quinta-feira, 26 de maio de 2016

#600 1990 FRANKENHOOKER QUE PEDAÇO DE MULHER (Frankenhooker, EUA)


Direção: Frank Henenlotter
Roteiro: Robert Martin, Frank Henenlotter
Produção: Edgar Ievins; James Glickenhaus (Produtor Executivo)
Elenco: James Lorinz, Joanne Ritchie, Patty Mullen, J. J. Clark, C.K. Steefel, Shirl Bernheim, Judy Grafe, Louise Lasser, Helmar Augustus Cooper

Frank Henenlotter é uma espécie de David Cronenberg às avessas. Tudo bem que tirando suas devidas proporções, assim como o cinema do canadense, Henenlotter adora filmar sobre a carne, bizarrices científicas, vícios, críticas sociais e má pratica da medicina, mas claro, que com os dois pés enfincados no trash e sem a menor pretensão de se levar a sério. Frankenhooker – Que Pedaço de Mulher é mais um exemplo cabal disso. Aliás, um ínterim aqui antes de continuar o texto: mas que GENIAL quem colocou esse subtítulo com o trocadilho zueiro: “que pedaço de mulher”. Meus parabéns, ó! Voltando, Henenlotter entrou de vez no “ramo” ao entregar a pérola da trasheira Basket Case, já dando uma prévia das suas intenções para com o cinema de terror, fazendo dos assuntos citados acima o mote de suas bagaceiras, seguindo com O Soro do Mal e chegando aqui em Frankenhooker já no começo da década de 90, mas todo enraizado nos 80’s. O título já diz a que veio de forma bem clara. A tradução literal seria algo como “Frankenprostituta”, fazendo uma analogia ao famoso monstro de Frankenstein e as profissionais da noite. Então já pode se esperar que bagaceira e escracho, marcas registradas de Henenlotter que sempre andam juntas em sua obra, viria por aí. A trama nos apresenta Jeffrey (James Lorinz) um sujeito que trabalha como eletricista, mas sua verdadeira paixão é a medicina, fazendo bicos, tipo reconstruindo um cérebro e lipoaspirações em sua noiva, Elizabeth Shelley (veja se tanto o nome quanto sobrenome da personagem lhe é familiar). Elizabeth tem um problema de autoestima, pois é um pouco “cheinha” e tem compulsão em comer pretzels, já tentado várias dietas e sendo veladamente censurada por sua mãe com relação ao peso. Em um churrasco de aniversário de seu pai, ela morre de uma forma acidentalmente trágica e sanguinária, sendo esfacelada por uma máquina de cortar grama, construída por Jeffrey de presente para o sogrão. O corpo da mulher fica severamente mutilado e irreconhecível, apenas com sua cabeça e poucas partes intactas, essas que misteriosamente sumiram. Misteriosamente para a polícia e imprensa, pois Jeffrey as roubou para manter em um freezer boiando dentro de um composto químico a base de estrógeno que desenvolveu para que não apodrecesse, e assim, varrido por uma onda de depressão e obsessão quanto a ressuscitar a moça, resolve esperar uma forte tempestade que se aproximará nos próximos dois dias e galvanizar a ex-noiva, para trazê-la a vida, tal qual o Dr. Frankenstein. Mas como ele não possui um corpo inteiro irá atrás de prostitutas para escolher só as melhores partes das garotas, afinal se você vai reconstruir a noiva, nada do que pegar umas gostosas, ideia que ele teve por meio de um interessante e maluco processo criativo: enfiar a broca de uma furadeira em sua cabeça, para realizar uma espécie de lobotomia, que faz com que acelere seus pensamentos e lhe dê ideias mirabolantes. Pois bem, como se não bastasse todos os problemas de ordem social e psicológica apresentados por Jeffrey, eis que Henenlotter mais uma vez mexe na ferida do “mundo cão” nova-iorquino dos anos 80 e 90, também um dos grandes elementos de sua filmografia (como já visto em Basket Case e O Soro do Mal). A prostituição e o vício de drogas é o tema da vez, principalmente a relação entre as rameiras e seu cafetão, no caso o caricato Zorro (Joseph Gonzales), um sujeito todo saradão, de bigode, que usa regatas coloridas e calças estampadas, além de um medalhão com um Z no peito, que também é traficante e fornece crack para as meninas fumarem. Aproveitando o problema das crackwhores, Jeffrey cria então o “supercrack” usando de seus conhecimentos químicos. Só que há um terrível efeito colateral, ao ser fumado, ele faz com que as pessoas EXPLODAM! Jeffrey marca uma festinha com várias alcoviteiras, com a consciência limpa, pois “quem irá mata-las é a droga, e não ele” e ao fumarem, elas explodem em pedaços (em uma cena ridiculamente engraçada com manequins estourando) e então é só o “cientista louco” colocar suas partes em um saco de lixo e levar para reconstruir a amada, terminando com a necessidade de ter que jantar à luz de velas só com sua cabeça decapitada nas noites solitárias. Usando as mãos de uma, as pernas de outra, a bunda de outra, as tetas de outra, ele reconstrói Jennifer, mas óbvio que o experimento dará errado, pois ela voltará em ummix de personalidades de todas as meretrizes. Ainda vai rolar um acerto de contas com o Zorro, uma vez que todas as suas meninas desapareceram, a nova Elizabeth sairá pelas ruas de Nova York pegando clientes e usando seus poderes elétricos para que eles explodam, e no final um embate monstruoso entre Jeffrey e as demais partes das prostitutas descartadas, que se juntaram em massas disformes de membros, bocas e órgãos sexuais, até a conclusão em sua última cena, surpreendente, quando ele acaba pagando por seus experimentos e por “brincar de Deus” da forma mais bizarra possível. Frankenhooker – Que Pedaço de Mulher é todo Henenlotter. Seu cinema ácido, de humor negro e com toda a pitada de trash sem medo de ser feliz, com efeitos especiais e de maquiagem toscos, que não se leva a sério, mas esconde uma profunda crítica social por de trás está ali presente, e ainda funciona como uma bela e escrachada homenagem aos clássicos de cientista louco da Era de Ouro de Hollywood e do sci-fi dos anos 50, tudo com o resquício da estética do terrir dos anos 80, em seus últimos suspiros ao adentrar na década seguinte.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/01/27/600-frankenhooker-que-pedaco-de-mulher-1990/

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