Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero (baseado no livro de
Michael Stewart)
Produção: Charles Evans; Peter R. McIntosh
(Produtor Associado); Peter Grunwald, Gerald S. Paonessa (Produtores
Executivos)
Elenco: Jason Beghe,
John Pankow, Kate McNeill, Joyce Van Patten, Christine Forrest, Stanley Tucci
Nesta altura do campeonato George A. Romero havia
finalizado o que seria até então sua trilogia dos mortos, que contou com A Noite dos Mortos-Vivos, Despertar dos Mortos e Dia dos Mortos, e
deixando de lado os zumbis putrefatos canibais, resolveu encarar a empreitada
de um terror psicológico, com toques de eco-horror e trabalhar pela
primeira vez para um grande estúdio, a Orion Pictures. O resultado foi Instinto Fatal (que também foi lançado no Brasil em VHS como Comando
Assassino). Acredito nunca ter revisto depois dessa época. Não esperava muito,
afinal, é o filme sobre uma macaquinha ciumenta assassina (que na verdade foi interpretada
por um macho chamado Boo). E realmente tinha razão em não esperar. Instinto
Fatal é muito irregular, com uma história cheia de baboseiras das mais
difíceis de engolir, mas, tem o nome de Romero por trás das câmeras, então o
que poderia ser uma aberração trash,
ao melhor estilo Shakma – A Fúria Assassina (para ficar no campo dos
símios psicopatas) transforma-se em um thriller com
bons momentos de tensão e horror subentendido (diferente dos trabalhos
viscerais do diretor com seus mortos-vivos). O contexto sócio-político-cultural
que Romero imprimiu na trilogia dos mortos aqui dá lugar a todo tipo de
sentimento sórdido e desvios psicológicos que o homo sapiens pode ter, desde a mais pura mesquinharia humana,
passando por ciúmes, raiva, vingança, falta de ética científica e por aí vai.
Todo esse caldo está no entorno da vida de Allan Mann (Jason Beghe) que muda
drasticamente após sofrer um atropelamento. O até então atleta e estudante de
direito se vê tetraplégico (por conta de um erro médico, diga-se de passagem),
confinado a uma cadeira de rodas. Como tudo que está ruim pode piorar, sua
noiva, Maryanne (Chritine Forrest), não aguenta o tranco e a pilantra dá um
fora no sujeito, para ficar exatamente com o médico arrogante que o operou, o
Dr. Josh Wiseman (o futuro indicado ao Oscar Stanely Tucci), ele começa a ser
cuidado por uma enfermeira bruaca, Linda (Janine Turner), e sua mãe
superprotetora, Dorothy (Joyce Van Patten) está sempre por perto agindo daquele
jeito que só as mães sabem fazer. Allan deprimido e sem perspectiva nenhuma,
revoltado com sua situação (que já seria difícil para qualquer um, imagine
então para um atleta de alta performance) até tenta o suicídio mas é encontrado
pelo seu amigo, o geneticista Geoffrey Fisher (John Pankow), que trabalha
fazendo experiências com macacos para aumentar sua inteligência. Vendo o
estado miserável do amigo (e com o rabo na reta por conta dos seus experimentos
não apresentarem resultados, diga-se de passagem) resolve procurar a treinadora
de macacos, Melanie Parker (Kate McNeill) oferecendo Ella, a sua principal
cobaia, para que seja treinada para auxiliar Allan em suas tarefas cotidianas. Allan
fica extremamente ligado à macaquinha, volta aos estudos, vê uma nova razão em
viver, se apaixona por Melanine e tudo está ótimo, até que por conta dos
experimentos nefastos de Geoffrey, a inteligência avançada de Ella começa a se
mostrar uma ameaça quando um elo telepático (???!!!) é criado entre ele e o
animal de estimação, e toda sua raiva e frustração começam a ser canalizadas no
bichinho (que por algum motivo inexplicável consegue também potencializá-lo),
que passa a revelar instintos assassinos, matando sua ex-namorada, o médico, o
passarinho da enfermeira pentelha e até a mãe do sujeito. Ah vá! Isso sem
contar o ciúme obsessivo incontrolável que o pet desenvolve. Os
pontos altos do filme são exatamente os momentos de suspense, principalmente o
embate final onde sabemos da limitação física do personagem e sua impotência.
Todos os demais personagens se tornarem vítimas de um macaco furtivo daquele
tamanho já é baboseira. Ella brilha muito (desculpe, foi um trocadilho infame
com o título original do longa, Monkey Shines) na transição de um
animal dócil para uma criaturinha agressiva psicótica. A atuação de Allan
também segura as pontas, já que passa o filme inteiro sentado, mexendo só
a boca e a cabeça e isso exige um trabalho hercúleo (temos que relevar o fato
do sujeito ficar meses tetraplégico sem se exercitar e não atrofiar os músculos
e continuar ali saradão – mas, posso falar besteira porque não sou fisioterapeuta,
nempersonal trainer, então me corrijam se uma pessoa conseguir mesmo se manter
em forma daquele jeito por tanto tempo sem exercícios, musculação, etc). O
final feliz hollywoodiano é intragável. Instinto Fatal se salva do
desastre total pela forma que é executado por Romero, afinal sabemos muito bem
do que o mestre é capaz. Mas mesmo assim, a experiência com um grande estúdio
não foi boa para o diretor, que apresentou um corte diferente do seu que o
desagradou, o que fez com que ele voltasse para o cinema independente mais uma
vez, só retornando a trabalhar para os poderosos em 1993, em A Metade
Negra, baseado no texto de Stephen King, ironicamente financiado pela mesma
Orion Pictures.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/11/05/559-instinto-fatal-1988/
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