? Pois
bem, esse é Um Clarão nas Trevas. Há toda uma exploração do terror
psicológico, aflitivo. Ao você pensar de forma simples no enredo, uma trama em
que três criminosos invadem o apartamento de uma mulher cega em busca de uma
boneca, pode vir na sua cabeça qualquer tipo de brutalidade física que cairia
com uma luva em um filmeexploitation ou torture porn. Mas não aqui.
Ainda estamos nos anos 60. E graças a isso, há o medo induzido através de
atitudes planejadas, infligido a uma mulher cega aparentemente indefesa, que é
muito pior que qualquer banho de sangue ou tortura desmedida. Audrey interpreta
de forma absolutamente fantástica a recém-cega Susy Hendrix, que vem tentando
se adaptar ás rotinas e dificuldades de um deficiente visual, ainda mais porque
seu marido, Sam (Efrem Zimbalist Jr.), vive sempre a desafiando para que ela
não se entregue à sua condição física. Para ela, o marido quer que ela seja a
campeã mundial cega. E é exatamente essa condição de sobrepor-se à sua
limitação, que salvará sua pele contra os escroques. O filme, de forma bem
explicativa, começa com uma boneca sendo estofada com heroína no Canadá, para
despistar a polícia durante o voo para Nova York. Porém ao chegar em seu
destino, Lisa, a “mula” que carrega a boneca contendo as drogas, percebe que
está sendo vigiada e entrega-a para um estranho qualquer no aeroporto, que vem
a ser Sam. A partir daí, com uma dinâmica absurdamente teatral, Roat, o bandido
que estava no aeroporto, sujeito ruim à beça, mata Lisa e contrata dois
capangas, Mike Talman (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), para que façam
parte de um plano mirabolante de obter as drogas, já que ele não conseguiu
encontrar a boneca no apartamento. Através de um telefonema falso, Sam que é
fotógrafo, pega um trabalho à noite fora da cidade, e deixa Susy em casa,
quando um elaborado esquema para tentar convencer a mulher a dizer onde a
boneca está é colocado em prática, envolvendo Mike como um amigo que serviu com
Mike durante a Guerra da Coreia, Carlino interpretando o papel de um detetive e
Roat, de um pai e seu filho, que acreditam que Sam traiu Suzy no Canadá com
Lisa e ganhou dela esta boneca, inventando uma desculpa esfarrapara para a
esposa. Dessa forma começa um jogo psicológico para desestabilizar a mulher. O
que eles não contam é que Susy não é nem um pouco indefesa, e apesar de não
conseguir enxergar, todos seus outros sentidos são mais apurados, então ela
consegue perceber quando eles estão abrindo e fechando a persiana da janela, ou
limpando os lugares que tocam para não deixar as impressões digitais, ou o
simples barulho dos sapatos na escada. E depois do plano dos criminosos
desbaratinado, ela resolve tirar sua vantagem desligando todas as luzes da
casa, e dando início uma verdadeira luta pela sobrevivência contra o implacável
Roat. Iniciam-se então os momentos de maior tensão do filme, nas sequências na
escuridão de tirar o fôlego, iluminadas brevemente por fósforos ou pela luz da
geladeira. Se a atuação de Audrey vinha sendo magnífica até então, agora é a
hora que ela deixa todos de queixo caído, demonstrando toda sua angústia, pavor
e desespero, e ao mesmo tempo, suas iniciativas em tentar sobreviver e se
defender das investidas do bandido psicótico e cruel. Tanto que levou sua
quinta indicação ao Oscar® de melhor atriz. Nível de adrenalina lá em
cima, tanto para os personagens, quanto para nós espectadores, mordendo o
travesseiro assistindo ao desfecho. Um Clarão nas Trevas é um thriller
intenso, angustiante e inesquecível, digno dos maiores exemplares de suspense
já produzidos até hoje. Peca um pouco pelo final óbvio e feliz (repito, ainda
estamos nos anos 60. Se fosse 10 anos mais tarde…), o que o deixa a um triz de
ser uma obra prima do gênero. Mas mesmo assim é um filmaço. E Audrey Hepburn é
linda. É um prazer visual vê-la em cena.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/06/28/199-um-clarao-nas-trevas-1967/
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