sexta-feira, 20 de maio de 2016

#591 1990 A ÁRVORE DA MALDIÇÃO (The Guardian, EUA)


Direção: William Friedkin
Roteiro: Stephen Volk, Dan Greenburg, William Friedkin (baseado no livro de Dan Greenburg)
Produção: Joe Wizan; Todd Black, Mickey Borofsky, Dan Greenburg (Coprodutores); David Salven (Produtor Executivo)
Elenco: Jenny Seagrove, Dwier Brown, Carey Lowell, Brad Hall, Miguel Ferrer, Natalija Nogulich

A Árvore da Maldição foi um hit do VHS na minha infância. Devo tê-lo visto pouco antes de meados dos anos 90, e já tinha iniciado minha cultura cinematográfica, então sabia bem que William Friedkin era ninguém menos que o diretor de O Exorcista. Lembro-me de ter achado um filme mais ou menos a priori. Mas saudoso. Claro que essa opinião não mudou, mas foi deveras interessante rever essa produção B, que tem lá seus momentos exatamente por ter o nome de Friedkin envolvido na direção, mesmo ele admitindo que só o dirigiu como um favor para o produtor Joe Wizam (e ainda foi a segunda escolha da Universal, a primeira foi Sam Raimi, que declinou por conta deDarkman – Vingança sem Rosto). Não teremos nada ao nível de um cara que tem em seu currículo Operação França, mas em se tratando dos sofríveis anos 90, e a sangreira derramada, vale o entretenimento.
Fora que temos a bela e sensualíssima personagem Camilla, a bruxa druida de sotaque inglês escrava da tal “árvore da maldição”, vivida pela atriz Jenny Seagrove, que além de representar uma vilã digna, sem ser caricata (e até dissimulada em certos momentos), também esbanja sensualidade e com direito a várias cenas de nudez. Lá na minha infância, foi motivo de alguns, há, sonhos molhados, digamos assim. A história em si, escrita a seis mãos por Dan Greenburg (autor do livro “The Nanny”, o qual o filme é baseado), Stephen Volk (que teve um colapso durante o tratamento do roteiro) e o próprio Friedkin (que assumiu a escrita após o colapso), tem toda uma pegada mística celta interessante, com o lance de certa ordem dos druidas venerarem árvores como seres poderosíssimos, que podem ser benevolentes ou, claro, malignos, e que possuem uma guardiã que sacrifica jovens bebês para o vegetal. Então se você está a procura desses recém-nascidos, qual seria seu emprego ideal? Babá, obvio. No começo da trama, um casal está preste a viajar, e uma babá que não vimos o rosto desfila como uma presença sobrenatural cuidando do bebê e do filho mais velho, que ganhou um livro pop-up com a história de João e Maria, onde ao abrir as páginas, uma imensa árvore de galhos retorcidos pula das e dá toda aquela conotação verdadeiramente macabra das fábulas, nada da besteira que a Dinsey fez depois. A esposa esquece os óculos, o casal volta para casa e não encontra mais nem a babá, nem o bebê, que foi oferecido para a árvore secular. Elipse de três meses e um jovem casal yuppie, Phil (Dwier Brown) e Kate (Carey Lowell) muda-se de Chicago para a Califórnia e não demoram para terem um filho. Camilla, uma babá quase perfeita, entra na vida deles cuidando da criança, cozinhando, limpando, fazendo compras e ainda excitando o mardião, tomando banho pelada com o bebê sem nenhum pudor e logo depois aparecendo em seus sonhos mandando ver. Mas eis que logo eles irão descobrir da pior forma a verdadeira identidade de Camilla e então começará a velha luta pela vida do bebê antes dele ser sacrificado para o “Ent” maligno que irá fazer em pedaços todos aqueles que se meter em seu caminho. É a força devastadora da natureza animatrônica em todo seu esplendor, que conta até com a ajuda de uma sinistra matilha de lobos, porque convenhamos, é bem fácil escapar de uma árvore, certo? Afinal, é só ficar longe do alcance de seus galhos. O lampejo de Friedkin na direção é visível, principalmente na construção da atmosfera, e há até uma tentativa de emular O Exorcista de alguma forma (os créditos iniciais são gritantemente plagiados), principalmente no contexto da degradação da relação familiar a partir do surgimento de uma terceira parte sobrenatural (uma druida, o capeta, tanto faz…). A cena do ataque dos lobos ao arquiteto Ned Runcie (Brad Hall – péssimo, por sinal) é de uma sufocante tensão prolongada, mostrando a grande diferença se outro diretor tivesse assumido a cadeira, o que faria com que a fita se transformasse mais um terror B da época, principalmente por conta da quantidade de sangue despejado. E são esses momentos de sangue despejado que A Árvore da Maldição esquece toda e qualquer pretensão e mostra-se genuíno, aflorando um lado gore de Friedkin até então inédito, como a perseguição de um bando de punks tentando estuprar Camilla, estraçalhados pela árvore e seus bichinhos de estimação, ou o violento final quando o protagonista parte com uma serra elétrica para cima da árvore, cortando-a em pedações e banhando-se de sangue (sim, nada de seiva, é sangue mesmo – e 500 galões para ser mais preciso) e Camilla vai sofrendo as consequências desse ataque. O veredicto é que revisto, A Árvore da Maldição não é tão ruim quanto eu lembrava, é mais gráfico que eu tinha em memória, mas continua sendo nada memorável, uma fita de terror que você esquece simplesmente de sua existência ao terminar os créditos finais (exceto se ele foi um hit do VHS na sua infância, ou das infinitas reprises no Supercine), mesmo com Friedkin na direção. Aliás, até ele mesmo não parece se lembrar desse filme, uma vez que sequer o citou no livro de suas memórias, “The Friedkin Connection”.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/01/14/591-a-arvore-da-maldicao-1990/

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