Direção: Brian De Palma
Roteiro: Brian De Palma, Louisa Rose
Produção: Edward
R. Pressman, Lynn Pressman e Robert Rohdie (Produtor Associado)
Elenco: Margot
Kidder, Jennifer Salt, Charles Durning, William Finley, Lisle Wilson
Irmãs Diabólicas é o primeiro
exercício de suspense do diretor Brian De Palma, não seu primeiro trabalho como
diretor, mas o filme que, a partir de sua já famosa inspiração oriunda dos
trabalhos de Alfred Hitchcock, começaria a permear os elementos característicos
que veríamos em seus longa metragens posteriores e o nascer cinematográfico,
por assim dizer, de um dos mais importantes diretores de sua geração. Hitchcockiano
dos pés a cabeça, com claras influências de obras do mestre do suspense
como Festim Diabólico, Um Corpo que Cai, Janela
Indiscreta e Psicose, Irmãs Diabólicas passa longe de uma
simples cópia ou mera homenagem, imprimindo toda a utilização de determinadas
técnicas cinematográficas e elementos de narrativa doentias e psicóticas que se
tornariam algo tão corriqueiro nos filmes de De Palma. A premissa é simples,
vinda de uma história original do próprio De Palma (que também assina o roteiro
ao lado de Louisa Rose), inspirada em um artigo que o diretor leu sobre o
sucesso de uma operação de separação de gêmeos siameses na União Soviética. De
Palma alegou ter ficado assombrado por uma fotografia dos gêmeos após a
operação onde um parecia alegre e saudável e o outro triste e perturbado, e o
fato do artigo também abordar as questões sobre os problemas psicológicos
sofridos pelos irmãos após a separação. Dessa forma somos apresentados a modelo
e aspirante a atriz Danielle Breton, personagem vivida por Margot Kidder (a
eterna Lois Lane de Superman de Richard Donner), que participa de um
programa de televisão de “pegadinhas” junto do publicitário Phillip Woode, com
quem vai jantar na mesma noite. Após uma discussão com seu ex-marido, Emil
Breton (Willian Finley), os dois vão para o apartamento de Danielle em Staten
Island, NY, quando depois de uma noite de amor, Danielle começa a sofrer de um
ataque nervoso na manhã seguinte, após uma ferrenha discussão com quem
descobrimos ser sua irmã gêmea, Dominique, a quem já sacamos ser sua irmã
xipófaga, pois durante a cena de sexo na noite anterior, vemos uma horrenda
cicatriz no corpo de Danielle. Após sair para comprar remédio para a garota,
Phillipe também compra um bolo, pois era aniversário de ambas naquela data.
Enquanto esta cena casual se desenrola na rua, dentro do apartamento, Danielle
começa a sofrer uma violenta convulsão e uma crise psicótica. Ao Phillipe
retornar, ele é cruelmente assassinado por Dominique a facadas, e ao tentar
pedir ajuda, é visto da janela da vizinha, a jornalista Grace Collier (Jennifer
Salt), testemunha ocular do crime. A primorosa cena é filmada utilizando a
técnica split screen, dividindo a tela em duas, uma visualizando a agonia e
pedido de socorro da vítima, e outra o ponto de vista da testemunha, ao melhor
estilo revisitado alguns anos mais tarde na antológica cena do baile em Carrie – A Estranha. A partir daí,
desacreditada pela polícia, por motivos de indisposição anterior graças a
artigos publicados pela jornalista, Grace começa uma investigação particular
para provar o assassinato ocorrido no apartamento da frente, já que nem ela e
nem os policiais encontraram o corpo de Phillipe ao vasculharem a casa de
Danielle, já que seu ex-marido ajudou a esconder o cadáver dentro do sofá. A
partir deste momento, somos jogados em uma trama macabra de suspense onde vamos
conhecer o passado das duas irmãs siamesas, os desdobramentos da operação que
as separou no Canadá e a degradação psicológica de ambas, até sermos
catapultados para o previsível, porém impactante final. Irmãs
Diabólicas derrapa um pouco em seu roteiro e no desenvolvimento da
história, mas De Palma, com toda sua capacidade técnica começando a aflorar
naquele momento, e inspirado pelos melhores momentos de Hitchcock nas telas,
consegue segurar a onda e entregar uma peça redonda na medida do possível,
prendendo a atenção do espectador até seu desfecho, elevando o nível de tensão
e as injeções de adrenalina, misturado com algumas cenas violentamente ímpares,
principalmente do montante de perguntas e respostas que surgem vindas dos
personagens dúbios e talvez até desequilibrados espalhados pelo longa, e do
subtexto da perda de identidade e do ponto de virada de onde sanidade
transforma-se em loucura assassina. Outro ponto positivo é a trilha sonora
conduzida por Bernard Hammer de forma excelente (o mesmo que compôs a trilha
de Psicose). E já que falamos das inspirações de Hitchcock,
temos em Irmãs Diabólicas o sofá, local onde o corpo que definiria o
crime, e até então algo que “nunca existiu”, pois não foi encontrado (e a
excelente reviravolta final para que Grace, erroneamente internada em um
hospício, simplesmente deixe de lado o caso) é seu MacGuffin (como o
baú no centro da sala de Festim Diabólico?). Mesmo que a carreira de Brian De
Palma seja inconstante, o cara é inegavelmente um gênio, capaz de transmitir
uma sensação de suspense como ninguém, de suor frio escorrendo pela testa,
coração apertado contra o peito e momentos longevos de respiração contida. Isso
sem contar toda a falta de virtude e moralismo de seus personagens, combinado
com crueldade e distúrbios psicológicos e doentios, marca registrada de seus
longa-metragens. Irmãs Diabólicas é a gênese disso. Portanto,
indispensável para qualquer cinéfilo.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/23/290-irmas-diabolicas-1973/
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