quarta-feira, 18 de maio de 2016

#586 1989 TETSUO O HOMEM DE FERRO (Tetsuo / Tetsuo: The Iron Man, Japão)


Direção: Shinya Tsukamoto
Roteiro: Shinya Tsukamoto
Produção: Shinya Tsukamoto
Elenco: Tomorowo Taguchi, Kei Fujiwara, Nobu Kanaoka, Shinya Tsukamoto

Tetsuo: O Homem de Ferro é o típico filme WTF! Japonesada mostrando como sempre a forma que consegue sair mega fora da caixinha e apresentar uma obra bizarríssima que rompe com todo tipo de padrão cinematográfico possível, e o que invariavelmente, faz com que ele não consiga ser digerido facilmente para todo o tipo de púbico. Bem, tentando resumir um pouco, o filme dirigido, escrito, produzido, editado, fotografado e estrelado por Shinya Tsukamoto é uma mistura tresloucada de David Lynch e David Cronenberg em seu início de carreira, com mangá, anime (principalmente Akira de Katsuhiro Otomo) e também a tradição nipônica de samurais, monstros e ficção científica, com toda uma estética cyberpunk e op art que a qualquer momento parece que vai aparecer o logotipo da MTV naquelas vinhetas doidas do canal nos anos 80 e 90. Experimental até a medula e todo feito pelo esforço hercúleo e desvairado de Tsukamoto, Tetsuo é completamente hermético, filmado em preto e branco, com pouquíssimos diálogos, abusa de efeitos especiais crus e stop-motion, corte e colagem abrupta de várias cenas desencontradas, mas que representam um todo na narrativa maluca, que aborda e transcende a alienação, o fetichismo, o terrível avançar tecnológico, tudo culminando no horror corporal. Apesar do surrealismo gritante e que pode até desconectar o espectador que é bombardeado com tanta informação tétrica que parece sem sentindo (mas não é), o roteiro é simples e direto, capaz de criar uma viagem intensa na sua curta duração de pouco mais de uma hora. O filme começa com um personagem fetichista por metal, que vive em um ambiente sujo e enferrujado, cercado de ferro por todo o lado, abrindo um talho em sua coxa e enfiando uns pedaços de metal dentro. O corpo dele rejeita a inserção forçada e começa a entrar em putrefação com direito a vermes e tudo mais. O sujeito sai correndo em disparada na rua e é atropelado. Quem o atropelou é um homem normal da classe média trabalhadora japonesa, um “assalariado”, como é conhecido e não dá a mínima para o acidente, aferindo o sentimento de alienação e individualização, bem representado por aquele Japão fabril e acelerado no movimento de evolução tecnológica. Esse é o momento que remete às referências de David Lynch e seu Eraserhead. Ao se barbear, o homem é contaminado pelo metal do aparelho que encrava em seu rosto e a partir daí, uma bizarra transformação se dará início, com partes mecânicas surgindo deliberadamente no corpo do assalariado, substituindo sua carne (ou se transformando na “nova carne”, agora remetendo ao cinema de Cronenberg, ao melhor estilo Videodrome – A Síndrome do Vídeo). O pobre diabo ao descer do metrô após mais um dia de trabalho é perseguido por uma mulher bizarríssima com pedaços de sucata retorcidos em seu braço, que na verdade é uma extensão do fetichista que começa a espalhar sua infecção metálica. Ao conseguir escapar as duras penas e chegar em casa, a transformação em máquina começa a atingir um outro nível, com partes de seu corpo sendo substituído por ferro, assim como rebites, fios, porcas, parafusos e o surgimento de uma gigantesca broca peniana! O fetiche, a frustração sexual e as taras agora são o mote da vez, representados pelo relacionamento do homem com sua namorada (amplificados até pelo bizarríssimo pesadelo em que ele é currado por um conduíte metálico que é projetado da mesma!), desenvolvendo um comportamento agressivo na tentativa de possui-la, resultando em uma experiência sangrenta e traumática. Tal qual nas heroicas batalhas dos super-heróis japoneses, o fetichista acorda e então se dará o confronto entre os dois, uma vez que a intenção da criatura é das mais megalomaníacas: dominar o mundo e revesti-lo completamente de metal. Mas para isso, ele assimila seu assassino, transformando ambos em um único ferro-velho vivo disforme, e convence-o a abraçar a sua nova natureza tecnológica e todos os prazeres inerentes em ser um escravo do metal, do ferro, da fundição, do industrial. Deus ex machina no sentido mais ficção científica japonesa possível. Completa a experiência cinematográfica única de se assistir a Tetsuo as cenas em câmera na mão, a edição vertiginosa, o flash forward, a excelente fotografia suja e opressora e a música industrial e crua de Chu Ishiwaka, que ajuda e muito a manter um clima paranoico de descontrole e até aversão.  E apesar da extrema limitação orçamentária, temos de tirar o chapéu para Tsukamoto, que conseguiu contornar tudo isso (a fotografia P&B ajuda MUITO) mostrando efeitos visuais satisfatórios e também graças ao abuso de uma baita criatividade estética para tal. Tetsuo: O Homem de Ferro é deveras perturbador, grosseiro, visceral, impactante e visualmente desconexo, por isso é muito importante entrar de cabeça na proposta surreal de Tsukamoto e claro, estar no mood para assistir ao filme. E chupa Tony Stark!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/12/18/586-tetsuo-o-homem-de-ferro-1989/

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