quinta-feira, 16 de julho de 2015

#199 1967 UM CLARÃO NAS TREVAS (Wait Until Dark, EUA)


Direção: Terence Young
Roteiro: Robert Carrington, Jane-Howard Carrington (baseado na peça de Frederick Knott)
Produção: Mel Ferrer
Elenco: Audrey Hepburn, Alan Arkin, Richard Crenna, Efrem Zimbalist Jr., Jack Weston, Julie Herrod

Um Clarão nas Trevas é um senhor filme de suspense. Praticamente perfeito em todos os elementos que o compõe, desde a direção fluente de Terence Young, ao roteiro muito bem construído de Robert e Jane-Howard Carrington (baseado na peça de Frederick Knott) e atuações irrepreensíveis, com destaque para os dois oscarizados Audrey Hepburn (no melhor papel de sua carreira?) e de Alan Arkin. Sabe aquele tipo de filme que te prende do começo ao final? Inteligente, intrigante, que sabe muito bem explorar todas as nuances e construção da história? Pois bem, esse é Um Clarão nas Trevas. Há toda uma exploração do terror psicológico, aflitivo. Ao você pensar de forma simples no enredo, uma trama em que três criminosos invadem o apartamento de uma mulher cega em busca de uma boneca, pode vir na sua cabeça qualquer tipo de brutalidade física que cairia com uma luva em um filmeexploitation ou torture porn. Mas não aqui. Ainda estamos nos anos 60. E graças a isso, há o medo induzido através de atitudes planejadas, infligido a uma mulher cega aparentemente indefesa, que é muito pior que qualquer banho de sangue ou tortura desmedida. Audrey interpreta de forma absolutamente fantástica a recém-cega Susy Hendrix, que vem tentando se adaptar ás rotinas e dificuldades de um deficiente visual, ainda mais porque seu marido, Sam (Efrem Zimbalist Jr.), vive sempre a desafiando para que ela não se entregue à sua condição física. Para ela, o marido quer que ela seja a campeã mundial cega. E é exatamente essa condição de sobrepor-se à sua limitação, que salvará sua pele contra os escroques. O filme, de forma bem explicativa, começa com uma boneca sendo estofada com heroína no Canadá, para despistar a polícia durante o voo para Nova York. Porém ao chegar em seu destino, Lisa, a “mula” que carrega a boneca contendo as drogas, percebe que está sendo vigiada e entrega-a para um estranho qualquer no aeroporto, que vem a ser Sam. A partir daí, com uma dinâmica absurdamente teatral, Roat, o bandido que estava no aeroporto, sujeito ruim à beça, mata Lisa e contrata dois capangas, Mike Talman (Richard Crenna) e Carlino (Jack Weston), para que façam parte de um plano mirabolante de obter as drogas, já que ele não conseguiu encontrar a boneca no apartamento. Através de um telefonema falso, Sam que é fotógrafo, pega um trabalho à noite fora da cidade, e deixa Susy em casa, quando um elaborado esquema para tentar convencer a mulher a dizer onde a boneca está é colocado em prática, envolvendo Mike como um amigo que serviu com Mike durante a Guerra da Coreia, Carlino interpretando o papel de um detetive e Roat, de um pai e seu filho, que acreditam que Sam traiu Suzy no Canadá com Lisa e ganhou dela esta boneca, inventando uma desculpa esfarrapara para a esposa. Dessa forma começa um jogo psicológico para desestabilizar a mulher. O que eles não contam é que Susy não é nem um pouco indefesa, e apesar de não conseguir enxergar, todos seus outros sentidos são mais apurados, então ela consegue perceber quando eles estão abrindo e fechando a persiana da janela, ou limpando os lugares que tocam para não deixar as impressões digitais, ou o simples barulho dos sapatos na escada. E depois do plano dos criminosos desbaratinado, ela resolve tirar sua vantagem desligando todas as luzes da casa, e dando início uma verdadeira luta pela sobrevivência contra o implacável Roat. Iniciam-se então os momentos de maior tensão do filme, nas sequências na escuridão de tirar o fôlego, iluminadas brevemente por fósforos ou pela luz da geladeira. Se a atuação de Audrey vinha sendo magnífica até então, agora é a hora que ela deixa todos de queixo caído, demonstrando toda sua angústia, pavor e desespero, e ao mesmo tempo, suas iniciativas em tentar sobreviver e se defender das investidas do bandido psicótico e cruel. Tanto que levou sua quinta indicação ao Oscar® de melhor atriz. Nível de adrenalina lá em cima, tanto para os personagens, quanto para nós espectadores, mordendo o travesseiro assistindo ao desfecho. Um Clarão nas Trevas é um thriller intenso, angustiante e inesquecível, digno dos maiores exemplares de suspense já produzidos até hoje. Peca um pouco pelo final óbvio e feliz (repito, ainda estamos nos anos 60. Se fosse 10 anos mais tarde…), o que o deixa a um triz de ser uma obra prima do gênero. Mas mesmo assim é um filmaço. E Audrey Hepburn é linda. É um prazer visual vê-la em cena.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/28/199-um-clarao-nas-trevas-1967/

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