sábado, 11 de julho de 2015

#193 1966 EPIDEMIA DE ZUMBIS (The Plague of the Zombies, Reino Unido)


Direção: John Gilling
Roteiro: Peter Bryan
Produção: Anthony Nelson Keys
Elenco: André Morell, Diane Clare, Brook Williams, Jacqueline Pearce, John Carson

Depois de investir em Drácula, Lobisomem, Frankenstein e a Múmia, foi a vez da Hammer voltar seus olhos para outro monstro, o zumbi, e retirar a criatura putrefata do ostracismo de sua tumba cinematográfica em Epidemia de Zumbis, uma das melhores incursões do gênero pré-Romero. Dirigido por John Gilling, apesar de ser um filme B da Hammer, sem o charme das franquias com Peter Cushing e Christopher Lee, Epidemia de Zumbis é cinema de morto-vivo bem feito, e retorna à origem haitiana do cadáver ambulante e seu envolvimento com o vodu, assim como nos primórdios dos filmes de zumbi na década de 30 e 40. Situada na Cornuália do Século XIX, um fidalgo local está zumbificando os moradores do vilarejo através de práticas vodu para tornarem-se escravos autômatos em sua mina de estanho, gerando mão de obra para a extração do minério que o deixou rico e ascendeu seu status socialmente. Trabalho morto-vivo forçado tal qual o personagem de Bela Lugosi fazia em Zumbi Branco, gênese do gênero. Só que os moradores atribuem a morte de seus familiares a uma praga e incompetência do jovem médico Dr. Peter Tompson (Brook Williams), que se vê obrigado a pedir ajuda ao seu ilustre professor da Universidade de Medicina de Londres, Sir James Forbes (André Morell), que viaja com sua filha Sylvia (Diane Clare) até a Cornuália e encontra uma cidade em luto, dominada pelo medo, governada pela mão de ferro do fidalgo Clive Hamilton (John Carson). Além disso, a esposa de Peter, Alice (Jacqueline Pearce), amiga de Sylvia, está agindo de forma estranha, pois na verdade está sob controle hipnótico de Hamilton, que a enfeitiçou através de uma bonequinha de vodu feita de durepox. Além dos zumbis escravos, o fidalgo conta com um bando de comparsas foras de lei que o ajuda nos serviços sujos e também com nativos haitianos importados da ilha caribenha, que ficam a noite toda batendo tambores usando chapéus com chifres de bisão na cabeça (?). Após a morte de Alice, Peter e James resolvem exumar os cadáveres só para descobrir que eles estão levantando de suas tumbas, enquanto o interesse de Hamilton se volta para Sylvia, o que leva os dois médicos a terem de desbaratar o esquema zumbi do sacerdote vodu antes que seja tarde demais. Esquecido pela Hammer durante algum tempo, Epidemia de Zumbis teria uma história completamente diferente, e teria seu foco em problemas raciais com nativos haitianos levados ao vilarejo da Inglaterra, que seriam os responsáveis pela praga. Em 1965, o roteiro foi redescoberto e ganhou uma extensa revisão do roteirista Peter Bryant, que resultou nos mortos-vivos com maquiagem putrefata, andar trôpego e olhos vidrados, dois anos antes de Romero revolucionar o gênero em A Noite dos Mortos-Vivos e levantá-los de suas covas de terra e deixá-los sujos e vestidos com sacos de batatas, mais de uma década antes de Lucio Fulci em seu Zumbi 2 – A Volta dos Mortos. Além disso, Epidemia de Zumbis elimina o conflito racial para evidenciar o já famoso conflito de classes que o estúdio inglês sempre enxertava de forma subliminar em seus filmes, principalmente de Drácula e Frankenstein, onde os burgueses, camponeses e a classe média local se revolta contra o aristocrata déspota, que aqui é representado pelo magistrado Clive Hamilton, mas poderia muito bem ser substituído pelo Conde Drácula ou pelo Barão Frankenstein (sempre há um título social importante antes do nome). Soma-se esse subtexto com cenas de verdadeiro horror zumbi, e esses elementos trazem um frescor original ao filme de Gilling, que definitivamente foi responsável pelos zumbis mais aterrorizantes do cinema de terror até então, variando em excelentes e assustadores efeitos de maquiagem de Roy Ashton, com outros momentos patéticos, como, por exemplo, quando Alice é decapitada por um golpe de pá ou os zumbis estão em chamas na cena final no interior da mina. Isso sem contar o sangue dos mais falsos da história do cinema, típico da Hammer. Claro que hoje Epidemia de Zumbis está muitíssimo datado. Até mesmo o título soa falso se pensarmos na proporção caótica que o termo “epidemia de zumbis” tomou ao tratar os mortos-vivos como resultado de uma praga que da noite para o dia irá dominar o mundo e colocá-los no topo da cadeia alimentar. Ainda mais para os incautos que vibram assistindo a um episódio da série The Walking Dead em seu meio-ambiente pós apocalíptico. Mas vale muito a pena assistir a essa honesta produção inglesa pelo contexto histórico, e colocá-la em um lugar de destaque no coraçãozinho da sua filmografia zumbi, que foi até lançado em DVD no Brasil pelo selo Dark Side da Works Editora, junto com vários outros títulos da Hammer.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/21/193-epidemia-de-zumbis-1966/

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