Direção: Ken
Russell
Roteiro: Paddy
Chayefsky (baseado em sua obra)
Produção: Howard Gottfried, Stuart Baird (Produtor Associado),
Daniel Melnick (Produtor Executivo)
Elenco: William Hurt, Blair Brown, Bob Balaban, Charles Haid, Thaao
Penghlis
Viagens Alucinantes é um título que
realmente faz jus ao filme em questão, pois o longa de Ken Russell é realmente
uma viagem alucinante. Uma explosão sensorial lisérgica de sons e imagens que
leva o espectador as mais diversas e bizarras alucinações de um cientista em
busca da exploração plena de suas teorias sobre os estados alterados. O
problema é que existe um filme no meio disso tudo. Você não vai conseguir
manter mais de 100 minutos de projeções calcadas apenas
nessas trips alucinógenas de um excelente William Hurt, em seu debute
no cinema. E Ken Russell é Ken Russell né? O cara é obcecado pelo visual, pelo
desconexo, pelo impacto imagético das cenas que conduz querendo meter todos os
assuntos possíveis e imagináveis que lhe apatecem em uma salada mista. E quando
neste caso ele foi chamado às pressas para a direção no lugar de Arthur Penn, o
trem fica ainda mais desgovernado. O que isso tudo quer dizer? Espere por uma
experiência cinematográfica visual única, principalmente nas cenas, digamos,
com o personagem chapado, misturado com uma narrativa complexa, prejudicada por
uma péssima edição que não consegue fazer uma elipse temporal de cinco, dez
anos de forma decente, e uma explosão de diálogos intelecutalóides e teorias
das mais estapafúrdias possíveis, daquelas que são duras mesmo de engolir. Escrito
por Paddy Chayefsky, baseado em seu próprio livro, (mas que assina aqui com o
pseudônimo de Sidney Aaron, por conta de não ter gostado do resultado final e
das frequentes brigas com Russell, principalmente por conta do jeito peculiar
do inglês dirigir atores e conduzir os diálogos) Viagens
Alucinantes baseia-se brevemente no trabalho do neurocientista (e
pesquisador de golfinhos, para você saber) John Cunningham Lilly, que inventou
o tanque de isolamento e foi o primeiro a tomar drogas submerso dentro do
equipamento. E claro, aproveitando todos os resquícios da herança cultural das
pesquisas com alucinógenos e psicotrópicos de Timothy Leary, Carlos Castañeda,
Charles Tart, Robert Ornstein, Arthur Deikman e Aldous Huxley. Pois bem, Hurt
faz o papel do surtado Dr. Edward Jessup, que tal qual Lilly mete-se em um
tanque e depois de usar drogas pesadas, começa a ter várias alucinações
(principalemente de cunho sexual e religioso – incluindo aí uma imagem de
Cristo com cabeça de bode, com sete olhos e quatro chifres e visões muito
particulares do inferno) na tentativa de atingir desesperadamente um estado
alterado de consciência que irá levar sua mente para o início da criação
humana. Ele é auxiliado pelos doutores Arthur Rosenberg (Bob Balaban) e Mason
Parrish (Charles Haid) e até advertido por eles do perigo de suas experiências
(que obviamente ele não dará a mínima) e também acaba conhecendo e se casando com
a antropóloga Emily (Blair Brown), com quem terá filhos e se desquitará nessas
passagens de tempo desconexas do filme (onde personagens não envelhecem e
continuam usando até as mesmas roupas). As experimentações de Jessup tomarão
uma nova escala quando viaja para o México e toma um sinistro chá de cogumelo
preparado pelo xamã de uma tribo das cavernas e aí sim entra em parafuso, sendo
atacado por imagens assustadoras (novamente a maioria de cunho sexual,
religioso e existencial), se ver em um turbilhão de diversas sensações cósmicas
trancedentais permeado por fogos de artifício e uma cacofonia ensurdecedora. O
que deveria deixar a maioria cabreira e considerar uma baita bad trip,
causa o efeito contrário em Jessup que leva a droga para os EUA e volta a experimentá-la
dentro do tanque de água. Daí meu, amigo, o outrora proeminente cientista vai
embarcar na “viagem alucinante”, transportar sua consciência ao momento do
início da vida em sua alucinação e isso fará com que mudanças genéticas comecem
a ocorrer em seu metabolismo, e pasmem, Jessup irá regredir a um estado
primata, do elo perdido, e sair pelas ruas da cidade tocando o terror e caçando
animais em um zoológico. A regressão continua posteriormente (porque o sujeito
é obstinado) até ele quase se transformar em uma massa disforme espectral que
representa a sopa primordial que deu origem a vida. Maluquice, não é? Agora o
que tem de se dar o braço a torcer são os incríveis efeitos especiais (não
esqueça que estamos no ano de 1980, tá?) da equipe de David Domeyer (que
substituiu John Dykstra quando o diretor Arthur Penn também saiu do barco), os
efeitos de maquiagem da equipe de Dick Smith (o mesmo que faria Scanners –
Sua Mente Pode Destruir no ano seguinte) e a trilha sonora de John
Corigliano junto da edição de som, esses duas últimas categorias indicadas ao
Oscar. Viagens Alucinantes é um filme de extremos. Ame ou odeie. Se você
estiver no clima (não estou incitando ninguém a tomar ácido para assiti-lo,
tá?) você consegue aproveitar bem essa experiência cinematográfica intensa,
mesmo apesar de todas as inverossimilhanças do roteiro, a tratativa leviana e
apelativa do assunto, os devaneios de Russell e as trapalhadas na edição e na
fotografia.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/04/23/419-viagens-alucinantes-1980/
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