Direção: Shinya Tsukamoto
Roteiro: Shinya Tsukamoto
Produção: Shinya Tsukamoto
Elenco: Tomorowo Taguchi, Kei Fujiwara,
Nobu Kanaoka, Shinya Tsukamoto
Tetsuo: O Homem de Ferro é o típico
filme WTF! Japonesada mostrando como sempre a forma que consegue sair mega fora
da caixinha e apresentar uma obra bizarríssima que rompe com todo tipo de
padrão cinematográfico possível, e o que invariavelmente, faz com que ele não
consiga ser digerido facilmente para todo o tipo de púbico. Bem, tentando
resumir um pouco, o filme dirigido, escrito, produzido, editado, fotografado e
estrelado por Shinya Tsukamoto é uma mistura tresloucada de David Lynch e David
Cronenberg em seu início de carreira, com mangá, anime (principalmente Akira de
Katsuhiro Otomo) e também a tradição nipônica de samurais, monstros e ficção
científica, com toda uma estética cyberpunk e op art que a qualquer
momento parece que vai aparecer o logotipo da MTV naquelas vinhetas doidas do
canal nos anos 80 e 90. Experimental até a medula e todo feito pelo esforço
hercúleo e desvairado de Tsukamoto, Tetsuo é completamente hermético,
filmado em preto e branco, com pouquíssimos diálogos, abusa de efeitos
especiais crus e stop-motion, corte e colagem abrupta de várias cenas
desencontradas, mas que representam um todo na narrativa maluca, que aborda e
transcende a alienação, o fetichismo, o terrível avançar tecnológico, tudo
culminando no horror corporal. Apesar do surrealismo gritante e que pode até
desconectar o espectador que é bombardeado com tanta informação tétrica que
parece sem sentindo (mas não é), o roteiro é simples e direto, capaz de criar
uma viagem intensa na sua curta duração de pouco mais de uma hora. O filme
começa com um personagem fetichista por metal, que vive em um ambiente sujo e
enferrujado, cercado de ferro por todo o lado, abrindo um talho em sua coxa e
enfiando uns pedaços de metal dentro. O corpo dele rejeita a inserção forçada e
começa a entrar em putrefação com direito a vermes e tudo mais. O sujeito sai
correndo em disparada na rua e é atropelado. Quem o atropelou é um homem normal
da classe média trabalhadora japonesa, um “assalariado”, como é conhecido e não
dá a mínima para o acidente, aferindo o sentimento de alienação e
individualização, bem representado por aquele Japão fabril e acelerado no movimento
de evolução tecnológica. Esse é o momento que remete às referências de David
Lynch e seu Eraserhead. Ao se barbear, o homem é contaminado pelo
metal do aparelho que encrava em seu rosto e a partir daí, uma bizarra
transformação se dará início, com partes mecânicas surgindo deliberadamente no
corpo do assalariado, substituindo sua carne (ou se transformando na “nova
carne”, agora remetendo ao cinema de Cronenberg, ao melhor estilo Videodrome – A Síndrome do Vídeo). O pobre diabo ao
descer do metrô após mais um dia de trabalho é perseguido por uma mulher
bizarríssima com pedaços de sucata retorcidos em seu braço, que na verdade é
uma extensão do fetichista que começa a espalhar sua infecção metálica. Ao
conseguir escapar as duras penas e chegar em casa, a transformação em máquina
começa a atingir um outro nível, com partes de seu corpo sendo substituído por
ferro, assim como rebites, fios, porcas, parafusos e o surgimento de uma
gigantesca broca peniana! O fetiche, a frustração sexual e as taras agora são o
mote da vez, representados pelo relacionamento do homem com sua namorada
(amplificados até pelo bizarríssimo pesadelo em que ele é currado por um
conduíte metálico que é projetado da mesma!), desenvolvendo um comportamento
agressivo na tentativa de possui-la, resultando em uma experiência sangrenta e
traumática. Tal qual nas heroicas batalhas dos super-heróis japoneses, o
fetichista acorda e então se dará o confronto entre os dois, uma vez que a
intenção da criatura é das mais megalomaníacas: dominar o mundo e revesti-lo
completamente de metal. Mas para isso, ele assimila seu assassino,
transformando ambos em um único ferro-velho vivo disforme, e convence-o a
abraçar a sua nova natureza tecnológica e todos os prazeres inerentes em ser um
escravo do metal, do ferro, da fundição, do industrial. Deus ex
machina no sentido mais ficção científica japonesa possível. Completa a
experiência cinematográfica única de se assistir a Tetsuo as cenas em
câmera na mão, a edição vertiginosa, o flash forward, a excelente
fotografia suja e opressora e a música industrial e crua de Chu Ishiwaka, que
ajuda e muito a manter um clima paranoico de descontrole e até aversão. E
apesar da extrema limitação orçamentária, temos de tirar o chapéu para
Tsukamoto, que conseguiu contornar tudo isso (a fotografia P&B ajuda MUITO)
mostrando efeitos visuais satisfatórios e também graças ao abuso de uma baita
criatividade estética para tal. Tetsuo: O Homem de Ferro é deveras
perturbador, grosseiro, visceral, impactante e visualmente desconexo, por isso
é muito importante entrar de cabeça na proposta surreal de Tsukamoto e claro, estar
no mood para assistir ao filme. E chupa Tony Stark!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/12/18/586-tetsuo-o-homem-de-ferro-1989/
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