Direção: Sergio Martino
Roteiro: Adriano Bolzoni,
Ernesto Gastaldi, Luciano Martino e Sauro Scavolini (história)(Baseado no conto
de Edgar Allan Poe)
Produção: Luciano Martino
Elenco: Edwige Fenech, Anita
Strindberg, Luigi Pistilli, Ivan Rassimov, Franco Nebba, Riccardo Salvino
O diretor Sérgio Martino, diretor italiano de filmes giallo, aqui
em No Quarto
Escuro de Satã, faz um filme “miado”. Rá! Que piada infame!!! Isso porque na verdade, a
produção é uma livre adaptação do conto O Gato Preto, dos mais famosos de Edgar
Allan Poe. Um filme deveras interessante do diretor, que na verdade possui
algumas características do giallo, porém a meu ver, não se encaixa
exclusivamente no gênero, transformando-se em uma amálgama dos populares filmes
de suspense italianos, contendo um assassino misterioso, mortes violentas e
claro, sexo a rodo, mas também com um clima mais pesado de vingança e um viés
sobrenatural em seu final, tal qual o conto do escritor americano. Mas o mais
importante, como é típico da obra de Martino, é que todos os personagens são
dotados de uma idiossincrasia específica, que reflete a verdadeira falta de
escrúpulo e pudores, desde aqueles que consideramos realmente culpados, quanto
aqueles que pensamos ser as vítimas. Todos eles têm algo de
podre, de suspeito, de sujo. São personagens mesquinhos, alcoólatras,
promíscuos, racistas, que não dão o menor valor para vidas humanas e
sentimentos alheios. E o gato
preto, que tem o conveniente nome de Satanás, é apenas o espectador de um
relacionamento disfuncional, julgando-os com seus olhos amarelos brilhantes,
esgueirando-se pelos cantos do casarão. A trama de luxúria, abuso, assassinato
e vingança nos coloca no olho do furacão que é o relacionamento amoral e
superficial do falido e beberrão Oliviero Rouvigny (brilhantemente interpretado
por Luigi Pistilli), outrora famoso e bem sucedido escritor e professor, e sua
esposa, Irina (outra brilhante interpretação, da atriz sueca Anita Strindberg),
que é feita de saco de pancada pelo marido chauvinista que a agride
fisicamente, humilha e tortura psicologicamente. Irina vive uma vida amargurada
de remorso e provações, com o ódio pelo marido infiel saindo pelo ladrão, e
esse mesmo ódio, acaba sendo direcionado também para o gato de estimação de
Oliviero, herdado de sua mãe, que também era uma megera daquelas em vida. A
contagem de corpos começa quando uma atendente de uma biblioteca, que tem um
caso com Oliviero desde a época que era uma de suas alunas, o chantageia para
que ele continue saindo com ela, e é brutalmente assassinada por um sujeito
misterioso usando capa, chapéu e luva, e usa uma pequena foice de mão para
abrir a sua jugular. Obviamente todas as
suspeitas cairão sobre Olivieiro, que sequer tem um álibi decente, pois não
havia dormido em casa na noite do crime. Mas a submissa Irina acaba livrando a barra do
maridão quando a polícia resolve interrogá-lo. Não demora para mais
assassinatos acontecerem, como da empregada negra que trabalhava como
governanta da casa (e também era humilhada frequentemente e obrigada a praticar
atos sexuais com o patrão). E o caldo começa a entornar de verdade quando a
lasciva sobrinha de Olivieiro, Floriana (a belíssima Edwige Fenech, que já
havia trabalhado com Martino em Lâmina Assassina) vai passar um tempo na casa dos tios, e como uma
verdadeira libertina, passa a manipular a todos e transar com qualquer um que
apareça em sua frente: o tio, a tia, o entregador. Só o gato fica livre, senão
seria zoofilia! Pois bem, a teia da aranha está tecida para Floriana começar a
arquitetar um plano diabólico, despertando o sentimento de vingança de Irina,
enchendo a cabeça dela de caraminhola para que ela mate o tio, e vice-versa,
seduzindo o tio para se livrar da esposa e ficar com ela. Até o
entregador, que também é piloto de motocicleta nas horas vagas, entra na dança,
sendo convencido a fugir com a moça. Todo um comportamento cínico, que culmina
nas maiores chantagens para que a garota se dê bem e ainda consiga faturar uma
grana com as joias da avó que o decadente casal herdara.
ALERTA DE
SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Como todo bom filme italiano dos
anos 70, espere uma reviravolta estrambólica (legal essa palavra né?), onde
veremos que pior que Olivieiro, é mesmo a coitada Irina, que chegou ao limite
dos maus tratos, e resolve se vingar e tentar incriminar o marido com a ajuda
de um amante, Walter (Ivan Rassimov, famoso por atuar em diversos filmes do
próprio Martino e uma penca de filmes de canibais, incluindo aí o pioneiro Mundo Canibal). A dupla matou todas as
vítimas anteriores, e ainda assim, deu cabo do marido e emparedou o cadáver na
adega no porão, assassinou Floriana e o entregador Dario, fazendo parecer um
acidente na estrada e ainda por fim, Irina joga o cúmplice penhasco abaixo. Nem
o gato escapa do descontrole vingativo da moça, que em certo momento do filme,
após o bichano atacar suas galinhas, ela arranca o olho do felino com uma
tesoura. E não é aí que a inspiração do conto de Poe termina. Na sequência final, os inspetores
estão investigando a adega da casa, após ouvir o miado incessante de Satanás,
que parece ferido, e descobre que ele vem de trás da parede, assim como o
conto, onde eles irão encontrar o gato e o marido sepultados. Martino acerta a
mão, mantendo sempre a curiosidade do espectador alta em No Quarto Escuro
de Satã, aproveitando o seu domínio sobre elementos chave que garantem o
sucesso do longa e do gênero em si, como o distanciamento de qualquer afeição
pelos personagens, a típica fotografia barroca, mortes violentas, e várias
cenas carregadas de erotismo e nudez, outro ponto comum na filmografia do
diretor. Uma boa pedida, e um dos melhores exemplares do prolífico cinema de
terror italiano dos anos 70. Até foi lançado no Brasil em DVD pela Magnus Opus.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/02/275-no-quarto-escuro-de-sata-1972/
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