domingo, 10 de abril de 2016

#560 1988 A MALDIÇÃO DOS MORTOS VIVOS (The Serpent and the Rainbow, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Richard Maxwell, Adam Rodman (baseado no livro de Wade Davis)
Produção: Doug Claybourne, David Ladd; Robert Engelman (Coprodutor); Victoria Kluge, David B. Parker (Produtores Associados); Keith Barish, Rob Cohen (Produtores Executivos)
Elenco: Bill Pullman, Cathy Tyson, Zakes Mokae, Paul Winfield, Brent Jennings, Conrad Roberts

Wes Craven é um nome dos mais conhecidos dos fãs do cinema de horror. O sujeito teve um início de carreira dos mais promissores, com filmes agressivos e violentos como Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos, e depois criado ninguém menos que Freddy Krueger para a cinesérie A Hora do Pesadelo. Contudo, sua carreira é bastante irregular, dividida entre filmes incríveis e porcarias de marca maior. A Maldição dos Mortos-Vivos é um desses que podemos encaixar na fase boa de Craven. O nome, mais marqueteiro impossível, foi escolhido sob medida para dar uma falsa ilusão ao público brasileiro, ávido por filmes de zumbis comedores de cérebros nos anos 80. Mas na verdade é só um engana trouxa, uma vez que os zumbis de The Serpent and the Raibow, título original, onde a tradução literal seria “A Serpente e o Arco-Íris” (retirado de uma citação das lendas vodus, onde a serpente é o símbolo da terra e o arco-íris, do céu) é resultado das práticas vodus e místicas do Haiti. Práticas estas que na verdade estão na origem mitológica da criatura. Lembramos que lá atrás, a figura do zumbi surgiu exatamente como consequência de feitiçaria praticada pelos sacerdotes vodus no Haiti, como descrito pelo antropólogo William Seabrook no livro “A Ilha da Magia”. Foi esse conceito que levou o personagem ao cinema em Zumbi Branco, estrelado por Bela Lugosi e precursor do gênero. Os mortos-vivos putrefatos levantando-se de suas tumbas para comer carne humana só começaram a ser explorados mesmo por George A. Romero trinta anos depois em A Noite dos Mortos-Vivos. Portanto, A Maldição dos Mortos-Vivos é uma espécie de revisita à gênese haitiana dos zumbis. Com o roteiro baseado no livro homônimo publicado em 1985 por outro antropólogo, Wade Davis, especialista em plantas psicoativas das culturas indígenas da América do Sul e Central, Craven apresenta o personagem de Bill Bullman, Dennis Allan, inspirado no pesquisador, que se vê envolto no universo sobrenatural do vodu e a tensa crise política vivida pela ilha durante meados dos anos 80, quando viaja para o local, financiado pelos interesses de uma poderosa indústria farmacêutica, a fim de descobrir o famoso pó capaz de “zumbificar” as pessoas, que medicamente falando, seria um poderoso anestésico composto por tetrodotoxina, capaz de reduzir todos os sinais vitais do indivíduo e bloquear as ações dos nervos. Dennis está em busca de um comprovado zumbi, chamado Christophe, clinicamente dado como morto e enterrado (na cena inicial do longa), que depois é visto vagando pelos arredores, tendo “voltado à vida”. Ele terá ajuda da psiquiatra Marielle Duchamp (Cathy Tyson) e do sacerdote, dono de uma boate para turistas e faz-tudo, Lucien Celine (Paul Winfield) para tentar encontrar Christophe e descobrir mais sobre o misterioso pó, produzido por Louis Mozart (Brent Jennings) a partir de “especiarias” utilizadas em rituais de magia negra e que necessita de três dias e três noites para ficar pronto. Porém, Dennis começa a meter o bedelho demais e atrair a atenção do vilanesco Dargent Peytraud (Zakes Mokae), chefe da policia ditatorial, e que também é um sacerdote vodu, com apreço em aprisionar a alma de seus inimigos em jarros. Com o início de uma insurreição contra a ditatura de Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier, que governava o país com mão de ferro e a ebulição por conta do momento de turbulência política agravado pela terrível crise econômica e empobrecimento da população haitiana (o que dá toda uma conotação crítica social ao filme), passam a surgir mortos políticos e o Dr. Allan começa a ser perseguido por Peytraud, chegando a ser torturado de forma horrenda e até enterrado vivo, depois de diagnosticado como morto, sob o efeito do pó zumbi. Deixando um pouco o lado político e científico de lado, o mais interessante em A Maldição dos Mortos-Vivos sem dúvida nenhuma é o lado sobrenatural da história e as diversas alucinações tétricas e farmacológicas pelas quais o personagem de Bill Pulman passa, incluindo visões de cadáveres ambulantes, cobras, onças, mãos tentando o puxar para baixo da terra, animais putrefatos e por aí vai. Utilizando as locações da vizinha República Dominicana, uma vez que o governo local não podia garantir a segurança da equipe por conta das diversas revoltas civis, Craven demonstra toda sua habilidade como diretor, auxiliado pela fotografia de John Lindley, misturando belas paisagens naturais, com o contraste da pobreza da população e situação insalubre nas ruas e bairros do Haiti, além das imagens de pesadelos e viagens alucinógenas do Dr. Allan. Realmente é um excelente trabalho, além da ótima atuação de Bill Pulman no papel principal, que surpreende. Diferente do gore que estamos acostumados no subgênero, é interessantíssima essa perspectiva mais “realista” calcada muito mais no suspense e no horror psicológico, do que a overdose de maltrapilhos podres se esbanjando com tripas. Religião, ciência, política, zumbis no sentido literal da criatura e o sobrenatural se misturam na medida certa em A Maldição dos Mortos-Vivos, mostrando mais um bom momento de Craven na direção.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/11/06/560-a-maldicao-dos-mortos-vivos-1988/

Nenhum comentário:

Postar um comentário