Direção: John Carpenter
Roteiro: John Carpenter
Produção: Larry Franco; Sandy King (Produtor Associado); Andre Blay, Shep Gordon
(Produtores Executivos)
Elenco: Roddy Piper, Keith David, Meg Foster, George
Flower, Peter Jason, Raymond St. Jacques
John Carpenter veio com Eles Vivem mascar chiclete e chutar
bundas. Mas os chicletes acabaram. E Carpenter chuta MUITAS bundas com este que
é sem dúvida um de seus melhores filmes. Sci-fi espertíssimo
com uma caralhada de mensagens em suas entrelinhas, tantas quantas os
alienígenas que estão infiltrados em nosso planeta colocam em propagandas,
revistas,outdoors e
programas de televisão para manter os terráqueos no cabresto, enquanto praticam
sua política nefasta ao melhor estilo gafanhoto, em colonizar um planeta,
extrair todos seus recursos possíveis e depois picar a mula. É praticamente um
PSDB espacial que vemos em Eles
Vivem. Carpenter aproveita sua fase de filmes independentes para a
produtora Alive Films, que inclui o anterior Príncipe das Sombras, e dispara sua metralhadora
giratória em forma de ficção científica metafórica contra a alienação, o
consumismo, a apatia e a evidente luta de classes e desigualdade social. Os alienígenas
podem viver escondidos, camuflados entre os humanos, mas a sua mensagem para a
população são claras e cristalinas, nem um pouco diferente do que vivemos nos
dias de hoje: “obedeça”, “consuma”, “não pense”, “não questione a autoridade”,
“esse é o seu Deus” – que está impresso nas notas de dinheiro. Há uma
conspiração velada acontecendo e bem no olho do furacão é jogado John Nada,
vivido pelo lutador de wrestler Roddy Piper, que vai até Los Angeles em busca
de emprego. Consegue um bico em uma construção e se enturma com Frank (Keith
David) que mora em uma ocupação de sem tetos junto com outras famílias. Até que
uma bela noite, ao melhor estilo PM do Geraldo Alckmin, a polícia chega
descendo o cacete nos moradores e destruindo todo o assentamento. Isso tudo
porque na verdade, um grupo de resistência está se formando por ali, que sabem
toda a nefasta verdade e pretendem abrir os olhos da população por meio de
sinais piratas que aparecem nas transmissões de TV e óculos especiais onde
àqueles que os usa pode ver a verdadeira esquelética face dos alienígenas e
suas mensagens subliminares espalhados por todos os lugares. Depois de escapar
do quase Pinheirinho, Nada descola um desses óculos e resolve se juntar a
resistência, convencendo também Frank, mas não antes de sair na mão com ele em
uma cena de dez minutos de porradaria de macho, como só os anos 80 poderiam
proporcionar. Outro ponto de crítica pesada em Eles Vivem é que para que todo aquele complô galáctico
pudesse ser montado na Terra, alguns humanos teriam de estar envolvidos. E
obviamente são os figurões, políticos, executivos de TV, propaganda e magnatas.
Gente que trocou sua individualidade e até sua essência humana em troca de
poder e fortuna. Enquanto os operários da construção civil, gente normal e os
sem-teto só tomam pau e usados como massa de manobra. A esquerda contra a
direita na visão de Carpenter. Engraçadíssimo esse post vir ao ar bem
depois das eleições aqui no Brasil em que essa dicotomia se encaixa
perfeitamente e foi ampla e selvagemente discutida. E Carpenter, provavelmente
putíssimo da vida naqueles tempos, também aproveita para meter o dedo em
feridas, tanto da política econômica de Ronald Reagan, quanto dos esnobes
críticos de cinema, explícito em um das últimas (e clássicas) cenas, onde uma
versão alienígena de Gene Siskel e Roger Ebert, que apresentavam o programa
“Siskel & Ebert & The Movies” denunciam diretores como Carpenter e
George Romero pelo uso gratuito da violência, algo que faziam habitualmente (só
lembrarmos a resenha que Siskel detonou A Noite dos Mortos-Vivos anos antes). Mas deixando o
tema sério um pouco de lado, o jeitão canastríssimo de Piper é um show a parte,
uma vez que Nada leva o filme sozinho todo nas costas durante praticamente toda
a projeção. O sujeito bronco que começa calado e desconfiado de tudo e todos,
de repente quando resolve abrir a boca começa a soltar pérolas uma atrás da
outra, que entraram para o cânone dos principais quotes do cinema de terror. A mais clássica é obviamente a
“Eu vim aqui mascar chiclete e chutar bundas, mas os chicletes acabaram”,
quando ele entra munido de sua calibre doze em um banco, ou quando tromba com
uma das alienígenas feiosas vistas através das lentes do óculos especial e
solta: “você precisa é de um cirurgião plástico brasileiro”. Olha lá nossa fama
graças aos Ivos Pintaguys e Drs. Reys da vida! Dirigido e escrito por Carpenter
(sob o pseudônimo de Frank Armitage), baseado no conto “Eight O’Clock in the
Morning” de Ray Nelson, Eles Vivem é
um senhor sci-fi que
trouxe o mestre de volta à velha forma, algo que não se via plenamente
desde O Enigma de Outro Mundo, que coincidentemente é sobre
outra invasão alienígena, só que mais visceral e menos ideológica. Ambas,
perigosíssimas.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/28/553-eles-vivem-1988/
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