Direção: Wes Craven
Roteiro: Richard Maxwell, Adam Rodman (baseado no livro de Wade Davis)
Produção: Doug Claybourne, David Ladd; Robert Engelman (Coprodutor); Victoria
Kluge, David B. Parker (Produtores Associados); Keith Barish, Rob Cohen
(Produtores Executivos)
Elenco: Bill Pullman, Cathy Tyson, Zakes Mokae, Paul
Winfield, Brent Jennings, Conrad Roberts
Wes Craven é um nome dos mais conhecidos dos fãs do
cinema de horror. O sujeito teve um início de carreira dos mais promissores,
com filmes agressivos e violentos como Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos, e depois criado ninguém menos
que Freddy Krueger para a cinesérie A Hora do Pesadelo. Contudo, sua carreira é
bastante irregular, dividida entre filmes incríveis e porcarias de marca maior.
A Maldição dos Mortos-Vivos é um desses que podemos
encaixar na fase boa de Craven. O nome, mais marqueteiro impossível, foi
escolhido sob medida para dar uma falsa ilusão ao público brasileiro, ávido por
filmes de zumbis comedores de cérebros nos anos 80. Mas na verdade é só um
engana trouxa, uma vez que os zumbis de The Serpent and the Raibow, título original, onde a tradução
literal seria “A Serpente e o Arco-Íris” (retirado de uma citação das lendas
vodus, onde a serpente é o símbolo da terra e o arco-íris, do céu) é resultado
das práticas vodus e místicas do Haiti. Práticas estas que na verdade estão na
origem mitológica da criatura. Lembramos que lá atrás, a figura do zumbi surgiu
exatamente como consequência de feitiçaria praticada pelos sacerdotes vodus no
Haiti, como descrito pelo antropólogo William Seabrook no livro “A Ilha da
Magia”. Foi esse conceito que levou o personagem ao cinema em Zumbi Branco, estrelado por Bela Lugosi e
precursor do gênero. Os mortos-vivos putrefatos levantando-se de suas tumbas
para comer carne humana só começaram a ser explorados mesmo por George A.
Romero trinta anos depois em A Noite dos Mortos-Vivos. Portanto, A Maldição dos Mortos-Vivos é uma
espécie de revisita à gênese haitiana dos zumbis. Com o roteiro baseado no
livro homônimo publicado em 1985 por outro antropólogo, Wade Davis, especialista
em plantas psicoativas das culturas indígenas da América do Sul e Central,
Craven apresenta o personagem de Bill Bullman, Dennis Allan, inspirado no
pesquisador, que se vê envolto no universo sobrenatural do vodu e a tensa crise
política vivida pela ilha durante meados dos anos 80, quando viaja para o
local, financiado pelos interesses de uma poderosa indústria farmacêutica, a
fim de descobrir o famoso pó capaz de “zumbificar” as pessoas, que medicamente
falando, seria um poderoso anestésico composto por tetrodotoxina, capaz de
reduzir todos os sinais vitais do indivíduo e bloquear as ações dos nervos. Dennis
está em busca de um comprovado zumbi, chamado Christophe, clinicamente dado
como morto e enterrado (na cena inicial do longa), que depois é visto vagando
pelos arredores, tendo “voltado à vida”. Ele terá ajuda da psiquiatra Marielle
Duchamp (Cathy Tyson) e do sacerdote, dono de uma boate para turistas e
faz-tudo, Lucien Celine (Paul Winfield) para tentar encontrar Christophe e
descobrir mais sobre o misterioso pó, produzido por Louis Mozart (Brent
Jennings) a partir de “especiarias” utilizadas em rituais de magia negra e que
necessita de três dias e três noites para ficar pronto. Porém, Dennis começa a
meter o bedelho demais e atrair a atenção do vilanesco Dargent Peytraud (Zakes
Mokae), chefe da policia ditatorial, e que também é um sacerdote vodu, com
apreço em aprisionar a alma de seus inimigos em jarros. Com o início de uma
insurreição contra a ditatura de Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, que governava
o país com mão de ferro e a ebulição por conta do momento de turbulência
política agravado pela terrível crise econômica e empobrecimento da população
haitiana (o que dá toda uma conotação crítica social ao filme), passam a surgir
mortos políticos e o Dr. Allan começa a ser perseguido por Peytraud, chegando a
ser torturado de forma horrenda e até enterrado vivo, depois de diagnosticado
como morto, sob o efeito do pó zumbi. Deixando um pouco o lado político e
científico de lado, o mais interessante em A Maldição dos Mortos-Vivos sem dúvida nenhuma é o lado
sobrenatural da história e as diversas alucinações tétricas e farmacológicas
pelas quais o personagem de Bill Pulman passa, incluindo visões de cadáveres
ambulantes, cobras, onças, mãos tentando o puxar para baixo da terra, animais
putrefatos e por aí vai. Utilizando as locações da vizinha República
Dominicana, uma vez que o governo local não podia garantir a segurança da
equipe por conta das diversas revoltas civis, Craven demonstra toda sua habilidade
como diretor, auxiliado pela fotografia de John Lindley, misturando belas
paisagens naturais, com o contraste da pobreza da população e situação
insalubre nas ruas e bairros do Haiti, além das imagens de pesadelos e viagens
alucinógenas do Dr. Allan. Realmente é um excelente trabalho, além da ótima
atuação de Bill Pulman no papel principal, que surpreende. Diferente do gore que
estamos acostumados no subgênero, é interessantíssima essa perspectiva mais
“realista” calcada muito mais no suspense e no horror psicológico, do que a
overdose de maltrapilhos podres se esbanjando com tripas. Religião, ciência,
política, zumbis no sentido literal da criatura e o sobrenatural se misturam na
medida certa em A Maldição dos
Mortos-Vivos, mostrando mais um bom momento de Craven na direção.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/11/06/560-a-maldicao-dos-mortos-vivos-1988/
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