sábado, 2 de abril de 2016

#545 1988 TUBARÃO A VINGANÇA (Jaws: The Revenge, EUA)


Direção: Joseph Sargent
Roteiro: Michael De Guzman
Produção:Joseph Sargent; Frank Baur (Produtor Associado)
Elenco: Lorraine Gary, Lance Guset, Mario Van Peebles, Karen Young, Michael Caine, Judith Barsi, Mitchell Anderson

Quem diria que doze anos depois de Tubarão, o primeiro blockbuster do cinema ter se tornado um clássico absoluto, lançado Steven Spielberg ao estrelato e metido medo em uma pá de gente ao entrar na água, sua quarta parte seria nada mais que um filme B vergonha alheia total? E Tubarão 4 – A Vingança é exatamente isso. Mas afinal, o que esperar de um longa em que a tagline é “desta vez, é pessoal”, isso sem contar seu subtítulo, anunciando que o peixe está em busca de vingança da família do chefe Martin Brody, papel do Roy Scheider no primeiro filme, que acabou com o banquete do Grande Branco na praia de Amity no verão de 75. Como isso é possível? Pois é, essa é a premissa espetacular do filme. Ignorando todos os acontecimentos do anterior, Tubarão 3, este aqui começa em uma cena até que bastante sangrenta (mas mal executada que é o diabo, que já dá o gostinho da trasheira que vem por aí) onde Sean (Mitchell Anderson), o filho mais novo dos Brody, e atual chefe de polícia da Amity é trucidado por um tubarão. Ellen (Lorraine Gary retornando ao papel), já viúva, fica encasquetada com a ideia de que o tubarão busca por vingança, e pede para o filho mais velho, o agora biólogo marinho, Michael (Lance Guest), nunca mais entrar na água. Mas agora ele mora nas Bahamas com sua esposa escultora, Carla (Karen Young) e sua filha pequena, Thea (Judith Barsi) pesquisando búzios no fundo do mar com seu amigo rasta, Jake (Mario Van Peebles). Ellen resolve passar um tempo no local paradisíaco e conhece o piloto boa praça, Hoagie (Michael Caine, em mais um de seus famosos “paycheck pictures”) com quem tem um romancezinho. Mas eis que o mesmo Carcharadon carcharia que matou Sean nadou da costa de Nova York até o Caribe para ir atrás da outra prole do maldito Martin Brody, caçador de tubarões! Como isso faz sentido? Como a droga de um peixe é movido por uma vendeta pessoal? E assim, como um tubarão consegue saber como se parece a família Brody, sendo que o patriarca matou dois deles distintos em Tubarão e Tubarão 2? E como DIABOS ele sabe que eles se mudaram para Bahamas? Somos obrigados a presumir duas coisas: que uma das crias dos peixes mortos tem uma espécie de memória ancestral (??!!!) e algum poder telepático altamente poderoso, ou então alguns cardumes específicos de tubarões brancos têm algum tipo de consciência coletiva que eu nem saberia como começar a explicar. Mas isso não é o pior de tudo não. Tubarão 4 – A Vingança ainda reserva diversos momentos ímpares, tudo por conta dos seus furos do roteiro do tamanho das Fossas Marianas e erros grotescos de continuidade. Começa com a bitolação de Ellen Brody que lhe dá até um sexto sentido que faz com que ela sinta que algo está errado quando Michael é atacado pela primeira vez, ou quando “descobrimos” um elo telepático da Sra. Brody com o bicho. Se com equipamento eletrônico de radar o leviatã não consegue ser encontrado, a senhora sai em mar aberto e descobre onde ele está. Ah, não posso me esquecer de cenas que ela vislumbra em tom de sépia Brody mandando o animal pelos ares, sendo que ela não estava ali naquele local (e só tem o mesmo ângulo de visão de todos nós que assistimos ao primeiro longa). Acabou por aí? Que nada. Como se não bastasse ser o mais podre dos outros três tubarões, claramente sendo identificado como um peixão de borracha e espuma flutuando no mar (até O Último Tubarão de Enzo G. Castellari é melhor!) ainda temos o fato do tubarão RUGIR como um leão. Esse gutural som emitido pelo monstro marinho ainda é mais percebido em seu final, no decisivo embate entre Ellen Brody e o bicho. Que merece um parágrafo a parte já que temos dois finais alternativos. Um pior do que o outro. Pois isso o
ALERTA DE SPOILER, pule o próximo parágrafo, se você realmente se importa em saber como essa bomba termina, ou leia por sua conta e risco.
No final original dos cinemas, depois que Jake é devorado ao conseguir fazer com que o vilão engula um dispositivo elétrico, que acionado por Michael, faz com que o tubarão RUJA de dor e saia da água, Ellen aproveita e EMPALA (???!!!) o peixe com o mastro do barco, esguichando litros e litros de sangue em uma cena que desafia completamente toda e qualquer lei da física, biologia animal e aerodinâmica do tubarão. Esse final foi gongado nos testes de audiência e um novo foi feito às pressas, que conseguiu ficar ainda pior. Sem nenhum motivo aparente, quando Michael aciona o dispositivo e Ellen atinge-o com o mastro, ele SIMPLESMENTE EXPLODE, usando descaradamente cenas reaproveitadas do primeiro filme. Agora, com quantas voltagens de carga elétrica você conseguiria explodir um Grande Branco de nove metros? Com certeza, não com aqueles choquezinhos. Quando você pensa que terminou, Jake, que havia sido mastigado em close há pouco, aparece vivinho da silva, boiando todo ensanguentado e fazendo piadinhas. Curiosamente os dois finais ainda podem ser vistos, tanto em DVD, quanto em versões exibidas na TV e encontradas por aí na Internet. É um sentimento terrível de vergonha alheia assistir a Tubarão 4 – A Vingança. Como a franquia com um dos filmes mais importantes da sétima arte pode ter chegado a um nível tão baixo? Pois é, e nem é o caso daquele “tão ruim que fica bom” pelo menos para mim, uma vez que rola todo um tremendo apelo emocional em minha pessoa, pois já discursei várias vezes aqui que Tubarão é o filme da minha vida. Felizmente, a família Brody, o clássico inestimável de Spielberg e a máquina de matar dos oceanos foram deixados em paz pelos produtores inescrupulosos e descansaram para sempre.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/16/545-tubarao-4-a-vinganca-1987/

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