domingo, 12 de julho de 2015

#195 1966 MANOS: THE HANDS OF FATE (MANOS: THE HANDS OF FATE, EUA)


Direção: Hal Warren
Roteiro: Hal Warren
Produção: Hal Warren
Elenco: Hal Warren, Tom Neyman, John Reynolds, Diane Mahree, Stephanie Nelson, Jackey Neyman

Adjetivar um filme parece sempre ser um dos maiores prazeres e desafios de todo cinéfilo ou crítico de cinema, principalmente quando se trata do amplo gênero do cinema de terror. E dentre estes adjetivos, o que mais procuramos é o pior filme já feito. E assim, sem a menor dúvida, com todo louvor do mundo, este título vai para Manos: The Hands of Fate. É unânime. É simplesmente a maior porcaria que eu já assisti em toda a minha vida. É aquela porcaria que obviamente torna-se cultuada (Quentin Tarantino tem uma cópia raríssima em 35mm do filme em sua estante), mas há tamanha dose cavalar de erros técnicos de roteiro, direção, edição, atuação, dublagem, pós produção, e todos os elementos que compõe a produção de um filme, que deveria ser exibido em todos os cursos de cinema sobre o que não se fazer em um longa (ou curta, média, qualquer) metragem. Para começar, o insólito diretor/ roteirista/ produtor/ ator de Manos: The Hands of Fate, Hal Warren, na verdade era vendedor de fertilizantes em El Paso, Texas. Com o perdão do trocadilho, não é de se admirar que o filme seja uma merda. A ideia de fazer a fita surgiu de uma aposta, de que seria impossível fazer um filme bem sucedido com um orçamento tão baixo, mas o sujeito quis provar o contrário. Perdeu, claro. Warren juntou 19 mil doletas, contratou um bando de atores (desrespeito à classe) do grupo de teatros do local e algumas modelos, na promessa de compartilhar os lucros de bilheteria com os envolvidos e foi lá rodar sua “obra prima” cinematográfica. Daí em diante é um show de horrores. O longa foi filmado com uma câmera de 16mm que só conseguia captar 32 segundos de filme. Isso dá a ele um processo de edição pavoroso, com sequências completamente absurdas (inclusive em diálogos) e erros de continuidade gravíssimos, afetando todo o seu andamento, que apesar dos parcos 74 minutos, da impressão que o filme é muito mais longo. As limitações técnicas não paravam por aí, pois durante as cenas noturnas, mal consegue se ver alguma coisa, e as luzes atraíam mariposas voando que nitidamente aparecem em cena em seu balé inseto. Isso sem falar de seu roteiro desconexo, com personagens pífios, atores do mais baixo calibre que o cinema poderia encontrar, ao melhor estilo Hermes & Renato, e como se não fosse o bastante, a câmera não captava o som, e depois as cenas tiveram de ser todas dubladas na pós-produção, com uma tremenda falha de sincronia em algumas ocasiões. Claro que resultou em algumas cenas realmente antológicas, como, por exemplo, um casal que fica o filme INTEIRO em um carro dando um amasso e tomando umas biritas, sem a menor ligação com todo o resto do enredo, colocada no filme só para poder aproveitar a presença da “atriz” Joyce Molleur, que estava com a perna quebrada. Bom, a história, se é que podemos chamar tal qual, concentra-se no casal Michael (interpretado pelo próprio Warren) e Margaret (Diane Mahree) que viajam de férias com sua filha pequena, Debbie, e seu cachorrinho de estimação Peppy, e perdidos no meio do nada, resolvem parar em um hotel para procurar abrigo durante à noite. Lá são recepcionados pelo esquisítissmo Torgo, um deficiente de pernas tortas, barbudo, sujo e chapado, que cuida do hotel enquanto o Mestre não está. Altamente convidativo se hospedar por lá. Torgo foi interpretado por John Reynolds, que “atuou” o filme inteiro sob efeito de LSD (percebe-se), e se suicidou pouco depois da estreia. Dizem as más línguas que foi devido a sua participação em Manos, mas diferente do diretor Fred F. Sears, que possivelmente se matou após ser avacalhado com o resultado de seu filme O Ataque Vem do Polo (que parece Cidadão Kane perto disto aqui), o motivo aqui foi problemas familiares e abuso de drogas. Na verdade Torgo faz parte de uma seita pagã maligna, adoradora do deus das trevas Manos, que é uma mão que fica em um altar de fogo. O tal Mestre (Tom Neyman), sacerdote supremo do culto e adorador de Manos é um sujeito que parece o Seu Madruga com seu bigode de mariachi, usa uma longa túnica preta com enormes mãos vermelhas desenhadas e vive para lá e para cá com seu doberman infernal (que era seu cachorro de estimação na vida real). Além de possuir o poder de entender o que uma mão mumificada prega, seu passatempo é colecionar esposas, todas vestidas com uma longa camisola branca. E sua próxima aquisição será Margaret. Mas acontece que Torgo também está a fim dela (ele até questiona o Mestre, dizendo que ele sempre tem todas e ele não pode ficar com nenhuma. Só faltou um “oh, puxa” do Minduim). Torgo obviamente será punido por essa insolência, sendo violentamente chacoalhado (???!!!!) pelas esposas do Mestre e depois terá sua mão arrancada como sacrifício para Manos. Uma mão para Manos! O Mestre decide então que Michael e o cão devem morrer, e Margaret e menina deverão se tornar suas esposas. Pera aí, a menina deverá se tornar esposa? Isso é apologia à pedofilia! Pior ainda, que a “atriz” que faz a pentelha era filha do ator Tom Neyman. Então além de pedofilia, isso seria incesto! Aqui Warren sambou na cara da sociedade, da moral e dos bons costumes. Então rola toda uma discussão ferrenha entre as esposas se a criança deve ser morta ou não. Aparentemente a preferida do Mestre é contra, e isso provoca uma cisma entre elas, que começam a lutar em uma cena das piores já feitas na história da sétima arte, e faria os irmãos Lumiére rolarem do túmulo, com as moçoilas puxando o cabelo uma das outras e rolando pela areia. Só faltou o ringue com gel. Até que ela é voto vencido e aprisionada, sendo depois espancada pelo Mestre por sua insolência. Nisso, na escuridão do deserto, a família tenta fugir por suas vidas, enquanto vivem tropeçando do nada e fingindo estarem mortalmente machucados, principalmente Margaret, que a cada tropicão, diz que não pode mais continuar, e seu marido e sua filha devem seguir em frente para se salvar. Depois de se depararem com uma cascavel (uma cena de arquivo enxertada ao melhor estilo Ed Wood), resolvem voltar para o hotel, pois brilhantemente acreditam que o Mestre e suas esposas não voltariam a procurá-los ali. Ledo engano dos dois gênios, pois o bigodudo estará lá. Michael descarrega sua arma no vilão, que aparentemente adquire uma forma etérea através de um defeito de foco da câmera, e a cena corta para a manhã seguinte, com duas novas garotas passeando de carro pelo deserto e chegando até o mesmo hotel. Ao invés de Torgo, agora Michael cuida de lá enquanto o Mestre não está. Em seu local de descanso, vemos Margaret e a filha com as camisolas brancas, juntas ao restante das noivas. E após os créditos, surge a palavra Fim com um ponto de interrogação. Mas felizmente, é sim o final de verdade. Warren quis promover uma estreia de gala na sua cidade natal quando o filme foi lançado, tendo sido amplamente promovido, alta sociedade convidada, limusines para levá-lo ao cinema junto com o elenco (mesmo tendo que fazer duas viagens e dar a volta no quarteirão para conseguir deixar todo mundo no cinema) e tudo mais. Mas não deu outra: quando o filme foi exibido, uma explosão de risos dominou o Capri Theatre e diretor e atores saíram humilhados da sessão antes que a película chegasse ao fim. Manos: The Hands of Fate afundou na bilheteria, e sendo assim, os únicos que receberam alguma coisa pela sua participação no filme foi Jackey Newman, a pequena Debbie, que ganhou uma bicicleta e o doberman que ganhou um saco de ração! O filme obviamente caiu na obscuridade, até virar episódio do sensacional Mystery Science Theatre 3000 em 1993 e ganhar notoriedade do público, para depois ter finalmente seu lançamento em DVD. Sabe o conceito que de tão ruim fica bom? Bem, ele não se encaixa aqui neste caso. Pode realmente ser uma experiência traumática e você parar de acreditar na magia do cinema, mas mesmo depois de tudo isso, aconselho-o a tentar a sorte e assistir Manos: The Hands of Fate. Impossível passar incólume pela fita. Duvido que outra película em toda a sua vida o deixará tão perplexo e atônito com o que está vendo em sua frente, e como tamanha canastrice pôde ser realizada. Mas é objeto de culto. E de estudo, com toda certeza.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/24/195-manos-the-hands-of-fate-1966/

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