sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

#418 1980 VESTIDA PARA MATAR (Dressed to Kill, EUA)


Direção: Brian De Palma
Roteiro: Brian De Palma
Produção: George Litt, Fred C. Caruso (Produtor Associado), Samuel Z. Arkoff (Produtor Executivo – não creditado)
Elenco: Michael Caine, Angie Dickinson, Nancy Allen, Keith Gordon, Dennis Franz

No ano de 1980, morria Alfred Hitchcock. E neste mesmo ano, o já considerado Mestre do Macabro (como o próprio pôster do filme alardeia), Brian De Palma, lançava Vestida Para Matar, que não só é (mais) uma homenagem ao Mestre do Suspense, como uma passagem de bastão digna entre os diretores. Claramente influenciado por Psicose, mas com o toque pessoal e irrefutável de De Palma na direção (com seus planos sequência, travellings de câmera, campos e contracampos, câmeras subjetivas, justaposição de imagens e planos simultâneos e por aí vai), Vestida Para Matar desconstrói a obra clássica de Hitchcock e transforma-o num suspense de primeiro escalão, daqueles para nenhum botar defeito (até mesmo os buracos do roteiro são deliciosamente interessantes). A trama gira em torno de Kate Miller (Angie Dickinson, uma MILF deliciosa com seus quase 50 anos na época), que vive um casamento enfadonho e uma vida sexual reprimida, com um marido que simplesmente não consegue satisfazê-la. Ela chora as pitangas com seu psiquiatra, o Dr. Robert Elliott, papel na medida de Michael Caine, e ao sair do consultório, durante uma visita a um museu, sente-se atraída por um sujeito e resolve sair do marasmo de sua vida conjugal entediante e ter uma noite de sexo casual com o estranho. Detalhe na fantástica cena do museu onde acontece uma espécie de jogo de sedução entre os dois, no momento de maior inspiração de De Palma, com sua câmera vouyerperseguindo-os, sem nenhum diálogo, pontuado pela inebriante trilha sonora de Pino Donaggio. No término da noitada, após quebrar as regras de sua vida de classe média monótona e se arriscar ao perigo (tal qual Marion Crane, dePsicose), Kate é brutalmente assassinada por uma figura sinistra usando uma peruca loura e óculos escuros, sendo retalhada por uma navalha afiada, em uma cena da mais pura brutalidade gráfica, que me lembra muito os gialli italianos. A prostituta de luxo Liz Blake (Nancy Allen – esposa do diretor na época) é testemunha ocular do crime e vê de relance o possível assassino(a). Paralelo a isso, o Dr. Elliott começa a receber telefonemas ameaçadores de Bobbi, uma ex-paciente transexual a qual ele vetara a cirurgia de mudança de sexo, que havia roubado sua navalha para praticar o hediondo crime e tentar incriminá-lo. Juntam-se a trama o filho órfão de Kate, Peter (Keith Gordon), um nerdque decide começar uma investigação particular utilizando de seusgadgets, com auxílio de Liz, e o policial ítalo-americano estereótipo (que funciona como o alívio cômico do longa) Detetive Marino, vivido por um desbocado e jovem Dennis Franz antes de sua famosa batalha contra o crime como Andy Sipowicz nas ruas de Manhattam no seriado televisivoNova York Contra o Crime. A partir daí uma série de desdobramentos da investigação irão levar ao final que pode ser impactante e previsível ao mesmo tempo, explorando com requintes os desvios psicológicos da repressão sexual, transformado em tendências homicidas, tudo isso dividido em momentos ímpares de construção de cenas e estética absurda, como o quase assassinato de Liz no vagão do metrô (salva por Peter na hora H), e as duas lascivas cenas do chuveiro com Angie Dicksinson e seu nu frontal no começo e Nancy Allen ao seu final, mostrando que o chuveiro pode mesmo ser um local perigoso (mais uma vez uma homenagem a Psicose) e que sexo é culpa, ponto final. Até por isso, tal quais os filmes de Hitchcock, Vestida Para Matar foi acusado por feministas de se tratar um filme misógino. A fita de De Palma sem dúvida pode ser apelativa, mas não é misógina, por favor. Fato é que como Psicose, mulheres liberais em busca de sexo casual são brutalmente assassinadas. É como um prejulgamento machista de que a mulher nunca pode buscar seu prazer pleno, mas a bem da verdade, a personagem de Angie Dickisnon em nenhum momento mostrou-se uma “mulher indefesa” e “pecadora” pedindo para ser assassinada por um tarado. A morte dela antes da primeira meia hora acaba se tornando um trauma para o espectador (Psicose de novo?) logo depois dela ter encontrado alguma felicidade em sua vida modorrenta. Talvez, só talvez, haja uma mensagem subentendida quando a personagem descobre de forma chocante que seu parceiro de cama daquele momento havia contraído uma doença venérea (mais uma vez, sexo é culpa), mas eu acredito que tenha sido mais um subterfúgio para o aumento do suspense do filme, afinal todos os crimes aqui são baseados em causa e consequência.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Pois bem, desde já é preciso se dizer que o roteiro do filme não deve ser levado muito a sério, pois a forma de fazer cinema de De Palma compensa os buracos gritantes, mas ainda assim, é um final que pode ser até interessante. Na verdade, o assassino transexual é o próprio Dr. Elliott, que criou essa dupla personalidade, Bobbi (que seria diminutivo de Robert) esquizofrênica e tentava reprimi-la ao máximo. Porém, toda vez que se via excitado por alguma mulher e sentia uma ereção, Bobbi surgia em cena para assassinar aquelas que haviam tentado a libido do psiquiatra e manter sua masculinidade reprimida. Após ser baleado ao tentar matar Liz, o Dr. Levy (David Marguiles), psicólogo o qual o Dr. Elliott se consultava para “tratar o problema de Bobbi”, explica sobre a dupla personalidade do mesmo e até sobre sua confissão, ao procurá-lo para dizer que Bobbi estava cometendo os crimes, sendo que era a mesma pessoa. Ainda há espaço no final para uma cena de pesadelo (que é de uma beleza e suspense ímpar), com Robert assassinando uma enfermeira no manicômio, fugindo e tentando matar Liz no chuveiro. Artistica e esteticamente impecável, tenso, surpreendente e extravasando sensualidade, Vestida Para Matar é filme obrigatório para qualquer fã de suspense, mostrando toda a versatilidade e excelência de Brian De Palma em seu auge, assim como nos fazendo de testemunha do total controle de todo e qualquer elemento cinematográfico necessário para se fazer um longa metragem.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/04/22/418-vestida-para-matar-1980/

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