Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Dardano Sacchetti, Giorgio Mariuzzo,
Lucio Fulci
Produção: Fabrizio de Angelis
Elenco: Katherine MacColl, David Warbeck,
Sarah Keller, Antoine Sanit-John
Esse é para você que assim como eu, é fã de
podreira. Terror nas Trevas (também lançado no Brasil
em vídeo como A Casa do Além) é o filme mais trash, violento e nojento do
italiano Lucio Fulci. Repetindo a dobradinha com o maquiador Giannetto De
Rossi, com quem havia trabalhado em Zumbi 2 – A Volta dos Mortos, Fulci leva ao delírio os fãs de splatter com
uma concentração de mortes bizarras e escabrosas por película nunca antes vista
em sua carreira. Terror nas Trevas, parte de uma trilogia que também inclui Pavor na Cidade dos Zumbis e A Casa do Cemitério, é um filme tão brutal e tão cheio de desesperança
que praticamente dispensa a existência de roteiro, trabalhando com um fiapo de
história para conduzir os personagens, e aposta em mortes e sequências
chocantes para atrair a atenção do espectador até seu final trágico e
pessimista. É como se houvesse dois filmes em um. Na primeira parte, conhecemos
a história de um hotel em Louisiana, contado em tom sépia, que foi construído
sobre um dos sete portais de entrada do inferno, como prediz o Livro de Ebion,
e “ai de quem” abrir esse portal, pois espalhará a desgraça e a destruição pelo
mundo. E na década de 20, o pintor Schweick é quem libera essa maldita força.
Porém ele é perseguido pelos locais, que o açoitam terrivelmente com pesadas
correntes (o banho de sangue começa aqui), prendem-no na parede com pregos
perfurando suas mãos e depois o cobrem com um cimento incandescente que derrete
seu corpo. Tudo isso só na cena inicial. Passam-se 60 anos e Liza Merril
(Katherine MacColl), uma fracassada nova-iorquina recebe o hotel de herança, e
colocá-lo novamente para funcionar e dirigi-lo é a última chance de reconstruir
sua vida. Pronto e é só isso a história. Daqui para frente, Fulci manda às
favas qualquer explicação lógica e plausível e só vai enfiando personagens na
história para poder matá-los violentamente. Começa com o encanador que desce
até o porão do hotel e encontra o corpo de Schweick, em um perfeito estado de
decomposição mesmo tendo passado tanto tempo dentro de uma parede. Não demora
muito para o encanador empacotar, tendo seus olhos arrancados. Ah, e falando em
olhos, continua sendo o maior fetiche do italiano. Tanto que nada mais nada
menos que três mortes em Terror nas Trevas tem alguma ligação com
olhos. Em uma delas uma empregada do hotel tem seu crânio perfurado por um
prego na parede, que atinge exatamente a sua órbita, cuspindo o globo ocular
para fora. E na outra, a cena mais incrivelmente bizarra do filme, um arquiteto
que busca pela planta da hotel no escritório de registros locais é atacado por
aranhas (numa das cenas mais toscas e hilárias que você jamais viu), que
começam a devorar seu rosto, lábios e claro… os olhos. E não pense que para por
aí. Qualquer manifestação sobrenatural é subterfúgio para outras mortes. A
mulher do encanador morto é misteriosamente atingida por ácido que literalmente
liquefaz seu rosto. Emily (Sarah Keller), uma garota cega que aparece na trama
para alertar Liza é atacada pelo seu cão guia (claramente inspirado em Suspiria) que arranca fora sua orelha e
dilacera sua jugular. Tudo extremamente gráfico e supervalorizado por closes
comandados por Fulci, a maquiagem e De Rossi e fotografia vívida de Sergio
Salvatti. Em seu terceiro ato, o filme muda drasticamente e parece que você
está assistindo outro longa-metragem. Uma das profecias do Livro de Ebion era
que se as portas do inferno se abrissem, os mortos retornariam a vida. E então, Terror
nas Trevas agora se transforma em um filme de zumbi. Após o encanador e
Schweick virarem corpos ambulantes, o Dr. John McCabe (David Warbeck) e Liza
são perseguidos pelo corredor do hospital onde os mortos começam a se levantar.
Enquanto tentam fugir da hecatombe zumbi, McCabe é agraciado com uma pistola
que milagrosamente nunca acaba as balas, mesmo depois e uns 50 tiros
disparados. Apesar de parecer estapafúrdio nesse texto, Terror nas
Trevas é diversão na certa se você gostar desse tipo de produção. No
final, Fulci ainda arruma espaço para dar um ar niilista ao filme, subvertendo
os valores cristãos (o que é ainda mais impactante por Fulci ser um filho da
Itália católica) e dando a entender que o além, o pós-morte, é só vazio,
danação e trevas, e mesmo para uma dona de hotel e um médico que nunca fizeram
mal a ninguém e são os mocinhos da história, não há esperança de existir um
paraíso e encontrar ajuda divina. Claro que Terror nas Trevas foi
censurado, mutilado e proibido em diversos países. Nos EUA, a versão com cortes
foi lançada com o título de Seven Doors of Death. Somente em 1998, foi
lançada a versão unrated na
terra do Tio Sam, exibida em várias sessões da meia-noite, resultado dos
esforços de ninguém menos que Quentin Tarantino, baita fã do filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/05/29/446-terror-nas-trevas-1981/
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