Direção: Frank Henenlotter
Roteiro: Frank Henenlotter
Produção: Edgar Ievins; Ray Sundlin (Produtor
Associado); Andre Blay, Al Eicher (Produtores Executivos)
Elenco: Rick
Hearst, Gordon MacDonald, Jennifer Lowry, Theo Barnes, Lucille Saint-Peter
Frank Henenlotter é um retardado. E
levantemos as mãos aos céus por isso. Depois de Basket Case, sua seminal
bagaceira lançada em 1982, o diretor volta mais uma vez suas lentes para a
trasheira repleta de gore, cenas nojentas, efeitos especiais toscos,
decadência social de seus personagens, humor negro e nonscence no
talo em O Soro do Mal. O longa na verdade
é uma metáfora ao uso de drogas. Mas não pense que ele funciona como um estudo
profundo sobre os efeitos nocivos dos entorpecentes nos jovens e sobre o
universo junkie e underground de Nova York no final
dos anos 80. Na verdade essa nem era a intenção, apesar do grande teor de
conscientização que ele traz em suas entrelinhas. O lance é você chutar o pau
da barraca mesmo, algo que Henenlotter sabe fazer com maestria em seus filmes,
exatamente por saber contornar com criatividade e com roteiros malucos, a falta
de um orçamento decente. Pensando um pouco em Basket Case, dá para
perceber que o diretor aproveitou os mesmos elementos pontuais aqui em O
Soro do Mal: temos novamente como pano de fundo uma NY decadente e um jovem que
vive uma relação de dependência com uma criatura disforme e vice-versa, morando
em um mequetrefe prédio de apartamentos. Esse jovem é Brian (Rick Hearst), que
se torna hospedeiro de um parasita tosquíssimo e fanfarrão chamado Aylmer (que
tem a voz não creditada de John Zacherle), com o formato de uma lesma com olhos
e boca, capaz de injetar uma substância diretamente em seu cérebro que lhe dá
um puta barato (quando isso acontece, vemos um close da sua massa encefálica
com o líquido azul sendo gotejado, seguido de uma série de reações elétricas).
Mas não pense que nada disso é de forma deliberada, não. Em troca de seu
“suco”, ele precisa se alimentar de miolos humanos. Pronto, por meio deste
enredo simples, está construída toda a trama que vai permear a vida do sujeito,
que irá entrar em um caminho sem volta, cada vez precisando mais e mais do “tóchico”
a ponto de cometer assassinatos para que Aylmer se delicie com seus cérebros,
primeiro de forma inconsciente, durante sua trip cheia de cores e
sensações, mas depois, obrigando-se a compactuar com o parasita, principalmente
quando ele decide abandonar o vício, passa por um cold turkey nervoso, mas o sacana de fala suave consegue o
convencer, tão forte já é sua dependência. Na verdade Aylmer merece um
parágrafo a parte. Assim como Belilal consegue ser o grande personagem
de Basket Case, a mesma coisa acontece aqui com a lesma ilícita. Primeiro
ele consegue convencer Brian a cair como um patinho, provando que a sensação
que ele passa é uma delícia, que fará apenas bem e para que tenha sua total
confiança. Acho que esse seria mesmo o diálogo de um noia com sua droga.
Depois, antes da pesada cena de desintoxicação, Aylmer se mostra extremamente
confiante que o hospedeiro vai acabar cedendo, como todos o fazem, e ainda até
cria uma musiquinha de escárnio, parecendo um stop motion da Disney
às avessas. Interessante também a breve passagem quando o antigo hospedeiro de
Aylmer conta sua origem, e descobrimos que ele é uma criatura que existe desde
o começo dos tempos, como o próprio uso de drogas em si, e sempre foi disputada
entre as pessoas, causando efeitos devastadores. Mas como disse lá em cima,
isso não é um tratado sobre o efeito das drogas na destruição da vida dos
jovens, da instituição familiar (há uma briga com seu irmão, que também não o
ajuda na recuperação por ter outros interesses em comum, por assim dizer), das
relações amorosas (agindo de forma abrupta com sua namorada), do adultério e
sexualidade. É um filme trash com todo seu esplendor, servido de
toneladas de cenas gráficas, sangue a rodo, efeitos caricatos de Aylmer,
cérebros pulsantes no lugar de almôndegas em um prato de macarrão em uma das
viagens de Brian e claro, a antológica e grosseira cena do boquete forçado de
uma garota na criatura fálica, que acaba por sugar seu cérebro. E falando mais
uma vez de Basket Case, há até uma própria homenagem metalinguística de
Henenlotter ao seu filme anterior. No metrô, Brian está obcecado,
esquadrinhando os passageiros a procura de um cérebro quando quem entra no
vagão? Exatamente Duane Bradley, carregando sua infame cesta de vime,
provavelmente com Belial em seu interior. O Soro Maldito é aquele tipo de
podreira que só poderia ter sido feita nos anos 80, com seu humor ácido, toda
sua situação controversa e a forma politicamente incorreta de tratar de um tema
sério de saúde púbica, sangue em profusão, efeitos especiais ridículos e muita
tosqueira como cúmplice da quase total falta de recursos. Mas tudo isso nas
mãos de um cara como Frank Henenlotter, se torna um deleite para os fãs.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/11/25/570-o-soro-do-mal-1988/
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