SINOPSE:
A primeira metade do
filme é de natureza histórica e educacional, demonstrando a maior parte da vida
e as contribuições científicas de Konstantin Tsiolkovsky, assim como os
princípios básicos da propulsão de foguetes, balística e voo espacial. Também mostra as
contribuições de Max Valier e Robert Goddard. A segunda metade do filme é de
natureza especulativa, com várias cenas mostrando o voo espacial humano (4 anos
antes do voo de Yuri Gagarin), uma estação espacial (em grandes detalhes), e o
primeiro homem na Lua (12 anos antes do voo do Apollo 11), assim como
colonização lunar.
Este
é um filme absolutamente único dentro do universo da ficção científica. Talvez
por ter sido uma (agora) obscura média-metragem criada na Rússia durante
os anos 50 com um objectivo didático e propagandístico, continua por
isso longe dos olhares do público ocidental até hoje. As pessoas nem fazem
ideia do quanto [“Road to the Stars“] é não só bom cinema
semi-documental, como ainda por cima no que toca a efeitos especiais foi uma
obra absolutamente pioneira ao ponto de muitas das suas imagens e
sequências terem dez anos mais tarde ficado mundialmente famosas mas
numa forma inesperada. É praticamente unânime entre a iluminada
crítica cinematográfica que a obra prima de Stanley Kubrick, o fabuloso
“2001-Odisseia no Espaço”, é o melhor filme de ficção científica de todos os
tempos. Mesmo depois de muitos desses mesmos senhores na altura terem trucidado
o filme nas suas críticas que ficaram famosas. O filme de Kubrick agora já é
constantemente elogiado pela sua visão futurística, pela criatividade das
sequências espaciais e pelos efeitos especiais. No entanto niguém parece alguma
vez ter notado que pelo menos dez anos já existia um filme Russo que dentro da
estética da época não só praticamente já tinha “igualado” esse estilo
visual, como parece ter sido estranhamente premonitório no que toca á criação
de inúmeras sequências, que dez anos mais tarde aparecem reproduzidas no
filme de Stanley Kubrick. “Road to the Stars“ será provavelmente o melhor e
mais visionário filme de ficção científica de todos os tempos, não por
ter tentado prever o futuro, mas por ter acertado em cheio como “2001
Odisseia no Espaço” iria apresentar visualmente esse mesmo futuro quando
estreou dez anos depois. Infelizmente isto não se consegue transmitir bem pelas
imagens fixas, mas quando virem o filme garanto-vos que irão ficar bastante
intrigados com as incríveis semelhanças visuais entre as duas obras não só em
design conceptual mas também nos próprios enquadramentos e montagem das cenas
espaciais. No entanto, embora a semelhança com “2001 Odisseia no Espaço” seja
por vezes extraordinária, Road to the
Stars não tem nem de perto nem de longe a mesma história. Na verdade este
inovador filme Russo de 1958, nem sequer é um projeto de ficção, mas mais
um semi-documentário sobre ciência, nomeadamente um documentário onde se recria
ficcionalmente alguns segmentos da vida de vários sábios e cientístas
soviéticos que contribuiram para o desenvolvimento da exploração espacial no
leste europeu. [“Road to the Stars“] é quase um documentário moderno na forma
como está estruturado. Muito semelhante ao estilo que depois duas décadas mais
tarde “Cosmos” viria a empregar para entusiasmar e educar os espectadores sobre
muitos aspectos da ciência. Este documentário soviético recria momentos chave
da vida de alguns cientistas, explica-nos de forma simples muitos conceitos
científicos como por exemplo – o que é uma órbita, e ilustra com magníficas
imagens de ficção científica aquilo que obviamente os russos esperavam que
viria a ser o futuro e a forma como a exploração espacial iria tornar não só a
Rússia grande, mas como os esforços soviéticos iriam contribuir para o futuro
bem estar da humanidade. Mas embora Road
to the Stars seja essencialmente um documentário, tem no entanto uma
extraordinária qualidade cinemática que o torna imediatamente numa
obra cinematográfica a não perder por toda a gente que gosta de
ficção-científica clássica. Este pequeno grande filme com menos
de uma hora contém mais imagens fabulosas por minuto do que muitos
outros de duração regular. Road to the
Stars, está dividido em três partes distintas que resultam plenamente num
filme cheio de atmosfera ao mesmo tempo que até nos explica uma coisa ou duas
sobre astronáutica. E tudo isto sem legendas apesar do filme ser falado em
russo. A parte que recria algumas cenas importantes da vida de alguns
sábios Russos é visualmente extraordinária e tenho pena de não ter encontrado
nenhuma imagem que pudesse colocar aqui, de modo a lhes dar uma ideia das
verdadeiras pinturas em movimento que Road
to the Stars contém. A fotografia do filme é absolutamente perfeita,
resultando em imagens lindíssimas e muito cuidadas tudo num tom sépia com
uma pitada de technicolor da época que dá ao filme uma
atmosfera absolutamente fantástica a fazer recordar o estilo que depois
quase quatro décadas mais tarde o filme “Sky Captain & the World of
Tomorrow” tão bem soube recriar. Mas as melhores partes de Road to the Stars são sem dúvida as sequências espaciais de
que já falei e onde o filme brilha não só em imaginação como
principalmente em efeitos especiais. Já procurei pela net, mas parece que este
filme é tão raro que nem o Youtube ainda tem imagens dele por isso não lhes vou
poder mostrar algumas sequências como gostaria. Estas sequências
narram essencialmente aquilo que seria a visão de um futuro próximo
no espaço para a humanidade e é aqui que [“Road to the Stars“] ganha uma
magia especial, particularmente nas cenas que mostram como a Rússia
iria ser o primeiro país a alcançar a lua e a colocar o primeiro homem a
pisar o solo lunar. É muito difícil escrever sobre este filme pois na
verdade há muito pouco para dizer sobre ele a não ser que foi uma obra tão
inovadora no seu tempo quanto o filme de Kubrik se tornou dez anos depois
usando as mesmas técnicas de efeitos especiais que pela primeira
vez foram testadas em [“Road to the Stars“]. Talvez seja por isso que as
duas obras têm tantos pontos de contacto, pois provavelmente devem ter sido os
dois filmes que mais revolucionaram os efeitos especiais e se “2001 Odisseia no
Espaço” foi o pai das técnicas de efeitos desenvolvidas depois em “Star Wars”
então Road to the Stars foi definitivamente o avô. Por exemplo, o trabalho de
miniaturas é magnifico e o filme ganha uma escala épica incrível que
merece ser apreciada e admirada ainda hoje. Apesar da sua
estética retro, os efeitos especiais neste filme são tão bons
que quase nos esquecemos que estamos a ver um filme antigo.
Particularmente impressionantes, são as sequências em que os cosmonautas
flutuam em gravidade zero e onde inclusivamente nem sequer falta a mesma
cena em que uma pessoa caminha ao longo de uma parede redonda até ficar de
cabeça para baixo, exactamente como aparece dez anos mais tarde em “2001
Odisseia no Espaço” numa das sequências com a hospedeira da nave onde viajava
o Dr Heywood Floyd. Outra cena excelente é a que aparece durante as sequências
que envolvem a construção de uma enorme estação espacial em órbita. Além de ser
um excelente exemplo do quanto os Russos já dominavam a filmagem de
maquetes e a montagem fotográfica a um nível que os americanos ainda nem
conseguiam alcançar, é nesta parte onde aparece outra cena que
depois se tornaria emblemática em “2001 Odisseia no Espaço”; a breve sequência
em que um astronauta num fato espacial fica perdido á deriva no espaço, tal
como aconteceu a Frank Poole no filme de Kubrick é não só muito
interessante pelo efeito muito bem conseguido da falta de peso, mas
principalmente porque até o próprio enquadramento é similar áquele que
depois ficou famoso no filme de Kubrik. Pessoalmente uma das coisas que
mais gostei em [“Road to the Stars“], é o ambiente clássico de tudo o que
aparece no ecran e que quase que se torna num universo de fantasia á parte,
apesar de tentar ser um filme o mais científico possível. Porque hoje sabemos
que afinal o futuro não envolve foguetões ao estilo Tintin,
tudo neste filme nos parece algo ingênuo e pertencente a um mundo á
parte, mas é esse o grande charme desta obra. Um verdadeiro original
daquilo que “Sky Captain & the World of Tomorrow” tentou recriar
e um filme essencial para todos aqueles interessados em conhecer as
referências de uma época única que se perdeu no tempo hoje só pode ser
descoberta em obras como esta ou nos romances de E.E.Doc Smith se
procurarem uma vertente de aventura dentro deste mesmo ambiente.
Se já viram [“Planeta Bur“] (conhecido na sua montagem americana
(ligeiramente aldrabada) com o nome de [“Voyage to
the Prehistoric Planet“]), devem estar a achar que estas imagens são
estranhamente semelhantes ás desse fabuloso clássico esquecido. A razão
para tal é porque tanto [“Planeta Bur“] quanto [“Road to the
Stars“] foram realizadas pela mesma pessoa, Pavel Klushantsev um
dos maiores pioneiros dos modernos efeitos especiais cujo o trabalho foi
fundamental para que hoje tenhamos filmes como Star Wars nos cinemas. Tendo
inclusivamente sido referido por Stanley Kubrik e George Lucas como sendo
não só um mestre mas também um professor dentro da area dos
efeitos especiais não deixa de ser interessante como continua a ser um
nome completamente desconhecido do público em geral que hoje ainda pensa que
foram os americanos que inventaram os efeitos especiais no cinema.
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