domingo, 10 de abril de 2016

#559 1988 INSTINTO FATAL (Monkey Shines, EUA)


Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero (baseado no livro de Michael Stewart)
Produção: Charles Evans; Peter R. McIntosh (Produtor Associado); Peter Grunwald, Gerald S. Paonessa (Produtores Executivos)
Elenco: Jason Beghe, John Pankow, Kate McNeill, Joyce Van Patten, Christine Forrest, Stanley Tucci

Nesta altura do campeonato George A. Romero havia finalizado o que seria até então sua trilogia dos mortos, que contou com A Noite dos Mortos-VivosDespertar dos Mortos e Dia dos Mortos, e deixando de lado os zumbis putrefatos canibais, resolveu encarar a empreitada de um terror psicológico, com toques de eco-horror e trabalhar pela primeira vez para um grande estúdio, a Orion Pictures. O resultado foi Instinto Fatal (que também foi lançado no Brasil em VHS como Comando Assassino). Acredito nunca ter revisto depois dessa época. Não esperava muito, afinal, é o filme sobre uma macaquinha ciumenta assassina (que na verdade foi interpretada por um macho chamado Boo). E realmente tinha razão em não esperar. Instinto Fatal é muito irregular, com uma história cheia de baboseiras das mais difíceis de engolir, mas, tem o nome de Romero por trás das câmeras, então o que poderia ser uma aberração trash, ao melhor estilo Shakma – A Fúria Assassina (para ficar no campo dos símios psicopatas) transforma-se em um thriller com bons momentos de tensão e horror subentendido (diferente dos trabalhos viscerais do diretor com seus mortos-vivos). O contexto sócio-político-cultural que Romero imprimiu na trilogia dos mortos aqui dá lugar a todo tipo de sentimento sórdido e desvios psicológicos que o homo sapiens pode ter, desde a mais pura mesquinharia humana, passando por ciúmes, raiva, vingança, falta de ética científica e por aí vai. Todo esse caldo está no entorno da vida de Allan Mann (Jason Beghe) que muda drasticamente após sofrer um atropelamento. O até então atleta e estudante de direito se vê tetraplégico (por conta de um erro médico, diga-se de passagem), confinado a uma cadeira de rodas. Como tudo que está ruim pode piorar, sua noiva, Maryanne (Chritine Forrest), não aguenta o tranco e a pilantra dá um fora no sujeito, para ficar exatamente com o médico arrogante que o operou, o Dr. Josh Wiseman (o futuro indicado ao Oscar Stanely Tucci), ele começa a ser cuidado por uma enfermeira bruaca, Linda (Janine Turner), e sua mãe superprotetora, Dorothy (Joyce Van Patten) está sempre por perto agindo daquele jeito que só as mães sabem fazer. Allan deprimido e sem perspectiva nenhuma, revoltado com sua situação (que já seria difícil para qualquer um, imagine então para um atleta de alta performance) até tenta o suicídio mas é encontrado pelo seu amigo, o geneticista Geoffrey Fisher (John Pankow), que trabalha fazendo experiências com macacos para aumentar sua inteligência. Vendo o estado miserável do amigo (e com o rabo na reta por conta dos seus experimentos não apresentarem resultados, diga-se de passagem) resolve procurar a treinadora de macacos, Melanie Parker (Kate McNeill) oferecendo Ella, a sua principal cobaia, para que seja treinada para auxiliar Allan em suas tarefas cotidianas. Allan fica extremamente ligado à macaquinha, volta aos estudos, vê uma nova razão em viver, se apaixona por Melanine e tudo está ótimo, até que por conta dos experimentos nefastos de Geoffrey, a inteligência avançada de Ella começa a se mostrar uma ameaça quando um elo telepático (???!!!) é criado entre ele e o animal de estimação, e toda sua raiva e frustração começam a ser canalizadas no bichinho (que por algum motivo inexplicável consegue também potencializá-lo), que passa a revelar instintos assassinos, matando sua ex-namorada, o médico, o passarinho da enfermeira pentelha e até a mãe do sujeito. Ah vá! Isso sem contar o ciúme obsessivo incontrolável que o pet desenvolve. Os pontos altos do filme são exatamente os momentos de suspense, principalmente o embate final onde sabemos da limitação física do personagem e sua impotência. Todos os demais personagens se tornarem vítimas de um macaco furtivo daquele tamanho já é baboseira. Ella brilha muito (desculpe, foi um trocadilho infame com o título original do longa, Monkey Shines) na transição de um animal dócil para uma criaturinha agressiva psicótica. A atuação de Allan também segura as pontas, já que passa o filme inteiro sentado, mexendo só a boca e a cabeça e isso exige um trabalho hercúleo (temos que relevar o fato do sujeito ficar meses tetraplégico sem se exercitar e não atrofiar os músculos e continuar ali saradão – mas, posso falar besteira porque não sou fisioterapeuta, nempersonal trainer, então me corrijam se uma pessoa conseguir mesmo se manter em forma daquele jeito por tanto tempo sem exercícios, musculação, etc). O final feliz hollywoodiano é intragável. Instinto Fatal se salva do desastre total pela forma que é executado por Romero, afinal sabemos muito bem do que o mestre é capaz. Mas mesmo assim, a experiência com um grande estúdio não foi boa para o diretor, que apresentou um corte diferente do seu que o desagradou, o que fez com que ele voltasse para o cinema independente mais uma vez, só retornando a trabalhar para os poderosos em 1993, em A Metade Negra, baseado no texto de Stephen King, ironicamente financiado pela mesma Orion Pictures.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/11/05/559-instinto-fatal-1988/

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