Direção: Sergio Martino
Roteiro: Ernesto Gastaldi, Sergio
Martino
Produção: Carlo Ponti, Antonio
Cervi (Produtor Executivo)
Elenco: Suzy Kendall, Tina
Aumont, Luc Merenda, John Richardson, Roberto Bisacco, Ernesto Colli
Já cansei de falar por aqui no blog o
quanto Sergio Martino é subestimado como diretor em detrimento de outros nomes
mais conhecidos, prestigiados e cultuados do cinema italiano de horror. Mas
quer saber, eu quero que se dane e volto a afirmar veementemente que o sujeito
é fodão e um dos meus preferidos. E Torso pode
ser um filme grosseiro e sujo, com um fiapo de história apenas para ilustrar a
contagem de corpos, e considerado um dos mais fracos do seu promissor início de
carreira, mas eu acho um SENHOR filme de horror. Porque
assistir Torso hoje em dia é como se você revisitasse a gênese do
cinema slahser. Você pode até pensar que várias daquelas situações são
clichês e que com certeza você já viu tudo isso, copiado a exaustão nos anos 80
e 90 e até mesmo em obras anteriores como A Mansão da Morte de
Mario Bava, mas fato é que muito cineasta e muitos filmes vindouros,
desde Halloween – A Noite do Terror, passando por Sexta-Feira
13 e terminando
em Pânico, beberam, mas beberam com gosto, na
fonte desta fita de Sergio Martino. Diferente de
seus gialli anteriores, como Lâmina Assassina e A Cauda do Escorpião, por exemplo, onde há certa preocupação com a estética,
desenvolvimento da narrativa e intrincadas tramas de investigação cheia de
reviravoltas e mistério, aqui em Torso, o roteiro quase inexiste e tudo
funciona apenas para Martino desfilar um apreço voyueristico pela violência
extrema, muitas vezes nos colocando sob o prisma do serial killer, que não
faz distinção entre matar homens e mulheres (claro que mulheres, e nuas
preferencialmente, são sua predileção) ao praticar seus assassinatos sádicos.
Assassino esse também que funcionaria como referência futura para
os slasher movies, munido de sua faca afiada, luvas e uma máscara de esqui
para cobrir seu rosto. A trama reta e sem frescura divide-se em duas partes: a
primeira se passa em uma universidade na Itália, onde jovens alunos de arte são
vítimas de um impiedoso assassino que as estrangula com um cachecol vermelho e
preto e as mutila com múltiplos golpes de facada. O local fica tomado pelo
pânico, e as suspeitas da polícia recaem sobre Gianni Tomasso (Ernesto Colli),
um ambulante que vende cachecóis e outras tranqueiras no campus. Outra suspeita
recai sobre Stefano (Roberto Bisacco), sujeito stalker obcecado
pela bela Daniela (Tina Aumont), que vive perseguindo a garota. A segunda parte
da história se desenvolve quando Jane (vivida pela gatíssima Suzy Kendall),
assustada com as mortes, resolve se refugiar em uma pequena casa de campo de
seu tio, e convida suas amigas, Daniela, Katia (Angela Covello) e Ursula (Carla
Brait) para um final de semana tranquilo. Esse é o momento do filme de deleite
para os marmanjos. As três moçoilas, exceto Jane, adoram tomar sol nuas em pelo
e Katia e Ursula tem um relacionamento lésbico sem o menor pudor em trocar
carícias entre elas. As três ficarem peladinhas é mato. Mas enquanto a safadeza
rola solta, o impiedoso assassino resolve ir atrás delas, temendo ser
desmascarado por conta do cachecol. Inicia-se mais um banho de sangue e aquele
característico jogo de gato e rato com a única sobrevivente. Logo de início já
descobrimos que o assassino tem um devasso problema psicológico e sexual,
típico desses psicopatas, e isso irá desencadear as suas motivações misóginas
(a morte de homens são meras necessidades de percurso), que ficarão evidentes
quando explicada no final do terceiro ato (daquela forma bem macarrônica e meia
boca, envolvendo orgias, bonecas de porcelana e traumas), mas que obviamente já
temos uma boa ideia e até a suspeita de quem está por trás daquela máscara de
esqui, mesmo Martino jogando vários personagens dúbios no decorrer da trama,
como sempre o faz, para tentar ludibriar o espectador. Algumas cenas ímpares de
crueldade e violência extrema nos são reservadas durante o desenrolar
de Torso, filmadas com passividade e fria distância aterrorizantes pelo
diretor. Colocando-nos incólumes pelo POV do terrível serial killer a
espreita em determinados momentos, sem dúvida nenhuma a mais impactante e
emblemática cena é quando a ninfeta Carol (Conchita Airoldi), após uma festinha
hippie se engraçando com dois homens ao mesmo tempo e fumando muita erva
(criando as diretrizes dos “dos and dont’s” do cinema de terror adolescente bem
antes de John Carpenter) é perseguida pelo psicopata por um campo enlameado e
esfaqueada até a morte. Outra cena para os impressionáveis virarem o rosto é
quando, após ser chantageado pelo vendedor de cachecóis que sabe de sua
identidade, o assassino o esmaga repetidas vezes com um carro contra o muro. Mas
o mais inventivo na filmografia de Martino, pelo menos nessa primeira metade da
década de 70, enquanto ele ainda não dirigia filmes sobre canibais, homens
peixes em ilhas ou crocodilos gigantes, é sua capacidade em subverter
o giallo, trazendo vários desdobramentos de um estilo único de se fazer
cinema de suspense na Itália, famoso por simplesmente ser dado uma espécie de
CTRL C + CTRL V (ou COMMAND C + COMMAND V se você tem um Mac) em praticamente
todas as obras pós Trilogia dos Animais de Dario Argento. Em Torso, ele
flerta com o protozoário do slasher como bem já salientei. Antes
disso, ele já havia metido cultos satânicos no meio de Todas as Cores da Escuridão e ainda usado elementos
sobrenaturais em No Quarto Escuro de Satã. E o que falar do excelente nome italiano do
filme? Il corpi presentano tracce di violenza carnale? Aposto que você
fala em voz alta cantarolando ao melhor sotaque da Mooca e fazendo aquele
movimento característico balançando a mão fechada para cima em forma de cunha.
Na verdade esta frase, que traduzida ao pé da letra seria “o corpo apresentando
traços de violência carnal”, é dita por um dos policiais durante uma aula na
universidade, falando sobre as vítimas encontradas. Torso foi brutalmente
censurado nos países de língua inglesa, proibido nos cinemas do Reino Unido e
lançado somente no país em 1993 com uma versão em VHS com 50 segundos de cortes
orquestrados pela BBFC. A versão uncut, porém tem várias cenas que não
foram dubldas em inglês, então são exibidas com o idioma origial. Se você tiver
baixado o filme em dual audio nessa Internet de Deus, opte por assistir com o
idioma italiano. Milagrosamente até foi lançado no Brasil em DVD.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/30/295-torso-1973/