quinta-feira, 7 de abril de 2016

#553 1988 ELES VIVEM (They Live, EUA)


Direção: John Carpenter
Roteiro: John Carpenter
Produção: Larry Franco; Sandy King (Produtor Associado); Andre Blay, Shep Gordon (Produtores Executivos)
Elenco: Roddy Piper, Keith David, Meg Foster, George Flower, Peter Jason, Raymond St. Jacques

John Carpenter veio com Eles Vivem mascar chiclete e chutar bundas. Mas os chicletes acabaram. E Carpenter chuta MUITAS bundas com este que é sem dúvida um de seus melhores filmes. Sci-fi espertíssimo com uma caralhada de mensagens em suas entrelinhas, tantas quantas os alienígenas que estão infiltrados em nosso planeta colocam em propagandas, revistas,outdoors e programas de televisão para manter os terráqueos no cabresto, enquanto praticam sua política nefasta ao melhor estilo gafanhoto, em colonizar um planeta, extrair todos seus recursos possíveis e depois picar a mula. É praticamente um PSDB espacial que vemos em Eles Vivem. Carpenter aproveita sua fase de filmes independentes para a produtora Alive Films, que inclui o anterior Príncipe das Sombras, e dispara sua metralhadora giratória em forma de ficção científica metafórica contra a alienação, o consumismo, a apatia e a evidente luta de classes e desigualdade social. Os alienígenas podem viver escondidos, camuflados entre os humanos, mas a sua mensagem para a população são claras e cristalinas, nem um pouco diferente do que vivemos nos dias de hoje: “obedeça”, “consuma”, “não pense”, “não questione a autoridade”, “esse é o seu Deus” – que está impresso nas notas de dinheiro. Há uma conspiração velada acontecendo e bem no olho do furacão é jogado John Nada, vivido pelo lutador de wrestler Roddy Piper, que vai até Los Angeles em busca de emprego. Consegue um bico em uma construção e se enturma com Frank (Keith David) que mora em uma ocupação de sem tetos junto com outras famílias. Até que uma bela noite, ao melhor estilo PM do Geraldo Alckmin, a polícia chega descendo o cacete nos moradores e destruindo todo o assentamento. Isso tudo porque na verdade, um grupo de resistência está se formando por ali, que sabem toda a nefasta verdade e pretendem abrir os olhos da população por meio de sinais piratas que aparecem nas transmissões de TV e óculos especiais onde àqueles que os usa pode ver a verdadeira esquelética face dos alienígenas e suas mensagens subliminares espalhados por todos os lugares. Depois de escapar do quase Pinheirinho, Nada descola um desses óculos e resolve se juntar a resistência, convencendo também Frank, mas não antes de sair na mão com ele em uma cena de dez minutos de porradaria de macho, como só os anos 80 poderiam proporcionar. Outro ponto de crítica pesada em Eles Vivem é que para que todo aquele complô galáctico pudesse ser montado na Terra, alguns humanos teriam de estar envolvidos. E obviamente são os figurões, políticos, executivos de TV, propaganda e magnatas. Gente que trocou sua individualidade e até sua essência humana em troca de poder e fortuna. Enquanto os operários da construção civil, gente normal e os sem-teto só tomam pau e usados como massa de manobra. A esquerda contra a direita na visão de Carpenter.  Engraçadíssimo esse post vir ao ar bem depois das eleições aqui no Brasil em que essa dicotomia se encaixa perfeitamente e foi ampla e selvagemente discutida. E Carpenter, provavelmente putíssimo da vida naqueles tempos, também aproveita para meter o dedo em feridas, tanto da política econômica de Ronald Reagan, quanto dos esnobes críticos de cinema, explícito em um das últimas (e clássicas) cenas, onde uma versão alienígena de Gene Siskel e Roger Ebert, que apresentavam o programa “Siskel & Ebert & The Movies” denunciam diretores como Carpenter e George Romero pelo uso gratuito da violência, algo que faziam habitualmente (só lembrarmos a resenha que Siskel detonou A Noite dos Mortos-Vivos anos antes). Mas deixando o tema sério um pouco de lado, o jeitão canastríssimo de Piper é um show a parte, uma vez que Nada leva o filme sozinho todo nas costas durante praticamente toda a projeção. O sujeito bronco que começa calado e desconfiado de tudo e todos, de repente quando resolve abrir a boca começa a soltar pérolas uma atrás da outra, que entraram para o cânone dos principais quotes do cinema de terror. A mais clássica é obviamente a “Eu vim aqui mascar chiclete e chutar bundas, mas os chicletes acabaram”, quando ele entra munido de sua calibre doze em um banco, ou quando tromba com uma das alienígenas feiosas vistas através das lentes do óculos especial e solta: “você precisa é de um cirurgião plástico brasileiro”. Olha lá nossa fama graças aos Ivos Pintaguys e Drs. Reys da vida! Dirigido e escrito por Carpenter (sob o pseudônimo de Frank Armitage), baseado no conto “Eight O’Clock in the Morning” de Ray Nelson, Eles Vivem é um senhor sci-fi que trouxe o mestre de volta à velha forma, algo que não se via plenamente desde O Enigma de Outro Mundo, que coincidentemente é sobre outra invasão alienígena, só que mais visceral e menos ideológica. Ambas, perigosíssimas.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/28/553-eles-vivem-1988/

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