Direção: Brian Yuzna
Roteiro: Rick Fry, Woody Keith
Produção: Keith Walley; Keizo Kabata, Terry
Ogisu, Paul White (Produção Executiva)
Elenco: Billy
Warlock, Devin DeVasquez, Evan Richards, Bem Meyerson, Charles Lucia, Concetta
D’Agnese, Patrice Jennings
A Sociedade dos Amigos do Diabo é o debute do
até então produtor Brian Yuzna na direção. E olhe, que debute, hein! A película
sem dúvida nenhuma é um dos mais interessantes e inventivos filmes do final dos
anos 80, quando o gênero já começava a capengar de acordo. E o que é aquela
sensacional, bizarra e surrealista sequência final? Bem, o filipino Yuzna como
você deve bem saber (assim espero) foi o produtor de Re-Animator – A Hora dos Mortos-Vivos e Do Além, ambos para a Empire
Pictures de Charles Band, dirigidos por Stuart Gordon e baseados na obra de
H.P. Lovecraft. A influência dos aspectos gore e do tipo de horror
corporal dos dois longas, assim como o estilo do escritor americano, estão
completamente presentes em A Sociedade dos Amigos do Diabo. Apesar do
título nacional safado, certamente dado pelo departamento de marketing da
distribuidora do VHS para atrair inadvertidamente os incautos, não espere
absolutamente nada referente a um culto ou seita satânica. O original, apenas Society,
faz jus à uma espécie de sociedade privilegiada de endinheirados esnobes de
Beverly Hills, onde Yuzna aponta sua metralhadora giratória de crítica social
durante todo o longa. Mas que obviamente, escondem algo muito sinistro. É
exatamente isso que Bill Whitney (Billy Warlock) com seus mullets e visual tão típicos dos 80’s
começa a suspeitar, achando estar ficando paranoico ao perceber aos poucos que
alguma coisa muito esquisita acontece com a sua família, principalmente na
estranha relação entre seu pai, Jim (Charles Lucia), sua mãe, Nan (Connie
D’Agnese) e sua irmã, Jenny (Patrice Jennings) que está preste a ser iniciada
na tal sociedade. Esse clima de incerteza que o ronda é desmistificado pelo
psicólogo com qual faz terapia, dizendo que é completamente normal essa crise
de identidade e de aceitação nos adolescentes. Fora as visões que Bill passa a
ter, como vermes nos alimentos e o momento em que o caldo começa a entornar
mesmo, ver a irmã tomando banho através do vidro do box com uma BUNDA FRONTAL!
O ex-namorado de sua irmã, David Blanchard (Tim Bartell) até tenta alertá-lo
sobre a sociedade, mostrando uma fita que gravou de uma conversa entre seus
pais, dizendo que finalmente Jenny faria sexo com alguém da sociedade para sua
iniciação e algo que depois parecia ser o casal e filha praticando incesto. Obviamente,
Bill entrará em parafuso e uma sequência de acontecimentos irá cada vez mais
aumentando a paranoia do adolescente e desacreditando-o em seguida, tudo parte
de um plano muito bem elaborado que parece envolver todos os moradores da
cidade, da polícia aos estudantes do colégio, do juiz ao próprio psicólogo.
Yuzna em entrevistas citou No No Silêncio das Trevas e O Bebê de Rosemary como as maiores influencias para o
clima construído em A Sociedade dos Amigos do Diabo. E falando ainda no
clássico de Polansky, tudo caminhava realmente para um final onde uma grande
seita seria apresentada, até que BANG! Yuzna nos surpreende com uma revelação (porém
sem revelar absolutamente porra nenhuma, o que é genial!) inesperada.
E aí
vem um ALERTA DE SPOILER. Então pule os próximos parágrafos ou leia por
sua conta e risco.
Quando Billy finalmente é capturado, junto
com Blanchard, que supostamente deveria estar morto, descobrimos que o rapaz na
verdade é adotado e foi criado por seus pais apenas para servir de alimento,
assim como o amigo, para um bando de criaturas mutantes amorfas derretidas e
bizarras que eles se transformam. Inspirado em um quadro surreal de Salvador
Dalí, os ali presentes começam a derreter, mutar e assimilarem-se uns aos
outros enquanto, tornando-se uma só massa disforme, devoram e absorvem o pobre
Blanchard com Billy de testemunha, em uma cena que é dificílima de descrever em
palavras. Nesse momento, espere todo tipo de bizarrice dos efeitos especiais,
com membros elásticos, junção de troncos e pernas e o inesquecível Cara de
bunda, o pai de Billy transformado com um rosto no traseiro! Tudo repleto de
humor negro e música clássica tocando, como Danúbio Azul. Mesmo com a resolução
das mais bobinhas, essa sequência final simplesmente coloca o filme em outro
nível. Os grotescos efeitos especiais que dão a tônica foram realizados pelo
japonês Screaming Mad George, sugerido pelos produtores também japoneses do
longa, que fez parte da equipe de criação dos efeitos da criatura de O Predador, Poltergeist II – O Outro Lado, Os
Aventureiros do Bairro Proibido de John Carpenter e a célebre sequência da
barata de A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos
Sonhos,
voltando até a trabalhar com Yuzna futuramente nas sequências de Re-Animator. Outro
mote interessantíssimo de A Sociedade dos Amigos do Diabo é a
crítica social enrustida ao modo de vida e comportamento dos playboyzinhos de
Beverly Hills (e no geral) e suas sociedades e confrarias, a obsessão pelo
status, pela aceitação em fazer parte de um grupo de pessoas poderosas,
endinheiras e esnobe e como esses tipos absorvem, canibalizam e desprezam as
diferenças e assimilam tudo a seu redor em uma única massa alienada. Inclusive
o roteirista Woody Keith veio de Beverly Hills, de uma família excêntrica e
disfuncional que vivia de aparências como de Bill Whitney e muitos dos
personagens foram baseados em pessoas reais que conheceu na cidade. A Sociedade
dos Amigos do Diabo é uma brisa deliciosa naquele encerrar de uma década
recheada de slashers, sequências ad-infinitum e produções trash de
baixa qualidade que já estavam saturando o gênero e preparando uma derrocada
quase sem volta nos anos que estariam por vir.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/12/17/585-a-sociedade-dos-amigos-do-diabo-1989/
Nenhum comentário:
Postar um comentário