sábado, 31 de outubro de 2015

#295 1973 TORSO (I corpi presentano tracce di violenza carnale / Torso, Itália)


Direção: Sergio Martino
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Sergio Martino
Produção: Carlo Ponti, Antonio Cervi (Produtor Executivo)
Elenco: Suzy Kendall, Tina Aumont, Luc Merenda, John Richardson, Roberto Bisacco, Ernesto Colli

Já cansei de falar por aqui no blog o quanto Sergio Martino é subestimado como diretor em detrimento de outros nomes mais conhecidos, prestigiados e cultuados do cinema italiano de horror. Mas quer saber, eu quero que se dane e volto a afirmar veementemente que o sujeito é fodão e um dos meus preferidos. E Torso pode ser um filme grosseiro e sujo, com um fiapo de história apenas para ilustrar a contagem de corpos, e considerado um dos mais fracos do seu promissor início de carreira, mas eu acho um SENHOR filme de horror. Porque assistir Torso hoje em dia é como se você revisitasse a gênese do cinema slahser. Você pode até pensar que várias daquelas situações são clichês e que com certeza você já viu tudo isso, copiado a exaustão nos anos 80 e 90 e até mesmo em obras anteriores como A Mansão da Morte de Mario Bava, mas fato é que muito cineasta e muitos filmes vindouros, desde Halloween – A Noite do Terror, passando por Sexta-Feira 13 e terminando em Pânico, beberam, mas beberam com gosto, na fonte desta fita de Sergio Martino. Diferente de seus gialli anteriores, como Lâmina Assassina e A Cauda do Escorpião, por exemplo, onde há certa preocupação com a estética, desenvolvimento da narrativa e intrincadas tramas de investigação cheia de reviravoltas e mistério, aqui em Torso, o roteiro quase inexiste e tudo funciona apenas para Martino desfilar um apreço voyueristico pela violência extrema, muitas vezes nos colocando sob o prisma do serial killer, que não faz distinção entre matar homens e mulheres (claro que mulheres, e nuas preferencialmente, são sua predileção) ao praticar seus assassinatos sádicos. Assassino esse também que funcionaria como referência futura para os slasher movies, munido de sua faca afiada, luvas e uma máscara de esqui para cobrir seu rosto. A trama reta e sem frescura divide-se em duas partes: a primeira se passa em uma universidade na Itália, onde jovens alunos de arte são vítimas de um impiedoso assassino que as estrangula com um cachecol vermelho e preto e as mutila com múltiplos golpes de facada. O local fica tomado pelo pânico, e as suspeitas da polícia recaem sobre Gianni Tomasso (Ernesto Colli), um ambulante que vende cachecóis e outras tranqueiras no campus. Outra suspeita recai sobre Stefano (Roberto Bisacco), sujeito stalker obcecado pela bela Daniela (Tina Aumont), que vive perseguindo a garota. A segunda parte da história se desenvolve quando Jane (vivida pela gatíssima Suzy Kendall), assustada com as mortes, resolve se refugiar em uma pequena casa de campo de seu tio, e convida suas amigas, Daniela, Katia (Angela Covello) e Ursula (Carla Brait) para um final de semana tranquilo. Esse é o momento do filme de deleite para os marmanjos. As três moçoilas, exceto Jane, adoram tomar sol nuas em pelo e Katia e Ursula tem um relacionamento lésbico sem o menor pudor em trocar carícias entre elas. As três ficarem peladinhas é mato. Mas enquanto a safadeza rola solta, o impiedoso assassino resolve ir atrás delas, temendo ser desmascarado por conta do cachecol. Inicia-se mais um banho de sangue e aquele característico jogo de gato e rato com a única sobrevivente. Logo de início já descobrimos que o assassino tem um devasso problema psicológico e sexual, típico desses psicopatas, e isso irá desencadear as suas motivações misóginas (a morte de homens são meras necessidades de percurso), que ficarão evidentes quando explicada no final do terceiro ato (daquela forma bem macarrônica e meia boca, envolvendo orgias, bonecas de porcelana e traumas), mas que obviamente já temos uma boa ideia e até a suspeita de quem está por trás daquela máscara de esqui, mesmo Martino jogando vários personagens dúbios no decorrer da trama, como sempre o faz, para tentar ludibriar o espectador. Algumas cenas ímpares de crueldade e violência extrema nos são reservadas durante o desenrolar de Torso, filmadas com passividade e fria distância aterrorizantes pelo diretor. Colocando-nos incólumes pelo POV do terrível serial killer a espreita em determinados momentos, sem dúvida nenhuma a mais impactante e emblemática cena é quando a ninfeta Carol (Conchita Airoldi), após uma festinha hippie se engraçando com dois homens ao mesmo tempo e fumando muita erva (criando as diretrizes dos “dos and dont’s” do cinema de terror adolescente bem antes de John Carpenter) é perseguida pelo psicopata por um campo enlameado e esfaqueada até a morte. Outra cena para os impressionáveis virarem o rosto é quando, após ser chantageado pelo vendedor de cachecóis que sabe de sua identidade, o assassino o esmaga repetidas vezes com um carro contra o muro. Mas o mais inventivo na filmografia de Martino, pelo menos nessa primeira metade da década de 70, enquanto ele ainda não dirigia filmes sobre canibais, homens peixes em ilhas ou crocodilos gigantes, é sua capacidade em subverter o giallo, trazendo vários desdobramentos de um estilo único de se fazer cinema de suspense na Itália, famoso por simplesmente ser dado uma espécie de CTRL C + CTRL V (ou COMMAND C + COMMAND V se você tem um Mac) em praticamente todas as obras pós Trilogia dos Animais de Dario Argento. Em Torso, ele flerta com o protozoário do slasher como bem já salientei. Antes disso, ele já havia metido cultos satânicos no meio de Todas as Cores da Escuridão e ainda usado elementos sobrenaturais em No Quarto Escuro de Satã. E o que falar do excelente nome italiano do filme? Il corpi presentano tracce di violenza carnale? Aposto que você fala em voz alta cantarolando ao melhor sotaque da Mooca e fazendo aquele movimento característico balançando a mão fechada para cima em forma de cunha. Na verdade esta frase, que traduzida ao pé da letra seria “o corpo apresentando traços de violência carnal”, é dita por um dos policiais durante uma aula na universidade, falando sobre as vítimas encontradas. Torso foi brutalmente censurado nos países de língua inglesa, proibido nos cinemas do Reino Unido e lançado somente no país em 1993 com uma versão em VHS com 50 segundos de cortes orquestrados pela BBFC. A versão uncut, porém tem várias cenas que não foram dubldas em inglês, então são exibidas com o idioma origial. Se você tiver baixado o filme em dual audio nessa Internet de Deus, opte por assistir com o idioma italiano. Milagrosamente até foi lançado no Brasil em DVD.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/30/295-torso-1973/

#297 1974 CAPITÃO KRONOS O CAÇADOR DE VAMPIROS (Captain Kronos – Vampire Hunter, Reino Unido)


Direção: Brian Clemens
Roteiro: Brian Clamens
Produção: Brian Clemens, Albert Fennell
Elenco: Horst Janson, John Carson, Shane Briant, Caroline Munro, John Carter, Lois Dane

Uma certeza que temos ao assistir Capitão Kronos – O Caçador de Vampiros, é que se podemos apontar para um ponto específico que a Hammer realmente foi para o buraco de vez, foi quando essa fita foi lançada. E não é só porque o filme é bem ruinzinho. É por conta de todas as consequências causadas. Fato é que o longa foi desenvolvido inicialmente para ser uma série de filmes e tornar-se uma nova franquia da Casa do Horror. Capitão Kronos teve um resultado pífio nas bilheterias que cancelou todos esses planos e o pobre retorno financeiro também figurou como o maior recorde negativo de bilheteria da Hammer. Deveria dar um novo gás para o estúdio britânico, o que não aconteceu, e as dificuldades financeiras decorrentes acabaram por fechar suas portas. Mais tarde Capitão Kronos – O Caçador de Vampiros se tornaria um daqueles filmes cultuados, marginalizado na época de seu lançamento em 1974, sendo que havia sido filmado em 1972 e lançado nos cinemas somente dois anos depois. Um mix de ação com terror, como o título bem diz, Kronos é um espadachim caçador de vampiros fora do usual, uma espécie de Blade da Inglaterra do Século XVII, que foge do estereótipo impresso por Peter Cushing e seu Abraham Van Helsing. Na trama, um vilarejo do interior inglês está sofrendo com a misteriosa morte de garotas que tem sua força vital sugada, apresentando sinais de um envelhecimento acelerado. O Dr. Marcus (John Carson) pede ajuda para Kronos (Horst Janson) e seu ajudante, o corcunda Grost (John Carter) para tentar solucionar o mistério e caçar o vampiro que está não sugando o sangue, mas a juventude das damas, afinal como ele mesmo explica: “há várias espécies de vampiros”, desmistificando certos dogmas relacionados às criaturas, como apenas se alimentar de sangue e não poder sair à luz do Sol. Kronos e Grost, na companhia da bela e espevitada morena Carla (Caroline Munro), começam uma investigação, ao melhor estilo Monster Quest do History Channel, para detectar a presença dos vampiros e eliminá-los. Enquanto isso, uma história paralela se desenvolve por meio da família Durward, aristocratas ingleses, onde dois ambiciosos irmãos, Paul (Shane Briant) e Sara (Lois Dane), vivem em um casarão afastado com sua convalescente e velha mãe (Wanda Wentham, papel oferecido para Ingird Pitt e recusado), viúva do Lodre Durnwald, o melhor espadachim que o mundo já viu, segundo seu epitáfio. Resumo da ópera é que obviamente a família Durnwald estará envolvida até o pescoço com essa história de vampirismo e chupação de energia vital, e durante um confronto no casarão, em uma simplista e patética reviravolta final, o espectador conhecerá na verdade quem é o terrível vampiro e as suas pretensões malignas. Chato, chato, chato… O clima de aventura de capa e espada e o estilo Errol Flynn não funcionam, incluindo um desnecessário embate final de esgrima que chega a dar sono, e em contrapartida o clima de horror gótico também não, pois já estamos com o saco na lua de ver essa mesma fórmula de filme da Hammer, além do orçamento não ajudar nem um pouco na ambientação, cenários, figurinos, etc. O desenvolvimento da narrativa também é fraquinho, e uma ou outra cena interessante de sangue é vista, como durante uma briga na taverna que Kronos decepa um malfeitor. Saudades da Hammer do final dos anos 50 e anos 60! Ao invés daqueles filmes mágicos e deslumbrantes, em sua decadência, nos resta assistir a Capitão Kronos – O Caçador de Vampiros. É o que tem para hoje. Mas pela importância do estúdio, deve ser visto.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/11/01/297-capitao-kronos-o-cacador-de-vampiros-1974/

#296 1974 O ANTICRISTO (L’anticristo / The Antichrist / The Tempter, Itália)


Direção: Alberto De Martino
Roteiro: Gianfranco Clerici, Alfredo De Martino, Vincenzo Mannino
Produção: Edmondo Amati
Elenco: Carla Gravina, Mel Ferrer, Arthur Kennedy, George Coulouris, Alida Valli, Anita Strindberg

Sempre que o cinema americano fazia um filme de sucesso, não demorava muito para os italianos copiarem a ideia e fazerem a sua versãospaghetti. O Anticristo é a versão Made in Italy de O Exorcista, de William Friedkin, lançado no ano anterior. E vou te contar que tem cenas que dá uma puta vergonha alheia de assistir a essa película. Mas apesar dos apesares, a fita do diretor Alberto de Martino tenta por quase todo o longa explorar outros aspectos e não ser estigmatizado apenas como uma cópia descarada do clássico absoluto do cinema de horror. E vou te confessar também que ele quase atinge seu objetivo. A trama desenvolve-se de forma concisa e até convincente, misturando bruxaria e satanismo, possessão, perda de fé, regressão hipnótica, um caminhão de blasfêmias, exageros sexuais, heresia, e mais uma cacetada de sacrilégios que facilmente faria William Peter Blatty, escritor do livro e do roteiro deO Exorcista, corar. Então tudo vai bem, com uma história completamente diferente do “causo” de Reagen McNeill, até a garota começar a xingar, levitar, vomitar baba verde, usar seus poderes telecinéticos para movimentar os móveis e ter uma longa cena de exorcismo com um padre católico tentando expulsar o Coisa-Ruim da mulher possuída. Aí meu amigo, só dar risada mesmo, primeiro pela cara de pau, segundo porque diferente dos efeitos revolucionários do irmãoyankee, O Anticristo tem os efeitos especiais dos mais bisonhos, incluindo aí as cenas de levitação que parecem tiradas dos episódios do Chapolim voando nos aerolitos. A trama escrita a seis mãos por De Martino, Gianfranco Clerici e Vincenzo Mannino sai da Washington para a católica apostólica Roma, onde a pobre Ippolita Oderisi (vivida por Carla Gravina, que por sinal, está muito bem no papel, principalmente quando fica possuída pelo cramunhão) uma jovem paralítica, pero no mucho, que busca na fé uma cura para seu mal, causado pelo seu pai, Massimo (Mel Ferrer), durante um acidente de carro, que também resultou na morte de sua mãe. Após não conseguir respostas através da religião, e sentir-se abandonado por Deus e pelo seu pai, que está preste a se casar com Greta (Anita Strindberg), sofrida e de alma torturada, vira o alvo perfeito para que satanás resolva possuí-la. O que não sabemos até então, e só vamos descobrir quando o psiquiatra Dr. Marcello Sinibaldi (Umberto Orsini) resolve fazer uma sessão de regressão com Ippolita, por desconfiar que sua paralisia é meramente psicológica, é que fuçando nas vidas passadas da moça, ela foi uma bruxa adoradora de satã há 400 anos, estava grávida do Tinhoso e seria a responsável por dar a luz ao Anticristo. Condenada à fogueira, a bruxa arrepende-se de seu pecado no último instante antes de virar churrasco e recebe a redenção divina, derrotando o Diabo. Acontece que o Príncipe das Trevas não ia deixar barato, e depois de todo esse tempão, possui Ippolita novamente para dar continuidade ao seu trabalho e trazer seu filho para a Terra. Em uma cena visualmente “influenciada” sem nenhuma vergonha na cara por O Bebê de Rosemary (como se não bastasse toda a cópia de O Exorcista), Ippolita se vê deitada nua em sua cama, revivendo um antigo sabá ritualístico, onde fora da primeira vez deflorada pelo Belzebú em uma missa negra cheia de gente pelada praticando orgia, liderada por um sacerdote vestindo uma cabeça de bode, que pratica com ela uma espécie de comunhão às avessas, onde a hóstia é substituída pela cabeça decepada de um sapo, ela é penetrada pelo sacerdote e ainda faz sexo oral com uma cabra, enquanto simula com línguas, caras e bocas essas sensações do passado no presente. Talvez esse seja o ponto alto do filme, em uma cena realmente tétrica impactante e bem executada e verdadeiramente forte e ofensiva, não recomendado para os sugestionáveis, puritanos e carolas. Depois disso é ladeira abaixo. A menina vira uma boca suja e de cada cinco palavras, quatro são palavrões, e seus dizeres transformam-se em uma metralhadora giratória de heresias contra a Igreja, Deus, fé, instituição familiar, tudo repleto de palavras de baixíssimo calão e insinuações sexuais gritantes. Como todo bom filme de possessão que se preze. Desesperados, e já sabendo da gravidez de Ippolita, Massimo resolve procurar ajuda de seu irmão, o bispo Ascanio Oderisi (Arthur Kennedy) que até tenta praticar um exorcismo que dá miseravelmente errado. Como ele não era páreo para os poderes do capeta, resolve recorrer a Santa Sé, que envia o experiente e velho exorcista (jura???) Padre Mittner (George Couluris), que aí sim, vai tentar arrancar o espírito do Tranca-Rua de Ippolita, enquanto a moça em uma exagerada e esquizofrênica cena final, tentará buscar mais uma vez a redenção. A ideia de O Anticristo em contraponto com O Exorcista é retomar um pouco do horror gótico em detrimento do horror contemporâneo, que já havia se tornado o principal mote do cinema de terror no início dos anos 70. Tira a atriz americana descolada e sua filha adolescente que vivem na capital dos EUA, para levar um conto de possessão demoníaca para uma família religiosamente influente da capital da Itália, com toda sua força católica e dogmas que ecoam desde a própria Idade Média, suportados pelo peso do Vaticano. E o grande mérito de De Martino é sustentar essa premissa, dando uma ênfase diferente na história e tentar andar com suas próprias pernas enquanto consegue, caindo infelizmente na armadilha do sucesso fácil de bilheteria simplesmente copiando aquilo que os americanos já fizeram. Outro ponto positivo, que há de se salientar é a junção de dois monstros das trilhas sonoras italianas trabalhando aqui neste filme: Ennio Morricone e Bruno Nicolai. Ambos já estiveram envolvidos em trilhas sonoras de diversos gialli de Dario Argento, Sergio Martino e Lucio Fulci, além de clássicos do western spaghetti. Mesmo que também inspirada na trilha de O Exorcista (só que sem uma música chave como “Tubular Bells”), abusando de órgãos, tambores, violinos e violoncelos. E apesar do filme ser dublado em inglês, prática comum das fitas italianas, a voz gutural de Ippolita quando está possuída pela Besta também está classuda. Nikolas Schrek escreveu no livro “The Satanic Screen: An Illustrated Guide to the Devil in Cinema” que O Anticristo é o melhor imitador de O Exorcista. Concordo, com ele. Poderia ser um excelente filme se não caísse na roubada dos produtores em monetizar na carona do sucesso alheio. Porque é um filme grotesco, pesado e de mau gosto, do jeito que os fãs desse gênero gostam. Infelizmente, mesmo tentando em certos momentos seguir em caminhos narrativos diferentes, apelar mais para o absurdo, heresia e nudez, derrapa nos momentos plagiados e ficará possuído e amaldiçoado para sempre pela pecha de cópia. Caiu em tentação e não se livrou do mal. Amém.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/31/296-o-anticristo-1974/ 

#294 1973 THRILLER (Thriller – en grym film / Hooker’s Revenge / They Call Her One Eye, Suécia)


Direção: Bo Arne Vibenius (Usou o pseudônimo de Alex Fridolinski)
Roteiro: Bo Arne Vibenius
Produção: Bo Arne Vibenius
Elenco: Christina Lindberg, Heinz Hopf, Despina Tomazani, Per-Axel Arosenius, Solveig Anderson

Dentro do gênero rape and revenge (mulheres que são estupradas e abusadas fisicamente e partem para o revide da forma mais sádica possível), sem dúvida Thriller – A Cruel Picture é um marco, e um dos seus mais importantes exemplares, ao lado de A Vingança de Jennifer. Mesmo tecnicamente não se tratando de um estupro nesse caso. O filme do sueco Bo Arne Vibenius vai além: é promissor, inovador, uma aula de cinema, mostrando ali no começo dos anos 70 todas as possibilidades estéticas e recursos que poderiam ser usados em um filme de cinema, criando a definição singular do sexploitation. Pupilo do mestre Ingmar Bergman, Vibenius fez em Thriller… o seu cult definitivo, que traçou padrões copiados até hoje no cinema de ação. Para se ter uma ideia, Quentin Tarantino o considera O FILME sobre vingança, e claramente Kill Bill bebe desta fonte e os irmãos (quer dizer, irmão e irmã agora) Wachowsky também não tem vergonha em esconder semelhanças chupinadas em Matrix e as diversas cenas em câmera lenta e sem contar o figurino. Apelativo e provocante, Vibenius não perdeu tempo em levantar temas extremamente chocantes e de abusar de ação e violência estilizada, entre diversas cenas de nudez e sexo explícito (incluindo aí uma gozada anal!!!!), rodadas com dublês de corpo (que dá para se perceber claramente) que eram prostitutas de Estocolmo contratadas para essas sequências.  O roteiro de Vibenius traz o que há mais baixo na natureza humana e joga na cara do espectador sem o menor pudor ou cerimônia. A bela ninfeta Madeline/Frigga (Christina Lindberg) é abusada sexualmente por um homem quando criança, e devido a experiência traumática fica muda após o acontecido. Passam-se 15 anos e quando a adolescente perde o ônibus para a escola, ela decide aceitar a carona de Tony (Heinz Hopf), que com seu carrão e sua lábia de gaiato, leva a garota para um jantar e logo a seguida a sequestra, colocando-a em prisão domiciliar, drogando-a com heroína e obrigando a moçoila a se prostituir. Logo após o primeiro programa, Madeline/Frigga arranha o rosto de seu cliente, e para pagar pelo que fez, Tony arranca um de seus olhos com um bisturi (em cena claramente inspirada em O Cão Andaluz de Buñiel) em uma cena em câmera lenta, sem diálogos, onde um cadáver de verdade foi usado para a extração real do olho. Caolha (ela começa a ser chamada de One Eye), tendo que usar um tapa-olho, viciada e obrigada a fazer sexo por dinheiro com homens e mulheres, Madeline/Frigga às escondidas começa a treinar caratê, aprende a atirar e manejar armas de fogo e perícias automobilísticas para fugas e perseguições em alta velocidade, pagos com a grana que recebe dos programas. Tudo isso para conseguir escapar no momento certo e colocar em prática seu plano de vingança. A gota d’água para a sofrida jovem é quando sua amiga Sally (Solveig Andersson) é assassinada e seus pais se suicidam ao receber uma carta escrita pelo escroto do Tony, dizendo que ela fugiu por não aguentar mais aquela merda de vida na fazenda. Depois da primeira metade do filme que mistura drama e pornô hardcore vem a segunda metade onde o filme dá uma guinada de 360º e no melhor conceito WWG (women with guns), Madeline/Frigga inicia sua vingança com tiroteios, perseguições em alta velocidade e o pior de todos os castigos, reservado para Tony. Uma vingança calculada, fria, em câmera lenta e extremamente violenta muda completamente o tom do filme, deixando de lado a pobre e indefesa garotinha, para dar vida a uma mulher forte, poderosa, decidida, movida por apenas algo completamente inesperado para os padrões da época. Apesar dos absurdos gritantes e das falhas de roteiro, o filme é completamente experimental. Seu ritmo arrastado, seus diálogos cafonas e todos os maneirismos podem não ser aconselháveis para essa nova geração que está acostumada com filmes de ação alucinantes. Mas há certa, digamos, beleza poética contida nos quadros e na forma como Vibenius conduz o seu filme. Há uma genialidade por trás de tudo aquilo, mas que não tinha a menor intenção de se tornar uma referência doexploitation, ou um filme cultuado por gerações de cinéfilos e cineastas. Era puro oportunismo mesmo como o próprio diretor alegou: fazer “um filme comerical ruim que nem o diabo” para cobrir o rombo financeiro causado por seu primeiro longa. Até por isso ele assina a direção com o pseudônimo de Alex Fridolinski (havia até uma cláusula contratual para que os atores não pudessem revelar que era o real diretor do filme). Fato é que o tiro de Thriller… foi certeiro. Ou saiu pela culatra se Vibenius pensar na reação de Bergman que o “deserdou” após assistir ao filme. Claro que ele iria detestar o mergulho naquele abismo de profanação visual que seu pupilo havia se jogado. Imagine só Bergman assistindo ao filme? Gostaria que tivesse uma câmera filmando sua reação ao vivo! Não preciso nem dizer que foi vetado nos cinemas do Reino Unido pelo BBFC e sua campanha promocional alardeou erroneamente que foi o primeiro filme banido na Suécia. E temos que tirar o chapéu para a atuação de Christina (que não diz uma palavra sequer durante os 104 minutos de projeção, usa um tapa-olho, veste sobretudo de couro preto – quando não está seminua na primeira metade – e carrega uma espingarda na mão), que não tinha nem carteira de motorista e dirigia em ritmo alucinante nas cenas na floresta e em perseguições, e ainda treinou com armas de fogo usando munição de verdade. Cinema verité é isso aí. Querendo ou não, sendo de mau gosto ou não, chocante e oportunista ou não, Thriller – A Cruel Picture, é definitivamente uma aula de cinema. O assistente de direção de Persona de Bergman abusa de violência gráfica e sexo explícito para criar uma obra prima ímpar da subversão cinematográfica.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/29/294-thriller-a-cruel-picture-1973/

#291 1973 O METRÔ DA MORTE (Death Line / Raw Meat, Reino Unido)


Direção: Gary Sherman
Roteiro: Ceri Jones, Gary Sherman (história original)
Produção: Paul Maslanky
Elenco:Donald Pleasence, Norman Rossington, David Laid, Sharon Gurney, Hugh Armstrong, June Turner, Christopher Lee

Antes de O Massacre da Serra Elétrica e Quadrilha de Sádicos nos trazerem canibais e criaturas mutantes congênitas e chocar o mundo, eis que um obscuro e pouco conhecido filme inglês entraria nessa seara e investiria em um terror sujo, gore e sufocante em O Metrô da Morte, pérola horrorífica do diretor americano Gary Sherman, baseado em uma história original de sua autoria, inspirada em uma doentia lenda britânica. Por mais que nesta altura do campeonato já tivéssemos sido banhados em sangue nos filmes de Herschell Gordon Lewis lançados na década anterior, ou na violência estilizada do giallo italiano, visto os zumbis de Romero comerem carne humana e os canibais de Umberto Lenzi já terem dados as caras em uma floresta tropical por aí, ainda não tínhamos sido pegos por este tipo de violência gráfica no cinema de terror apresentado em O Metrô da Morte, com toda uma sujeira e atmosfera pesada que viria a ser tão impactante em O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper lançado somente no ano seguinte. Gary Sherman, mais conhecido por dirigir Os Mortos Vivos e a bomba Poltergeist III, inspirou-se na lenda escocesa de Alexander “Sawney” Bean, que entre os séculos XV e XVI (não se sabe a data precisamente), foi responsável pelo assassinato e canibalização de mais de mil pessoas em Edimburgo, sendo líder de um clã congênito e incestuoso de 48 pessoas. A história de Sawney foi publicada no “The Newgate Calendar”, catálogo de crimes da notória Newgate Prision em Londres, porém os historiadores acreditam que o sujeito nem existiu e que a história faz parte do folclore local e da indústria turística da cidade. Transportada para a Londres do século XX, a trama de O Metrô da Mortetraz os descendentes de funcionários de uma antiga estação de metrô inglesa desativada na cidade, localizada entre as estações de Holborn e Russell Square, que ficaram soterrados e vivem desde então pelos túneis abandonados praticando canibalismo e se reproduzindo entre si. Vez ou outra, o último membro dessa família sequestra algum passageiro para servir de lanchinho para ele e a enferma esposa grávida. A atenção da polícia se dá início quando um importante membro da política britânica, após uma noite de luxúria em alguns clubes de strip-tease locais, desaparece misteriosamente da estação após ser encontrado desacordado por um casal de estudantes, Alex (David Ladd) e Patricia (Sharon Gurney), enquanto os mesmos buscavam por auxílio. O inspetor Calhoun (interpretado por Donald Pleasence), um mal humorado e sarcástico oficial de polícia bebedor compulsivo de chá e o detetive sargento Rogers (Norman Rossington) começam a investigar o desaparecimento do honorável sujeito pertencente a Ordem Britânica e se deparam com um típico “cala-boca” do MI5, dado por Stratton-Villiers, aparição especial relâmpago de Christopher Lee. Eles descobrem que tem caroço nesse angu quando outros três funcionários desaparecem e os corpos de dois são encontrados mutilados (um deles empalado por uma vassoura) parcialmente devorados e pasmem, infectados por peste bubônica, como descoberto na autópsia. E o melhor de tudo é que todas as cenas da morte dos sujeitos são mostradas de forma explícita. O jovem casal volta para casa depois de uma noite no teatro e Patricia esquece seus livros no vagão após descer na estação. No que Alex volta para apanhá-los, o vagão toma seu curso e eles combinam de se encontrar em casa.  Patricia então é raptada pela criatura mutante, pois sua esposa, mãe, irmã, sabe-se lá, morreu decorrente de complicações de parto (o bebê nem chega a nascer), e apesar da dor da perda (até dá dó do monstro choramingando pelos túneis), ele precisa de uma nova reprodutora, para perpetuar a espécie. Desacreditado por Calhoun, Alex parte para os túneis para investigar sozinho e tentar salvar a namorada antes que seja tarde demais e ela seja estuprada ou na pior das hipóteses, canibalizada. Apesar do alívio cômico trazido pela singular interpretação de Pleasence (excelente como sempre) com seu assistente e da participação caricata de Lee, o filme tem um tom sombrio e grotesco, com cenas realmente perturbadoras daqueles dois seres humanos vivendo em condições insalubres, regredidos a instintos animais de sobrevivência, reprodução incestuosa, consumo de carne humanas ou de ratos, descendentes de operários abandonados em sua própria sorte por uma inescrupulosa empresa capitalista e vivendo à margem da sociedade civilizada que se locomove diariamente de uma estação a outra, utilizando um moderno meio de transporte. Contraponto também com as personalidades estudantis de Alex e Patricia, que frequentam universidades, bibliotecas, decidem nos cafés da cidade qual filme assistirão naquela noite (uma das opções é Operação França de William Friedkin) no cinema e frequentam o teatro. Fora esse contexto social subentendido, o diretor Gary Sherman abusa de fotografia escura, abundância de cenas impactantes de gore (como empalamento, decapitação e canibalismo), um brutal tentativa de estupro, e excelente uso da trilha sonora, ou muitas vezes da falta dela, quando somos apresentados ao covil dos moradores do subterrâneo, no mais completo silêncio, ouvindo apenas a sequência rítmica de batimentos cardíacos e um gotejar incessante. Covil esse repleto de esqueletos e partes humanas espalhadas pelas galerias. E repito mais uma vez: antes de sermos testemunhas oculares do interior da casa de Leatherface e companhia limitada. Outro detalhe do filme é o constante repetir da frase “cuidado com as portas” proferida pelo mutante canibal, ouvida constantemente pelos funcionários do metrô. O grande furo escabroso do roteiro é como cinco gerações de canibais se alimentaram de seres humanos sem chamar a atenção das autoridades até então e como eles não escaparam de lá já que têm livre acesso até a estação? Até dá para pensarmos em imaginar o MI5 encobrindo os crimes (até pela postura obscura do personagem de Lee, intencional ou não), até que um diplomata importante tenha desaparecido… mas, deixe isso para lá pela boa e velha suspensão de descrença tão necessária nesse gênero, né? A versão original de O Metrô da Morte lançada tanto nos cinemas quanto mais tarde em VHS foi mutilada pela BBFC (British Board of Film Classification) – a versão britânica do MPAA americano – e somente em 2006 que a versão sem cortes pode ser apreciada pelos moradores da Terra da Rainha, quando seu lançamento em DVD. Aqui em terras brazilis, nem a versão “canibalizada pela censura” foi sequer lançada. Nos EUA natal de Sherman, o filme ganhou o interessantíssimo e apelativo título “Raw Meat”, tradução literal de “carne crua”, que obviamente, se encaixaria melhor nos cinemas grindhouse e sessões da meia-noite da época.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/24/291-metro-da-morte-1973/

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

#290 1973 IRMÃS DIABÓLICAS (Sisters, EUA)


Direção: Brian De Palma
Roteiro: Brian De Palma, Louisa Rose
Produção: Edward R. Pressman, Lynn Pressman e Robert Rohdie (Produtor Associado)
Elenco: Margot Kidder, Jennifer Salt, Charles Durning, William Finley, Lisle Wilson

Irmãs Diabólicas é o primeiro exercício de suspense do diretor Brian De Palma, não seu primeiro trabalho como diretor, mas o filme que, a partir de sua já famosa inspiração oriunda dos trabalhos de Alfred Hitchcock, começaria a permear os elementos característicos que veríamos em seus longa metragens posteriores e o nascer cinematográfico, por assim dizer, de um dos mais importantes diretores de sua geração. Hitchcockiano dos pés a cabeça, com claras influências de obras do mestre do suspense como Festim Diabólico, Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta e Psicose, Irmãs Diabólicas passa longe de uma simples cópia ou mera homenagem, imprimindo toda a utilização de determinadas técnicas cinematográficas e elementos de narrativa doentias e psicóticas que se tornariam algo tão corriqueiro nos filmes de De Palma. A premissa é simples, vinda de uma história original do próprio De Palma (que também assina o roteiro ao lado de Louisa Rose), inspirada em um artigo que o diretor leu sobre o sucesso de uma operação de separação de gêmeos siameses na União Soviética. De Palma alegou ter ficado assombrado por uma fotografia dos gêmeos após a operação onde um parecia alegre e saudável e o outro triste e perturbado, e o fato do artigo também abordar as questões sobre os problemas psicológicos sofridos pelos irmãos após a separação. Dessa forma somos apresentados a modelo e aspirante a atriz Danielle Breton, personagem vivida por Margot Kidder (a eterna Lois Lane de Superman de Richard Donner), que participa de um programa de televisão de “pegadinhas” junto do publicitário Phillip Woode, com quem vai jantar na mesma noite. Após uma discussão com seu ex-marido, Emil Breton (Willian Finley), os dois vão para o apartamento de Danielle em Staten Island, NY, quando depois de uma noite de amor, Danielle começa a sofrer de um ataque nervoso na manhã seguinte, após uma ferrenha discussão com quem descobrimos ser sua irmã gêmea, Dominique, a quem já sacamos ser sua irmã xipófaga, pois durante a cena de sexo na noite anterior, vemos uma horrenda cicatriz no corpo de Danielle. Após sair para comprar remédio para a garota, Phillipe também compra um bolo, pois era aniversário de ambas naquela data. Enquanto esta cena casual se desenrola na rua, dentro do apartamento, Danielle começa a sofrer uma violenta convulsão e uma crise psicótica. Ao Phillipe retornar, ele é cruelmente assassinado por Dominique a facadas, e ao tentar pedir ajuda, é visto da janela da vizinha, a jornalista Grace Collier (Jennifer Salt), testemunha ocular do crime. A primorosa cena é filmada utilizando a técnica split screen, dividindo a tela em duas, uma visualizando a agonia e pedido de socorro da vítima, e outra o ponto de vista da testemunha, ao melhor estilo revisitado alguns anos mais tarde na antológica cena do baile em Carrie – A Estranha. A partir daí, desacreditada pela polícia, por motivos de indisposição anterior graças a artigos publicados pela jornalista, Grace começa uma investigação particular para provar o assassinato ocorrido no apartamento da frente, já que nem ela e nem os policiais encontraram o corpo de Phillipe ao vasculharem a casa de Danielle, já que seu ex-marido ajudou a esconder o cadáver dentro do sofá. A partir deste momento, somos jogados em uma trama macabra de suspense onde vamos conhecer o passado das duas irmãs siamesas, os desdobramentos da operação que as separou no Canadá e a degradação psicológica de ambas, até sermos catapultados para o previsível, porém impactante final. Irmãs Diabólicas derrapa um pouco em seu roteiro e no desenvolvimento da história, mas De Palma, com toda sua capacidade técnica começando a aflorar naquele momento, e inspirado pelos melhores momentos de Hitchcock nas telas, consegue segurar a onda e entregar uma peça redonda na medida do possível, prendendo a atenção do espectador até seu desfecho, elevando o nível de tensão e as injeções de adrenalina, misturado com algumas cenas violentamente ímpares, principalmente do montante de perguntas e respostas que surgem vindas dos personagens dúbios e talvez até desequilibrados espalhados pelo longa, e do subtexto da perda de identidade e do ponto de virada de onde sanidade transforma-se em loucura assassina. Outro ponto positivo é a trilha sonora conduzida por Bernard Hammer de forma excelente (o mesmo que compôs a trilha de Psicose). E já que falamos das inspirações de Hitchcock, temos em Irmãs Diabólicas o sofá, local onde o corpo que definiria o crime, e até então algo que  “nunca existiu”, pois não foi encontrado (e a excelente reviravolta final para que Grace, erroneamente internada em um hospício, simplesmente deixe de lado o caso) é seu MacGuffin (como o baú no centro da sala de Festim Diabólico?). Mesmo que a carreira de Brian De Palma seja inconstante, o cara é inegavelmente um gênio, capaz de transmitir uma sensação de suspense como ninguém, de suor frio escorrendo pela testa, coração apertado contra o peito e momentos longevos de respiração contida. Isso sem contar toda a falta de virtude e moralismo de seus personagens, combinado com crueldade e distúrbios psicológicos e doentios, marca registrada de seus longa-metragens. Irmãs Diabólicas é a gênese disso. Portanto, indispensável para qualquer cinéfilo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/23/290-irmas-diabolicas-1973/

terça-feira, 27 de outubro de 2015

#289 1973 INVERNO DE SANGUE EM VENEZA (Don’t Look Now, Reino Unido, Itália)


Direção: Nicolas Roeg
Roteiro: Allan Scott, Chris Bryant, Daphne Du Maurier (história)
Produção: Peter Katz, Frederico Mueller (Produtor Associado), Anthony B. Unger (Produtor Executivo)
Elenco: Julie Christie, Donald Sutherland, Hilary Mason, Clelia Matania, Massimo Serato, Renato Scarpa

O exercício de se fazer cinema de suspense praticado em Inverno de Sangue em Veneza é simplesmente soberbo, por assim dizer. Existem grandes filmes, atemporais, que se encaixaram perfeitamente em certo período da história da sétima arte e que funcionam como referência imortal de estilos para determinado gênero. E esse é o caso desta obra prima dirigida por Nicolas Roeg. Escrito por Allan Scott e Chris Bryant, baseado no livro de Daphne Du Maurier, a mesma autora de Os Pássaros de Alfred Hitchcock, Inverno de Sangue em Veneza é uma obra complexa que mistura elementos sobrenaturais com uma intrincada trama entrecortada sobre pré e pós-cognição, narrativa envolvente e cheia de mistérios levantados por ações e personagens dúbios, dor da perda, medo e perturbação psicológica, capaz de prender e criar diversos pontos de interrogação na cabeça do espectador, tal qual somente um grande filme é capaz, até chegar ao seu final inesperado e completamente arrebatador, em um dos melhores desfechos que o cinema de terror já testemunhou. Com uma narrativa não linear do diretor britânico, recheado de elipses de tempo que irão permear a trama, a impactante cena de abertura de Inverno de Sangue em Veneza é simplesmente sufocante, e lida com a morte da filha mais nova do casal Laura e John Baxter, vividos pelos excelentes Julie Christie e Donald Sutherland. A garotinha, Christine, afoga-se no lago nas proximidades da residência dos dois, enquanto brincava com o irmão, alheios da atenção dos pais, e a famosa e impactante cena onde o desesperado pai sai com a criança morta em seus braços do fundo do gelado lago é sufocante, assim como o grito de dor e indignação da mãe dado pela tragédia. Tentando levar suas vidas adiante após algum tempo, o casal inglês muda-se para Veneza, pois John foi contratado para restaurar uma velha igreja local. Enquanto ele afunda-se na rotina de trabalho e pretende renovar os laços familiares com sua esposa, ela busca aceitar a tragédia agarrando-se a qualquer sinal de perdão, o que a leva a conhecer duas misteriosas mulheres em um restaurante, a cega Heather (Hilary Manson) e sua irmã Wendy (Clelia Matania), sendo que Heather possui um poder mediúnico e alega ter visto a filha morta deles junto ao casal. Laura desaba e mesmo a contragosto do marido, que tenta manter-se racional a tudo que acontece, resolve encontrá-las para uma sessão espírita, sendo que a cega adverte John de que ele deve deixar Veneza, pois corre risco de vida. No meio disso, um cruel assassino está à solta entre os canais e as ruas labirínticas e claustrofóbicas da cidade, e em determinado momento em um passeio noturno pela cidade alagada, John vislumbra uma pequena figura correndo pelas vielas, utilizando uma capa vermelha, a mesma usada por sua filha na ocasião de sua morte. Neste momento do filme, os personagens começam a embarcar nas suas próprias espirais de dúvida que também afligem aquele que está do outro lado da tela: primeiro, tentando decifrar se John vislumbrou o fantasma da filha naquela noite; segundo se as duas irmãs são charlatonas ou realmente estão falando a verdade para a impressionável Laura; e terceiro, a quantidade de personagens dúbios que também levantam todo tipo de suspeita, como o próprio Bispo Barbarrigo (Massimo Serato), que contatou John para restaurar a Igreja, com sua postura soturna e inquietante, ou o inspetor Longhi (Renato Scarpa), que parece pouco interessado, suspeito e esnobe quando John resolve pedir a ajuda da polícia. Após o outro filho do casal sofrer um acidente no internato que estuda, Laura volta para a Inglaterra e deixa John em Veneza para finalizar seu trabalho. É então que uma espiral de acontecimentos sombrios se iniciará quando John fica a beira da morte ao quase cair de um andaime da igreja (afinal, a médium havia lhe dito que ele corria perigo de vida) e quando mais tarde ele avista sua esposa, que supostamente havia deixado a cidade, em meio a multidão. Um quebra- cabeça mental se dá início até que John recebe o fatídico telefonema da esposa na Inglaterra, dizendo que o filho estava bem e que iria voltar para a Itália no próximo voo. Culpando as irmãs e levando-as até a serem detidas para investigação, John se desculpa acompanhando a cega até o hotel onde estava hospedada, para ser testemunha da mesma entrar em uma espécie de ataque epilético ao se contactar com alguma entidade espírita. Daí uma série de eventos entrecortados irão convergir e transformar todas as perguntas em respostas na fatídica e inesquecível cena final.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Eis que após deixar o quarto de hotel de Heather e Wendy, John mais uma vez se depara com a misteriosa figura de capa vermelha, ao mesmo tempo em que um comerciante local grita entre os becos que ela está “possuída” pelo demônio, Heather explode em uma terrível convulsão enquanto é possuída pelo suposto espírito de Christine, refutando mais uma vez que John deve deixar a cidade, o bispo de forma inquieta acorda de seu sono pressentindo um mal terrível e Laura já de volta à Veneza começa a seguir John que partiu em disparada. Ao encurralar a estranha criaturinha, John estupefato (assim como nós) descobre que na verdade o personagem é uma grotesca anã (interpretada pela cantora Adelina Poerio), que tira do bolso da capa vermelha uma lâmina e atinge a sua jugular. Inverno de Sangue em Veneza termina com o verdadeiro intuito de nos deixar boquiabertos. E Nicolas Roeg consegue atingir seu feito de forma avassaladora, com sua incrível habilidade de conduzir as cenas de forma impressionista e usando certas associações de imagens e cores como vidros, água e a cor vermelha, ajudado pela impecável edição de Graeme Clifford, misturando flashbacks e flashforwards a todo instante com cenas do presente (algo até então inédito no gênero) dando maior ênfase ao subtexto sobre clarividência do filme, a cinematografia de Anthony Richmond, que captura com estética barroca os cenários, ora deslumbrantes, ora sujos e sufocantes de Veneza, funcionando como um verdadeiro personagem do filme, e a trilha sonora contida e pontual de Pino Donaggio em seu primeiro trabalho para o cinema (descoberto por um dos produtores durante um passeio de gôndola enquanto procurava locações para a fita). Mas a cena mais famosa do longa-metragem, mesmo com todo o impacto de sua abertura e conclusão, sem dúvida é a cena de sexo entre o casal, poética e magistralmente captada pelas lentes de Roeg, realizada em um momento de desencontros entre os dois durante a estada em Veneza, editada de forma magnânima entre a carnal fusão dos dois corpos, com cenas dos dois já se vestindo após o ato consumado, preparando-se para sair para jantar, explorando a intimidade do casal no momento específico e no pós-sexo, auxiliado pela química entre Christie e Sutherland, sendo que na verdade foi uma cena decidida de última hora por Roeg, ou seja, feita no improviso, pois o diretor alegava haver muitas cenas apenas com o casal discutindo e escancarando a crise conjugal instaurada com a perda do ente querido. Por mais que a trama envolva o espectador, os aspectos técnicos por trás da filmagem são a cereja do bolo de Inverno de Sangue em Veneza, principalmente sua edição como já destaquei, que mantém o ritmo quase perfeito da película. Fora isso, a verdadeira salada de fruta de gêneros nunca funcionara tão bem quanto nesse exemplar, misturando na dose certa momentos de terror, drama familiar, mistério, sobrenatural e até pitadas dos thrillers italianos e todas as especulações e questionamento que vão se levantando, até todas as possibilidades se esvaírem como sangue pelos canais da chamada Cidade do Amor, mas que aqui, nos é apresentada como uma opressiva e assustadora cidade do terror.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/22/289-inverno-de-sangue-em-veneza-1973/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
568 1973 Inverno de Sangue em Veneza (Don’t Look Now) 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

BLOOD MOON (EUA, 2014)


TALES OF HALLOWEEN (EUA, 2015)


2014 LAST SHIFT


#288 1973 O HOMEM DE PALHA (The Wicker Man, Reino Unido)


Direção: Robin Hardy
Roteiro: Anthony Shaffer
Produção: Peter Snell
Elenco: Edward Woodward, Christopher Lee, Diane Cilento, Britt Ekland, Ingrid Pitt

O Homem de Palha é um filme polêmico e extremamente controverso. Assim como todo bom filme que ouse propor concepções diferentes de religião e que batam de frente com o cristianismo. Se O Exorcista traz o poder cristão ao topo máximo da pirâmide contra o mal, já o filme escrito pelo excelente roteirista Anthony Shaffer (o mesmo de Frenesi, de Hitchcock), renega essa crença e aposta no paganismo como fonte da solução de todos os problemas de uma remota ilha na costa escocesa. Tudo começa quando o Sargento Howie (Edward Woodward) chega até a ilha, guiado por uma carta que recebeu no continente, para investigar o repentino sumiço de uma garota local, Rowan Morrison. Cristão fervoroso, a ponto de não acreditar no sexo antes do casamento e ser um daqueles sujeitos bem carolas, ao chegar no local fica extremamente chocado com a orientação religiosa dos moradores da ilha, que acreditam em deuses da fertilidade, sem nenhum pudor fazem sexo grupal pelos campos, ensinam sobre a importância de venerar o falo abertamente na escola e até recebe uma cantada descarada da filha do estalajadeiro, que fica dançando e batendo na porta do seu quarto nua em pelo (nessa cena, a atriz Britt Ekland usou uma dublê de corpo para fazer as cenas onde aparece dançando de costas), convidando-o para uma noite de luxúria. Cada vez mais abismado com o que vê a sua volta, Howie então percebe que há uma imensa conspiração entre os moradores da ilha para ocultar o que realmente aconteceu (ou irá acontecer) com Rowan, incluindo o Lorde Summerisle (Christopher Lee, magnífico), neto do responsável por instalar a religião oficialmente por lá. Em suas investigações, o sargento descobre que a colheita do ano anterior tinha sido um fracasso, e segundo as tradições, um sacrifício humano deveria ser realizado para o Deus do Sol e a Deusa dos Pomares, afim de garantir uma farta colheita no próximo outono. E Rowan será sacrificada durante esses festejos de 1º de maio (não, não será em nenhuma festa da CUT ou da Força Sindical).
ALERTA DE SPOILER – Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Apenas no finalzinho do filme que é revelada a verdadeira intenção de Summerisle e seus seguidores: tudo não passou de um embuste para atrair o virgem adulto Sargento Howie, que chegou ao local por livre e espontânea vontade, apenas para ser ele a vítima do sacrifício para aplacar os deuses da fertilidade da ilha, e ser queimado vivo dentro do tal homem de palha gigante construído na encosta. O Homem de Palha é um filme bem excêntrico, que mistura elementos de terror e suspense, com doses de humor e muitas peças musicais (sim, isso mesmo: musicais). É extremamente bem executado pela dobradinha entre o diretor Hardy e o roteirista Shaffer, que vão nos conduzindo em uma trama quase policial, com um final extremamente impactante e sinistro, sem apelar para um banho de sangue ou para os estereótipos góticos das produções inglesas de terror que vinham sendo realizadas até os anos 70, principalmente da Hammer. Talvez o quesito mais polêmico do filme foi o fato de escancarar o uso da religião de uma forma extremista, independente de qual seja, para que os fins justifiquem os meios, colocando no centro do debate toda a mesquinharia religiosa do ser humano, que pode muito bem fazer o mal a outra pessoa que não seja de sua crença para o seu proveito, ainda mais se essa tal crença julgar ser a certa e única do universo, enquanto todo o resto não passa de pecador e herege. Enfim, discussões teológicas à parte, é um excelente filme que ficou por muito tempo desconhecido do grande público, uma vez que os negativos foram acidentalmente destruídos e a versão que se viu foi uma versão com cortes. O filme na íntegra só pode ser conferido quando em 2002, a versão original do diretor foi lançada em DVD nos EUA. Chegou até a ser lançado no Brasil pelo desbravador selo Dark Side da Works Editora. E para provar que eu não estou mentindo, Christopher Lee considera esse seu principal papel no cinema (e olha que não há nenhum outro ator no mundo com mais filme no currículo que ele) e trabalhou na produção sem receber cachê, pois sabia do orçamento baixo e principalmente, acreditava muito no potencial do filme. Potencial esse que Hollywood e sua fábrica de estupidez conseguiu estragar de uma forma sem precedentes, ao refilmar o clássico em 2006, com ninguém mais, ninguém menos que Nicholas Cage, o maior canastrão do cinema, no papel do detetive e Ellen Burstyn (coitada!) no papel da Irmã Summerisle (sim, uma mulher), em uma trama que se passa nos Estados Unidos e deturpou toda a história original do filme. Aqui no Brasil, recebeu o nome de O Sacrifício sendo que sacrifício mesmo é conseguir assistir essa bomba até o final. Corra!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/19/288-o-homem-de-palha-1973/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
566 1973 O HOMEM DE PALHA (The Wicker Man) 1001 T VISTO

#287 1973 O HOMEM-COBRA (Sssssss, EUA)


Direção: Bernard L. Kowalski
Roteiro: Hal Dresner, Daniel C. Striepeke (história)
Produção: Daniel C. Striepeke, Robert Butner (Produtor Associado), David Brown e Richard D. Zanuck (Produtores Executivos)
Elenco: Strother Martin, Dirk Benedict, Heather Menzies, Richard B. Shull, Tim O’Conner, Jack Ging

Quando você tomava muito sol e descascava, e seus pais diziam que você estava se transformando no Homem-Cobra, que pânico! Ou isso não acontecia com vocês, só meus pais eram terríveis a esse ponto? Fato é que há toda uma mística assustadora por trás dessa fita produzida pela dupla David Brown e Richard D. Zanuck (responsáveis por Tubarão, o filme definitivo de animais assassinos), que se dissipa quando você o assiste mais velho. Falando com o coração, O Homem-Cobra é um filme lendário, apavorante, objeto do imaginário popular de toda uma geração. Falando com a razão, é um filme chato pra danar, que envelheceu muito mal e perdeu completamente seu charme. Recomendado apenas para saudosistas, porque duvido que a molecada de hoje em dia vá se impressionar e não achá-lo enfadonho. Mas que verdade seja dita: a maquiagem ainda é bem bacana pros dias de hoje. Sem computação gráfica pilantra, o visual do rapaz que vai se transformando em uma bizarra mutação réptil e tem sua pele transformada em escamas foi criada por Daniel C. Striepeke, que também é produtor e idealizador da história original e leva na bagagem os efeitos de maquiagem de filmes como O Planeta dos Macacos, A Ilha do Dr. Moreau, Grease – Nos Tempos da Brilhantina, O Resgate do Soldado Ryan e Forrest Gump – O Contador de Histórias (sendo que por esse dois últimos, foi indicado ao Oscar). No começo do filme, já somos avisados logo de cara que todas as cobras utilizadas no filme eram reais, importadas do sudeste asiático, e que os atores se puseram em grande perigo ao contracenar com os ofídios.  E vale lembrar que tem muita gente por aí que tem pavor de cobras, então mais um motivo para o filme ser traumático. Abre a história com o cientista louco da vez, Dr. Carl Stoner (Strother Martin), vendendo u de seus experimentos que deu terrivelmente errado (que não sabemos até então) para um dono de um circo de aberrações, por 800 dólares. Obstinado em sua pesquisa, o outrora proeminente herpetológo procura por outro assistente, e encontra o jovem David Blake (vivido por Dirk Benedict, o eterno Templeton “Cara de Pau” Peck do seriado Esquadrão Classe A), indicado pelo infame Dr. Ken Daniels (Richard B. Shull), rival acadêmico do agora decadente e desacreditado Dr. Stoner. Enquanto o pobre estagiário pensa que vai ajudar nas pesquisas de veneno e ainda por cima, se dar bem pegando a filha do cientista, a doce Kristina (Heather Menzies), mal ele sabe que o Dr. Stoner é um louco de pedra travestido na figura de um simpático velhinho bonachão que gosta de se embebedar junto com sua píton de estimação, e que na verdade, irá testar uma fórmula experimental no rapaz e gradativamente transformá-lo em uma criatura metade homem, metade cobra, com a desculpa de injetá-lo um soro que irá imunizá-lo do veneno dos répteis. Descobrimos então que o assistente anterior do Dr. Stoner, que estava dado como desaparecido, é a tal aberração vendida ao circo no começo do filme, sendo que ele não havia chegado ao estágio completo de desenvolvimento e a experiência deu errado. Kristina é enviada para recolher uma cobra rara para mantê-la longe de David, assim ficando à par do que está acontecendo com o recém caso amoroso, e acaba por descobrir o paradeiro do antigo assistente e vê a criatura bizarra em que ele se transformou. Logo ela sabe que o namorado está correndo sério perigo, ao mesmo tempo em que a polícia começa a ficar na bota do herpetólogo por conta dos misteriosos desaparecimentos do Dr. Daniels e de um rapaz que se envolvera em uma briga com David por xavecar Kristina, e acaba por assassinar a cobra de estimação deles. ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco. Desesperada, ela retorna para casa apenas para descobrir que dessa vez o experimento do pai fora bem sucedido, e em uma cena ruim de doer que mistura trucagem de câmera e os primórdios dos efeitos especiais, David se transforma em uma Cobra-rei, um dos mais perigosos e venenosos espécimes do planeta. Essa cena derruba todo o filme. Lembrou-me bastante de O Homem-Crocodilo, sci-fi dos anos 50 que traz uma premissa bastante parecida, e um ótimo efeito de maquiagem até a criatura ter sua mutação concluída a estragar tudo. Ainda dá tempo do Dr. Stoner ser picado por outra Cobra-rei que ele hipnotizava em seu show para poder conseguir uns trocados e de David ser morto pelo terrível mangusto, único mamífero predador que rivaliza com o réptil e é imune ao seu veneno. No frigir dos ovos o Dr. Stoner é um sujeito cheio de boas intenções. O problema é que como diz o ditado popular, de boas intenções o inferno está cheio. Então a maluquice de querer fazer experiências genéticas para mesclar duas espécies (algo que absolutamente NUNCA terminou bem no cinema de horror) e tentar criar uma raça híbrida é apenas para dar um salto na lenta teoria da evolução das espécies. Claro que a obstinação se confunde com instinto assassino desprovido de qualquer humanidade e remorso. E dá uma dó desgraçada do pobre David se contorcendo, e gritando de dor quando aos poucos vai se transformando naquela criatura peçonhenta. Isso sim metia medo! E somente nos momentos finais a mutação passa a ser o foco principal do filme e a criatura é vista, mantendo um climão de suspense e fazendo escola, assim como aconteceu, por exemplo, com A Mosca de David Cronenberg futuramente. Bom, como disse lá em cima, O Homem-Cobra é filme para os trintões ou quarentões, que viveram o esplendor de ser criança ou adolescente no melhor momento possível da humanidade para tal, quando éramos brindados por filmes como esse sendo exibidos nos canais abertos, logo após a Semana do Presidente e aquela mensagem sinistra de Jesus Cristo (“paz, amor, fé, esperança, luz e união…”), ainda tendo o prazer de ouvir Silvio Santos dizendo que uma de suas filhas havia assistido e recomendava, e nossos pais nos deixavam ver um filme de terror tarde da noite, mandando o politicamente correto às favas.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/18/287-o-homem-cobra-1973/

#284 1973 O EXORCISTA (The Exorcist, EUA)


Direção: William Friedkin
Roteiro: William Peter Blatty
Produção: William Peter Blaty, Noel Marshall e David Salven (Produtores Executivos)
Elenco: Ellen Burstyn, Max Von Sydow, Linda Blair, Jason Mille, Lee J. Cobb

O melhor e mais assustador filme de terror de todos os tempos. Com certeza, são dois dos adjetivos mais comuns que podem ser usados para falar de O Exorcista. Sim, para mim é o filme de terror definitivo. O primeiro lugar nessa lista de 1001 filmes. Aquele que marca sua vida para sempre na primeira vez que você assiste. E por mais que haja vários outros clássicos no gênero, nenhum deles carrega a aura pesada de O Exorcista e nenhum é responsável por mexer tanto com a psique e o medo das pessoas do sobrenatural. O sucesso atemporal de O Exorcista pode ser dividido em três fatias iguais do bolo: a direção de William Friedkin, o roteiro de William Peter Blatty baseado no seu livro homônimo e sua trinca principal de atores. Ellen Burstyn como Chris McNeil, Max Von Sydow como o padre Lankester Merrin e Linda Blair como Regan, a garota possuída. Para se entender esse filme e o impacto que ele tem nas pessoas que o assiste, vou tomar a mim mesmo como exemplo para explicar uma certa teoria. A primeira vez que vi O Exorcista, como muito de vocês provavelmente, foi quando eu era criança. O filme é de 1973, mas ao que eu me lembre, devo tê-lo visto no final dos anos 80, começo dos anos 90, não sei bem ao certo. O lance todo já começa por aí, afinal os tempos eram outros, e se você parar para analisar o mundo extremamente careta e coxinha que vivemos hoje, em que sã consciência um pai ou uma mãe deixaria o filho pivete assistir a esse filme? Pois bem, tenho certeza que quase toda minha geração assistiu muito novo, e por isso ele é algo tão impressionante e ficou marcado para sempre. Quando você já é adolescente ou adulto, assisti-lo perde muito de sua graça, pois convenhamos, é um filme que não mete mais medo em ninguém. Nem a cabeça de Regan girando em 360º, o vômito de abacate, a cama levitando… E daí chegamos a minha teoria: toda criança deve assistir O Exorcista. Sei lá, deveria ser exibidos nas escolas, durante o ensino fundamental. Porque só assim, em pleno Século XXI, o filme continuará enraizado no folclore popular como o filme mais assustador de todos os tempos. O filme onde as pessoas saíam passando mal do cinema. O filme que você tinha que dormir de luz acessa com o crucifixo na cabeceira da cama. Porque se essa geração blockbuster de hoje em dia assistir a essa obra prima muito velho, vai detestar, achar besta pacas e capaz de sair falando um monte de groselha nas redes sociais. E pior, vai ficar aí uma lacuna muito grande para futuros fãs dos filmes de horror, impossível de ser preenchida por qualquer filme que venha a ser feito, e isso me preocupa muito. Porque mesmo uma geração ainda depois da minha, conseguiu até vê-lo no cinema, quando a Versão do Diretor foi lançada em 2001. E para essa molecada de hoje em dia sobra o que? Fazer um remake? Pois bem, deixando meus devaneios de lado, todo mundo deve estar careca de saber que O Exorcista traz a história da doce menina filha de uma atriz de Hollywood que fica possuída por um antigo demônio chamado Pazuzu, e após todos os testes médicos e psicológicos darem negativos, o padre e psiquiatra Damien Karras e o padre e arqueólogo Lankester Merrin tem de realizar um ritual de exorcismo para expulsar o cramunhão da garotinha. O best-seller de Blatty foi publicado pouco depois que o terreno perfeito estava completamente preparado nos EUA, com o banho de sangue no Vietnã, o ataque da Guarda Nacional contra os estudantes que protestavam contra a guerra na Universidade de Kent, os assassinatos cometidos pela família Manson e o trágico show dos Rolling Stones que acabou muito mal após uma confusão do público com os Hells Angels, que foram contratados como seguranças do evento (???!!!). Não precisa dizer que foi um sucesso de vendas, né? E a escolha de Friedkin foi o verdadeiro golpe de sorte da Warner Bros., porque além da direção magistral, ele conseguiu desenvolver todo o contraponto necessário para que o filme não caísse na armadilha carola de Blatty. Outro ponto de sucesso do filme foi claro, Linda Blair, uma verdadeira joia com sua interpretação brilhante da garota possuída. É sabido que a carreira dela foi para o buraco, limitando-se a paródias de si própria e filmes eróticos (seria mais uma das maldições que envolve a produção?). Mas sem Linda, O Exorcista não teria nem metade da sua força. E tudo que essa menina passou não é brincadeira, como a cena em que ela começa a sacudir de um lado para o outro na cama, onde era controlada por amarras que a apertavam, machucando-a de verdade. Então quando ela grita para “fazer aquilo parar”, estamos presenciando uma reação extremamente autêntica de dor. Na audição para o papel de Regan, Linda com 12 anos na época foi entrevistada por Friedkin:
– Você leu O Exorcista?
– Li
– O Livro é sobre o quê?
– Sobre uma garotinha que é possuída pelo demônio e faz um monte de coisas ruins.
– Que tipo de coisas ruins?
– Ela empurra um cara de uma janela e se masturba com um crucifixo.
– O que isso quer dizer?
– É que ela toca siririca, não é?
– É sim. E você sabe o que é tocar siririca?
– Claro que sim.
– E você faz isso?
– Claro! Você não toca punheta?
E Linda ficou com o papel! Mas apesar disso, a verdadeira força motriz do filme é o papel de Burstyn. Ela é a pedra fundamental pela qual nós vamos mensurando todas as proporções que aquele acontecimento vai tomando e a forma como acaba afetando sua vida, e nos traz próximo do terror de verdade: aquele de ver um ente querido se deteriorando, seja por uma doença ou pela tal força sobrenatural nesse caso. A mesma coisa com o atormentado padre Karras, ao ver sua mãe perdendo o juízo até ser internada em um manicômio público, já que não tem dinheiro para tratamentos ou clínicas particulares, por ter decidido ser padre e feito um voto de pobreza. E isso coloca o questionamento e renovação da fé como um tema que sempre ronda os personagens por todo o filme, até mesmo o intrépido padre Merrin, que conhece os poderes do diabo, já o encontrou antes em suas escavações no Iraque e sabe que seu corpo velho e doente têm limitações contra as artimanhas sobrenaturais da criatura. Mas tirando todo o grosso que impressionou as plateias nos anos 70 e subsequentes, ainda há cenas, mesmo que revendo trocentas vezes, como meu caso, que ainda são assustadoras, como quando Regan durante uma festa fala para o astronauta que ele irá morrer lá em cima. Ou quando Damien vê sua mãe sentada na cama no lugar da garota, perguntando por que ele a abandonou para morrer daquele jeito, em uma tática vil da entidade para desestabilizar o sacerdote. E claro, existe todo aquele, podemos dizer, charme, das maldições envoltas na produção, que adquirem o status de lenda urbana e ajudam até hoje na publicidade do filme, como a morte do ator Jack MacGrowan uma semana após terminar as filmagens (ele interpretava o diretor Burke Dennings, o primeiro a morrer na escadaria), vítima de pneumonia, ou o set de filmagens que pegou fogo, na verdade por causa da quantidade de aparelhos de ar-condicionado ligados ao mesmo tempo para deixar o quarto com uma temperatura baixíssima, e assim vai. Mas vamos pensar que é obra do capeta, né? Bem mais divertido. Para fechar, vejam só O Exorcista concorreu a 10 Oscars. Isso mesmo 10. Mas quantos ganhou? Somente dois: melhor som e melhor roteiro adaptado. Isso diz muito sobre a Academia, como sempre. Nem Linda Blair levou como coadjuvante, nem Friedkin como diretor e o maior absurdo de todos, nem Burstyn como atriz principal. Absurdo maior que esse só anos depois, quando mais uma vez ela perdeu o Oscar de melhor atriz pelo seu papel em Réquiem Para um Sonho para, pasmem… Julia Roberts! Isso sim é coisa do diabo!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/15/284-o-exorcista-1973/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
571 1973 O EXORCISTA (The Exorcist)