segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

#428 1981 O GATO NEGRO (Gatto nero / Black Cat, Itália)


Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Lucio Fulci, Biagio Proiettu (inspirado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Giulio Sbarigia
Elenco: Patrick Magee, Mimsy Farmer, David Warbeck, Al Cliver, Dagmar Lassander, Bruno Corazzari

O Gato Preto é um dos mais famosos contos de Edgar Allan Poe e já foi adaptado diversas vezes às telas de cinema. A primeira incursão do bichano foi no clássico da Universal de 1934 com Boris Karloff e Bela Lugosi no elenco. Em 1941, foi a vez de Basil Rathbone enfrentar o felino. Na década de 60 durante o ciclo Poe de Roger Corman, Vincent Price e Peter Lore estiveram às voltas com o gato em Muralhas do Pavor, de 1962. Dez anos mais tarde, Sergio Martino aproveitava a vilania do animal no afetado No Quarto Escuro de SatãO Gato Negro de Lucio Fulci é a segunda versão spaghetti do conto, que mais tarde seria novamente dirigido por outro italiano, Dario Argento, em Dois Olhos Satânicos, em 1990. Aqui veremos Fulci meio mozarela, meio calabresa, misturando a técnica e o viés sobrenatural utilizado em filmes como Premonição ou O Estranho Bosque dos Sonhos, com um breve perfume da grosseria presente em Zumbi 2 – A Volta dos Mortos ou os filmes anteriores da Trilogia da Morte, claro. Na verdade, O Gato Negro, que foi dirigido pelo italiano como um favor ao produtor Giulio Sbarigia, por isso a direção no automático de Fulci, mas mesmo assim contando com a sempre ótima fotografia do parceiro desde a época dos westerns, Sergio Salvati, e graciosa trilha sonora de Pino Donaggio, evoca aos velhos tempos do cinema fantástico italiano, com apreço ao gótico e seus casarões velhos ladeados por árvores de galhos retorcidos, neblina e pitadas de sobrenatural, escola desenvolvida de forma sublime por Mario Bava lá nos anos 60, deixando um pouco de lado todo o gore e violência gráfica que tonaram-se marca registrada de Fulci em seus últimos trabalhos. Como é impossível construir um longa metragem fidedigno ao conto de Poe, coube a Fulci e ao roteirista Biagio Proietti pegar os limões e transformar em uma limonada, expandindo, distorcendo e voltando às origens vez ou outra da obra literária, e conseguir construir uma trama de 92 minutos com um gato serial killer vingativo. Só por isso, o sujeito já merece ser ovacionado de pé, afinal, Fulci é mestre em fazer filmes sobre o nada. O Dr. Robert Milles (Patrick Magee, mas papel originalmente oferecido para Donald Pleasence e rejeitado também por Peter Cushing, por conta da fama sanguinolenta do diretor, e que já havia lidado com gatos em Trama Sinistra) é um psíquico que tenta se comunicar com os mortos, possui uma leve mediunidade e ainda por cima tem a habilidade de controlar a mente de seu gato preto, usando o animalzinho para cometer assassinatos e praticar atos de vingança para o sujeito que vive isolado e ridicularizado pelo resto da cidadezinha onde mora. Logo na primeira cena do longa, Fulci mostra ao que veio, com o felino espreitando um homem na rua, sendo que a câmera é o POV do bichano, e já faz com que o pobre diabo sofra um acidente de carro e seja lançado para fora do para-brisa, com seu bonecão ensanguentado sobre o capô do veículo. A fotógrafa Jill Trevers (Mimsy Farmer) está visitando a cidade para tirar fotos das ruínas do local, quando se depara com um microfone em uma tumba, deixada pelo Dr. Milles para tentar gravar a conversação dos mortos. Enquanto isso, um casalzinho safado se esconde em uma sala perto da marina para fornicar, quando o gato entra pelo tubo do ar-condicionado, provoca um curto-circuito e rouba a chave da porta (!), deixando os dois ali trancados sufocando e cozinhando por conta do calor. O inspetor Gorley (David Warbeck) da Scotland Yard é enviado para investigar o sumiço dos jovens e acabará se envolvendo com Jill (até romanticamente) em uma série de assassinatos bizarros que vem sendo cometidos pelo felídeo, que inclui aí um bêbado que cai de uma construção e é empalado por canos de metal e uma dondoca que é queimada viva junto de sua casa. Todas as mortes terão ligação com o pirado Dr. Milles, e ao chegar naquele momento fatídico do plot twist quando Jill descobre toda a verdade, é melhor você apertar fundo o botão da descrença para poder curtir o restante do filme, apesar de quê o próprio conto de Poe já trás em sua narrativa a ideia do comportamento errático do dono do gato ser alterado pelo bicho maligno. E acredito que você já deva conhecer o famoso desfecho da história do escritor americano, senão já sabe,
ALERTA DE SPOILER, pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco:
tal qual manda o figurino, Milles mata o gato e empareda a mocinha viva, mas quando os policiais investigando o desaparecimento da fotógrafa chegam à casa do médium, eis que o gato começa a miar e eles descobrem ele lá vivinho da silva, atrás da parede junto com o corpo da donzela. Vale lembrar que Fulci já usou do expediente de pessoas emparedadas vivas em Premonição, que tem um final quase idêntico a O Gato Negro (ou ao conto de Poe, melhor dizendo). Com todo clima de suspense bem construído, seus famosos closes nos olhos, doses de violência, porém mais atenuadas que o de costume, uma ode ao cinema gótico italiano ou ao mestre Hitchcock, as baboseiras e furos de roteiro de sempre, os efeitos de maquiagem capengas, e por saber levar um filme de uma hora e meia de mortes praticada apenas por um gato, ponto para Lucio Fulci e ponto para O Gato Negro.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/05/07/428-o-gato-negro-1981/

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