Direção: Tommy
Lee Wallace
Roteiro: Lawrence
D. Cohen, Tommy Lee Wallace (baseado na obra de Stephen King)
Produção: Mark
Bacino, Allen S. Epstein, Jim Green (Produtores Executivos)
Elenco: Jonathan Brandis, Brandon Crane, Adam Faraizl, Tim Curry,
Emily Perkins, Seth Green, Harry Anderson, Dennis Christopher, Richard Mansur,
Annette O’Toole, Tim Reid, John Ritter, Richard Thomas
Taí um subtítulo que
faz jus! It – Uma Obra Prima
do Medo.
O livro “A Coisa”, de Stephen King, merece com todo louvor esse status de “obra
prima do medo”. Já o telefilme, dividido em duas partes, dirigido por Tommy Lee
Wallace, QUASE chega lá nesse grau de merecimento, se não fosse pelo seu final.
Sim aquele lá da aranha gigante, que nas páginas datilografadas pelo escriba do
Maine tem todo um contexto psicológico que vai sendo desenvolvido durante suas
mais de mil páginas e te prepara para aquilo, e na versão cinematográfica vira
uma tosqueira de efeitos especiais ruins em uma batalha sem graça, com uma
sinergia péssima entre os atores. Tudo isso logo no primeiro parágrafo, para
você concordar ou tolerar e continuar lendo a resenha, ou então me mandar para
a puta que pariu e fechar a aba do 101 aberta em seu Chrome, Firefox ou Safari
(você não usa Internet Explorer, certo?). Tipo, estava tudo caminhando tão bem…
O filme conseguia te prender, fazer você se identificar com os garotos do
“Clube dos Derrotados”, reviver aquele já famoso clima que só o Stephen King
sabe criar, colocando crianças comuns em uma situação macabra, e depois
acompanhando o desenrolar de suas vidas adultas e o que os acontecimentos de um
verão passado fizeram em suas cabeças. E o que falar do Pennywise de Tim Curry,
que consideramos pacas? Eternizou mais um dos ícones do cinema de terror de
todos os tempos. Mas, sacumé. Produção para a TV, falta
de budget para os efeitos especiais, um final apressado para caber
dentro dos 90 minutos reservados para o segundo episódio, atores de segundo
escalão em uma cena clímax que se perde e It acaba virando um coito
interrompido que estava se mostrando a gozada do século. Até o próprio diretor
disse que sente a mesma coisa, nos comentários do DVD. Mas a gente releva isso
vai, porque realmente, o telefilme é um dos poucos que acertam na veia no
difícil e problemático quesito: adaptar uma obra de King para as telas. Então
vale o mérito e a gente desculpa a derrapada. Então tá, vamos falar de coisa
boa, que não é a Tekpix e nem a iogurteira Top Term. It é capaz de
meter medo geral na molecada e naqueles com coulrofobia, mostrando simplesmente
o mais sinistro e aterrador palhaço do cinema (e provavelmente da literatura),
uma encarnação sádica de uma entidade espectral faminta por crianças,
Pennywise, O palhaço dançarino, que faria John Wayne Gacy se orgulhar, usando a
sua fantasia de personagem circense para atrair os pequenos e leva-los para um
lugar onde todos flutuam como balões. Na cidade de Derry, no Maine (ah, vá?)
uma série de bizarros desaparecimentos de crianças sem solução faz com que o bibliotecário
Mike Hanlon (Tim Reid) convoque seus amigos de infância, membros do refinado
“Clube dos Derrotados” para cumprir uma promessa feita há 30 anos, quando o
mesmo sumiço dos infantes acontecera durante o fatídico verão em que eles
conhecerem “a Coisa”, ou “Aquilo”, “It”, como eles o chamam. Cada um dos outros
seis integrantes levou sua vida para frente, mudou-se para diversas partes dos
EUA e construíram carreiras de sucesso, se esquecendo dos acontecidos. Mas “a
Coisa” voltara, e eles haviam prometido que retornariam para acabar com ela de
uma vez por todas, após um confronto com a criatura maligna nos esgotos, usando
brincos de prata, uma atiradeiras e bombinha para asma, durante o início dos
anos 60. O primeiro episódio que foi ao ar pelo canal ABC, em 18 de novembro de
1990, a quinta maior audiência para um domingo, visto por 17 milhões de
telespectadores, traz exatamente o passado da garotada, mostrando seus
problemas e dramas pessoais, a construção de sua amizade (e de uma barragem), a
perseguição por um bando de arruaceiros repetentes que
praticavam bullying com eles, Pennywise explorando cada um de seus
medos, seus piores pesadelos e oferecendo balões, tudo contado em forma
de flashback enquanto Mike
Hanlon liga para cada um deles, perguntando se voltarão para a cidade e
honrarão com sua promessa. Passado trinta anos, o ex-gago William “Bill”
Denbrough, que perdera seu irmão mais novo, Georgie, para a “Coisa” (“Come on,
bucko! Don’t you want a baloon?” – a mais célebre frase do longa) e tornou-se
um escritor de livros de terror (seu maior sucesso parece ser “The Glowing”,
título um pouco parecido com “The Shining”, não?); o comediante afetado e
hiperativo Richard Tozler (Harry Anderson); o dono de um negócio de chofer,
filhinho de mamãe, virjão e hipocondríaco, Eddie Kaspbrak (Dennis Christopher);
a designer de moda e “mulher de malandro” Beverly Marsh (Annette O’Toole); e o
ex-gordinho e arquiteto de sucesso capa da Time, Ben Hanscom (John Ritter)
voltam a Derry para a derradeira luta contra a entidade sobrenatural em forma
de palhaço, e mesmo depois de marmanjos, ainda se cagam de pavor do sujeito. A
baixa do grupo foi do medroso Stanely Uris (Richard Masur), o único que
realmente encarou Pennywise e sua “luz da morte” durante o embate no esgoto e
acaba se suicidando na banheira de sua casa para não viver aquela experiência
traumática de novo. Os adultos em Derry e o palhaço manipulando suas cabeças é
a tônica da segunda parte, que foi televisionada no dia 20 de novembro, sendo a
segunda maior audiência da TV em uma terça-feira, em todos os tempos, vista por
mais de 19 milhões de pessoas. Existem três fatores preponderantes no sucesso
de It – Uma Obra Prima do Medo. O primeiro é que ele não parece um
telefilme, feito para a TV. Hoje em dia é que vivemos o auge das produções da
HBO, AMC, Showtime e por aí vai, com qualidade indiscutível, atuações
fantásticas e produções no nível de Breaking
Bad, True Detective ou Game of Thrones. Naqueles idos dos anos 90, a
televisão era tipo a série C (a série B eram os “direto para o vídeo”) e só os
refugos trabalhavam em minisséries, telefilmes ou seriados. Então surgiu um
termo pejorativo de “filme com cara de feito para a TV”. It não tem
esse aspecto de “filme com cara de feito para a TV”. Isso muito se deve a expertise
da condução do mesmo por Tommy Lee Wallace, protegido e aprendiz de ninguém
menos que John Carpenter. Há uma qualidade inegável na produção, apesar de toda
a dificuldade, principalmente de orçamento. O segundo é que elevou um pouco o
nível da violência também. A cena do sangue escorrendo da foto de Georgie não
era nem um pouco comum (e aceitável) em uma produção de TV na década de 90. Se
hoje você se delicia com a selvageria de Spartacus ou The Walking
Dead (ou ainda de Hannibal, que passa na TV aberta, como foi o caso
deIt), é porque a produção ousou e deu um passo a frente para pavimentar esse
caminho sem volta. O terceiro é o ROLO COMPRESSOR chamado Tim Curry, que quase
não aceitou o papel por conta dos traumas em levar horas para ser maquiado em A
Lenda. Eu nunca tinha me dado a real conta de quanto ele está F..., até
assistir novamente para escrever sobre, e quanto seus trejeitos, misturando
humor negro, sarcasmo e horror na medida perfeita, elevam o nível, dando uma
singularidade inesquecivelmente maléfica a Pennywise e faz com que ele
simplesmente ENGULA todo o restante do elenco (e não só as criancinhas, RÁ!). Infelizmente,
na conclusão, a aranha subiu pela parede e o gato subiu no telhado, e fica
aquele gostinho amargo, estragando algo que poderia ser perfeito, que até acaba
diminuindo It – Uma Obra Prima do Medo pelos espectadores em geral e
até mesmo pelos fãs (principalmente do livro), mas são só dez minutos finais
mediante outras 2h50 excelentes. Passado anos e anos, geração após geração nunca
comenta sobre a aranha de borracha tosca, mas sobre Pennywise, sobre a forma
como Tim Curry o imortalizou e o medo que você sentiu daquele arlequim macabro
com seus dentes afiados. Então o filme funciona e marca para sempre, e detalhes
sórdidos acabam não importando no frigir dos ovos.
FONTE: https://101horrormovies.com/lista-dos-1001-filmes-de-terror/
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