sábado, 11 de julho de 2015

#191 1965 REPULSA AO SEXO (Repulsion, Reino Unido)


Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski, Gérard Brach
Produção: Gene Gutowski, Robert Sterne e Sam Waynberg (Produtores Associados), Michael Klinger e Tony Tenser (Produtores Executivos – não creditados)
Elenco: Catherine Deneuve, Ian Hendry, John Fraser, Yvonne Furneaux

Repulsa ao Sexo é o primeiro filme falado em inglês do diretor Roman Polanski, e com certeza é uma das suas obras mais perturbadoras e desconcertantes. Uma viagem assustadora a uma mente disfuncional feminina regida pelo pânico e a esquizofrenia, escancarando o quão perigoso e sem compaixão podem ser nossos traumas e neuroses. Com forte influência do surrealismo e do expressionismo alemão, o filme impecável de Polanski abusa de efeitos sonoros para assustar, grandes angulares que dão uma visão cada vez mais ampla e profunda, bela fotografia preto e branco e uma câmera invasiva que vai acompanhando de perto os passos da personagem nas ruas, no seu trabalho, até seu confinamento, sozinha, em um apartamento, extrapolando a mistura de paranoia e angústia, tudo com uma atmosfera sombria. O diretor utiliza de todos esses recursos para nos mostrar os labirintos mais escuros e tortuosos da mente de Carol Ledoux, interpretada pela estonteante Catherine Deneuve, com 22 aninhos, em uma das suas principais atuações no cinema, uma bela, tímida e frígida manicure belga que trabalha em um salão de beleza, divide o apartamento com sua irmã, e sente pavor dos homens, carregando consigo essa repressão sexual que seria responsável por pesadas alucinações e o florescer de um medo primal. Sempre cortejada por Colin, um londrino ordinário, ela vive na esquiva, tentando evitar o máximo de contato físico, enquanto a câmera que a acompanha pelas ruas de Londres, mostra o quanto ela é alvo de olhares de desejo masculino, e a tamanha exposição e desconforto que a personagem sente que deve ser comum para várias mulheres nesta sociedade machista em que vivemos. A coisa é tão feia que só ouvir a irmã e o namorado fazendo sexo no quarto ao lado é uma tortura desgastante para ela. Após uma frustrada tentativa de um beijo semi-consumado em Colin, a pobre (ou não…) Carol começa a entrar em parafuso, que vai levá-la para um colapso mental que atinge seu auge quando a irmã e a namorado vão para a Itália em férias, deixando-a sozinha no apartamento, a mercê de seus medos, que metaforicamente assumem a forma do rachar das paredes do apartamento (tornando-se cada vez mais intensos) junto com um bizarro prato de coelho pelado de aparência sinistra, fermentando e apodrecendo no local. Entre alucinações de que homens invadem a sua casa e a estupram durante à noite (em cenas mudas de uma qualidade narrativa ímpar, onde só se ouve o barulho bem baixo de um tique-taque), os resultados de sua loucura vão se tornando cada vez mais aparentes, e por conseguinte, violentos. O auge da esquizofrenia à flor da pele é quando o rejeitado Colin vai até seu apartamento e arromba a porta, sendo espancado por Carol utilizando um castiçal (sempre com a câmera de Polanski como voyeur ou fazendo o papel do personagem masculino atingido, nesse caso Colin) ou quando o senhorio tenta cobrar o aluguel dela, e otras cositas más, e é recebido à navalhadas, aflorando de vez o instinto assassino psicótico da moça.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Ao final desse pesadelo macabro (na excelente cena em que ela corre por um corredor cheio de mãos masculinas saindo da parede), Carol perde completamente a razão, isola-se em seu silêncio, entra em um estado de catatonia, aprisionando-se no lugar mais profundo de sua mente, entregando-se à doença que a leva a cometer os crimes, até ser encontrada pela irmã ao voltar de viagem. Prestem atenção no detalhe do olhar da pequena Carol na fotografia de família no último frame da película. Repulsa ao Sexo funciona extremamente bem no sentido de construção do filme, que começa maçante mas vai adquirindo ritmo conforme o degringolar mental de Carol, tudo isso colocando o espectador em uma armadilha visual, permeada com cenas de horror e de susto muito bem construídas e o excepcional uso de efeitos sonoros abruptos, ora rufar de pratos, horas de uma barulho de sino ensurdecedor, além da trilha sonora incidental. Além disso, foi uma espécie de pedra angular para as subsequentes incursões de Polanski no gênero e o uso de sua câmera invasiva tão próxima, para retratar apartamentos como locais desconfortáveis e inseguros, como fez com O Bebê de Rosemary em 1968 e O Inquilino em 1976.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/06/19/191-repulsa-ao-sexo-1965/

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441 1965 REPULSA AO SEXO (Repulsion) 

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