Direção: Andrzej
Zulawski
Roteiro: Andrzej
Zulawski
Produção: Marie-Laure Reyre
Elenco:Isabelle Adjani, Sam Neill, Margit Carstensen, Heinz Bennent
Eu sou um cara que é
muito fã de filmes de terror. Acho que vocês já perceberam isso, né? E eu
valorizo muito o gênero e detesto tentar rotulá-lo, pois elementos de horror
você pode encontrar em diversos tipos de filmes, mesmo que eles não sejam
clichê ou sigam determinadas doutrinas. E esse é o caso de Possessão, tresloucada e
bizarra produção do diretor ucraniano Andrzej Zulawski. Limitar chamá-lo
somente de filme de horror é algo muito simplório e ignorante. E por mais que
haja elementos o bastante para colocá-lo nessa prateleira na locadora, como
sangue, mortes, perversão sexual e até um monstro, Possessão é muito
bem um drama existencialista e um filme cult de diretor também. É sobre amor obsessivo, psicose,
bizarrice sexual, controle, fim de relacionamento, traição, fracasso da
instituição familiar e do casamento. É recheado de metáforas. E tudo isso
filmado pela câmera intensa de Zulawski, com seus closes invasivos e
perturbadores e as atuações viscerais do casal Sam Neill, permissivo,
dependente e fraco e Isabelle Adjani, linda, louca, psicótica e escrava de um
desejo sexual incontrolável. Neil interpreta Mark, casado com Anna (Adjani),
que ficou muito tempo ausente devido ao seu obscuro trabalho e ao voltar dessa
viagem encontra o casamento destruído, com Anna assolada por sérias dúvidas
sobre sua própria vida e sentimentos. Nesse tempo ela mantinha um caso
extraconjugal com Heinrich. Enquanto Mark sempre foi um bunda mole, Heinrich parecia
ser o cara liberal, intelectual, viajado, que era melhor de cama, melhor de
papo, melhor de tudo e conseguia satisfazer certas necessidades que Anna não
encontrava no marido. Certo, isso é passível de acontecer em qualquer
relacionamento. Só que Anna acaba voltando para casa, para sumir em seguida,
largando tanto o marido e o filho, o pequeno Bob, quanto o amante, aparecendo
esporadicamente apenas para ver a criança e ter ataques histéricos e suicidas,
vivendo uma verdadeira batalha campal constante com o marido, que ainda insiste
em se sujeitar, sem um pingo de amor próprio, a rastejar aos pés da mulher. Pois
bem, Mark no auge da sua obsessão contrata um detetive para saber onde Anna
está passando seus dias e noites e principalmente com quem. E o que ele
descobre não é nem um pouco agradável e aqui que o filme entra no campo do
fantástico. Anna vive em um apartamento imundo com uma estranha criatura,
repleta de tentáculos, que a satisfaz sexualmente. É mais ou menos como se ela
trepasse incansavelmente noite afora com algum monstro saído diretamente de um
livro de H.P. Lovecraft. Anna então começa a matar todos aqueles que veem a
criatura e tentam de alguma forma afastá-los, dando-os de alimento, ou seu
sangue, para que ela vá tomando forma. Pelo menos é isso que dá a entender. O
monstro é obra do italiano Carlo Rambaldi, morto recentemente, que no início de
sua carreira trabalhava como maquiador de vários filmes do italiano Mario Bava,
e mais tarde Dario Argento, como em Prelúdio Para Matar e depois ficou
famoso por criar efeitos visuais para filmes como Alien – O Oitavo Passageiro, King Kong
(1976), ET – O Extraterrestre, Contatos Imediatos de Terceiro
Grau e Duna. As atuações dos dois atores são sensacionais. Adjani,
que faz um papel duplo, além da surtada Anna, a doce professora Helen, ganhou o
prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, assim como Zulawski também
concorreu a Palma de Ouro, e ela ainda levou o César daquele ano. Preste muita
atenção na cena do metrô. No grau de histeria, descontrole e exagero que ela
chega, numa das cenas que para mim, é uma das mais assustadoras de todos os
tempos. E não há nenhum elemento assustador básico que vem na sua cabeça quando
se pensa em um filme de terror, não. É só a mais pura loucura elevada à enésima
potência, e claro, com uma boa pitada de sangue, porque a gente adora. Mas a
verdade é que todos os atores do filme fazem personagens igualmente bizarros, e
parecem que vivem em um mundo desconexo. Quanto mais vai se aproximando do final,
mas as coisas vão perdendo o sentido e ficando xaropes, sem perspectiva alguma
de um final feliz e sem chavões. Até uma questão religiosa filosófica começa a
ser discutida pelos protagonistas, sobre a existência ou não de Deus. Fora que
o próprio final é repleto de metáforas e você termina de ver o filme com aquela
cara de interrogação. Mas esse era o propósito inicial, que não fosse uma peça
fechada com uma conclusão óbvia. Não há vencedores, nem mocinhos e nem vilões. Possessão é
um filme complexo. É preciso ter muito estômago e estar preparado
psicologicamente para assisti-lo. Mas é uma pérola da sétima arte, isso sem
dúvida nenhuma.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/05/22/441-possessao-1981/
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