Direção: Lucio
Fulci
Roteiro: Lucio
Fulci, Biagio Proiettu (inspirado na obra de Edgar Allan Poe)
Produção: Giulio
Sbarigia
Elenco: Patrick
Magee, Mimsy Farmer, David Warbeck, Al Cliver, Dagmar Lassander, Bruno
Corazzari
O Gato Preto é um dos
mais famosos contos de Edgar Allan Poe e já foi adaptado diversas vezes às
telas de cinema. A primeira incursão do bichano foi no clássico da Universal de
1934 com Boris Karloff e Bela Lugosi no elenco. Em 1941, foi a vez de Basil
Rathbone enfrentar o felino. Na década de 60 durante o ciclo Poe de Roger
Corman, Vincent Price e Peter Lore estiveram às voltas com o gato em Muralhas do Pavor, de 1962. Dez anos mais tarde, Sergio
Martino aproveitava a vilania do animal no afetado No Quarto Escuro de Satã. O Gato Negro de Lucio Fulci
é a segunda versão spaghetti do conto, que mais tarde seria novamente
dirigido por outro italiano, Dario Argento, em Dois Olhos Satânicos, em
1990. Aqui veremos Fulci meio mozarela, meio calabresa, misturando a técnica e
o viés sobrenatural utilizado em filmes como Premonição ou O Estranho Bosque dos Sonhos, com um breve
perfume da grosseria presente em Zumbi 2 – A Volta dos Mortos ou os filmes
anteriores da Trilogia da Morte, claro. Na verdade, O Gato Negro, que foi
dirigido pelo italiano como um favor ao produtor Giulio Sbarigia, por isso a
direção no automático de Fulci, mas mesmo assim contando com a sempre ótima
fotografia do parceiro desde a época dos westerns, Sergio Salvati, e
graciosa trilha sonora de Pino Donaggio, evoca aos velhos tempos do cinema
fantástico italiano, com apreço ao gótico e seus casarões velhos ladeados por
árvores de galhos retorcidos, neblina e pitadas de sobrenatural, escola
desenvolvida de forma sublime por Mario Bava lá nos anos 60, deixando um pouco
de lado todo o gore e violência gráfica que tonaram-se marca
registrada de Fulci em seus últimos trabalhos. Como é impossível construir um
longa metragem fidedigno ao conto de Poe, coube a Fulci e ao roteirista Biagio
Proietti pegar os limões e transformar em uma limonada, expandindo, distorcendo
e voltando às origens vez ou outra da obra literária, e conseguir construir uma
trama de 92 minutos com um gato serial killer vingativo. Só por isso,
o sujeito já merece ser ovacionado de pé, afinal, Fulci é mestre em fazer
filmes sobre o nada. O Dr. Robert Milles (Patrick Magee, mas papel
originalmente oferecido para Donald Pleasence e rejeitado também por Peter
Cushing, por conta da fama sanguinolenta do diretor, e que já havia lidado com
gatos em Trama Sinistra) é um psíquico que tenta se comunicar com os
mortos, possui uma leve mediunidade e ainda por cima tem a habilidade de
controlar a mente de seu gato preto, usando o animalzinho para cometer
assassinatos e praticar atos de vingança para o sujeito que vive isolado e
ridicularizado pelo resto da cidadezinha onde mora. Logo na primeira cena do
longa, Fulci mostra ao que veio, com o felino espreitando um homem na rua,
sendo que a câmera é o POV do bichano, e já faz com que o pobre diabo sofra um
acidente de carro e seja lançado para fora do para-brisa, com seu bonecão
ensanguentado sobre o capô do veículo. A fotógrafa Jill Trevers (Mimsy Farmer)
está visitando a cidade para tirar fotos das ruínas do local, quando se depara
com um microfone em uma tumba, deixada pelo Dr. Milles para tentar gravar a
conversação dos mortos. Enquanto isso, um casalzinho safado se esconde em uma sala
perto da marina para fornicar, quando o gato entra pelo tubo do
ar-condicionado, provoca um curto-circuito e rouba a chave da porta (!),
deixando os dois ali trancados sufocando e cozinhando por conta do calor. O
inspetor Gorley (David Warbeck) da Scotland Yard é enviado para investigar o
sumiço dos jovens e acabará se envolvendo com Jill (até romanticamente) em uma
série de assassinatos bizarros que vem sendo cometidos pelo felídeo, que inclui
aí um bêbado que cai de uma construção e é empalado por canos de metal e uma
dondoca que é queimada viva junto de sua casa. Todas as mortes terão ligação
com o pirado Dr. Milles, e ao chegar naquele momento fatídico do plot
twist quando Jill descobre toda a verdade, é melhor você apertar fundo o
botão da descrença para poder curtir o restante do filme, apesar de quê o
próprio conto de Poe já trás em sua narrativa a ideia do comportamento errático
do dono do gato ser alterado pelo bicho maligno. E acredito que você já deva
conhecer o famoso desfecho da história do escritor americano, senão já sabe,
ALERTA DE SPOILER, pule para o próximo parágrafo ou leia
por sua conta e risco:
tal qual manda o
figurino, Milles mata o gato e empareda a mocinha viva, mas quando os policiais
investigando o desaparecimento da fotógrafa chegam à casa do médium, eis que o
gato começa a miar e eles descobrem ele lá vivinho da silva, atrás da parede
junto com o corpo da donzela. Vale lembrar que Fulci já usou do expediente de
pessoas emparedadas vivas em Premonição, que tem um final quase idêntico a O
Gato Negro (ou ao conto de Poe, melhor dizendo). Com todo clima de
suspense bem construído, seus famosos closes nos olhos, doses de violência,
porém mais atenuadas que o de costume, uma ode ao cinema gótico italiano ou ao
mestre Hitchcock, as baboseiras e furos de roteiro de sempre, os efeitos de
maquiagem capengas, e por saber levar um filme de uma hora e meia de mortes
praticada apenas por um gato, ponto para Lucio Fulci e ponto para O Gato
Negro.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/05/07/428-o-gato-negro-1981/
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