Direção: Gary
Sherman
Roteiro: Ceri Jones, Gary Sherman
(história original)
Produção: Paul
Maslanky
Elenco:Donald
Pleasence, Norman Rossington, David Laid, Sharon Gurney, Hugh Armstrong, June
Turner, Christopher Lee
Antes de O Massacre da
Serra Elétrica e Quadrilha de
Sádicos nos trazerem canibais e criaturas mutantes congênitas e
chocar o mundo, eis que um obscuro e pouco conhecido filme inglês entraria
nessa seara e investiria em um terror sujo, gore e sufocante em O Metrô da
Morte, pérola horrorífica do diretor americano Gary Sherman, baseado
em uma história original de sua autoria, inspirada em uma doentia lenda
britânica. Por mais que nesta altura do campeonato já tivéssemos sido banhados
em sangue nos filmes de Herschell Gordon Lewis lançados na década anterior, ou
na violência estilizada do giallo italiano, visto os zumbis de Romero
comerem carne humana e os canibais de Umberto Lenzi já terem dados as caras em
uma floresta tropical por aí, ainda não tínhamos sido pegos por este tipo de
violência gráfica no cinema de terror apresentado em O Metrô da Morte, com
toda uma sujeira e atmosfera pesada que viria a ser tão impactante em O
Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper lançado somente no ano seguinte.
Gary Sherman, mais conhecido por dirigir Os Mortos Vivos e a bomba Poltergeist
III, inspirou-se na lenda escocesa de Alexander “Sawney” Bean, que entre os
séculos XV e XVI (não se sabe a data precisamente), foi responsável pelo
assassinato e canibalização de mais de mil pessoas em Edimburgo, sendo líder de
um clã congênito e incestuoso de 48 pessoas. A história de Sawney foi publicada
no “The Newgate Calendar”, catálogo de crimes da notória Newgate Prision em
Londres, porém os historiadores acreditam que o sujeito nem existiu e que a
história faz parte do folclore local e da indústria turística da cidade. Transportada
para a Londres do século XX, a trama de O Metrô da Mortetraz os
descendentes de funcionários de uma antiga estação de metrô inglesa desativada
na cidade, localizada entre as estações de Holborn e Russell Square, que
ficaram soterrados e vivem desde então pelos túneis abandonados praticando
canibalismo e se reproduzindo entre si. Vez ou outra, o último membro dessa
família sequestra algum passageiro para servir de lanchinho para ele e a
enferma esposa grávida. A atenção da polícia se dá início quando um importante
membro da política britânica, após uma noite de luxúria em alguns clubes
de strip-tease locais, desaparece misteriosamente da estação após ser
encontrado desacordado por um casal de estudantes, Alex (David Ladd) e Patricia
(Sharon Gurney), enquanto os mesmos buscavam por auxílio. O inspetor Calhoun
(interpretado por Donald Pleasence), um mal humorado e sarcástico oficial de
polícia bebedor compulsivo de chá e o detetive sargento Rogers (Norman
Rossington) começam a investigar o desaparecimento do honorável sujeito
pertencente a Ordem Britânica e se deparam com um típico “cala-boca” do MI5,
dado por Stratton-Villiers, aparição especial relâmpago de Christopher Lee.
Eles descobrem que tem caroço nesse angu quando outros três funcionários
desaparecem e os corpos de dois são encontrados mutilados (um deles empalado
por uma vassoura) parcialmente devorados e pasmem, infectados por peste
bubônica, como descoberto na autópsia. E o melhor de tudo é que todas as cenas
da morte dos sujeitos são mostradas de forma explícita. O jovem casal volta
para casa depois de uma noite no teatro e Patricia esquece seus livros no vagão
após descer na estação. No que Alex volta para apanhá-los, o vagão toma seu
curso e eles combinam de se encontrar em casa. Patricia então é raptada
pela criatura mutante, pois sua esposa, mãe, irmã, sabe-se lá, morreu
decorrente de complicações de parto (o bebê nem chega a nascer), e apesar da
dor da perda (até dá dó do monstro choramingando pelos túneis), ele precisa de
uma nova reprodutora, para perpetuar a espécie. Desacreditado por Calhoun, Alex
parte para os túneis para investigar sozinho e tentar salvar a namorada antes
que seja tarde demais e ela seja estuprada ou na pior das hipóteses,
canibalizada. Apesar do alívio cômico trazido pela singular interpretação de
Pleasence (excelente como sempre) com seu assistente e da participação caricata
de Lee, o filme tem um tom sombrio e grotesco, com cenas realmente
perturbadoras daqueles dois seres humanos vivendo em condições insalubres,
regredidos a instintos animais de sobrevivência, reprodução incestuosa, consumo
de carne humanas ou de ratos, descendentes de operários abandonados em sua
própria sorte por uma inescrupulosa empresa capitalista e vivendo à margem da
sociedade civilizada que se locomove diariamente de uma estação a outra,
utilizando um moderno meio de transporte. Contraponto também com as
personalidades estudantis de Alex e Patricia, que frequentam universidades,
bibliotecas, decidem nos cafés da cidade qual filme assistirão naquela noite
(uma das opções é Operação França de William Friedkin) no cinema e
frequentam o teatro. Fora esse contexto social subentendido, o diretor Gary
Sherman abusa de fotografia escura, abundância de cenas impactantes
de gore (como empalamento, decapitação e canibalismo), um brutal
tentativa de estupro, e excelente uso da trilha sonora, ou muitas vezes da
falta dela, quando somos apresentados ao covil dos moradores do subterrâneo, no
mais completo silêncio, ouvindo apenas a sequência rítmica de batimentos
cardíacos e um gotejar incessante. Covil esse repleto de esqueletos e partes
humanas espalhadas pelas galerias. E repito mais uma vez: antes de sermos
testemunhas oculares do interior da casa de Leatherface e companhia limitada.
Outro detalhe do filme é o constante repetir da frase “cuidado com as portas”
proferida pelo mutante canibal, ouvida constantemente pelos funcionários do
metrô. O grande furo escabroso do roteiro é como cinco gerações de canibais se
alimentaram de seres humanos sem chamar a atenção das autoridades até então e
como eles não escaparam de lá já que têm livre acesso até a estação? Até dá
para pensarmos em imaginar o MI5 encobrindo os crimes (até pela postura obscura
do personagem de Lee, intencional ou não), até que um diplomata importante
tenha desaparecido… mas, deixe isso para lá pela boa e velha suspensão de
descrença tão necessária nesse gênero, né? A versão original de O Metrô da
Morte lançada tanto nos cinemas quanto mais tarde em VHS foi mutilada pela
BBFC (British Board of Film Classification) – a versão britânica do MPAA
americano – e somente em 2006 que a versão sem cortes pode ser apreciada pelos
moradores da Terra da Rainha, quando seu lançamento em DVD. Aqui em terras
brazilis, nem a versão “canibalizada pela censura” foi sequer lançada. Nos EUA
natal de Sherman, o filme ganhou o interessantíssimo e apelativo título “Raw
Meat”, tradução literal de “carne crua”, que obviamente, se encaixaria melhor
nos cinemas grindhouse e sessões da meia-noite da época.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/24/291-metro-da-morte-1973/
Nenhum comentário:
Postar um comentário