Direção: Jeff Burr
Roteiro: David J. Schow
Produção: Robert Engelman; Michael De Luca (Produtor Executivo)
Elenco: Kate Hodge, Ken Foree, R.A.
Mihailoff, William Butler, Viggo Mortensen, Joe Unger, Tom Everett, Miriam
Byrd-Nethery, Jennifer Banko
O Massacre
da Serra Elétrica 3 é um coletânea de erros. Uma tragédia
anunciada, por assim dizer. Vou ser 100% sincero com o fã do horror: eu nunca
havia assistido ao filme até o fazê-lo para escrever sobre o blog, afinal né,
Leatherface, Massacre, uma das mais famosas e importantes franquias do gênero,
e por aí vai. Não havia perdido nada. Claro que vamos colocar os devidos pingos
nos is. A culpa não é nem do diretor, Jeff Burr, nem do roteirista, David J.
Schow e nem dos atores envolvidos, que até estão bem, por sinal, e temos aí um
time de respeito, como Viggo Mortensen, William Butler e Ken Foree. A culpa é
toda da New Line Cinema. Todinha. Do primeiro ao último frame. Inclusive o
excelente livro de Stefan Jaworzyn contando os bastidores da franquia detalha
muito bem todos os problemas os quais a produção passou (que usei como base
para escrever esse texto). A ideia da New Line, que havia enchido o rabo de
dinheiro com o Freddy Kruger na década passada, era criar uma nova franquia
ópera-rock do terror para seguir os mesmos passos, e por isso, compraram os
direitos do Massacre com a Cannon Picutes, após aquela calamidade que foi O Massacre
da Serra Elétrica 2. Foi tipo começo de namoro, saca? Tudo parece ser
mil maravilhas, eles chamaram Tobe Hooper para dirigi-lo, contrataram Schow
para escrever o roteiro, após um primeiro esboço do que seria A Hora do
Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freddy (onde Schow
não levou o trabalho) e um episódio para a série Freddy’s Nightmares, e
até Ken Henkel foi chamado para reuniões se envolver no projeto. Aí a coisa
meio que começou a degringolar. Os engravatados passaram a meter os bedelhos no
roteiro e exigiram um novo tratamento, preocupados com excesso de violência,
Hooper caiu fora para dirigir Combustão Espontânea, o envolvimento de
Henkel não passou da primeira reunião, o diretor Jonathan Betuel fora contratado
e desistiu para dirigir comerciais. Nomes como Peter Jackson, John McNaughton e
Tom Savini foram sondados, mas ninguém aceitou e a direção caiu nas mãos de
Jeff Bur, que acabara de dirigir A Volta do Padrasto. Burr foi demitido
antes do começo das filmagens, ninguém quis ficar com o cargo, e ele foi
recontratado. Vai vendo… O Massacre da Serre Elétrica 3 até tem relações
com os filmes anteriores. A já obrigatória narração no início do filme conta
sobre os acontecidos de 1973, remetendo ao original, pincelando sobre o que
aconteceu a Leatherface, os crimes sem solução, o fato de apenas um membro da
família Sawyer ter sido preso e por aí vai. Até quando vemos o maníaco da serra
elétrica que usa pele humana como máscara, dessa vez longe do gordinho com ares
de atraso mental eternizado por Gunnar Hansen, e interpretado por um brucutu
motoqueiro, R.A. Mihailoff, notamos uma prótese em sua perna, decorrente da
própria perna serrada naquele que “deu origem à série”. Mas aí somos
apresentados a uma nova família canibal, com outros representantes dos Sawyer
que surgiram sabe-se lá de onde. O velho vovô ainda está lá em sua forma
decrépita ressecada, mas aí conhecemos Tex (Mortensen), Tinker (Joe Unger),
Alfredo (Tom Everett) e a pequena “filha de Leatherface”, Jennifer Banko,
proles da Mama Sawyer (Miriam Byrd-Nethery), que vive em uma cadeira de rodas e
fala com aqueles aparelhos ligados a sua traqueia. Tudo bem, é uma explicação,
afinal, nunca soubemos da existência de nenhuma mulher na família Massacre e claro
que aquele pessoal todo não nasceu de chocadeira. Mas é muito forçada essa nova
trupe, sabe? Simplesmente não desce, e claro que nunca terão a mesma química
insana dos personagens de Edwin Neal, Jim Siedow, John Dugan e Hansen. Enfim… No
cerne de sua trama, O Massacre da Serra Elétrica 3 é meio que um CTRL
C+CTRL V (ou COMAND C+COMAND V, se você usa Mac) dos clichês da franquia e dos
filmes de terror, que culminam obviamente em uma cena de jantar. Dois jovens
estão cruzando o país, Michelle (Kate Hodge) e Ryan (William Butler) e ao
passarem pelo Texas, param em um posto de gasolina, que tem um dono louco
(óbvio), eles ficam sabendo de um atalho por um forasteiro que pede carona (no
caso do Aragorn, filho de Arathorn, que depois se mostra um dos vilões), começam
a ser perseguidos na noite por uma picape dirigida por Leatherface e é isso aí.
O personagem de Ken Foree, Benny, com treinamentos militares, surge para ajudá-los
e depois se mostra um dos mocinhos e vai enfrentar a família Sawyer e salvar
Michelle de virar o prato principal. Mas o grande problema de tudo, mas de tudo
MESMO, foi o fato do filme ser mutilado pela New Line para evitar uma censura X
e isso acarretou no roteiro ter de ser reescrito diversas vezes e todo o sangue
e violência, cortados. A KNB foi a responsável pela maquiagem e efeitos
especiais, e se esforçaram para dar um visual sombrio, sujo e violento
para O Massacre da Serra Elétrica 3, mas tudo acabou indo para a lixeira,
incluindo aí uma cena em que uma mulher presa em uma árvore sofria um corte
vertical e o esmagamento explícito do cérebro do personagem de William Butler.
Mas com certeza, apesar do atenuante dos cortes, em duas cenas, o dedo dos
executivos teve um peso arbitrário absurdo que prejudicou ainda mais a já
combalida produção. O primeiro foi a ideia de que finalmente veríamos o
verdadeiro rosto de Leatheface logo na sequência de abertura, deformado, sem
nariz, como já tivesse sido desfigurado no passado. O momento está lá prontinho
para aparecer, com o vilão construindo sua máscara, uma preparação clara e
cristalina (e até uma homenagem à sequência inicial de A Hora do Pesadelo, com Freddy construindo sua luva de garras), mas a New Line decidiu
cortar a cena para guardar a verdadeira face do vilão para a próxima sequência,
a parte 4, que aconteceu, mas não pela New Line. A segunda e particularmente
absurda, é que vemos claramente Benny com a serra elétrica de Leatherface
enterrada em seu crânio em uma batalha em um fosso. Mas, no último momento, ele
reaparece para salvar Michelle do perigo. Como? Por causa das exibições testes
em que o personagem caiu nas graças do público (afinal, Ken Foree é um sujeito
bacana e querido, estrelou Despertar
dos Mortos e Do Além) e da predileção por ele até de Bob Shaye, o
presidente da New Line, que queria o sujeito nas duas próximas sequências. Então
um ridículo final feliz foi refeito, dirigido pelo editor Michael N. Knue, tudo
sem avisar a Jeff Burr, que só ficou sabendo da alteração em seu filme quando o
viu pela primeira vez em um cinema do Tenesse, depois de já lançado
comercialmente. Aliás, o filme deveria ter entrado em cartaz em 1989, mas
estreou apenas em janeiro de 1990, nesse formato que conhecemos hoje, como uma
verdadeira colcha de retalhos, por conta das interferências constantes da
produtora e os cortes para satisfazer o MPAA. Resultado final de O
Massacre da Serra Elétrica 3: fracasso de crítica, público (mesmo faturando
mais de 5 milhões de dólares) e um desprezo massacrante (RÁ!) dos fãs. Como
disse lá em cima, uma coletânea de erros crassos para satisfazer uns fulanos de
terno e gravata que não conhecem absolutamente nada da atmosfera, conceitos e
até mesmo da importância do seminal filme de Tobe Hooper.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2015/02/04/606-o-massacre-da-serra-eletrica-3-1990/
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