Direção: Lucio Fulci
Roteiro: Piero Regnoli, Lucio Fulci
Elenco: Brett Halsey, Meg Register, Lino Salemme,
Christina Engelhardt, Pascal Durant, Grady Clarkson, Ettore Comi
Ah, Lucio Fulci. Só
você mesmo para fazer um filme como Demonia. Se o auge de um dos
diretores mais gore de
toda a Itália já tinha ficado lá atrás no final dos anos 70 e começo dos anos
80, sua espiral de decadência o levou a fazer diversas porcarias de qualidade
pífia que culmina tragicamente nesta bagaceira, um dos últimos filmes de sua
carreira marcante. Tudo bem, sabemos que o forte dos filmes de Fulci nunca foi
o roteiro, o desenrolar das suas histórias. Só lembrar que, por exemplo, um dos
seus clássicos, Pavor na
Cidade dos Zumbis,
tem uma das tramas mais toscas e estapafúrdias de toda sua filmografia, seguido
de pertinho por outro membro da trilogia, A Casa do
Cemitério.
O lance do diretor é ser visceral, gráfico, sujo, violento ao extremo e profano
até o talo. Parece que provocar a Igreja Católica, ainda mais se tratando de um
país fervoroso como a Itália, era um de seus passatempos favoritos. Tanto que o
sujeito até foi excomungado depois de seu padre pedófilo de O Estranho
Segredo do Bosque dos Sonhos. Demonia também segue essa regra. Mas simplesmente não
dá para aguentar. É aquele caso de se assistir no fast forward ou
fazer uma compilação com as cenas sangrentas e meter no Youtube, porque haja
saco lidar com a chatice de seus 85 minutos com uma história tão rasa e tão
cheia de buraco que você começa até a pasmar enquanto a película passa diante
dos seus olhos. Outro ponto fraquíssimo de praticamente TODOS os filmes de
Fulci é seu desfecho, sempre o mais nada a ver possível, deixando um monte de
pontas soltas, na mais pura preguiça e displicência. Mais uma vez aqui temos o
exemplo perfeito desse “estudo de caso”. Demonia começa com um flashback do século XV, em um monastério na Sicília, onde
cinco freiras são acusadas de adoração ao demônio, orgias, depravações,
sacrifícios, morte de recém-nascidos e por aí vai. Elas são crucificadas pelos
locais e cinco séculos depois, uma equipe de arqueólogos do Canadá está em
terras italianas para escavações, comandada pelo cético professor Paul Evans
(Brett Halsey). Sua colega supersticiosa, Liza Harris (a PÉSSIMA, em letras
garrafais, Meg Register) ao explorar o local descobre o monastério, e os
espíritos das freiras do Tinhoso se libertam, passando a matar tanto os
exploradores, quanto os moradores da região, a esmo. Mesmo o gore sendo o “ponto alto”
de Demonia (e da
filmografia do diretor), até aqui vemos que Fulci perdeu a mão, principalmente
por não contar mais, nessa altura campeonato, com o já parco orçamento da
Fulvia Filmes do picareta Fabrizio de Angelis, somada ao fato da derrocada
definitiva do cinema de terror italiano após meados dos anos 80 e perda de
interesse do público americano, e o fim da parceria com o lendário maquiador
Giannetto de Rossi, com quem, entre outras pérolas, fez Zumbi 2 – A
Volta dos Mortos,
sua capolavoro. Então o
sangue mais falso que guache vermelho e o látex emulando carne humana, que já é
tão característico, aqui ainda fica mais tosco, o que acaba até dando aquele ar
caricato e ridículo à produção paupérrima. Sem dúvida nenhuma, dois momentos
são ímpares em Demonia, que vale
a menção exatamente para ilustrar bem sobre o que estou falando. O primeiro é a
antológica cena em que uma das “freiras fantasmas possuídas” está levando um
moleque para o meio do mato, seu pai corre em disparada atrás do menino para
tentar salvá-lo. Aparentemente não há nenhuma armadilha no campo aberto. Corte
de cena para a freira e o garoto. Corta novamente par ao pai preso em uma
armadilha, amarrado pelas duas pernas e dois braços estendidos. COMO? Nunca
saberemos. O garoto anda, pisa em outra corda que ativa a armadilha (que também
nunca estivera lá anteriormente) e o pai é separado em dois pedaços, com suas
vísceras todas caindo ao chão. A segunda é mais um dos famosos ataques de
animais de Fulci. Ele já tentou em Terror nas Trevas, com o cachorro
rasgando a jugular da cega (cópia descarada de Suspiria,
BTW) e as malfadadas aranhas comendo o bonecão na biblioteca, e não deu certo.
Tentou na sequência mais patética de sua carreira cinematográfica, o ataque das
aves empalhadas em Manhattan Baby, e também não deu
certo. Logicamente, não é em Demonia que
iria funcionar. Aqui uma das velhas loucas que conta a verdade sobre o
monastério e as freiras profanas para Liza é tem seu rosto atacado por seus
gatos e o resultado é nada mais que cômico. E ah, claro que tem um eye popping, outra marca registrada
de Fulci. Isso sem contar outros momentos de pura sutileza cinematográfica e
atuações primorosas, onde destaco a cena em que Liza demonstra todo seu pavor
ao encontrar os ossos das freiras nas criptas; quando o açougueiro tem sua
língua (maior e mais grossa que de Gene Simmons) pregada contra um cepo (vivido
pelo ator figurinha carimbada dos filmes de terror italianos, Lino Salemme,
famoso por seus papeis em Demons –
Filhos das Trevas e
Demons 2 –
Eles Voltaram);
as freiras possessas vomitando uma tinta amarela; e por último, mas não menos
importante, quando um dos arqueólogos é morto em seu barco por uma mulher nua
espectral que surge evanescente do nada e lhe lança um arpão no peito. Fulci,
que além de co-escrever ainda aparece em uma ponta como um inspetor de polícia,
não consegue mais nessa altura do campeonato, fazer o que sabe fazer de melhor,
e por isso, Demonia se
mostra um filme ruim de doer, chato, repleto de erros crassos de roteiro,
dramaturgia primária, efeitos especiais toscos, e as cenas de morte
extremamente gráficas, que deveriam chocar ou enojar, só conseguem fazer rir.
Isso resultou em uma fraca bilheteria e na péssima recepção de crítica e fãs.
Uma pena, uma vez que sua filmografia foi das mais importantes para o
desenvolvimento do ciclo splatter italiano
e do cinema de terror em geral.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/01/22/597-demonia-1990/
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