sexta-feira, 15 de abril de 2016

#446 1981 TERROR NAS TREVAS (E tu vivrai nel terrore – L’adilà / The Beyond, Itália)


Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Dardano Sacchetti, Giorgio Mariuzzo, Lucio Fulci
Produção: Fabrizio de Angelis
Elenco: Katherine MacColl, David Warbeck, Sarah Keller, Antoine Sanit-John

Esse é para você que assim como eu, é fã de podreira. Terror nas Trevas (também lançado no Brasil em vídeo como A Casa do Além) é o filme mais trash, violento e nojento do italiano Lucio Fulci. Repetindo a dobradinha com o maquiador Giannetto De Rossi, com quem havia trabalhado em Zumbi 2 – A Volta dos Mortos, Fulci leva ao delírio os fãs de splatter com uma concentração de mortes bizarras e escabrosas por película nunca antes vista em sua carreira. Terror nas Trevas, parte de uma trilogia que também inclui Pavor na Cidade dos ZumbisA Casa do Cemitério, é um filme tão brutal e tão cheio de desesperança que praticamente dispensa a existência de roteiro, trabalhando com um fiapo de história para conduzir os personagens, e aposta em mortes e sequências chocantes para atrair a atenção do espectador até seu final trágico e pessimista. É como se houvesse dois filmes em um. Na primeira parte, conhecemos a história de um hotel em Louisiana, contado em tom sépia, que foi construído sobre um dos sete portais de entrada do inferno, como prediz o Livro de Ebion, e “ai de quem” abrir esse portal, pois espalhará a desgraça e a destruição pelo mundo. E na década de 20, o pintor Schweick é quem libera essa maldita força. Porém ele é perseguido pelos locais, que o açoitam terrivelmente com pesadas correntes (o banho de sangue começa aqui), prendem-no na parede com pregos perfurando suas mãos e depois o cobrem com um cimento incandescente que derrete seu corpo. Tudo isso só na cena inicial. Passam-se 60 anos e Liza Merril (Katherine MacColl), uma fracassada nova-iorquina recebe o hotel de herança, e colocá-lo novamente para funcionar e dirigi-lo é a última chance de reconstruir sua vida. Pronto e é só isso a história. Daqui para frente, Fulci manda às favas qualquer explicação lógica e plausível e só vai enfiando personagens na história para poder matá-los violentamente. Começa com o encanador que desce até o porão do hotel e encontra o corpo de Schweick, em um perfeito estado de decomposição mesmo tendo passado tanto tempo dentro de uma parede. Não demora muito para o encanador empacotar, tendo seus olhos arrancados. Ah, e falando em olhos, continua sendo o maior fetiche do italiano. Tanto que nada mais nada menos que três mortes em Terror nas Trevas tem alguma ligação com olhos. Em uma delas uma empregada do hotel tem seu crânio perfurado por um prego na parede, que atinge exatamente a sua órbita, cuspindo o globo ocular para fora. E na outra, a cena mais incrivelmente bizarra do filme, um arquiteto que busca pela planta da hotel no escritório de registros locais é atacado por aranhas (numa das cenas mais toscas e hilárias que você jamais viu), que começam a devorar seu rosto, lábios e claro… os olhos. E não pense que para por aí. Qualquer manifestação sobrenatural é subterfúgio para outras mortes. A mulher do encanador morto é misteriosamente atingida por ácido que literalmente liquefaz seu rosto. Emily (Sarah Keller), uma garota cega que aparece na trama para alertar Liza é atacada pelo seu cão guia (claramente inspirado em Suspiria) que arranca fora sua orelha e dilacera sua jugular. Tudo extremamente gráfico e supervalorizado por closes comandados por Fulci, a maquiagem e De Rossi e fotografia vívida de Sergio Salvatti. Em seu terceiro ato, o filme muda drasticamente e parece que você está assistindo outro longa-metragem. Uma das profecias do Livro de Ebion era que se as portas do inferno se abrissem, os mortos retornariam a vida. E então, Terror nas Trevas agora se transforma em um filme de zumbi. Após o encanador e Schweick virarem corpos ambulantes, o Dr. John McCabe (David Warbeck) e Liza são perseguidos pelo corredor do hospital onde os mortos começam a se levantar. Enquanto tentam fugir da hecatombe zumbi, McCabe é agraciado com uma pistola que milagrosamente nunca acaba as balas, mesmo depois e uns 50 tiros disparados. Apesar de parecer estapafúrdio nesse texto, Terror nas Trevas é diversão na certa se você gostar desse tipo de produção. No final, Fulci ainda arruma espaço para dar um ar niilista ao filme, subvertendo os valores cristãos (o que é ainda mais impactante por Fulci ser um filho da Itália católica) e dando a entender que o além, o pós-morte, é só vazio, danação e trevas, e mesmo para uma dona de hotel e um médico que nunca fizeram mal a ninguém e são os mocinhos da história, não há esperança de existir um paraíso e encontrar ajuda divina. Claro que Terror nas Trevas foi censurado, mutilado e proibido em diversos países. Nos EUA, a versão com cortes foi lançada com o título de Seven Doors of Death. Somente em 1998, foi lançada a versão unrated na terra do Tio Sam, exibida em várias sessões da meia-noite, resultado dos esforços de ninguém menos que Quentin Tarantino, baita fã do filme.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/05/29/446-terror-nas-trevas-1981/

Nenhum comentário:

Postar um comentário