sábado, 4 de julho de 2015

#181 1964 SEIS MULHERES PARA O ASSASSINO (Sei donne per l’assassino, Itália, França, Mônaco)


Direção: Mario Bava
Roteiro: Marcello Fondato
Produção:Alfredo Mirabile, Massimo Patrizi
Elenco: Cameron Mitchell, Eva Bartok, Thomas Reiner, Ariana Gorini, Dante DiPaolo, Mary Arden

Seis Mulheres para o Assassino, do mestre Mario Bava, é um dos pioneiros do giallo, estilo que seria popularíssimo na Itália durante os anos de 60 e 70, e foi imprescindível para subverter a ordem dos filmes de mistério e assassinato e abrir as porteiras para a extensa contagem de cadáveres dos filmesslasher nos anos 80. O termo giallo, que significa amarelo, foi emprestado da literatura pulp italiana para caracterizar esse tipo de filme, geralmente com assassinos usando máscaras e luvas de couro pretas, que matam mulheres devido a algum tipo de trauma, muitas vezes durante a infância, sempre regado de muita violência, sangue e nudez, dotados de roteiros com furos estrambólicos, atuações caricatas e trilha sonora contundente e pouco usual, usando desde rock progressivo, até jazz e ópera. Cansado dos clichês dos filmes de detetives, os famosos whodunit (que vem de Who has done it?), aqueles em que acompanhamos o investigador na caça ao assassino, procurando pistas, e vamos descobrindo as evidência ao mesmo tempo que o personagem, na melhor tradição do escritor Edgar Wallace, Bava resolveu dar muito mais importância aos assassinatos em si e em colocar um espectador como um cúmplice, testemunha ocular das horrendas mortes, do que a investigação em si. E isso jogou uma nova luz no modo de se fazer filme com assassinos, que viria a influenciar uma penca de gente, incluindo aí o especialista no gênero, Dario Argento. Com total controle sobre os aspectos do filme após os sucessos internacionais de A Máscara de Satã de 1960 e As Três Máscaras do Terror de 1963, Bava driblou o baixo orçamento de parcos 150 mil e nos entrega uma obra visualmente caprichada, típica dos trabalhos do ex-diretor de fotografia, com o excelente uso de cores berrantes, principalmente o vermelho, design de produção impecável, elegância no enquadramento e uso de impressionantes técnicas de filmagem, como desconfortantes close-ups, que nos aproxima de personagens, mas ao mesmo tempo, nos mantém afastados de sua verdadeira essência, planos sequência e travellings assustadores (alguns utilizando até carrinhos de mão infantis) que passeia por entre jardins, corredores escuros e halls amplos com seus manequins super coloridos que saltam aos olhos. A trama de Seis Mulheres para o Assassino circunda um importante ateliê de moda em Roma, onde relacionamentos díspares, uso de drogas, ciúme, traição, ganância e obsessão interagem entre um disfuncional grupo de pessoas que tem o local como centro de suas vidas, de forma direta por trabalharem por lá, ou por conta de relações escusas ou sexuais com os funcionários dali. O primeiro assassinato é de Nicole, uma das modelos, com problemas de drogas e amante do dono de um antiquário, que é atacada na calada da noite, enquanto era procurada por outro personagem para obter cocaína, por um misterioso assassino que usa um capote preto, chapéu, luvas e uma máscara amorfa em seu rosto, impedindo de que sua identidade seja descoberta. Como todo bom giallo, outras quatro mulheres ainda serão assassinadas de forma violenta: asfixiadas, afogadas e torturadas, uma inclusive cruelmente tendo seu rosto forçado contra um fogareiro quente, com doses generosas de sangue feito de guache, mas sem nada ultraviolento como as produções vindouras de Dario Argento, até que naquelas reviravoltas típicas de um dramalhão mexicano, algo rotineiro no giallo, nos é apresentado o assassino(s) e sua terrível(eis) motivação(ões). E com essa salada toda, Bava apresenta personagens os quais não conseguimos nos identificar com nenhum, por isso pode executar sua selvageria assassina em paz e sem remorso, cercado de homens e mulheres que são nada mais que aparências e nada é o que parece ser, desde marqueses, condessas, homens de negócios, até o ineficaz e petulante detetive que conduz as investigações. Qualquer um pode ser o assassino, e todos podem ser vítimas, sem que torçamos por ninguém. E Bava é mestre neste tipo de distanciamento provocado pela falta de escrúpulo de seus protagonistas, moralmente e socialmente falidos, com seus relacionamentos triviais e jogo de interesses e aparências. Bava é um mestre do gênero. Inegável. Seis Mulheres para o Assassino, seu primeiro giallo é um filme cruel, que escancara a perversão neste universo de sangue e renda preta (interessantíssimo título que o filme ganhou no mercado internacional: Blood and Black Lace). Sua macabra filmografia deve ser vista de cabo a rabo, para entender melhor todos os recursos e a superioridade deste, que para mim, foi o maior cineasta italiano do horror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/07/181-seis-mulheres-para-o-assassino-1964/

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