Direção: Joseph Sargent
Roteiro: Michael De Guzman
Produção:Joseph Sargent; Frank Baur (Produtor
Associado)
Elenco: Lorraine Gary,
Lance Guset, Mario Van Peebles, Karen Young, Michael Caine, Judith Barsi,
Mitchell Anderson
Quem diria que doze anos depois de Tubarão, o primeiro blockbuster do
cinema ter se tornado um clássico absoluto, lançado Steven Spielberg ao
estrelato e metido medo em uma pá de gente ao entrar na água, sua quarta parte
seria nada mais que um filme B vergonha alheia total? E Tubarão 4 – A Vingança é exatamente isso. Mas
afinal, o que esperar de um longa em que a tagline é “desta vez, é pessoal”, isso sem contar seu
subtítulo, anunciando que o peixe está em busca de vingança da família do chefe
Martin Brody, papel do Roy Scheider no primeiro filme, que acabou com o
banquete do Grande Branco na praia de Amity no verão de 75. Como isso é
possível? Pois é, essa é a premissa espetacular do filme. Ignorando todos os
acontecimentos do anterior, Tubarão 3, este
aqui começa em uma cena até que bastante sangrenta (mas mal executada que é o
diabo, que já dá o gostinho da trasheira que vem por aí) onde Sean (Mitchell
Anderson), o filho mais novo dos Brody, e atual chefe de polícia da Amity é
trucidado por um tubarão. Ellen (Lorraine Gary retornando ao papel), já viúva,
fica encasquetada com a ideia de que o tubarão busca por vingança, e pede para
o filho mais velho, o agora biólogo marinho, Michael (Lance Guest), nunca mais
entrar na água. Mas agora ele mora nas Bahamas com sua esposa escultora, Carla
(Karen Young) e sua filha pequena, Thea (Judith Barsi) pesquisando búzios no
fundo do mar com seu amigo rasta, Jake (Mario Van Peebles). Ellen resolve
passar um tempo no local paradisíaco e conhece o piloto boa praça, Hoagie
(Michael Caine, em mais um de seus famosos “paycheck
pictures”) com quem tem um romancezinho. Mas eis que o mesmo Carcharadon carcharia que matou Sean
nadou da costa de Nova York até o Caribe para ir atrás da outra prole do
maldito Martin Brody, caçador de tubarões! Como isso faz sentido? Como a droga
de um peixe é movido por uma vendeta pessoal? E assim, como um tubarão consegue
saber como se parece a família Brody, sendo que o patriarca matou dois deles
distintos em Tubarão e Tubarão 2? E como
DIABOS ele sabe que eles se mudaram para Bahamas? Somos obrigados a presumir
duas coisas: que uma das crias dos peixes mortos tem uma espécie de memória
ancestral (??!!!) e algum poder telepático altamente poderoso, ou então alguns
cardumes específicos de tubarões brancos têm algum tipo de consciência coletiva
que eu nem saberia como começar a explicar. Mas isso não é o pior de tudo
não. Tubarão 4 – A Vingança ainda reserva diversos momentos ímpares,
tudo por conta dos seus furos do roteiro do tamanho das Fossas Marianas e erros
grotescos de continuidade. Começa com a bitolação de Ellen Brody que lhe dá até
um sexto sentido que faz com que ela sinta que algo está errado quando Michael
é atacado pela primeira vez, ou quando “descobrimos” um elo telepático da Sra.
Brody com o bicho. Se com equipamento eletrônico de radar o leviatã não
consegue ser encontrado, a senhora sai em mar aberto e descobre onde ele está.
Ah, não posso me esquecer de cenas que ela vislumbra em tom de sépia Brody
mandando o animal pelos ares, sendo que ela não estava ali naquele local (e só
tem o mesmo ângulo de visão de todos nós que assistimos ao primeiro longa). Acabou
por aí? Que nada. Como se não bastasse ser o mais podre dos outros três
tubarões, claramente sendo identificado como um peixão de borracha e espuma
flutuando no mar (até O Último Tubarão de Enzo G. Castellari é melhor!) ainda temos o fato do tubarão
RUGIR como um leão. Esse gutural som emitido pelo monstro marinho ainda é mais
percebido em seu final, no decisivo embate entre Ellen Brody e o bicho. Que
merece um parágrafo a parte já que temos dois finais alternativos. Um pior do
que o outro. Pois isso o
ALERTA DE
SPOILER, pule o próximo parágrafo, se você realmente se importa em saber como
essa bomba termina, ou leia por sua conta e risco.
No final original dos cinemas, depois que Jake é
devorado ao conseguir fazer com que o vilão engula um dispositivo elétrico, que
acionado por Michael, faz com que o tubarão RUJA de dor e saia da água, Ellen
aproveita e EMPALA (???!!!) o peixe com o mastro do barco, esguichando litros e
litros de sangue em uma cena que desafia completamente toda e qualquer lei da
física, biologia animal e aerodinâmica do tubarão. Esse final foi gongado nos
testes de audiência e um novo foi feito às pressas, que conseguiu ficar ainda
pior. Sem nenhum motivo aparente, quando Michael aciona o dispositivo e Ellen
atinge-o com o mastro, ele SIMPLESMENTE EXPLODE, usando descaradamente cenas
reaproveitadas do primeiro filme. Agora, com quantas voltagens de carga
elétrica você conseguiria explodir um Grande Branco de nove metros? Com
certeza, não com aqueles choquezinhos. Quando você pensa que terminou, Jake,
que havia sido mastigado em close há pouco, aparece vivinho da silva, boiando
todo ensanguentado e fazendo piadinhas. Curiosamente os dois finais ainda podem
ser vistos, tanto em DVD, quanto em versões exibidas na TV e encontradas por aí
na Internet. É um sentimento terrível de vergonha alheia assistir
a Tubarão 4 – A Vingança. Como a franquia com um dos filmes mais
importantes da sétima arte pode ter chegado a um nível tão baixo? Pois é, e nem
é o caso daquele “tão ruim que fica bom” pelo menos para mim, uma vez que rola
todo um tremendo apelo emocional em minha pessoa, pois já discursei várias
vezes aqui que Tubarão é o filme da minha vida. Felizmente, a família
Brody, o clássico inestimável de Spielberg e a máquina de matar dos oceanos
foram deixados em paz pelos produtores inescrupulosos e descansaram para
sempre.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/16/545-tubarao-4-a-vinganca-1987/
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