Direção: John
Gilling
Roteiro: Peter
Bryan
Produção: Anthony
Nelson Keys
Elenco: André
Morell, Diane Clare, Brook Williams, Jacqueline Pearce, John Carson
Depois de investir em Drácula,
Lobisomem, Frankenstein e a Múmia, foi a vez da Hammer voltar seus olhos para
outro monstro, o zumbi, e retirar a criatura putrefata do ostracismo de sua
tumba cinematográfica em Epidemia de Zumbis, uma das melhores incursões do gênero
pré-Romero. Dirigido por John Gilling, apesar de ser um filme B da Hammer, sem
o charme das franquias com Peter Cushing e Christopher Lee, Epidemia de
Zumbis é cinema de morto-vivo bem feito, e retorna à origem haitiana do
cadáver ambulante e seu envolvimento com o vodu, assim como nos primórdios dos
filmes de zumbi na década de 30 e 40. Situada na Cornuália do Século XIX, um
fidalgo local está zumbificando os moradores do vilarejo através de práticas
vodu para tornarem-se escravos autômatos em sua mina de estanho, gerando mão de
obra para a extração do minério que o deixou rico e ascendeu seu status
socialmente. Trabalho morto-vivo forçado tal qual o personagem de Bela Lugosi
fazia em Zumbi Branco, gênese do gênero. Só que os moradores atribuem a
morte de seus familiares a uma praga e incompetência do jovem médico Dr. Peter
Tompson (Brook Williams), que se vê obrigado a pedir ajuda ao seu ilustre
professor da Universidade de Medicina de Londres, Sir James Forbes (André
Morell), que viaja com sua filha Sylvia (Diane Clare) até a Cornuália e
encontra uma cidade em luto, dominada pelo medo, governada pela mão de ferro do
fidalgo Clive Hamilton (John Carson). Além disso, a esposa de Peter, Alice
(Jacqueline Pearce), amiga de Sylvia, está agindo de forma estranha, pois na
verdade está sob controle hipnótico de Hamilton, que a enfeitiçou através de
uma bonequinha de vodu feita de durepox. Além dos zumbis escravos, o fidalgo
conta com um bando de comparsas foras de lei que o ajuda nos serviços sujos e
também com nativos haitianos importados da ilha caribenha, que ficam a noite
toda batendo tambores usando chapéus com chifres de bisão na cabeça (?). Após a
morte de Alice, Peter e James resolvem exumar os cadáveres só para descobrir
que eles estão levantando de suas tumbas, enquanto o interesse de Hamilton se
volta para Sylvia, o que leva os dois médicos a terem de desbaratar o esquema
zumbi do sacerdote vodu antes que seja tarde demais. Esquecido pela Hammer
durante algum tempo, Epidemia de Zumbis teria uma história
completamente diferente, e teria seu foco em problemas raciais com nativos
haitianos levados ao vilarejo da Inglaterra, que seriam os responsáveis pela
praga. Em 1965, o roteiro foi redescoberto e ganhou uma extensa revisão do
roteirista Peter Bryant, que resultou nos mortos-vivos com maquiagem putrefata,
andar trôpego e olhos vidrados, dois anos antes de Romero revolucionar o gênero
em A Noite dos
Mortos-Vivos e levantá-los de suas covas de terra e deixá-los
sujos e vestidos com sacos de batatas, mais de uma década antes de Lucio Fulci
em seu Zumbi 2 – A Volta dos Mortos. Além disso, Epidemia de
Zumbis elimina o conflito racial para evidenciar o já famoso conflito de
classes que o estúdio inglês sempre enxertava de forma subliminar em seus
filmes, principalmente de Drácula e Frankenstein, onde os burgueses, camponeses
e a classe média local se revolta contra o aristocrata déspota, que aqui é
representado pelo magistrado Clive Hamilton, mas poderia muito bem ser
substituído pelo Conde Drácula ou pelo Barão Frankenstein (sempre há um título
social importante antes do nome). Soma-se esse subtexto com cenas de verdadeiro
horror zumbi, e esses elementos trazem um frescor original ao filme de Gilling,
que definitivamente foi responsável pelos zumbis mais aterrorizantes do cinema
de terror até então, variando em excelentes e assustadores efeitos de maquiagem
de Roy Ashton, com outros momentos patéticos, como, por exemplo, quando Alice é
decapitada por um golpe de pá ou os zumbis estão em chamas na cena final no
interior da mina. Isso sem contar o sangue dos mais falsos da história do
cinema, típico da Hammer. Claro que hoje Epidemia de Zumbis está
muitíssimo datado. Até mesmo o título soa falso se pensarmos na proporção
caótica que o termo “epidemia de zumbis” tomou ao tratar os mortos-vivos como
resultado de uma praga que da noite para o dia irá dominar o mundo e colocá-los
no topo da cadeia alimentar. Ainda mais para os incautos que vibram assistindo
a um episódio da série The Walking Dead em seu meio-ambiente pós
apocalíptico. Mas vale muito a pena assistir a essa honesta produção inglesa
pelo contexto histórico, e colocá-la em um lugar de destaque no coraçãozinho da
sua filmografia zumbi, que foi até lançado em DVD no Brasil pelo selo Dark Side
da Works Editora, junto com vários outros títulos da Hammer.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/21/193-epidemia-de-zumbis-1966/
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