domingo, 31 de janeiro de 2016
#454 1982 HALLOWEEN III A NOITE DAS BRUXAS (Halloween III: Season of the Witch, EUA)
Direção: Tommy Lee Wallace
Roteiro: Tommy Lee
Wallace, John Carpenter e Nigel Kneale (não creditados)
Produção: John
Carpenter e Debra Hill, Barry Bernardi (Produtor Associado), Joseph Wolf e
Irwin Yablans (Produtor Executivo), Moustapha Akkad e Dino De Laurentiis
(Produtor Executivo – não creditados)
Elenco: Tom Atkins, Stacey Nelkin, Dan
O’Herlihy, Michael Currie, Ralph Strait, Jadeen Brabor, Brad Schacter
Puta filme estranho que é Halloween III: A Noite das Bruxas. É meio que uma bobagem sem pé nem
cabeça, que tem uma história das mais malucas do cinema de horror, não tem
Michael Myers, e tem um poderosíssimo valor nostálgico para minha geração de
trintões que assistiu ao filme diversas vezes nas reprises do SBT, e que nunca
entendiam nada quando crianças.E aquela musiquinha? Talvez tão icônico quanto o
toque minimalista criado por Carpenter como a música tema de Halloween – A Noite do Terror, seja aquele sintetizador eletrônico
em loop chato pra burro com aquela voz de
criancinhas esganiçadas cantando “Happy happy Halloween /
Halloween, Halloween / Happy happy Halloween / Silver Shamrock”. O
fato de Halloween III: A Noite das Bruxas ser da mesma equipe responsável por
dar vida à Michael Myers, e não ter nenhum dos personagens consagrados nos dois
filmes anteriores da série, criou uma tremenda rejeição dos fãs, que sentiram-se
enganados pelo longa fazer parte da “franquia”, mesmo com uma história
completamente diferente, e fez o mesmo fracassar na bilheteria e ser
sumariamente renegado. Bem, eu mesmo só assisti três vezes na minha vida: a
primeira quando era muito novo e passou no Cinema em Casa do SBT. Não entendi
lhufas, mas adorava a musiquinha e as máscaras de Halloween. A segunda há um
tempão, ainda bem novo, quando passou provavelmente em mais uma reprise do SBT.
Em meu subconsciente lembrava que o filme era uma porcaria, mas não conseguia
identificar o porquê. Fui vê-lo novamente agora, só depois de velho, para
resenhar aqui para o blog. Confirmei minha conclusão que o filme é uma
porcaria, mas não pelos mesmos motivos que todos. Na verdade, até seu final, eu
estava impressionado e pensava: poxa, por que todo mundo, eu inclusive, metia o
pau em Halloween III, se é um filme bom, climático, que foge do
clichê? Pois bem, minha resposta veio exatamente na despirocada que ele dá no
terceiro ato, quando vira uma babaquice (alguém me explique como um comando
feito pela TV por meio de um chip implantando em uma máscara de látex consegue
fazer o rosto de uma criança se transformar em cobras peçonhentas e grilos?) e
apesar do contexto sinistro do final, das crianças de todos os EUA usarem as
máscaras e grudarem o rosto na tela da televisão durante a poderosíssima
mensagem subliminar, aquela história de robôs, o herói jogando os buttons que vão causar curto-circuito em todos
e ele ligando para as emissoras de TV para tiraram o comercial do ar, enterram
todo o clima de suspense que o vinha sendo construído até então, e merece um
daqueles: bah! Bom, de forma sapiente, mas que não se manteve no futuro
próximo, John Carpenter e Debra Hill sabiam que não havia a menor credibilidade
trazer Michael Myers de volta, já que ele havia morrido em Halloween 2 – O Pesadelo Continua (ah, vá) e não queriam tornar a
franquia mais um Sexta-Feira 13 (ah, vá) colocando o assassino
mascarado matando gente à rodo com toda sua criatividade maléfica. Surgiu a
ideia de manter a franquia viva, com novas e diferentes histórias que se
passassem durante o Dia das Bruxas. Os produtores dos dois longas anteriores,
Irwin Yablans e Moustapha Akkad compraram a ideia e o filme começou a tomar
forma, chamando Joe Dante para dirigir e Nigel Kneale (lembra deles, da série
Quatermass da BBC e dos filmes da Hammer?) para escrever o roteiro. Primeiro,
Dante pulou fora e o cargo ficou para Tommy Lee Wallance, que havia editado o
primeiro Halloween e A Bruma Assassina para Carpenter, e deveria ter dirigido
a continuação, mas estava encarregado do roteiro de Amityville 2 – A Possessão. Segundo, Kneale pulou fora por não
gostar do tratamento do roteiro, que envolveria mais gore e mortes escabrosas. Apesar de 60% de
a história ter sido escrita por ele, seu nome foi retirado dos créditos. Falando
em história, ela é BEM bacana, de verdade. Começa com um sujeito fugindo de uns
figurões sinistros que querem assassiná-lo, subentendendo-se que ele descobriu
algum segredo terrível. Ele consegue escapar, mas é levado a um pronto-socorro,
transtornado, segurando uma máscara de látex e gritando que “eles vão matar
todos nós”. O médico de plantão, Dr. Dan Challis (Tom Atkins) fica intrigado
com o estado mental alterado do paciente, e mais intrigado ainda, quando ele é
assassinado por mais um desses figurões que adentra no hospital (aparentemente
sem nenhuma segurança, como de praxe nos hospitais da série, vide Halloween 2). O
Dr. Challis e a filha do sujeito, que se descobre ser um comerciante de
brinquedos e produtos de Halloween, e por consequência das máscaras da Silver
Shamrock, a mesma que ele segurava e bombardeava a televisão com os comerciais
da musiquinha cafona, Ellie Grimbridge (Stacey Nelkin), vão até Santa Mira, uma
cidadezinha na Califórnia, investigar o que há por trás da nefasta empresa de
produtos festivos, fantasias, máscaras e brinquedos. Aparentemente há uma
conspiração silenciosa por lá, todo mundo age de forma estranha, há toque de
recolher, as linhas de telefone ficam mudas, e todos são obedientes ao
presidente da empresa, Conal Cochran (Dan O’Herlihy). Daí no fatídico último
ato, Challis e Ellie descobrem a vilania por trás do megalomaníaco plano de
Cochran, que é simplesmente matar todas as criancinhas dos EUA, usando uma
elaborada trama tecnológica que ativaria um dispositivo que as mataria
(transformando sua cabeça em cobras e lagartos, sei…), acionado pela propaganda
chata. E aparentemente todas as crianças da América tem uma máscara Silver
Shamrock, todas elas vão sintonizar a televisão às 21h do dia 31 de outubro e voilá. Cabe aos
nossos heróis tentar impedir esse plano maléfico. Bom, que fique bem claro que
meu problema com Halloween III: A Noite das Bruxas não é o considerar uma enganação, um
engodo de marketing, que me senti lesado por usar o nome da franquia Halloween
e não ter Michael Myers (apenas uma breve aparição na televisão, durante a
propaganda da exibição do filme original) como aconteceu na época e tornou o
filme um fracasso retumbante de bilheteria, motivo de ódio dos fãs xiitas, e
resultou na “expulsão” de Carpenter e Hill da cinesérie, ressuscitando Myers
anos depois e transformando-o em um vilão indestrutível. Eu acho louvável a
ideia de ter deixado Myers enterrado e tentado dar um novo caminho para a
franquia, tido a pachorra de projetar um infanticídio com um enredo
completamente fora do clichê e que saía da zona de conforto dos slasher oitentistas que começavam a saturar
exatamente por repetir à exaustão a própria fórmula que Carpenter criou, e
inserir de mensagens subliminares sobre seitas pagãs e o corporativismo,
capitalismo e ambição das grandes empresas multinacionais e a opressão. Meu
problema é que o filme começa bem, intrigante, e depois vira uma bobagem.
Bobagem com os robôs. Bobagem com o plano de vilão de filmes do James Bond.
Bobagem da forma como eles são destruídos. Bobagem de como a cabeça da criança
vira cobra e inseto com um raio que sai da televisão. Só isso. Mas é aquilo, Halloween III: A Noite das Bruxas poderia ser um filmaço, mas meio que
se perde e transforma-se em caricato. É tosco. É trash. Eu levo por
esse lado, e não, apenas em execrá-lo gratuitamente por se distanciar da saga
de Michael Myers.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/06/10/454-halloween-iii-a-noite-das-bruxas-1982/
#451 1982 O ENIGMA DO OUTRO MUNDO (The Thing, EUA)
Direção: John
Carpenter
Roteiro: Bill
Lancaster (baseado na história de John W. Campbell Jr.)
Produção:Davis Foster e Lawrence Truman,
Stuart Cohen (Co-Produtor), Larry J. Franco (Produtor Associado), Wilbur Stark
(Produtor Executivo)
Elenco:
Kurt
Russel, Wilford Brimley, T.K. Carter, David Clennon, Keith David
A máxima experiência em terror
alienígena. John Carpenter pegou um sci-fi dos anos 50, chamado O Monstro do Ártico,
inspirado no livro Who Goes There? de
John W. Campbell, e transformou em um dos cinco melhores filmes de terror de
todos os tempos na minha opinião, em O Enigma de Outro Mundo, que
infelizmente, recebeu aqui no Brasil um dos piores nomes possíveis e
imagináveis, sendo que a tradução literal de seu título original, A Coisa,
soaria perfeito. O ano é 1982, o mesmo ano do meu nascimento, e a história de uma
forma alienígena que assimila a aparência e comportamento humanos ao atacar um
grupo de pessoas isoladas em uma base no ártico, fracassa de forma retumbante
nos cinemas. Isso porque duas semanas antes do filme estrear, Steven Spielberg
coloca nas telas seu arrasa quarteirão de bilheteria E.T. – O Extraterrestre. E
claro, que encantados com o adorado visitante baixinho e pescoçudo que diz
“telefone, minha casa”, os americanos não estavam preparados para um filme
claustrofóbico, sujo e repleto de criaturas asquerosas transmorfas vindas de
outro planeta. Mas essa injustiça foi corrigida e o longa mais tarde se
tornaria cultuado e um dos mais influentes filmes de terror e ficção científica
da década de 80. Quem assiste a fita não imagina que ela foi filmada durante o
verão em plena Los Angeles ensolarada. Foi preciso seis estúdios da Universal
para dar vida ao gélido ambiente ártico, além de locações externas no Alasca e
na Colúmbia Britânica. O visual, ou melhor dizendo, os visuais das criaturas
foram criados em conjunto por Carpenter, o roteirista Bill Lancaster e o
maquiador Rob Bottin (o mesmo de Grito
de Horror). Durante a produção, o sigilo para
que a aparência do alienígena não vazasse foi tanto, que foi proibida qualquer
foto durante o período de pré ou pós produção. Muito do sucesso e da
credibilidade do filme devem também aos efeitos especiais criados por Roy
Arbogast e os efeitos visuais do mestre Albert Whitlock, sem contar a
contundente trilha sonora minimalista do italiano Ennio Morricone. Começa com
um helicóptero norueguês perseguindo um cachorro em meio a inóspita e branca
paisagem antártica, tentando matá-lo. O animal se refugia em uma base
americana, onde um dos membros é o piloto R. J. MacReady, interpretado por Kurt
Russel. Os dois noruegueses que pilotavam o helicóptero acabam mortos e
MacReady e o Dr. Cooper resolvem ir até a base deles para tentar entender o que
aconteceu. Ao chegarem lá, descobrem que todos estão mortos, e que eles
desenterraram algo do gelo que conseguiu escapar. O cão mostra-se então
infectado pelo alienígena e durante a noite tenta assimilar outros animais no
canil, quando é descoberto pelos membros da base e impedido, não antes de
conseguir fugir. O que se segue é um clima de paranoia constante, sem que
ninguém possa confiar em ninguém por não poder se determinar com exatidão quem
está realmente infectado ou não, já que o alienígena transforma-se em uma
réplica perfeita. Tudo complica ainda mais quando o Dr. Blair descobre que se o
alienígena deixar a base, seria capaz de assimilar toda a população mundial em
poucas horas, dando fim à nossa existência na terra. Os espectadores foram
pegos de surpresa com O Enigma de Outro Mundo. Nenhum filme até então tinha
apresentado criaturas tão repugnantes de tantas formas diferentes. Nunca a
presença alienígena na terra tinha sido tão assustadora, gosmenta e
sanguinária. Nem mesmo em clássicos como Os Invasores de Corpos, que
também trabalha a ideia de pessoas sendo trocadas por seres de outros planetas.
Podemos afirmar que Carpenter elevou o nível do horror cinematográfico a um
novo patamar, graças a exposição grotesca inédita de carne, sangue, ossos e
matéria disforme. Mas apesar dos efeitos visuais espetaculares, o que sustenta
todo filme, impedindo que caia em uma armadilha de um filme de terror barato, é
a forma como é trabalhada as desavenças internas e o medo do desconhecido, já
que ninguém consegue provar quem é quem dentro daquele confinado ambiente, sem
contato externo com o resto do mundo e isolados por uma terrível nevasca. Os
pobres homens presos ali são seus próprios inimigos. E Carpenter sabe explorar
e potencializar como ninguém esse sentimento, criando um clima sombrio de
tensão à flor da pele e que chega quase a beirar o insuportável. Para mim, é o
melhor filme do diretor, e olha que ele tem vários outros clássicos filmes de
terror no currículo, como Halloween – A Noite do Terror, A Bruma Assassina e Christine – O Carro Assassino.
Indispensável.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/06/05/451-o-enigma-de-outro-mundo-1982/
sexta-feira, 29 de janeiro de 2016
#450 1982 CREEPSHOW (Creepshow, EUA)
Direção: George
Romero
Roteiro: Stephen
King
Produção: Richard
P. Rubenstein, David E. Vogel (Produtor Associado), Salah M. Hassanein
(Produtor Executivo)
Elenco: Hal
Holbrook, Adrienne Barbeau, Fritz Weaver, Leslie Nielsen, E.G. Marshall, Ed
Harris, Ted Danson, Stephen King
Um dos mais famosos filmes de terror de estilo
mosaico, Creepshow – Show de Horrores (ou Arrepio
do Medo, como também ficou conhecido nas reprises do SBT) traz a junção de dois
mestres do horror, Stephen King, que escreve as cinco histórias do longa e
George Romero, responsável pela direção dos mesmos. Como se não bastasse, Creepshow – Show de Horrores é
outro daqueles filmes saudosistas da década de 80 que impressionou e divertiu
toda uma geração, a qual esse que vos escreve faz parte. A concepção da ideia
do longa é King prestar uma homenagem a uma das suas maiores inspirações da
infância, os quadrinhos de terror publicados pela editora EC Comics na década
de 50, entre eles o famoso HQ Tales from the Crypt, que ganhou sua versão
cinematográfica pela Amicus, Contos do
Além, e mais tarde adaptado pela HBO como uma famosa série
televisiva e The Vault of Horror, que também foi levado pelas telas pela Amicus
como A Cripta dos Sonhos, entre outros. Os
quadrinhos da EC Comics revolucionaram o mercado editorial com sua riqueza de
detalhes em suas ilustrações e seus roteiros inventivos, e seu conteúdo era
recheado de histórias de mistério, assassinato, monstros das trevas, fantasmas,
criaturas pegajosas, zumbis, fantasmas, e sempre com muito sangue e violência.
Líder absoluto de vendas, várias crianças na época tinham o hábito de ler essas
histórias de noite, antes de dormir, em seus quartos escuros, iluminados apenas
pelo feixe de uma lanterna, exatamente como o garoto Billy (que é vivido por
Joe Hill, o próprio filho de King). E muita da repreensão paternal na vida real
ocorria também como retratada no prólogo e epílogo do filme. Com uma dose
cavalar de ignorância e intolerância e o crescimento do moralismo coxinha
americano, somado com a explosão da delinquência juvenil que eram
frequentemente relacionado aos quadrinhos, o psiquiatra Fredric Wertham iniciou
uma verdadeira guerra ideológica contra os gibis, principalmente após a
publicação do seu livro “A Sedução do Inocente”, que trazia um estudo detalhado
do mal que as HQs representavam aos jovens da nação (que inclusive começou a
levantar a polêmica do suposto relacionamento homossexual entre Batman e Robin
e como isso era prejudicial aos adolescentes). Respingando no Senado americano,
uma espécie de censura foi aplicada, resultando na criação de um código chamado Comics Code Authority, onde todas as
HQs deveriam passar por um rígido controle (leia-se censura) e conter esse selo
de aprovação na suas capas, o que levou a EC Comics ao declínio e a extinção
das suas revistas em quadrinhos de terror. Ufa, todo esse ínterim apenas para
posicionar você leitor na importância dessas HQs para toda uma geração, e como
todo o enredo de Creepshow – Arrepio do
Medo é uma belíssima homenagem de King e de Romero aos homens que
popularizaram os quadrinhos de terror e influenciaram toda uma gama de
escritores e cineastas. E os cinco contos do filme são na verdade retirados das
páginas da revista que o garotinho Billy está lendo, mesclando cenas bem
bacanas de atores reais com desenhos, como se fossem dos quadrinhos.
A primeira história, “Dia dos Pais”, traz o causo de Nathan Grantham (Jon Lorner), um
velho autoritário e demente que foi morto por uma de suas filhas, Bedelia
(Viveca Lindfors), após aporrinhá-la por conta de um bolo de dia dos pais, e
também após ele ter mandado matar o amor de Bedelia durante uma caçada. Todos
os anos, Bedelia retorna ao antigo casarão do pai, pontualmente às 18h, para
ficar por uma hora rezando em seu túmulo e expiar seus pecados. Mas no sétimo
aniversário da morte de Nathan, o velho sai da cova como um zumbi sedento por
vingança e claro, esperando conseguir seu bolo. Um iniciante Ed Harris atua
neste conto.
A segunda é protagonizada pelo próprio Stephen
King. “A Morte Solitária de Jordy
Verrill” traz o mestre do terror no papel de um caipira ignorante e matuto
que vive em sua fazenda tranquilamente assistindo telecatchquando um meteorito com uma substância vegetal
alienígena cai em seu território. Verrill pensa ter tirado a sorte grande e
quer vender o meteorito para o Departamento de Meteoros da universidade por 200
dólares. Mas ao jogar água no fragmento para tentar esfriá-lo, o meteorito se
parte, liberando um estranho líquido. Ao tocar em seu interior, Verrill começa
a sofrer uma mutação que aos poucos vai transformando-o em uma planta mutante.
Como se não bastasse, o meteorito começa a espalhar uma estranha vegetação que
vai crescendo por toda a fazenda do azarado Verrill e partindo em direção à
cidade.
“Indo com a Maré” é o terceiro conto, e mais um de zumbi. Richard
Vickers (interpretado por Leslie Nielsen, eterno sargento Frank Drebin de Corra que a Polícia Vem Aí) é um
vingativo marido traído por sua esposa, que resolve enterrar adúltera na praia
até a maré subir e matá-la afogada, gravando tudo para mostrar ao amante, Harry
Wenthworth (vivido por Ted Danson). Ameaçando-o com uma arma, Vickers reserva o
mesmo destino hediondo ao amante, também o enterrando na areia durante a noite
para a maré alta dar cabo de sua vida. Porém após morrerem afogados, ambos
voltam à vida em estado putrefato como zumbis cobertos por algas marinhas, em
busca de vingança.
No quarto conto, “A Caixa” (não confundir com o famoso conto de Richard Matheson
para a série Além da Imaginação), o zelador de uma universidade encontra
embaixo das escadas uma caixa lacrada datada de 1834 e liga para o professor
Dexter Stanley (Fritz Weaver), que ao abrir o estranho container descobre uma
criatura símia assassina sedenta por sangue. Após fazer duas vítimas, Dexter,
com medo de ser acusado pelos crimes, conta sobre a descoberta a outro
professor, Henry Northup (Hal Halbrook), que é um banana que odeia a esposa
infiel e que o trata feito gato e sapato, Wilma (Adrienne Barbeau). Henry, com
a paciência no limite, tem a ideia de usar a terrível criatura da caixa para
fazer algo que nunca teve coragem: matar a esposa que sempre o humilhou.
Para finalizar, o último episódio, mais famoso de
todos, é altamente desaconselhável para a mulherada e para todos aqueles que
tenham medo de baratas. “Vingança
Barata” traz Upson Pratt (E.G. Marshall), um bilionário excêntrico com
mania de limpeza, um TOC violento e pavor de insetos. Ele vive em um
apartamento ultramoderno (para a época) aparentemente anti-germe, mas que
começa a ficar infestado pelascucarachas.
Detalhe que Pratt é um empresário inescrupuloso, racista e que passa por cima
de todos e destrói a vida de qualquer um de seus concorrentes para progredir
financeiramente. Para ele, está guardada uma terrível morte com uma horda de
baratas invadindo seu apartamento. Ainda dá tempo de uma ponta do famoso
maquiador Tom Savini, mestre dos efeitos de maquiagem, responsável por filmes
como Despertar dos Mortos, O Maníaco e Sexta-Feira
13, entre outros, como um lixeiro no epílogo encontrando a revista
em quadrinhos jogada no lixo no prólogo, e epílogo traz um desfecho terrível
para o pai de Billy que o reprimiu na noite anterior por ler aquelas “porcarias
de histórias”, já que o terrível moleque compra, através da própria revista, um
verdadeiro boneco vodu e pretende usá-lo contra o pai intransigente.
Creepshow – Show de
Horrores ganhou uma continuação, também
escrita por Stephen King, igualmente ótima e também outro clássico.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/06/04/450-creepshow-show-de-horrores-1982/
#449 1982 BASKET CASE (EUA)
Direção: Frank
Henenlotter
Roteiro: Frank
Henenlotter
Produção: Edgar
Ievins, Arnold H. Bruck (Produtor Executivo)
Elenco: Kevin
Van Hentenryck, Terri Susan Smith, Beverly Bonner, Robert Vogel, Diana Browne
Os anos 80 foram muito frutíferos para produções trash de
alta qualidade (não é contraditório?). Sam Raimi abriu a porteira com seu A Morte do Demônio para um estilo de filme que misturava
o splatter italiano, porém sem a pegada niilista, com altas doses de
humor e escracho, pegando orçamentos ridículos e trabalhando essa limitação em
prol do roteiro inovador e utilizando efeitos especiais e de maquiagens toscos,
que tornava esses filmes verdadeiras obras cultuadas. Um dos melhores
exemplares dessa safra do cinema de horror é Basket Case,
do diretor Frank Henenlotter. Henenlotter é um diretor americano, oriundo de
Long Island, Nova York, entusiasta e fã dos filmes exploitation exibidos
nas grindhouses durante os anos 70, que resolveu seguir carreira e
desenvolver filmes que fossem transgressores, com bastante sangue e violência
gráfica, mas com toques mordazes de humor ácido. Com uma ninharia de 33 mil
dólares, ele entrega um dos filmes mais toscos, sem noção e apaixonantes do
gênero. Basket Case traz a fraternal história de Duane Bradley (Kevin Van
Hetenryck), um jovem que acaba de se mudar para Nova York e alugar um quarto em
uma espelunca de hotel, andando de um lado para o outro com uma enorme cesta de
vime (daí o título do filme). Dentro dessa cesta ele carrega Belial, seu irmão
siamês, retirado cirurgicamente, que é violento, instável e completamente
deformado, que mais parece um chiclete mastigado com cabeça, tronco e braços! Duane
nasceu com o irmão preso em seu corpo, devido a uma má-formação genética. O
nascimento deles resultou na morte de sua mãe durante o trabalho de parto, e
seu pai inconsolável pela criatura que havia nascido acoplada em seu filho, o
rejeita, fazendo com que eles sejam criados por sua tia. Anos mais tarde, o pai
de Duane (e de Belial, consequentemente) resolve contratar uma junta médica,
formada pelos doutores Judith Kutter (Diane Browne), Harold Needleman (Llyod
Pace) e Julius Lifflander (Bill Freeman), para realizar a cirurgia de
separação, sem o consentimento dos dois, e se livrar de uma vez por todas
daquela aberração grotesca. A operação clandestina é um sucesso e Belial é
jogado no lixo, deixado a sua própria sorte. Porém Duane o resgata e começa a
acatar as ordens da criatura, comunicando-se com ele telepaticamente, e juntos
arquitetam uma vingança sangrenta, executada por Belial, contra todos os
responsáveis pela separação dos dois irmãos. Mas o grande problema é que
Belial, dominando por um incontrolável instinto ciumento assassino, começa a
interferir nos relacionamentos de Duane com outras pessoas, afastando e
tentando matar qualquer um que se ponha no caminho dos dois, incluindo Sharon
(Terri Susan Smith), a recepcionista de um dos médicos que vira interesse
amoroso de Duane. Sério, esse filme é fantástico, apesar de toda a premissa
completamente nonsense. As cenas em que Belial aparece é de rolar no chão de
rir, tamanho a podreira. Principalmente quando é usado uma figura de barro, com
seus movimentos filmados em stop-motion ou então é mostrada apenas a
mão de borracha da criatura (manipulada pelo próprio diretor). E as mortes são
extremamente violentas, com muita profusão de sangue (que são até bem feitas,
tendo em vista toda a limitação técnica e financeira de Henenlotter), que é o
que os fãs dos filmes B mais adoram nesse tipo de produção. Alguns detalhes
curiosos do filme, é que ele levou quase um ano para ser concluído, já pela
famosa falta de verba, e também pelo fato de ser gravado somente nos finais de
semana, e a maioria dos créditos finais são falsos, já que a equipe era
extremamente pequena e enxuta, e para não ficarem repetindo os nomes, os
produtores decidiram inventar nomes fictícios. E por incrível que pareça, todas
as sequências rodadas dentro do Hotel Broslin, onde Duane fica hospedado com a
coisa e somos apresentados a quase todos os personagens secundários do longa,
foram rodadas em diferentes locações e colocadas juntas de forma exímia na
edição, parecendo que foram feitas em um local apenas. Basket Case fez um
baita sucesso, muito graças a popularização do VHS já nesse começo dos anos 80,
e até ganhou duas continuações, também dirigidas por Henenlotter. O diretor
ainda entregaria outras duas pérolas do cinema trash: O Soro do Mal e Frankenhooker – Que Pedaço de Mulher,
antes de cair de vez no ostracismo, por não se sujeitar a imposições criativas
e regras das produtoras e distribuidoras, preferindo desistir dos seus filmes
ao ter esse tipo de cabresto em sua obra. Isso prova o quanto Hollywood é
injusta com seus inventivos diretores.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/06/03/449-basket-case-1982/
#448 1982 AMITTYVILLE 2 POSSESSÃO (Amityville II: The Possession, EUA, México, Itália)
Direção: Damiano
Damiani
Roteiro: Tommy
Lee Wallace (baseado no livro de Hans Holzer)
Produção: Stephen
R. Greenwald e Ira N. Smith, José López Rodero (Produtor Associado), Bernard
Williams e Dino de Laurentiis (Produtores Executivos)
Elenco: James Olson, Burt Young,
Rutanya Alda, Jack Magner, Andrew Pine, Diane Franklin
Fato: Amityille 2 – A Possessão é infinitamente
melhor do que o original, Terror em Amityville, lançado três anos antes.
A primeira parte é tão superestimada, tão mentirosa e com sua coleção de
péssimas atuações, que faz com que a superioridade da sequência seja gritante,
e não só pelo viés sobrenatural e seu clima muito mais pesado, mas sim pela
exploração dos horrores da vida real de uma família completamente disfuncional,
como: incesto, estupro, abuso infantil e violência doméstica. Os Montelli,
vítimas da vez da casa mal-assombrada, que são livremente baseados nos DeFeo,
família da tragédia da vida real que inspirou o livro de Jay Anson e deu origem
ao primeiro filme da (longa) série – tática dos produtores para evitar qualquer
tipo de processo – não são a amorosa família ítalo-americana, não. O patriarca,
Anthony Montelli (Burt Young) é um sujeito rude, bronco, que bate na esposa,
Dolores (Rutanya Alda) e tenta frequentemente estupra-la, bate no filho mais
velho, o adolescente Sonny (Jack Magner), e bate nos filhos menores, Jan (Erika
Katz) e Mark (Brent Katz). É um escroto. Como se não bastasse todos esses
problemas familiares por conta de um marido e pai abusivo, ele ainda renega a
igreja, mesmo Dolores sendo católica fervorosa, e Sonny e a irmã púbere
Patricia (Diane Franklin) tem um estranho relacionamento incestuoso, que se
consumará quando acontecer a tal possessão do título. Ou seja, eles são um
prato cheio para os espíritos demoníacos que residem naquela casa em
Amityville, outrora terreno indígena profanado por uma antiga bruxa fugida de
Salem. Ah, para completar, Anthony tem uma coleção de espingardas. Pronto, a
receita para o desastre está concluída. Quando um funcionário da empresa de
mudança descobre um anexo no porão escondido atrás de um armário, que dá
entrada para um fosso séptico, ele liberta os espíritos malignos dos índios que
juraram amaldiçoar todos aqueles que viverem naquele lote. Sonny então é
possuído por essa entidade, e será o executor de toda sua família, assim como a
história dos DeFeo. Bom, fato também que daqui para frente veremos uma cópia de O Exorcista,
mas diga: qual filme de possessão vindo depois do clássico de William Friedkin
não se aproveitou de seus elementos consagrados? O antagonista ao possuído
Sonny será o padre Adamsky (toda vez que eu ouvia o nome do pároco me vinha essa música na
cabeça), papel de James Olson, que irá combater a própria burocracia dentro da
Igreja para tentar salvar a alma do rapaz, inocentá-lo no tribunal e livrá-lo
do domínio do Coisa-Ruim. Todo o aparato de “filmes de exorcismo” vem à tona,
com a deformação facial e vocal do possuído, escárnio aos preceitos divinos,
manifestações em sua epiderme implorando pelo salvamento de sua alma, objetos
se mexendo, fogo sendo ateado, e adiante. Na verdade, as conjecturas envolvendo
a família Montelli são muito próximas do relacionamento problemático da família
DeFeo, brutalmente assassinada por Ronald DeFeo Jr. em 1974 no número 112 da
Ocean Avenue, segundo relatos e documentários sobre o ocorrido. Ronald pai,
assim como Anthony, era autoritário e violento e batia na esposa. Claro que há
toda uma licença poética para chocar o espectador, como o controverso caso de
incesto entre Butch, como era conhecido DeFeo Jr. e sua irmã Dawn. E o grande
ponto positivo do longa é explorar essas tensões familiares e os conflitos
religiosos para depois partir para a possessão propriamente dita e os
desdobramentos da prisão e condenação de Sonny após os assassinatos, até o
embate entre o bem e o mal, que vai resultar em uma conclusão um tanto quanto
cômica e anticlímax com o demônio feioso saindo fisicamente do corpo
desmanchado de Sonny, mas tá valendo. Produzido pelo lendário Dino de
Laurentiis, em conjunto da American International Pictures, Amityville 2 – A Possessão tem o
roteiro de Tommy Lee Wallace, diretor e escritor de Halloween III: A Noite das Bruxas, A Hora do Espanto 2 e It – Uma Obra Prima do Medo, e do
italiano Dardano Sacchetti, colaborador habitual de Lucio Fulci, entre outros,
de forma não creditada, baseado no livro Assassinatos em Amityville do
parapsicólogo Hans Holzer. O picareta George Lutz, personagem o qual o escritor
Jay Anson relatou em seu livro como fatos reais (que não eram reais coisas
nenhuma, tratava-se de uma farsa) sobre os 28 dias em que a família Lutz viveu
na casa palco das mortes, tentou processar Laurentiis, mas perdeu, conseguindo
no máximo uma menção no pôster do longa explicando que o filme não tem nenhuma
afiliação com eles. Amityville 2 – A
Possessão de longe é o melhor da cinessérie, que ainda tem filme
sendo lançado até hoje! O mais novo é um found footage de 2011, um documentário contando a vida de
Daniel Lutz lançado em 2012 e está previsto mais uma versão da famosa e
assustadora história para 2015. Parece que não querem deixar os espíritos
zombeteiros que moram naquela casa descansar em paz, e por isso eles insistem
em nos horrorizar com filmes péssimos até hoje.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/05/31/448-amityville-2-possessao-1982/
REGRESSÃO (Regression, Espanha/Canadá, 2015)
Angela (Emma Watson) acusa seu pai, Bruce (Ethan Hawke), de tê-la estuprado. Mas ele não consegue se lembrar do ocorrido. Em sessões de terapia, Bruce começa a ter lembranças da época, enquanto outras pessoas que também foram volentadas passam a relembrar dos episódios traumáticos.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
segunda-feira, 25 de janeiro de 2016
#445 1981 SEXTA FEIRA 13 PARTE 2 (Friday the 13th Part 2, EUA)
Direção: Steve Miner
Roteiro: Ron Kurz
Produção: Steve Miner, Dennis Stuart
Murphy (Co-produtor), Frank Mancuso Jr. (Produtor Associado), Lisa Barsamian e
Tom Gruenberg (Produtores Executivos)
Elenco: Betsy
Palmer, Amy Steel, John Furey, Adrienne King, Kirsten Baker, Stu Charno
A Sra. Pamela Voohrees está morta. Sexta-Feira 13 faturou
40 milhões de dólares na bilheteria. E agora? Como vamos fazer para alguém
continuar aterrorizando o Acampamento Crystal Lake e ganharmos ainda mais
dinheiro, fazermos uma sequência e montarmos uma franquia? Óbvio, cara pálida:
vamos colocar o filho dela, Jason Voohrees, que até então tinha morrido afogado
quando criança no lago, para assumir o legado de matança deixado por sua mãe. Deve
ter sido uma conversa mais ou menos assim que fez nascer Sexta-Feira
13: Parte 2, lançado nos cinemas um ano depois do primeiro filme. E
com isso, fomos apresentados ao mais famoso assassino do cinema, que aqui
começa a rodar o seu taxímetro de cadáveres. Mas a bem da verdade, Sexta-Feira
13: Parte 2 funciona muito bem, sendo mais um daqueles bons exemplos de
uma sequência que deu certo e que continuou mantendo o nível do original. E
falando de original, há muitas conexões com o filme anterior. Começamos
acompanhando o destino de Alice Hardy, única sobrevivente do massacre realizado
pela Sra. Voohrees (mais uma vez interpretada por Adrienne King), que tenta
levar uma vida normal, mas é frequentemente acometida por pesadelos dos
acontecimentos em Crystal Lake (pesadelos esses que vão contando o desfecho de Sexta-Feira
13, situando o espectador ou introduzindo para o novo público). Jason, movido
por um sentimento de vingança, vai atrás da garota querendo acertar as contas
por ela ter decapitado sua mãe, e acaba com sua vida já antes de entrar os
créditos. Passam-se cinco anos desde que a tragédia se abateu em Crystal Lake,
ou Acampamento Sangrento, para os mais chegados, e um novo grupo de monitores
está em treinamento em um acampamento vizinho, ali na mesma região, para
receber as crianças durante as férias de verão. O grupo é conduzido por Paul
Holt (John Furey) e sua namorada Ginny Field (Amy Steel). Os jovens vão
chegando e continuam sendo alertados pelo bêbado e sábio Ralph (outra
participação especial oriunda do primeiro filme) que profetiza que eles estarão
condenados (pela última vez, porque Jason também nos faz o favor de despachá-lo
logo em seguida). O que se segue é a mesma rotina dos filmes slasher, que
o próprioSexta-Feira 13 ajudou a popularizar: assassinatos cada vez mais
elaborados, com Jason utilizando diversos tipo de ferramentas, como martelos,
facões, lanças, rastelos, machados e por aí vai; jovens com hormônios saindo
pelo ladrão, querendo transar toda hora ou então tendo a brilhante ideia de ir
nada no lago bem no meio da noite; e personagens que não acrescentam nada na
trama, que só estão lá para serem estripados. Tecnicamente falando, Sexta-Feira
13: Parte 2 é bem redondo. A direção de Steve Miner é segura e
precisa e segue à risca a fórmula do primeiro filme, sendo que ele esteve no
barco junto com Sean S. Cunningham como produtor associado do original e
acompanhou de perto todas as decisões criativas, até filmado algumas das cenas
como diretor de unidade. Além disso, Miner voltaria a dirigir a terceira parte
da franquia. As mortes são mais elaboradas, porém menos explícitas que o
primeiro, muito pelo fato de Tom Savini não estar responsável pela maquiagem
(ele voltaria na quarta parte, a mais violenta de todas). A abordagem utilizada
para Jason também é bastante interessante. Aqui ele ainda não usa a máscara de
hóquei que seria sua marca registrada, e ao invés disso, utiliza um pano
amarrado em sua cabeça, para esconder sua terrível deformidade, que seria
revelada na cena final do filme. Fora isso, ele usa um macacão e uma camisa hipster xadrez,
é extremamente ágil, magro e esguio, bem diferente do assassino troncudo,
usando um macacão preto e que persegue as vítimas lentamente, que veríamos nos
demais filmes. Outro detalhe interessante é a desconstrução psicológica do
personagem. Ao que tudo indica, Jason não morreu afogado no lago, vagando pela
mata por toda sua infância, adolescência e vida adulta, apreendo a sobreviver
naquela situação inóspita, vivendo de sua própria caça, sem nenhum tipo de
contato e convívio social, atingido por uma forte psicopatologia misturada já
com seu famoso retardo mental. Isso pinta Jason como um produto do meio que
vive, sem noção do que é certo ou errado e sem nenhum tipo de convenção social
pré-estabelecida, transformando-o em uma irracional máquina de matar, motivado
por vingança, sem nenhum sentimento de culpa e valores morais. Sexta-Feira 13:
Parte 2 é uma grata surpresa e louvável por tentar fazer algo diferente,
mesmo que seguindo os preceitos do primeiro, e traz um ar de frescor à série,
substituindo seu assassino e ligando alguns pontos e personagens com o seu
antecessor. Na verdade, até a quarta parte a franquia foi bastante eficaz, ao
meu ver. Depois disso, sabemos muito bem o fim que leva.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/05/28/445-sexta-feira-13-parte-2-1981/
#444 1981 SCANNERS SUA MENTE PODE DESTRUIR (Scanners, Canadá)
Direção: David Cronenberg
Roteiro: David Cronenberg
Produção: Claude Héroux, Pierre David e
Victor Solnicki (Produtores Executivos)
Elenco: Jennifer
O’Neill, Stephe Lack, Patrick McGoohan, Lawrence Dane, Michael Ironside
Scanners – Sua
Mente Pode Destruir é mais uma da gemas do canadense David Cronenberg, mas longe de
ser sua maior contribuição para aquele estilo de terror peculiar que
desenvolveu em seu começo de carreira, com uma pegada visceral, expondo as
mazelas científicas, médicas, tecnológicas e a vulnerabilidade da carne e seu
apreço por ela. Certa vez, escrevi em outro de meus textos em que resenhei uma
película de Cronenberg que seus filmes parecem convergir sempre para uma cena
impactante, emblemática que fica gravada para sempre em nosso subconsciente
cinematográfico. É aquele fotograma visualmente projetado que estará
continuamente relacionado ao diretor. No caso de Scanners…, estou
falando da famosa (talvez até a mais famosa da carreira do canadense) cena da
cabeça do sujeito explodindo durante uma malfadada experiência com os tais
scanners. Que são criaturas dotadas de um terrível poder telepático, que pode
ser utilizado desde esquadrinhar a mente de suas vítimas em busca de
informações, até manifestações físicas como telecinese e combustão espontânea.
Na verdade, no decorrer da trama acabamos por descobrir que os scanners são uma
mutação genética. Não há nada de sobrenatural, e sim, mais uma vez, o vilão é a
ciência, auxiliada pelas grandes corporações e seus interesses escusos. O
proeminente Dr. Paul Ruth (Patrick McGoohan) desenvolveu um medicamento para
mulheres grávidas chamado Efemerol, que fará com que os fetos tenham terríveis
efeitos colaterais e se transformem em scanners. A ConSec e Ruth começam a
trabalhar no estudo dos scanners, porém um poderoso dissidente chamado Darryl
Revok (Michael Ironside) se rebela e decide, em um plano megalomaníaco,
auxiliado pelo chefe de segurança da própria ConSec, Braedon Keller (Lawrence
Dane), para cooptar médicos para continuar injetando o produtor nas mulheres grávidas,
criar uma superpopulosa raça de scanners e adivinhem? Dominar o mundo, é claro.
O único capaz de detê-lo é seu irmão mais novo, Cameron Vale (Stephen Lack),
recrutado pelo Dr. Ruth para caçar os scanners rebeldes e confrontar os planos
maléficos de Revok. No meio do caminho, ele aprende a controlar seus poderes,
descobre que consegue acessar telepaticamente sistemas de computadores (como se
fosse um modem vivo) e conhece outros scanners por aí (ao total são 237
espalhados pela América do Norte, que Revok vem caçando impiedosamente),
incluindo a bela Kim Obrist (Jennifer O’Neill) que irá ajuda-lo na missão. Apesar
da interessantíssima premissa sci-fi (brevemente inspirado em
uma hostil organização de telepatas que buscam a dominação mundial existentes
no livro O Almoço Nu de William S. Burroughs – adaptado posteriormente ao
cinema pelo próprio Cronenberg), Scanners… acaba se perdendo
em seu desenvolvimento de personagens e situações, muito por conta de diversos
problemas de produção enfrentados por Cronenbger durante a realização do longa.
O diretor certa vez o considerou o filme mais frustrante que já fez, pois teve
de começar sem ter o roteiro finalizado e terminado às pressas depois de dois
meses para que o financiamento pudesse ser deduzido do imposto de renda,
obrigando-o a filmar e escrever ao mesmo tempo. Também reclamou do antagonismo
entre os atores Patrick McGoohan e Jennifer O’Neill. Michael Ironside está
muito bem no papel de Revok e merece destaque, mas a dupla de mocinhos, Vale e
Obrist parece não ter nenhuma química e empatia. Na verdade, Stephen Lack
mantem a mesma expressão praticamente durante toda a projeção. Mas os dois
momentos espetaculares do filme são definitivamente a cena da cabeça sendo
explodida durante uma conferência, no momento em que a ConSec resolve expor ao
mundo a existência dos scanners, e o confronto final entre Revok e Vale. Os
efeitos especiais das duas sequências saltam aos olhos, e impressionam ainda
até hoje. Na cena da explosão, uma prótese de látex foi usada e enchida com
ração animal e tripas de coelho, alvejada por uma espingarda depois. Méritos da
equipe do consultor de efeitos especiais Dick Smith, responsável pela maquiagem
de O Exorcista, A Sentinela dos
Malditos e Viagens
Alucinantes, entre
outros. Scanners – Sua Mente Pode Destruir foi o filme com maior
orçamento de Cronenberg até então, o primeiro a se tornar mainstream e
sobrepor o ar independente, e por conseguinte, o responsável por catapultar a
carreira internacional do diretor e credenciá-lo para dirigir seus próximos
grandes filmes seguintes, como Videodrome – A Síndrome do Vídeo e
A Mosca, entre outros.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/05/27/444-scanners-sua-mente-pode-destruir-1981/
#443 1981 QUEM MATOU ROSEMARY? (The Prowler, EUA)
Direção: Joseph Zito
Roteiro: Glenn Leopold, Neal Barbera
Produção: Joseph Zito e David Streit,
James Bochis (Produtor Executivo)
Elenco: Vicky
Dawson, Christopher Goutman, Lawrence Tierney, Farley Granger, Cindy Wentraub
Entre 1980 e 1981 os cinemas sofreram uma enxurrada
de filmes slasher de todos os tipos. Vários assassinos com suas motivações
escusas e seus métodos diferenciados usavam toda sorte de armas para dar cabo
de suas vítimas. Entre essas produções, temos uma pérola do gênero que é Quem Matou
Rosemary? Slasher basicamente
é tudo igual, isso é fato. Todos eles seguem aquela mesma cartilha de regras
impostas lá atrás por John Carpenter em Halloween – A
Noite do Terror, todos
eles têm garotas com peitinhos de fora, adolescentes com hormônios em ebulição,
roteiros cheio de furos e um plot twist no final, quando
revelado quem é o matador da vez. O que torna uns melhores que os outros? É o gore meu
amigo (ou amiga). E esse daqui, tem de monte. Isso se deve pela presença do
genial Tom Savini na maquiagem. O cara já havia mostrado seus dotes em Despertar dos
Mortos de
Romero, e depois feito fama nos slasher movies, como o primeiro Sexta-Feira 13, o violentíssimo Chamas da Morte e em O Maníaco. Aqui em Quem Matou Rosemary?, ele
executa seu melhor trabalho (segundo ele mesmo) em mortes acachapantes sem
cortes, que vão desde uma garota no banho sendo trespassada por um forcado, uma
jugular sendo cortada em uma piscina, um sujeito sendo apunhalado pela lança de
uma baioneta, e uma cabeça sendo explodida por um tiro. Dirigido por Joseph
Zito (o que o credenciou a dirigir Sexta-Feira 13 – Capítulo Final), Quem
Matou Rosermary? começa com uma premissa bem interessante. Logo após o
término da Segunda Guerra Mundial, na noite de 28 de Junho de 1945, acontece na
cidade de Avalon Bay um baile de formatura que receberá de volta aqueles que lutaram
no estrangeiro. Porém durante o conflito, um dos soldados recebe por carta a
notícia de que sua amada, Rosemary Chatham (Joy Glaccum), acaba de lhe dar um
pé na bunda para ficar com outro. Eis que na noite do baile, o soldado
psicopata vingativo vestido em traje militar, com capacete, farda, botas e
máscara de camuflagem, empala com o forcado a ex e seu novo namorado, Roy
(Timothy Wahrer), obviamente no momento em que eles fogem do baile para
fornicar em um lugar mais reservado. O assassino como assinatura, deixa uma
rosa no corpo das vítimas. Tal qual em Dia dos Namorados Macabro, outros slasher lançado no mesmo ano,
o baile é cancelado durante 35 anos, até que resolve-se retomar as velhas
tradições e realizar o festejo novamente. Claro que isso dará pano para manga
para que o guerrilheiro insano volte à ativa, executando um a um os
adolescentes que só pensam em fazer sexo e fumar maconha. A mocinha da história
será a comportada e virginal loirinha Pam MacDonald (Vicky Dawson), apaixonada
pelo assistente delegado, Mark London (Christopher Goutman), que está cobrindo
a viagem do xerife George Fraser (Farley Granger) para pescar, enquanto uma garota
foi morta na cidadezinha à facadas e todos ficam em alerta pois ele pode se
dirigir para Avalon Bay. Esse é o roteiro de Neal Barbera e Glenn Leopold, o
resto é banho de sangue, aqueles personagens rasos e todos os meandros do
desenvolver da trama, com as motivações e a descoberta do assassino acontecendo
de forma superficial, sem se aprofundar muito nas perturbações do ex-militar, o
que renderia um viés interessante ao filme, que é completamente descartado. O
suspense mesmo é descobrir quem matou a tal Rosemay, como alardeia o título
nacional. Apesar de ficar muito fácil descobrir, mesmo com alguns personagens
sendo colocados em cena na vã tentativa de deixar alguma dúvida na cabeça do
espectador. Mas não é um demérito, afinal você está assistindo a um slasher
movie, e não a um filme filosófico de arte. Ao apertar o play, o que você
quer ver mesmo são mortes sanguinolentas, e isso Zito e Savini entregam com
louvor, com boas doses de violência. Ainda vale um último susto em forma de
pesadelo, que com certeza fez (e ainda fará) nego pular da cadeira. Quem
Matou Rosemary?, que além do título original, The Prowler, também
ficou conhecido como Rosemary’s Killer (mais próximo do nome que ganhou aqui no
Brasil) é um clássico cult obscuro que merece seu lugar no hall da
fama do gênero, com toda certeza.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/05/24/443-quem-matou-rosemary-1981/
#441 1981 POSSESSÃO (POSSESSION, França, Alemanha Oriental)
Direção: Andrzej
Zulawski
Roteiro: Andrzej
Zulawski
Produção: Marie-Laure Reyre
Elenco:Isabelle Adjani, Sam Neill, Margit Carstensen, Heinz Bennent
Eu sou um cara que é
muito fã de filmes de terror. Acho que vocês já perceberam isso, né? E eu
valorizo muito o gênero e detesto tentar rotulá-lo, pois elementos de horror
você pode encontrar em diversos tipos de filmes, mesmo que eles não sejam
clichê ou sigam determinadas doutrinas. E esse é o caso de Possessão, tresloucada e
bizarra produção do diretor ucraniano Andrzej Zulawski. Limitar chamá-lo
somente de filme de horror é algo muito simplório e ignorante. E por mais que
haja elementos o bastante para colocá-lo nessa prateleira na locadora, como
sangue, mortes, perversão sexual e até um monstro, Possessão é muito
bem um drama existencialista e um filme cult de diretor também. É sobre amor obsessivo, psicose,
bizarrice sexual, controle, fim de relacionamento, traição, fracasso da
instituição familiar e do casamento. É recheado de metáforas. E tudo isso
filmado pela câmera intensa de Zulawski, com seus closes invasivos e
perturbadores e as atuações viscerais do casal Sam Neill, permissivo,
dependente e fraco e Isabelle Adjani, linda, louca, psicótica e escrava de um
desejo sexual incontrolável. Neil interpreta Mark, casado com Anna (Adjani),
que ficou muito tempo ausente devido ao seu obscuro trabalho e ao voltar dessa
viagem encontra o casamento destruído, com Anna assolada por sérias dúvidas
sobre sua própria vida e sentimentos. Nesse tempo ela mantinha um caso
extraconjugal com Heinrich. Enquanto Mark sempre foi um bunda mole, Heinrich parecia
ser o cara liberal, intelectual, viajado, que era melhor de cama, melhor de
papo, melhor de tudo e conseguia satisfazer certas necessidades que Anna não
encontrava no marido. Certo, isso é passível de acontecer em qualquer
relacionamento. Só que Anna acaba voltando para casa, para sumir em seguida,
largando tanto o marido e o filho, o pequeno Bob, quanto o amante, aparecendo
esporadicamente apenas para ver a criança e ter ataques histéricos e suicidas,
vivendo uma verdadeira batalha campal constante com o marido, que ainda insiste
em se sujeitar, sem um pingo de amor próprio, a rastejar aos pés da mulher. Pois
bem, Mark no auge da sua obsessão contrata um detetive para saber onde Anna
está passando seus dias e noites e principalmente com quem. E o que ele
descobre não é nem um pouco agradável e aqui que o filme entra no campo do
fantástico. Anna vive em um apartamento imundo com uma estranha criatura,
repleta de tentáculos, que a satisfaz sexualmente. É mais ou menos como se ela
trepasse incansavelmente noite afora com algum monstro saído diretamente de um
livro de H.P. Lovecraft. Anna então começa a matar todos aqueles que veem a
criatura e tentam de alguma forma afastá-los, dando-os de alimento, ou seu
sangue, para que ela vá tomando forma. Pelo menos é isso que dá a entender. O
monstro é obra do italiano Carlo Rambaldi, morto recentemente, que no início de
sua carreira trabalhava como maquiador de vários filmes do italiano Mario Bava,
e mais tarde Dario Argento, como em Prelúdio Para Matar e depois ficou
famoso por criar efeitos visuais para filmes como Alien – O Oitavo Passageiro, King Kong
(1976), ET – O Extraterrestre, Contatos Imediatos de Terceiro
Grau e Duna. As atuações dos dois atores são sensacionais. Adjani,
que faz um papel duplo, além da surtada Anna, a doce professora Helen, ganhou o
prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, assim como Zulawski também
concorreu a Palma de Ouro, e ela ainda levou o César daquele ano. Preste muita
atenção na cena do metrô. No grau de histeria, descontrole e exagero que ela
chega, numa das cenas que para mim, é uma das mais assustadoras de todos os
tempos. E não há nenhum elemento assustador básico que vem na sua cabeça quando
se pensa em um filme de terror, não. É só a mais pura loucura elevada à enésima
potência, e claro, com uma boa pitada de sangue, porque a gente adora. Mas a
verdade é que todos os atores do filme fazem personagens igualmente bizarros, e
parecem que vivem em um mundo desconexo. Quanto mais vai se aproximando do final,
mas as coisas vão perdendo o sentido e ficando xaropes, sem perspectiva alguma
de um final feliz e sem chavões. Até uma questão religiosa filosófica começa a
ser discutida pelos protagonistas, sobre a existência ou não de Deus. Fora que
o próprio final é repleto de metáforas e você termina de ver o filme com aquela
cara de interrogação. Mas esse era o propósito inicial, que não fosse uma peça
fechada com uma conclusão óbvia. Não há vencedores, nem mocinhos e nem vilões. Possessão é
um filme complexo. É preciso ter muito estômago e estar preparado
psicologicamente para assisti-lo. Mas é uma pérola da sétima arte, isso sem
dúvida nenhuma.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/05/22/441-possessao-1981/
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