sábado, 31 de outubro de 2015

#291 1973 O METRÔ DA MORTE (Death Line / Raw Meat, Reino Unido)


Direção: Gary Sherman
Roteiro: Ceri Jones, Gary Sherman (história original)
Produção: Paul Maslanky
Elenco:Donald Pleasence, Norman Rossington, David Laid, Sharon Gurney, Hugh Armstrong, June Turner, Christopher Lee

Antes de O Massacre da Serra Elétrica e Quadrilha de Sádicos nos trazerem canibais e criaturas mutantes congênitas e chocar o mundo, eis que um obscuro e pouco conhecido filme inglês entraria nessa seara e investiria em um terror sujo, gore e sufocante em O Metrô da Morte, pérola horrorífica do diretor americano Gary Sherman, baseado em uma história original de sua autoria, inspirada em uma doentia lenda britânica. Por mais que nesta altura do campeonato já tivéssemos sido banhados em sangue nos filmes de Herschell Gordon Lewis lançados na década anterior, ou na violência estilizada do giallo italiano, visto os zumbis de Romero comerem carne humana e os canibais de Umberto Lenzi já terem dados as caras em uma floresta tropical por aí, ainda não tínhamos sido pegos por este tipo de violência gráfica no cinema de terror apresentado em O Metrô da Morte, com toda uma sujeira e atmosfera pesada que viria a ser tão impactante em O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper lançado somente no ano seguinte. Gary Sherman, mais conhecido por dirigir Os Mortos Vivos e a bomba Poltergeist III, inspirou-se na lenda escocesa de Alexander “Sawney” Bean, que entre os séculos XV e XVI (não se sabe a data precisamente), foi responsável pelo assassinato e canibalização de mais de mil pessoas em Edimburgo, sendo líder de um clã congênito e incestuoso de 48 pessoas. A história de Sawney foi publicada no “The Newgate Calendar”, catálogo de crimes da notória Newgate Prision em Londres, porém os historiadores acreditam que o sujeito nem existiu e que a história faz parte do folclore local e da indústria turística da cidade. Transportada para a Londres do século XX, a trama de O Metrô da Mortetraz os descendentes de funcionários de uma antiga estação de metrô inglesa desativada na cidade, localizada entre as estações de Holborn e Russell Square, que ficaram soterrados e vivem desde então pelos túneis abandonados praticando canibalismo e se reproduzindo entre si. Vez ou outra, o último membro dessa família sequestra algum passageiro para servir de lanchinho para ele e a enferma esposa grávida. A atenção da polícia se dá início quando um importante membro da política britânica, após uma noite de luxúria em alguns clubes de strip-tease locais, desaparece misteriosamente da estação após ser encontrado desacordado por um casal de estudantes, Alex (David Ladd) e Patricia (Sharon Gurney), enquanto os mesmos buscavam por auxílio. O inspetor Calhoun (interpretado por Donald Pleasence), um mal humorado e sarcástico oficial de polícia bebedor compulsivo de chá e o detetive sargento Rogers (Norman Rossington) começam a investigar o desaparecimento do honorável sujeito pertencente a Ordem Britânica e se deparam com um típico “cala-boca” do MI5, dado por Stratton-Villiers, aparição especial relâmpago de Christopher Lee. Eles descobrem que tem caroço nesse angu quando outros três funcionários desaparecem e os corpos de dois são encontrados mutilados (um deles empalado por uma vassoura) parcialmente devorados e pasmem, infectados por peste bubônica, como descoberto na autópsia. E o melhor de tudo é que todas as cenas da morte dos sujeitos são mostradas de forma explícita. O jovem casal volta para casa depois de uma noite no teatro e Patricia esquece seus livros no vagão após descer na estação. No que Alex volta para apanhá-los, o vagão toma seu curso e eles combinam de se encontrar em casa.  Patricia então é raptada pela criatura mutante, pois sua esposa, mãe, irmã, sabe-se lá, morreu decorrente de complicações de parto (o bebê nem chega a nascer), e apesar da dor da perda (até dá dó do monstro choramingando pelos túneis), ele precisa de uma nova reprodutora, para perpetuar a espécie. Desacreditado por Calhoun, Alex parte para os túneis para investigar sozinho e tentar salvar a namorada antes que seja tarde demais e ela seja estuprada ou na pior das hipóteses, canibalizada. Apesar do alívio cômico trazido pela singular interpretação de Pleasence (excelente como sempre) com seu assistente e da participação caricata de Lee, o filme tem um tom sombrio e grotesco, com cenas realmente perturbadoras daqueles dois seres humanos vivendo em condições insalubres, regredidos a instintos animais de sobrevivência, reprodução incestuosa, consumo de carne humanas ou de ratos, descendentes de operários abandonados em sua própria sorte por uma inescrupulosa empresa capitalista e vivendo à margem da sociedade civilizada que se locomove diariamente de uma estação a outra, utilizando um moderno meio de transporte. Contraponto também com as personalidades estudantis de Alex e Patricia, que frequentam universidades, bibliotecas, decidem nos cafés da cidade qual filme assistirão naquela noite (uma das opções é Operação França de William Friedkin) no cinema e frequentam o teatro. Fora esse contexto social subentendido, o diretor Gary Sherman abusa de fotografia escura, abundância de cenas impactantes de gore (como empalamento, decapitação e canibalismo), um brutal tentativa de estupro, e excelente uso da trilha sonora, ou muitas vezes da falta dela, quando somos apresentados ao covil dos moradores do subterrâneo, no mais completo silêncio, ouvindo apenas a sequência rítmica de batimentos cardíacos e um gotejar incessante. Covil esse repleto de esqueletos e partes humanas espalhadas pelas galerias. E repito mais uma vez: antes de sermos testemunhas oculares do interior da casa de Leatherface e companhia limitada. Outro detalhe do filme é o constante repetir da frase “cuidado com as portas” proferida pelo mutante canibal, ouvida constantemente pelos funcionários do metrô. O grande furo escabroso do roteiro é como cinco gerações de canibais se alimentaram de seres humanos sem chamar a atenção das autoridades até então e como eles não escaparam de lá já que têm livre acesso até a estação? Até dá para pensarmos em imaginar o MI5 encobrindo os crimes (até pela postura obscura do personagem de Lee, intencional ou não), até que um diplomata importante tenha desaparecido… mas, deixe isso para lá pela boa e velha suspensão de descrença tão necessária nesse gênero, né? A versão original de O Metrô da Morte lançada tanto nos cinemas quanto mais tarde em VHS foi mutilada pela BBFC (British Board of Film Classification) – a versão britânica do MPAA americano – e somente em 2006 que a versão sem cortes pode ser apreciada pelos moradores da Terra da Rainha, quando seu lançamento em DVD. Aqui em terras brazilis, nem a versão “canibalizada pela censura” foi sequer lançada. Nos EUA natal de Sherman, o filme ganhou o interessantíssimo e apelativo título “Raw Meat”, tradução literal de “carne crua”, que obviamente, se encaixaria melhor nos cinemas grindhouse e sessões da meia-noite da época.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/24/291-metro-da-morte-1973/

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