Direção: Mario Bava
Roteiro: Marcello Fondato
Produção:Alfredo Mirabile,
Massimo Patrizi
Elenco: Cameron Mitchell,
Eva Bartok, Thomas Reiner, Ariana Gorini, Dante DiPaolo, Mary Arden
Seis Mulheres
para o Assassino, do mestre Mario Bava, é um dos pioneiros
do giallo, estilo que seria popularíssimo na Itália durante os anos de 60
e 70, e foi imprescindível para subverter a ordem dos filmes de mistério e
assassinato e abrir as porteiras para a extensa contagem de cadáveres dos
filmesslasher nos anos 80. O termo giallo, que significa amarelo, foi
emprestado da literatura pulp italiana para caracterizar esse tipo de
filme, geralmente com assassinos usando máscaras e luvas de couro pretas, que
matam mulheres devido a algum tipo de trauma, muitas vezes durante a infância,
sempre regado de muita violência, sangue e nudez, dotados de roteiros com furos
estrambólicos, atuações caricatas e trilha sonora contundente e pouco usual,
usando desde rock progressivo, até jazz e ópera. Cansado dos clichês dos filmes
de detetives, os famosos whodunit (que vem de Who has done it?),
aqueles em que acompanhamos o investigador na caça ao assassino, procurando
pistas, e vamos descobrindo as evidência ao mesmo tempo que o personagem, na
melhor tradição do escritor Edgar Wallace, Bava resolveu dar muito mais
importância aos assassinatos em si e em colocar um espectador como um cúmplice,
testemunha ocular das horrendas mortes, do que a investigação em si. E isso
jogou uma nova luz no modo de se fazer filme com assassinos, que viria a
influenciar uma penca de gente, incluindo aí o especialista no gênero, Dario
Argento. Com total controle sobre os aspectos do filme após os sucessos
internacionais de A Máscara de Satã de 1960 e As Três Máscaras do Terror de 1963, Bava driblou o
baixo orçamento de parcos 150 mil e nos entrega uma obra visualmente
caprichada, típica dos trabalhos do ex-diretor de fotografia, com o excelente
uso de cores berrantes, principalmente o vermelho, design de produção
impecável, elegância no enquadramento e uso de impressionantes técnicas de
filmagem, como desconfortantes close-ups, que nos aproxima de personagens, mas
ao mesmo tempo, nos mantém afastados de sua verdadeira essência, planos
sequência e travellings assustadores (alguns utilizando até carrinhos
de mão infantis) que passeia por entre jardins, corredores escuros e halls
amplos com seus manequins super coloridos que saltam aos olhos. A trama
de Seis Mulheres para o Assassino circunda um importante ateliê de
moda em Roma, onde relacionamentos díspares, uso de drogas, ciúme, traição,
ganância e obsessão interagem entre um disfuncional grupo de pessoas que tem o
local como centro de suas vidas, de forma direta por trabalharem por lá, ou por
conta de relações escusas ou sexuais com os funcionários dali. O primeiro
assassinato é de Nicole, uma das modelos, com problemas de drogas e amante do
dono de um antiquário, que é atacada na calada da noite, enquanto era procurada
por outro personagem para obter cocaína, por um misterioso assassino que usa um
capote preto, chapéu, luvas e uma máscara amorfa em seu rosto, impedindo de que
sua identidade seja descoberta. Como todo bom giallo, outras quatro
mulheres ainda serão assassinadas de forma violenta: asfixiadas, afogadas e
torturadas, uma inclusive cruelmente tendo seu rosto forçado contra um
fogareiro quente, com doses generosas de sangue feito de guache, mas sem nada
ultraviolento como as produções vindouras de Dario Argento, até que naquelas
reviravoltas típicas de um dramalhão mexicano, algo rotineiro no giallo,
nos é apresentado o assassino(s) e sua terrível(eis) motivação(ões). E com essa
salada toda, Bava apresenta personagens os quais não conseguimos nos
identificar com nenhum, por isso pode executar sua selvageria assassina em paz
e sem remorso, cercado de homens e mulheres que são nada mais que aparências e
nada é o que parece ser, desde marqueses, condessas, homens de negócios, até o
ineficaz e petulante detetive que conduz as investigações. Qualquer um pode ser
o assassino, e todos podem ser vítimas, sem que torçamos por ninguém. E Bava é
mestre neste tipo de distanciamento provocado pela falta de escrúpulo de seus
protagonistas, moralmente e socialmente falidos, com seus relacionamentos
triviais e jogo de interesses e aparências. Bava é um mestre do gênero. Inegável. Seis
Mulheres para o Assassino, seu primeiro giallo é um filme cruel, que escancara
a perversão neste universo de sangue e renda preta (interessantíssimo título
que o filme ganhou no mercado internacional: Blood and Black Lace). Sua macabra
filmografia deve ser vista de cabo a rabo, para entender melhor todos os
recursos e a superioridade deste, que para mim, foi o maior cineasta italiano
do horror.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/06/07/181-seis-mulheres-para-o-assassino-1964/
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