Direção: Tony Randel
Roteiro: Peter Atkins; Clive Barker (história)
Produção: Christopher
Figg; David Barron (Produtor Associado); Christopher Webster, Clive Barker
(Produtores Executivos)
Elenco: Clare Higgins,
Ashley Laurence, Kenneth Cranham, Imogen Boorman, Sean Chapman, William Hope,
Doug Bradley
Inegável a importância e o tamanho do clássico
visceral de Clive Barker, Hellraiser –
Renascido do Inferno, lançado em 1987. Simplesmente um dos melhores
filmes de terror de todos os tempos com seu excesso de sangue em abundância,
nojeira, perversões sexuais, sadomasoquismo e o fato de ter introduzido o
conceito dos terríveis cenobitas, e seu líder icônico, Pinhead. Fato é que
revisitar esse universo em Hellraiser 2 – Renascido das Trevas seria um elemento de
alto risco. Ao mesmo tempo em que a continuação extrapola o universo mitológico
de Barker, nos apresentando um pouco mais sobre a dimensão tétrica de prazer e
sofrimento dos cenobitas e nos remete novamente a bizarrices sexuais,
hedonismo, goreem alto nível, tortura e morte, também dá uma grande
escorregada no ridículo e no exagero, além de recauchutar situações do primeiro
filme. Pelo menos para mim, assistir Hellraiser 2 é um tanto
contraditório. Até a primeira hora do filme, ele caminha como uma sequência
correta, apesar de seguir uma espécie de convenção cinematográfica para as
continuações, retomando exatamente do ponto ondeHellraiser – Renascido do
Inferno se concluiu. Ao mesmo tempo em que na primeira fita, Frank Cotton
(Sean Chapman) tenta escapar do inferno com a ajuda de sua amante, Julia (Clare
Higgins), usando-a como fonte de carne humana, pele e sangue para que ele volte
a se materializar em nosso universo, aqui é a vez de Julia fazer exatamente a
mesmíssima coisa, mandando qualquer sopro de originalidade às favas. Mas a
partir do momento em que somos convidados a conhecer o inferno dimensional dos
cenobitas aberto novamente pelo decifrar do enigma do cubo “configuração da
lamentação” (sim, é esse seu nome) é que o filme realmente desanda em uma
overdose de imagens de pesadelos e pecados, misturados com uma profunda
necessidade em abusar de efeitos visuais e de stop-motion (que hoje
se tornaram datadíssimos, completamente diferente dos excelentes efeitos de
maquiagem), uma vez que o orçamento era maior que o primeiro. Tudo se torna tão
megalomaníaco que aquele charme obscuro e sujo do primeiro filme e até mesmo o
desenrolar dessa sequência até então, perde-se completamente. A trama, escrita
por Peter Atkins em cima da história de Barker, retoma os acontecidos surreais
do final do primeiro filme, com Kirsty (papel revivido por Ashley Laurence)
internada em um instituto psiquiátrico depois do terrível assassinato de seu
pai, madrasta e tio. Acontece que a clínica onde ela está é gerida pelo nefasto
Dr. Phillip Channard (Kenneth Cranham), que além de promover todo tipo de
experiência atroz com os internos, descobre-se ser um profundo pesquisador do oculto,
coletando dezenas de fotos, textos, desenhos e imagens sobre os cenobitas,
além de colecionar as famigeradas caixas. O Dr. Kyle MacRae (William Hope),
assistente de Channard, desenvolve certa empatia por Kirsty e é quem pega o
psiquiatra com a boca na botija, ao escutar uma conversa por telefone do
superior com o investigador do caso, pedindo para levar o colchão onde Julia
foi morta, para sua casa. Invadindo o lugar, ele é testemunha da, de longe
melhor cena do filme todo, quando ele leva um paciente atormentado, que em seu
subconsciente vê vermes e insetos por todo seu corpo, e lhe oferece uma navalha
para que se rasgue completamente em cima do colchão, alimentando o corpo de
Julia que volta à vida, depelada, tal qual Frank Cotton no longa anterior. Então
Channard irá trazer as vítimas para Julia recobrar sua forma, enquanto em
troca, ela promete lhe mostrar os prazeres e obscuridades da dimensão dos
cenobitas, abertas por meio de Tiffany (Imogem Boorman) uma paciente muda e
introspectiva que passa todo seu tempo completando quebra-cabeças e descobrindo
enigmas. Pois bem, o resultado é que Kirsty e Tiffany adentram naquele ambiente
sinistro, rolam traições, enquanto Julia precisa de almas para levar ao inferno
e o bom doutor busca seu objetivo, que é se transformar em um cenobita, Acaba
alcançando o feito, tornando-se o mais perigoso de todos, e passa a caçar as
duas garotas tanto naquele plano, quanto em nossa existência, deixando um
rastro de sangue atrás. Barker chegou a desenvolver cada história de background
dos cenobitas para o primeiro filme, mas que acabou nunca sendo explorada, o
que aconteceu em Hellraiser 2 – Renascido das Trevas. Expandindo sua
mitologia, fica-se claro que os seres que são anjos para uns e demônios para outros
já foram humanos e seus próprios vícios o tornaram aquelas criaturas
insidiosas. Inclusive a primeira cena explora um pouco do passado do personagem
de Doug Bradley, Pinhead, que descobrimos ser na verdade o Capitão Elliot
Spencer, um membro do exército britânico que após o fim da Primeira Guerra
Mundial, se depara com o cubo em busca das tais experiências sensoriais
extremas, e acaba virando o personagem com a cabeça cheia de pregos que
conhecemos muito bem. Um dos maiores acertos é sabiamente deixar Pinhead e seus
comparsas mais uma vez como coadjuvantes, evitando a superexposição que tanto
Jason quanto Freddy experimentaram naqueles anos (pelo menos até aqui). Já em
termos de violência, salta aos olhos a emblemática cena do colchão, a drenagem
de Kyle por Julia e a transformação de Channrd em cenobita, que depois se torna
incrivelmente exagerada com aqueles tentáculos de massinha que saem da palma de
suas mãos e assumem toda sorte de objeto cortante, pontiagudo e rodopiante.
Todo o low profile masoquista, soturno e maldito dos demais
cenobitas, que se mostram até uns coiós em certos momentos, dá lugar a uma
criatura quase carnavalesca com pretensões e poderes de supervilão. Isso sem
contar a resolução demasiadamente forçada e aquele ceninha completamente
desnecessária antes do filme se encerrar. Mas apesar do roteiro oscilante, com
momentos brilhantes e outros nem um pouco, Hellraiser 2 – Renascido das
Trevas fecha um ciclo e se completa, mesmo sendo deveras inferior, com seu
antecessor. Consegue expandir mitos, explorar pontos, lugares e personagens do
original e deixa um leque de possibilidades para o futuro da franquia, que foi
devidamente deturpado com as infindáveis sequências, perpetuadas pelas mãos de
impiedosos e inescrupulosos produtores. FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/31/556-hellraiser-2-renascido-das-trevas-1988/
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