Direção: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Tony Hiles, Ken Hammon
Produção: Peter Jackson
Elenco: Terry Potter, Pete O’Herne, Craig Smith, Mike
Minett, Peter Jackson, Doug Wren
Antes das aventuras de Frodo tentando queimar o
anel na Terra-Média (espere, isso ficou um pouco estranho…) e seu tio antes
dele ir lá e de volta outra vez, eis que Peter Jackson começaria sua carreira
de cineasta com um dos filmes mais trasheira da história do cinema. Podemos
afirmar que Jackson é um desbravador. Diferente das produções milionárias
baseadas na obra de J.R.R. Tolkien ganharem vida, lá nos confins da Oceania,
mais precisamente na ilha da Nova Zelândia, o sujeito com a cara barburda,
coragem, uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, apreço pela bagaceira e
inspiração rasgada em Sam Raimi e seu A Morte do Demônio, sem recursos
financeiros disponíveis (o filme teve 30 mil dólares neozelandeses de
orçamento), resolveu trazer ao mundo a escatologia inominável conhecida
como Trash – Náusea Total. Chamando os bróders para
participar das filmagens (inclusive o próprio diretor está no elenco), a ideia
de Trash – Náusea Total surgiu
como um curta-metragem intitulado “Roast of the Day”, algo como “prato do dia”
onde os cidadãos da pacata Kaihora, Nova Zelândia, misteriosamente desaparecem
e um grupo de heróis dos mais improváveis se reúne para tentar impedir uma
terrível invasão alienígena naquele fim de mundo. Os extraterrestres se
disfarçam de seres humanos e estão em busca dos terráqueos para abastecer a
cadeia de uma rede carnívora de fast-food intergaláctica.
Jackson demorou quatro longos anos para conseguir encerrar sua epopeia pelo
escracho splatter cheio de cenas nojentíssimas, repletas de cabeças
sendo explodidas, cérebros comidos de colher, membros decepados, canibalismo,
litros e litros de sangue, um vômito de gosma nojenta verde que serve de
alimento para os alienígenas e todo tipo de absurdo que faz seu estômago
revirar do avesso. E detalhe que o filme não teve um roteiro escrito.
Como foi gravado apenas durante os finais de semana, as cenas eram feitas de
acordo com as ideias que o diretor tinha na semana anterior. Top profissionalismo.
Pago quase que em sua totalidade do bolso de Jackson e com a ajuda de muitos
amigos envolvidos (inclusive Pete O’Herne, que faz o papel de Barry, ficou sem
se barbear direito por quatro anos – tudo em nome da continuidade), quando o
gordinho pirado finalmente foi editá-lo, ele descobriu que no material bruto
tinha mais de 50 minutos de filmagem que poderia ser utilizado. Foi aí que o
diretor resolveu continuar filmando até transformá-lo em um longa e só quase
todo concluído ele recebeu aporte financeiro da Film Comission neozelandesa
para finalmente finalizá-lo, depois de ficarem impressionados com o que já
havia sido produzido. Porque cá entre nós, tirando toda a precariedade inerente
ao problema orçamentário, as atuações péssimas e exageradas e o fato de um
filme ter levado quatro anos para ser feito e sem nenhum roteiro, os efeitos
especiais realmente impressionam e dava para perceber que o sujeito tinha jeito
pela coisa, e não é a toa que a trilogia de O Senhor dos Anéis e O Hobbit é um desbunde visual e o trabalho de sua futura
empresa de efeitos visuais, a Weta Digital, um dos melhores (e mais premiados)
do cinema. Completamente amador e mandando as favas qualquer tipo de etiqueta
dentro do cinema,Trash – Náusea Total é
um titã da podreira trash. Como a história (que apesar do seu tom incisivo
contra o capitalismo e a indústria alimentícia) é das mais estapafúrdias, o que
pega mesmo, além de todo o nojo e sangue, é o tom splatstick que
permeia o filme, e que seria alçado a um status ainda maior em seu trabalho
vindouro, Fome Animal. Os
personagens são os mais caricatos e vexatórios possíveis, além de situações
absurdas que desafiam todo e qualquer bom senso ou bom gosto do espectador
médio. E se um bando de fracassados como aqueles é o que temos para salvar a
humanidade de alienígenas canibais, acho que estamos realmente encrencados. O
pior é que os ETs conseguem ser ainda mais estúpidos. E o que falar do pôster e
da emblemática capa do filme em VHS, anárquico ao extremo, com a alienígena que
parece que teve caxumba mostrando o dedo do meio e segurando um trabuco,
mandando às favas qualquer tipo de convenção social e dos bons modos no
marketing cinematográfico? Por si só já é uma peça importantíssima dessa obra
prima que instiga. Mas Trash –
Náusea Total é apenas para aqueles de estômago forte. Se você tiver
o mínimo, mas assim, o mínimo de nojo, passe longe dessa fita. O subtítulo
estúpido que ganhou aqui no Brasil (mas nada pior do que recebeu em
Portugal: Carne Humana Precisa-se)
faz muito jus ao conteúdo apelativo apresentado em quase todo o filme. Agora se
você é um endiabrado fã de podreira, vai se deliciar com o máximo de falta de
noção que um filme (e um diretor que mais tarde ganharia até Oscar) pode
chegar.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/15/544-trash-nausea-total-1987/
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