Direção: Roman Polanski
Roteiro: Gérard Brach, Roman
Polanski
Produção: Gene Gutowski,
Martin Ransohoff (Produtor Executivo)
Elenco: Roman
Polanski, Jack McGowran, Alfie Bass, Sharon Tate, Ferdy Mayne
“Quem disse que vampiros não são
objeto de riso?”. Com esse mote, Roman Polanski nos presenteia com a sua
irreverente paródia ao universo vampiresco, principalmente com relação ao
estilo de filmes dos sugadores de sangue que a inglesa Hammer vinha imprimindo
durante o final de década de 50 e toda a década de 60. Comédia anacrônica e debochada, A Dança dos
Vampiros foi a primeira investida do diretor no cinema
americano. Para mim, a equação é simples. A Dança dos Vampiros está
para os filmes de vampiro assim como O Jovem
Frankenstein está para os filmes de Frankenstein e Todo
Mundo Quase Morto está para os filmes de zumbi. É uma obra imprescindível
de Polanski para todo e qualquer fã do gênero e que se diz adorador da
mitologia vampírica, pois somente com uma crítica rasgada em forma de comédia
bufona, que conseguimos entender o quão ridículos podem ser as tramas que
envolvem os mortos-vivos e todas as suas idiossincrasias, e captar o verdadeiro
porquê de adorarmos de verdade todo esse exagero. Vindo depois do perturbador Repulsa ao Sexo, e antes da obra prima O Bebê de Rosemary, A Dança dos Vampiros foge da
curva de toda a filmografia do diretor polonês. Despretensiosíssimo e com a
veia cômica saltada na medida certa, a história simples traz dois caçadores de
vampiros, Professor Abronsius (paródia de Abrahan Van Helsing da história
original de Bram Stoker) e seu ajudante medroso e atrapalhado, Alfred (vivido
pelo próprio Polanski, que aqui quando novo tinha a cara do Ayrton Senna) que
não tem nada de destemidos, como supõe o título sarcástico, e muito menos de
eficientes. Eles estão na terrível Transilvânia em pleno inverno brutal para
seguir sua peregrinação em encontrar, estudar, e claro, acabar com essa raça das
trevas. Ao pararem na estalagem absurdamente clichê, com seus alhos pendurados
em todos os cantos e aldeões supersticiosos entupindo-se de cervejas e
linguiças, ficam hospedados sob a tutela do estalajadeiro Shagal, sua obesa
esposa Rebecca, e sua filha Sarah, interpretada por uma estonteante e
deliciosíssima Sharon Tate, que passa grande parte da película nua tomando um
banho de espuma. Parêntese para lamentar o horror e o desperdício da morte da
atriz, assassinada pela família Manson. Obviamente haverá um ataque de vampiro
no local, pois o Conde Von Krolock (Iain Quarrier) e seu capanga corcunda
precisam de carne fresca para alimentar seus convidados no baile anual de
inverno que o vampiro mor promove todos os anos em seu castelo. A primeira
vítima é Shagal, que vai se transformar em uma espécie de Reinfield paspalhão.
A segunda, obviamente é Sarah, que é raptada pelo Conde. Alfred, que já havia
ficado perdidamente apaixonada pela garota ruiva, dirige-se com seu mestre, uma
espécie de Albert Einsten caçador de vampiros, até o castelo, onde irão
vivenciar diversas facetas de comédia de situação misturada com cenas de
trapalhadas físicas ao melhor estilo slapstick. Mas as grandes piadas vem
exatamente nas situações absurdas que os dois fracassados são obrigados a se
submeter, como por exemplo, a ineficiência de Alfred em conseguir enfiar uma
simples estaca de madeira no coração do morto-vivo enquanto Abronsius está
entalado em um buraco, ou os gracejos com personagens estereotipados, abusando
de situações politicamente incorretas, como Alfred ter de lidar com o filho gay
do Conde Von Krolock, ou mesmo a cruz não causar nenhum efeito no vampiro judeu
Shagal. Mas o ponto alto do filme é exatamente o tal baile de gala, onde todos
os vampiros convidados diretamente de suas tumbas, fazem um gigantesco
cerimonial de dança como se estivessem na corte de Luís XV, devidamente
vestidos à caráter e praticando as coreografias de época, ensaiadas por Tutte
Lemkow, que havia trabalhado anteriormente em Um Violinista no Telhado. Os
dois patéticos caçadores se infiltram no baile, também vestidos à rigor, e
mostram toda sua destreza durante o grande evento, arquitetando um plano para
que consigam fugir do local com vidas, e resgatando Sarah da iminente morte que
virá daquela enorme quantidade de presas sedentas de sangue. É hilário. Polanski,
acostumado com baixos orçamentos, aqui onde teve mais de 2 milhões de dólares
para gastar, resolveu fazer de A Dança dos Vampiros o seu filme
impecável. Investiu pesado contratando alguns dos melhores técnicos do cinema
britânico. Com completo domínio narrativo, cenários vistosos, fotografia à
cores, locações nos Alpes, vestuário elaborado e coreografia adequada para um
determinado período épico, entregou exatamente a sua visão detalhadamente planejada,
colocando mais de si neste filme do que já havia feito anteriormente, tanto que
cada linha do roteiro reflete o humor negro sagaz do diretor e roteirista,
mente perturbada como bem sabemos, e a ideia da perdição do ser humano em meio
à escuridão, cobiça, luxúria e sexo. Prova disso é o final pessimista, sádico e
hilário ao mesmo tempo. Mas Polanski acabou tendo muitos problemas com o filme
já finalizado. Apesar de considerá-lo perfeito, a MGM para lançá-lo no mercado
americano praticamente ignorou o seu corte final e praticou diversas mudanças e
edições no filme para deixá-lo mais cartunesco e menos sombrio, trazendo grande
indignação ao diretor. Quando lançado nos cinemas, havia duas versões do filme:
a americana e a europeia. Hoje, a versão que sobreviveu ao tempo foi o corte do
diretor. E mesmo com a recepção fria da crítica com relação ao filme, a fita
tornou-se um sucesso de público. E além de tudo já citado neste texto, A
Dança dos Vampiros tem a sua imensa importância histórica por haver sido
responsável em catapultar de vez a carreira de Polanski como diretor e de
Sharon Tate como atriz, que mais tarde se casaria com o polonês, e
principalmente fazer com que o produtor Robert Evans descobrisse Polanski e seu
trabalho, lhe valendo o convite para dirigir o clássico sem precedentes de
terror O Bebê de Rosemary, que seria seu próximo longa.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/06/29/200-a-danca-dos-vampiros-1967/
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