sábado, 2 de abril de 2016

#544 1988 TRASH NÁUSEA TOTAL (Bad Taste, Nova Zelândia)


Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Tony Hiles, Ken Hammon
Produção: Peter Jackson
Elenco: Terry Potter, Pete O’Herne, Craig Smith, Mike Minett, Peter Jackson, Doug Wren

Antes das aventuras de Frodo tentando queimar o anel na Terra-Média (espere, isso ficou um pouco estranho…) e seu tio antes dele ir lá e de volta outra vez, eis que Peter Jackson começaria sua carreira de cineasta com um dos filmes mais trasheira da história do cinema. Podemos afirmar que Jackson é um desbravador. Diferente das produções milionárias baseadas na obra de J.R.R. Tolkien ganharem vida, lá nos confins da Oceania, mais precisamente na ilha da Nova Zelândia, o sujeito com a cara barburda, coragem, uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, apreço pela bagaceira e inspiração rasgada em Sam Raimi e seu A Morte do Demônio, sem recursos financeiros disponíveis (o filme teve 30 mil dólares neozelandeses de orçamento), resolveu trazer ao mundo a escatologia inominável conhecida como Trash – Náusea Total. Chamando os bróders para participar das filmagens (inclusive o próprio diretor está no elenco), a ideia de Trash – Náusea Total surgiu como um curta-metragem intitulado “Roast of the Day”, algo como “prato do dia” onde os cidadãos da pacata Kaihora, Nova Zelândia, misteriosamente desaparecem e um grupo de heróis dos mais improváveis se reúne para tentar impedir uma terrível invasão alienígena naquele fim de mundo. Os extraterrestres se disfarçam de seres humanos e estão em busca dos terráqueos para abastecer a cadeia de uma rede carnívora de fast-food intergaláctica. Jackson demorou quatro longos anos para conseguir encerrar sua epopeia pelo escracho splatter cheio de cenas nojentíssimas, repletas de cabeças sendo explodidas, cérebros comidos de colher, membros decepados, canibalismo, litros e litros de sangue, um vômito de gosma nojenta verde que serve de alimento para os alienígenas e todo tipo de absurdo que faz seu estômago revirar do avesso.  E detalhe que o filme não teve um roteiro escrito. Como foi gravado apenas durante os finais de semana, as cenas eram feitas de acordo com as ideias que o diretor tinha na semana anterior. Top profissionalismo. Pago quase que em sua totalidade do bolso de Jackson e com a ajuda de muitos amigos envolvidos (inclusive Pete O’Herne, que faz o papel de Barry, ficou sem se barbear direito por quatro anos – tudo em nome da continuidade), quando o gordinho pirado finalmente foi editá-lo, ele descobriu que no material bruto tinha mais de 50 minutos de filmagem que poderia ser utilizado. Foi aí que o diretor resolveu continuar filmando até transformá-lo em um longa e só quase todo concluído ele recebeu aporte financeiro da Film Comission neozelandesa para finalmente finalizá-lo, depois de ficarem impressionados com o que já havia sido produzido. Porque cá entre nós, tirando toda a precariedade inerente ao problema orçamentário, as atuações péssimas e exageradas e o fato de um filme ter levado quatro anos para ser feito e sem nenhum roteiro, os efeitos especiais realmente impressionam e dava para perceber que o sujeito tinha jeito pela coisa, e não é a toa que a trilogia de O Senhor dos Anéis e O Hobbit é um desbunde visual e o trabalho de sua futura empresa de efeitos visuais, a Weta Digital, um dos melhores (e mais premiados) do cinema. Completamente amador e mandando as favas qualquer tipo de etiqueta dentro do cinema,Trash – Náusea Total é um titã da podreira trash. Como a história (que apesar do seu tom incisivo contra o capitalismo e a indústria alimentícia) é das mais estapafúrdias, o que pega mesmo, além de todo o nojo e sangue, é o tom splatstick que permeia o filme, e que seria alçado a um status ainda maior em seu trabalho vindouro, Fome Animal. Os personagens são os mais caricatos e vexatórios possíveis, além de situações absurdas que desafiam todo e qualquer bom senso ou bom gosto do espectador médio. E se um bando de fracassados como aqueles é o que temos para salvar a humanidade de alienígenas canibais, acho que estamos realmente encrencados. O pior é que os ETs conseguem ser ainda mais estúpidos. E o que falar do pôster e da emblemática capa do filme em VHS, anárquico ao extremo, com a alienígena que parece que teve caxumba mostrando o dedo do meio e segurando um trabuco, mandando às favas qualquer tipo de convenção social e dos bons modos no marketing cinematográfico? Por si só já é uma peça importantíssima dessa obra prima que instiga. Mas Trash – Náusea Total é apenas para aqueles de estômago forte. Se você tiver o mínimo, mas assim, o mínimo de nojo, passe longe dessa fita. O subtítulo estúpido que ganhou aqui no Brasil (mas nada pior do que recebeu em Portugal: Carne Humana Precisa-se) faz muito jus ao conteúdo apelativo apresentado em quase todo o filme. Agora se você é um endiabrado fã de podreira, vai se deliciar com o máximo de falta de noção que um filme (e um diretor que mais tarde ganharia até Oscar) pode chegar.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/15/544-trash-nausea-total-1987/

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