Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento
Produção: Claudio Argento, Salvatore Argento e
Guglielmo Garroni (Produtores Executivos)
Elenco: Leigh McCloskey, Irene Miracle, Eleonora
Giorgi, Daria Nicolodi, Sacha Pitoëf
É a vez da Mater
Tenebrarum dar as caras em A Mansão do Inferno, de Dario Argento. Concebido para ser a segunda
parte da chamada “Trilogia das Mães”, que se iniciou em Suspiria (onde somos apresentados à Mater Suspiriorum – lançado três anos
antes) e concluiu-se apenas 27 anos depois em 2006, com O Retorno da
Maldição – A Mãe das Lágrimas (com a faltante Mater Lacrimarum). Pois bem, Dario Argento é Dario Argento. E em um
filme onde ele está plenamente acompanhado de ninguém menos que Mario Bava (em
sua última participação em uma obra cinematográfica antes de sua morte no mesmo
ano), acumulando diversas funções não creditadas como operador de câmera,
técnico de luz, efeitos visuais, segundo diretor de unidade e até dirigindo os
atores em algumas cenas (como todas as cenas onde a atriz Irene Miracle está
presente), certeza que seria um espetáculo visual magnífico. Claro, que depois
de uma obra prima como Suspiria ser
apresentada, Argento não consegue atingir o mesmo impacto (e ele até clama como
sendo um dos seus filmes menos preferidos, por conta de problemas durante a
produção e uma crise de meningite que lhe atacou na época). Visualmente
impecável, com todo seu soberbo jogo de luz e sombras, abuso de cores quentes e
frias e misé-en-scene na
medida, A Mansão do Inferno a meu ver peca pela tentativa de criar
uma “complexidade desnecessária” no roteiro, com um final que deixa a desejar e
encher o longa de personagens apenas para mata-los das mais diversas e brutais
formas, como se fosse um slasher. Misturando mais uma vez elementos
sobrenaturais com a narrativa típica do giallo, A Mansão do Inferno tenta elucidar um pouco mais
sobre a história das chamadas Três Mães, três malignas e poderosas bruxas que
controlam o mundo da morte, creditadas pelo antigo Varelli, alquimista que
escreveu um compêndio sobre as Mães e construiu para cada uma delas uma casa em
três cidades diferentes do globo: em Friburgo (que já havíamos visitado em Suspiria), em Nova York (local onde se
passa a trama) e em Roma (explorada no último filme da trilogia). Na narrativa
entrecortada onde mal consegue se identificar os protagonistas e suas escusas
motivações, Rose Elliot (Irene Miracle) fica obcecada em estudar as Três Mães
por conta de um livro que adquiriu do antiquário Kazanian (Sacha Pitoëff) e
descobre que justamente o prédio de apartamentos decadente em que ela mora em
Nova York é a casa construída para a Mater
Tenebrarum, a Mãe das Trevas. Temendo por sua vida, Rose envia uma carta ao
seu irmão, Mark (Leigh McCloskey) que estuda música em Roma, para que ele venha
a seu encontro para ajudá-la. Esse acontecimento irá desencadear uma série de
assassinatos violentíssimos contra todos aqueles que tentam se aproximar da verdade.
Daí para frente, Argento simplesmente para de desenvolver sua história, que vai
voltar às pressas somente no final do terceiro ato, para distribuir
personagens, um mais excêntrico que o outro e parcialmente sem nenhuma
importância à trama, para serem estraçalhados, da já costumeira forma
grosseira, porém poética, de Argento conduzir seus assassinatos, sempre ao
melhor modelo giallo (nunca
mostrando quem são os malfeitores – alguns usam as já famosas luvas de couro
preto, e outras tem longos dedos com unhas afiadas) com facas e cutelos
atravessando gargantas, vidros sendo usados como guilhotinas e por aí vai, tudo
acompanhando pela exagerada e afetada trilha sonora de Keith Emerson. Destaque
para a bizarríssima morte de Kazanian, que vive sendo importunado por gatos
durante todo o longa e resolve dar cabo dos bichanos ensacando-os e jogando no
rio. Deficiente, podendo apenas se locomover de muletas, Kazanian depois de seu
trunfo cai na beira do imundo rio e um exército de ratos aparece para começar a
devorá-lo vivo. Implorando por socorro, um sujeito que trabalha em uma
carrocinha de cachorro quente escuta-o e sai correndo em sua direção. Então
você pensa que ele vai salvá-lo, quando não, na real, o mesmo empunha uma faca
e começa a golpear a garganta do pobre diabo. Baita sequência. Bem lá no
finalzinho, Argento depois de esbanjar litros e litros de guache emulando
sangue ao melhor estilo filme italiano de terror, há uma reviravolta que
envolve Mark, Varelli e finalmente conhecemos a tal Mãe das Trevas, seguida de
uma ridícula e desnecessária transformação dela na imagem da morte, onde parece
que foi usada uma daquelas fantasias que se compra na Ladeira Porto Geral e
funciona com um baita anticlímax. Pô, Dario… Claro que é indiscutível e
inegável o talento de Argento. O que faz A Mansão da Morte ser um
senhor filme de terror é o apreço dele pelo cinema, por todos os pequenos
detalhes com os quais se constrói um longa metragem (que ele teve total
controle), a acurácia visual de nos jogar em um mundo tétrico de pesadelos
imagéticos e mais ainda, pelo apreço ao cinema fantástico, ao sobrenatural,
jogando todos ali na sina de uma maldição impossível de se escapar, já
que somos vítimas de uma força demoníaca terrível que recai sobre meros
mortais, e o o que fazemos de melhor é deixa-las quietas e não tentar
entende-las ou domina-las, mantendo o nível de violência sempre lá em cima.
Acredito que qualquer outro diretor fracassaria de forma retumbante e seu
resultado seria risível, coisa que Argento não o faz.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/04/11/412-a-mansao-do-inferno-1980/
Nenhum comentário:
Postar um comentário