Direção: Frank
Henenlotter
Roteiro: Robert
Martin, Frank Henenlotter
Produção: Edgar
Ievins; James Glickenhaus (Produtor Executivo)
Elenco: James Lorinz, Joanne Ritchie, Patty Mullen, J. J. Clark, C.K.
Steefel, Shirl Bernheim, Judy Grafe, Louise Lasser, Helmar Augustus Cooper
Frank Henenlotter é
uma espécie de David Cronenberg às avessas. Tudo bem que tirando suas devidas
proporções, assim como o cinema do canadense, Henenlotter adora filmar sobre a
carne, bizarrices científicas, vícios, críticas sociais e má pratica da
medicina, mas claro, que com os dois pés enfincados no trash e sem a
menor pretensão de se levar a sério. Frankenhooker – Que Pedaço de Mulher é mais um
exemplo cabal disso. Aliás, um ínterim aqui antes de continuar o texto: mas que
GENIAL quem colocou esse subtítulo com o trocadilho zueiro: “que pedaço de
mulher”. Meus parabéns, ó! Voltando, Henenlotter entrou de vez no “ramo” ao
entregar a pérola da trasheira Basket Case, já dando uma prévia das suas intenções para
com o cinema de terror, fazendo dos assuntos citados acima o mote de suas
bagaceiras, seguindo com O Soro do Mal e chegando aqui em Frankenhooker já
no começo da década de 90, mas todo enraizado nos 80’s. O título já diz a que
veio de forma bem clara. A tradução literal seria algo como
“Frankenprostituta”, fazendo uma analogia ao famoso monstro de Frankenstein e
as profissionais da noite. Então já pode se esperar que bagaceira e escracho,
marcas registradas de Henenlotter que sempre andam juntas em sua obra, viria
por aí. A trama nos apresenta Jeffrey (James Lorinz) um sujeito que trabalha
como eletricista, mas sua verdadeira paixão é a medicina, fazendo bicos, tipo
reconstruindo um cérebro e lipoaspirações em sua noiva, Elizabeth Shelley (veja
se tanto o nome quanto sobrenome da personagem lhe é familiar). Elizabeth tem
um problema de autoestima, pois é um pouco “cheinha” e tem compulsão em
comer pretzels, já tentado várias dietas e sendo veladamente censurada por
sua mãe com relação ao peso. Em um churrasco de aniversário de seu pai, ela
morre de uma forma acidentalmente trágica e sanguinária, sendo esfacelada por
uma máquina de cortar grama, construída por Jeffrey de presente para o sogrão.
O corpo da mulher fica severamente mutilado e irreconhecível, apenas com sua
cabeça e poucas partes intactas, essas que misteriosamente sumiram. Misteriosamente
para a polícia e imprensa, pois Jeffrey as roubou para manter em um freezer
boiando dentro de um composto químico a base de estrógeno que desenvolveu para
que não apodrecesse, e assim, varrido por uma onda de depressão e obsessão
quanto a ressuscitar a moça, resolve esperar uma forte tempestade que se
aproximará nos próximos dois dias e galvanizar a ex-noiva, para trazê-la a vida,
tal qual o Dr. Frankenstein. Mas como ele não possui um corpo inteiro irá atrás
de prostitutas para escolher só as melhores partes das garotas, afinal se você
vai reconstruir a noiva, nada do que pegar umas gostosas, ideia que ele teve
por meio de um interessante e maluco processo criativo: enfiar a broca de uma
furadeira em sua cabeça, para realizar uma espécie de lobotomia, que faz com
que acelere seus pensamentos e lhe dê ideias mirabolantes. Pois bem, como se
não bastasse todos os problemas de ordem social e psicológica apresentados por
Jeffrey, eis que Henenlotter mais uma vez mexe na ferida do “mundo cão”
nova-iorquino dos anos 80 e 90, também um dos grandes elementos de sua
filmografia (como já visto em Basket Case e O Soro do Mal). A
prostituição e o vício de drogas é o tema da vez, principalmente a relação
entre as rameiras e seu cafetão, no caso o caricato Zorro (Joseph Gonzales), um
sujeito todo saradão, de bigode, que usa regatas coloridas e calças estampadas,
além de um medalhão com um Z no peito, que também é traficante e fornece crack
para as meninas fumarem. Aproveitando o problema das crackwhores, Jeffrey
cria então o “supercrack” usando de seus conhecimentos químicos. Só que há um
terrível efeito colateral, ao ser fumado, ele faz com que as pessoas EXPLODAM! Jeffrey
marca uma festinha com várias alcoviteiras, com a consciência limpa, pois “quem
irá mata-las é a droga, e não ele” e ao fumarem, elas explodem em pedaços (em
uma cena ridiculamente engraçada com manequins estourando) e então é só o
“cientista louco” colocar suas partes em um saco de lixo e levar para
reconstruir a amada, terminando com a necessidade de ter que jantar à luz
de velas só com sua cabeça decapitada nas noites solitárias. Usando as mãos de
uma, as pernas de outra, a bunda de outra, as tetas de outra, ele reconstrói
Jennifer, mas óbvio que o experimento dará errado, pois ela voltará em
ummix de personalidades de todas as meretrizes. Ainda vai rolar um acerto
de contas com o Zorro, uma vez que todas as suas meninas desapareceram, a nova
Elizabeth sairá pelas ruas de Nova York pegando clientes e usando seus poderes
elétricos para que eles explodam, e no final um embate monstruoso entre Jeffrey
e as demais partes das prostitutas descartadas, que se juntaram em massas disformes
de membros, bocas e órgãos sexuais, até a conclusão em sua última cena,
surpreendente, quando ele acaba pagando por seus experimentos e por “brincar de
Deus” da forma mais bizarra possível. Frankenhooker – Que Pedaço de
Mulher é todo Henenlotter. Seu cinema ácido, de humor negro e com toda a
pitada de trash sem medo de ser feliz, com efeitos especiais e de
maquiagem toscos, que não se leva a sério, mas esconde uma profunda crítica
social por de trás está ali presente, e ainda funciona como uma bela e escrachada
homenagem aos clássicos de cientista louco da Era de Ouro de Hollywood e
do sci-fi dos anos 50, tudo com o resquício da estética
do terrir dos anos 80, em seus últimos suspiros ao adentrar na década
seguinte.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/01/27/600-frankenhooker-que-pedaco-de-mulher-1990/
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