Direção: Lucio
Fulci
Roteiro: Lucio
Fulci, Giorgio Mariuzzo e Dardano Sacchetti, Elisa Briganti (história)
Produção: Fabrizio De
Angelis
Elenco: Katherine
MacColl, Paolo Maco, Ania Pieroni, Giovanni Frezza, Silvia Collatina
A Casa do Cemitério é o terceiro
filme da Trilogia da Morte do italiano Lucio Fulci, que começa com Pavor
na Cidade dos Zumbis, passa por Terror nas Trevas e termina nessa
bagaceira, que ao mesmo tempo em que é considerado o último filme que presta de
Fulci, também é o pior dos três em minha opinião (e o mais sem pé nem cabeça,
diga-se de passagem). Aqui Fulci também continua sua parceria com o produtor
Fabrizio De Angelis, responsável por produzir seu maior sucesso, Zumbi 2 – A Volta dos Mortos, uma espécie de
divisor de águas na carreira do diretor, que antes era mais conhecido pelos
seus gialli e western spaghetti, colocando-o no mapa do cinema
de terror de vez e mais ainda, revolucionando-o, dando início ao
ciclo splatter italiano. Com um dos seus característicos roteiros com
mais buracos que queijo suíço (impressionantemente escrito a seis mãos, pelo
próprio Fulci, Giorgio Mariuzzo e seu parceiro habitual Dardano Sacchetti,
baseado em uma história de Elisa Briganti, que por si só se inspirou lá de
longe, mas beeeeem de longe, na obra de H.P. Lovecraft), Luci começa A
Casa do Cemitério com uma cena apenas para mostrar peitinhos
e gore (YEAH!). Depois de uma transa, uma garota e seu namorado são
brutalmente assassinados por uma figura misteriosa no sótão de uma casa, ao
melhor estilo filme slasher. Quando o filme começa de verdade, em um clima
soturno até bem construído por Fulci, pontuado pela trilha sonora de Walter
Rizzati, em um dos momentos de rara felicidade do longa, essa mesma casa está
presente em uma fotografia em preto e branco na casa dos Boyle, e o garoto
insuportável Bob (Giovanni Frezza), aquele típico menino de oito anos de filme
de terror que você torce para ele virar presunto logo, vê uma garotinha na
janela e pergunta para a mãe, a sonsa Lucy (papel de Katherine MacColl, estrela
dos três filmes da Trilogia da Morte), por que a garotinha (que só ele vê, e só
ele continuará vendo até os créditos subirem) está dizendo para eles não irem
para lá. Sinistro! Acontece que eles
VÃO para lá, pois o Dr. Norman Boyle (Paolo Malco), pesquisador da
Sociedade Histórica de Nova York, é convencido pelo seu chefe, o Prof. Muller
(cameo de Lucio Fulci) a mudar-se para a Nova Inglaterra para terminar a
pesquisa do Dr. Eric Petersons, que se suicidou na biblioteca da cidade e
matara sua amante, e com isso ganhar uma “fortuna” de bônus, que seria mais
cinco mil dólares anual! Daqui para frente, A Casa do Cemitério vira
o samba do crioulo doido zumbi com pitadas de sobrenatural. A corretora
imobiliária Laura Gittelson (Dagmar Lassander) coloca os Boyle na malfadada
“Casa dos Freudstein”, antiga moradia de um médico louco, o Dr. Jacob Alan
Freudstein (e esse sobrenome mistura do Sigmund com o Victor, hein?), que
durante o século XIX fazia experiência ilegais com seres humanos e foi banido e
impedido de exercer a profissão. A pesquisa do Dr. Petersons que lhe trouxe o
conhecimento dos experimentos do famigerado cientista lhe levou a loucura,
conforme o Dr. Boyle vai descobrindo durante suas investigações. A primeira
metade do filme é focada nessa investigação paranormal e estranhos acontecidos
sobrenaturais que rondam a casa. Nisso, o boboca Bob conhece Mae (Silvia
Collatina), a garotinha ruiva sardenta que lhe deu um pito para não mudar-se
para a casa, e começa uma amizade além-túmulo com ela, Laura e a babá Ann (Ania
Pieroni) começam a ter atitudes suspeitas, mostrando nas entrelinhas que de
alguma forma elas estão mancomunadas com a presença maligna que habita a casa
(ou não, já que o futuro delas não é dos melhores), e algumas coisas
estapafúrdias acontecem, como a pobre Lucy, já às raias da loucura pelo ranger
de assoalho e bater de portas da casa, encontrar o túmulo do Dr. Freudstein bem
no meio da sala, e nem sequer se importar muito com isso, assim como quando vê
a suspeita Ann limpando um rastro enorme de sangue no chão, e não dá a mínima
bola. Mas nunca espere muito do roteiro dos filmes de Fulci, né, a não ser
aqueles closes nos olhos dos personagens sem o menor sentido. A segunda metade
é daquela grosseria visual que estamos acostumados em ver na filmografia do
italiano, entre um e outro momento de tosqueira pura e inverossimilhança das
bravas. Para quem espera o spatter em todo seu esplendor, A Casa
do Cemitério não é tão visceral quanto os dois filmes anteriores, mas tem
lá sua sanguinolência, como a clássica cena ridícula de um morcego de borracha
que vive no porão da casa atacando o Dr. Boyle e depois levando umas facadas
que lhe trará uma enxurrada de sangue (como é que um morcego pode ter tanto
sangue dentro de seu corpo, nunca saberemos), ou na morte da corretora Laura
sendo apunhalada por um espeto de metal diversas vezes, até o derradeiro golpe
perfurando sua jugular, ou mesmo Ann, que tem sua cabeça decepada por uma faca,
também ao melhor estilo slasher movie, tal qual Bob havia tido uma
premonição logo ao chegar à cidade e ver um manequim parecido com a babá perder
a cabeça também. Coloque tudo na conta da maquiagem do sempre competente
Gianetto de Rossi.
ALERTA DE SPOILER, pule para o próximo parágrafo ou leia
por sua conta e risco.
Finalmente em seu
terceiro ato, descobrimos a explicação vagabunda de que o Dr. Freudstein vive
no porão da casa, desde o século XIX, como um zumbi putrefato, porém forte e
ágil, e precisa de novas vítimas para manter a sua imortalidade. Trava-se uma
luta entre o Dr. Boyle e a criatura, e aparentemente apenas o pequeno Bob
consegue escapar do porão, auxiliado por Mae. Para no final, ele andar de mãos
dadas com Mae e a Sra. Freudstein (mãe e filha, se você ainda não tiver se
ligado) e caminham para a penumbra, deixando a safada conclusão em aberto sobre
o destino do garotinho pentelho. E para completar a canastrice, Fulci atribui
uma frase pouco antes dos créditos, “ninguém nunca saberá se as crianças são
monstros, ou se os monstros são crianças” ao escritor Henry James, aquele do
seminal “A Volta do Parafuso”, mas que na verdade foi criada por ele mesmo. A
Casa do Cemitério é cinema italiano de terror dos anos 80 sem ter o que
por e o que tirar. Pobreza de um roteiro confuso para brindar o espectador
fanático por gore com cenas violentíssimas de morte e sangue em
profusão, algo que Fulci sabia fazer e muito bem. Depois daqui, o diretor nunca
mais conseguiria atingir o status adquirido neste final dos anos 70 e começo de
década, mesmo continuando na ativa com filmes como O Gato Negro, Um Gato no Cérebro, O Esquartejador de Nova York e Manhattan Baby, todos muito inferiores. Então por isso
mesmo, assista A Casa do Cemitério com um certo olhar saudosista de
despedida do mestre.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2014/04/29/424-a-casa-do-cemiterio-1981/
Nenhum comentário:
Postar um comentário