terça-feira, 12 de abril de 2016

#336 1976 A ILHA DA MORTE (Ta paidia tou Diavolou / Island of Death, Grécia)


Direção: Nico Mastorakis
Roteiro: Nico Mastorakis
Produção: Nicos Mastorakis, Nestores Pavelas (Produtor Associado)
Elenco: Robert Behling, Jane Lyle, Jessica Dublin, Gerard Gonalons, Janice McConnell

Vamos começar partindo do seguinte pressuposto: O diretor de A Ilha da Morte, Nico Mastorakis, inspirou-se em realizar este pérola após assistir ao O Massacre da Serra Elétrica, e percebeu o quanto dinheiro a película arrecadou. Por isso, ele resolveu fazer um filme ainda mais violento e perverso que o de Tobe Hooper, para assim arrecadar ainda mais dinheiro. Olhe só a lógica do sujeito. Tudo bem que nós fãs, da bagaceira e do exploitation achamos a ideia louvável. Mas se a intenção dele era ganhar dinheiro, a escolha deste tipo de filme, completamente grindhouse, e ainda feito na Grécia, foi completamente equivocada. Ainda mais porque logicamente, por conta de seu conteúdo gráfico, apelativo, sexual e de extremo mau gosto, ele seria banido de uma porrada de lugares. Esse é mais um daqueles filmes que fizeram fama por conta do seu banimento pelo DPP do Reino Unido, que o colocou na famigerada lista dos nasty videos. Mas também, sofre do mesmo mal que tantas outras produções negras sofreram tempos depois. Muito marketing (ou anti-marketing, se preferir) para um resultado que não é lá dos tão chocantes, ainda mais se pensarmos na audiência de hoje em dia. Mas fato é que A Ilha da Morte é um filme retardado e transgressor, com orçamento baixíssimo (um dos atores foi dispensado e substituído pelo próprio diretor porque seu cachê de 80 dólares era muito alto!!!!), efeitos especiais ridículos, atuações caricatas e uma trilha sonora piegas. Se a intenção de Nico era fazer um filme amoral, com mortes violentas e uma penca de erotismo, garotas nuas e cenas de soft porn, ele conseguiu. É quase um crossover entre o cinema de Russ Meyer com Jess Franco. E o mais interessante de A Ilha da Morte não são as execuções realizadas pelo casal de protagonistas fetichistas, não. E sim o fato de inverter a ordem natural do cinema de terror com relação aos turistas. Explico: o fiapo de trama é que um casal inglês, Christopher (Robert Behling) e Celia (Jane Lyle) estão de férias na paradisíaca ilha de Mykonos, na costa da Grécia. Só que ao invés deles serem os protagonistas em perigo no estrangeiro, na verdade, são eles que começam a tocar o terror na ilha, praticando jogos sexuais com os moradores e dando início a uma chacina com as mais escabrosas mortes. E a premissa para esses assassinatos são exatamente os mesmos durante os 108 minutos de filme. O afetado Christopher e a delicinha Celia se envolvem com alguns moradores, como o casal gay, o pintor francês, a velha ninfomaníaca, a bartender lésbica, etc, e após muita sedução, erotismo, com um deles, ou ambos, tendo relações sexuais (espontâneas ou forçadas) com as vítimas, resolvem dar cabo delas. Nisso o filme parece um looping infinito. E todos os assassinatos são motivados por alguma espécie de rixa e ódio sexual ou social fomentado por Christopher. O rapaz é completamente homofóbico, sexista, xenófobo, misógino e por aí vai, e resolve matar as pessoas por causa das suas devassidões e perversões. É como o sujo falando do mal lavado. Até tem um detetive que aparece na história, perseguindo o casal desde Londres, para ser morto logo na sequência, enforcado em um avião, e depois um escritor que investiga a vida criminosa da ilha. Somente no final, quando em fuga, os dois encontram um ermo pastor de ovelhas que vive em uma caverna, que um elemento diferenciado se agrega a trama (mas ainda assim com doses cavalares de sexo). Agora três momentos são famosos por transformar esse filme nessa pérola cultuada do cinema exploitation: O primeiro é a primeira vez que descobrimos que há algo de errado com o casal, e principalmente com Christopher, quando Celia nega fogo em uma manhã e o maluco sai pelo quintal da pousada onde está hospedado, em busca de uma cabritinha para satisfazer seu desejo sexual (e depois mutilá-la e jogá-la em um poço); o segundo é quando um pintor francês que está na ilha para ajudar a restaurar uma igreja, transa com Celia e na sequência, ele é crucificado por eles no chão e obrigado a tomar uma lata de tinta (que é puro leite, como obviamente se percebe); e a terceira, é quando Christopher em um momento de sacanagem com a quarentona ninfomaníaca faz nela um golden shower, que adora e pede por mais, o que vai despertar a sua ira psicopata. Mas a maior contradição de todas é o caráter hipócrita de Christopher e como o desenvolvimento do personagem vai o tornando cada vez mais odioso, e colocando Celia como uma potencial vítima das circunstâncias, que vai se cansando dos jogos obscenos enquanto o namorado quer cada vez mais e mais. Mas a explosão de hipocrisia vem com o final de A Ilha da Morte. 
ALERTA DE SPOLIER. Leia por sua conta e risco ou pule para o próximo parágrafo.
Quando o casal se esconde na caverna do pastor de ovelhas, que por sinal é o mesmo que Celia via em seus sonhos, que a estuprava e matava Christopher, batata que a profecia meio que se tornará realidade. Só que Celia apaixona-se pelo pastor e Christopher é jogado em um poço de cal à espera da subida da maré que o faria derreter. Implorando pela ajuda de Celia que nem liga e passa dia e noite trepando com o pastor mudo, dando o troco em toda aquela vida de mortes e crimes, é que o fundamentalista com seu ódio às minorias, pervertidos e sentido deturpado de justiça, suplica por socorro e revela que os dois são irmãos, que praticam uma vida de incesto e mortes. Já que é para chutar o pau da barraca… O roteiro escrito em uma semana por Mastrokis enche o filme de personagens apenas para eles serem mortos, tal qual um filme slasher dos anos 80, e recauchuta situações continuamente apenas para aumentar a violência das mortes, contando com uma conclusão inesperada e das mais apelativas. Mas apesar da limitação técnica, artística e de roteiro, tem belas locações e uma excelente fotografia da ilha grega, feita pelo próprio diretor e pelo Niko Gardelis. Cercado por uma aura de filme perturbador e proibido, mas envelhecido pelo tempo e pela própria elevação da violência gráfica no cinema de terror, A Ilha da Morte torna-se então um bom entretenimento para aqueles que adoram um cinema bagaceira sem pudores.
FONTE: https://101horrormovies.com/2013/12/27/336-a-ilha-da-morte-1976/

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