Direção: Nico Mastorakis
Roteiro: Nico Mastorakis
Produção: Nicos Mastorakis, Nestores Pavelas
(Produtor Associado)
Elenco: Robert Behling,
Jane Lyle, Jessica Dublin, Gerard Gonalons, Janice McConnell
Vamos começar partindo do seguinte pressuposto: O
diretor de A Ilha da Morte, Nico Mastorakis, inspirou-se em
realizar este pérola após assistir ao O Massacre da Serra Elétrica, e percebeu o quanto dinheiro a
película arrecadou. Por isso, ele resolveu fazer um filme ainda mais violento e
perverso que o de Tobe Hooper, para assim arrecadar ainda mais dinheiro. Olhe
só a lógica do sujeito. Tudo bem que nós fãs, da bagaceira e do exploitation achamos
a ideia louvável. Mas se a intenção dele era ganhar dinheiro, a escolha deste
tipo de filme, completamente grindhouse, e ainda feito na Grécia, foi
completamente equivocada. Ainda mais porque logicamente, por conta de seu conteúdo
gráfico, apelativo, sexual e de extremo mau gosto, ele seria banido de uma
porrada de lugares. Esse é mais um daqueles filmes que fizeram fama por conta
do seu banimento pelo DPP do Reino Unido, que o colocou na famigerada lista
dos nasty videos. Mas também, sofre do mesmo mal que tantas outras
produções negras sofreram tempos depois. Muito marketing (ou anti-marketing, se
preferir) para um resultado que não é lá dos tão chocantes, ainda mais se
pensarmos na audiência de hoje em dia. Mas fato é que A Ilha da Morte é
um filme retardado e transgressor, com orçamento baixíssimo (um dos atores foi
dispensado e substituído pelo próprio diretor porque seu cachê de 80 dólares
era muito alto!!!!), efeitos especiais ridículos, atuações caricatas e uma
trilha sonora piegas. Se a intenção de Nico era fazer um filme amoral, com
mortes violentas e uma penca de erotismo, garotas nuas e cenas de soft porn,
ele conseguiu. É quase um crossover entre o cinema de Russ Meyer com Jess
Franco. E o mais interessante de A Ilha da Morte não são as execuções
realizadas pelo casal de protagonistas fetichistas, não. E sim o fato de
inverter a ordem natural do cinema de terror com relação aos turistas. Explico:
o fiapo de trama é que um casal inglês, Christopher (Robert Behling) e Celia
(Jane Lyle) estão de férias na paradisíaca ilha de Mykonos, na costa da Grécia.
Só que ao invés deles serem os protagonistas em perigo no estrangeiro, na
verdade, são eles que começam a tocar o terror na ilha, praticando jogos
sexuais com os moradores e dando início a uma chacina com as mais escabrosas
mortes. E a premissa para esses assassinatos são exatamente os mesmos durante
os 108 minutos de filme. O afetado Christopher e a delicinha Celia se envolvem
com alguns moradores, como o casal gay, o pintor francês, a velha ninfomaníaca,
a bartender lésbica, etc, e após muita sedução, erotismo, com um deles, ou
ambos, tendo relações sexuais (espontâneas ou forçadas) com as vítimas,
resolvem dar cabo delas. Nisso o filme parece um looping infinito. E
todos os assassinatos são motivados por alguma espécie de rixa e ódio sexual ou
social fomentado por Christopher. O rapaz é completamente homofóbico, sexista,
xenófobo, misógino e por aí vai, e resolve matar as pessoas por causa das suas
devassidões e perversões. É como o sujo falando do mal lavado. Até tem um
detetive que aparece na história, perseguindo o casal desde Londres, para ser
morto logo na sequência, enforcado em um avião, e depois um escritor que
investiga a vida criminosa da ilha. Somente no final, quando em fuga, os dois
encontram um ermo pastor de ovelhas que vive em uma caverna, que um elemento
diferenciado se agrega a trama (mas ainda assim com doses cavalares de sexo). Agora
três momentos são famosos por transformar esse filme nessa pérola cultuada do
cinema exploitation: O primeiro é a primeira vez que descobrimos que há
algo de errado com o casal, e principalmente com Christopher, quando Celia nega
fogo em uma manhã e o maluco sai pelo quintal da pousada onde está hospedado,
em busca de uma cabritinha para satisfazer seu desejo sexual (e depois
mutilá-la e jogá-la em um poço); o segundo é quando um pintor francês que está
na ilha para ajudar a restaurar uma igreja, transa com Celia e na sequência,
ele é crucificado por eles no chão e obrigado a tomar uma lata de tinta (que é
puro leite, como obviamente se percebe); e a terceira, é quando Christopher em
um momento de sacanagem com a quarentona ninfomaníaca faz nela um golden
shower, que adora e pede por mais, o que vai despertar a sua ira psicopata. Mas
a maior contradição de todas é o caráter hipócrita de Christopher e como o
desenvolvimento do personagem vai o tornando cada vez mais odioso, e colocando
Celia como uma potencial vítima das circunstâncias, que vai se cansando dos
jogos obscenos enquanto o namorado quer cada vez mais e mais. Mas a explosão de
hipocrisia vem com o final de A Ilha da Morte.
ALERTA DE
SPOLIER. Leia por sua conta e risco ou pule para o próximo parágrafo.
Quando o casal se esconde na caverna do pastor de
ovelhas, que por sinal é o mesmo que Celia via em seus sonhos, que a estuprava
e matava Christopher, batata que a profecia meio que se tornará realidade. Só
que Celia apaixona-se pelo pastor e Christopher é jogado em um poço de cal à
espera da subida da maré que o faria derreter. Implorando pela ajuda de Celia
que nem liga e passa dia e noite trepando com o pastor mudo, dando o troco em
toda aquela vida de mortes e crimes, é que o fundamentalista com seu ódio às
minorias, pervertidos e sentido deturpado de justiça, suplica por socorro e
revela que os dois são irmãos, que praticam uma vida de incesto e mortes. Já
que é para chutar o pau da barraca… O roteiro escrito em uma semana por
Mastrokis enche o filme de personagens apenas para eles serem mortos, tal qual
um filme slasher dos anos 80, e recauchuta situações continuamente
apenas para aumentar a violência das mortes, contando com uma conclusão
inesperada e das mais apelativas. Mas apesar da limitação técnica, artística e
de roteiro, tem belas locações e uma excelente fotografia da ilha grega, feita
pelo próprio diretor e pelo Niko Gardelis. Cercado por uma aura de filme
perturbador e proibido, mas envelhecido pelo tempo e pela própria elevação da
violência gráfica no cinema de terror, A Ilha da Morte torna-se então
um bom entretenimento para aqueles que adoram um cinema bagaceira sem pudores.
FONTE: https://101horrormovies.com/2013/12/27/336-a-ilha-da-morte-1976/
Nenhum comentário:
Postar um comentário