Direção: George
A. Romero
Roteiro: George
A. Romero, Paul McCollough
Produção: A.C.
Croft, Margaret Walsh (Produtora Executiva)
Elenco: Lane Carrol, Will MacMillan, Harold Wayne Jones, Lloyd
Hollar, Lynn Lowry
Depois de mudar para
sempre o cinema de horror, fundando os alicerces dos filmes modernos de terror
com seus zumbis, George Romero volta sua metralhadora crítica cinematográfica
para a paranoia humana, alienação, descontrole militar, medo da guerra
biológica e os fantasmas que ainda rondavam os americanos com o fracasso da
Guerra do Vietnã em O Exército do Extermínio. Diferente do seminal A Noite dos
Mortos-Vivos, O Exército do Extermínio foi um fracasso
retumbante de bilheteria. Esperando por um desenrolar da infestação zumbi, ou a
simples volta dos cadáveres ambulantes, o público se decepcionou com o resultado
do filme de Romero. Mas a verdade é que sai o zumbi, mas a paranoia humana e o
estado de selvageria e necessidade básica de sobrevivência, egoísmo, racismo e
xenofobia, sentimentos típicos que ficam enraizados em boa parte dos seres
humanos e afloram quando cutucados, continuam ali. Ou seja, pior que um
morto-vivo devorador de cérebro, está de um lado uma cidade inteira vítima de
uma epidemia que os transforma em maníacos insanos assassinos, e do outro, o
exército truculento que declara lei marcial, coloca o local em quarentena e não
mede o uso de força para impedir que o vírus se espalhe, nem que isso implique
em metralhar civis sem dó nem piedade. E pronto, está costurado o emaranhado
político social que Romero, em sua filmografia marginal e independente de
guerrilha vista em seu início de carreira, traveste de cinema de gênero. Essa
cidadezinha é Evans City, na Pennsylvania, e o tal do vírus é o Trixie, uma
arma biológica criada secretamente pelo exército dos EUA que acidentalmente cai
no reservatório de água quando um avião de testes lotado do componente químico
ainda não testado cai por lá, deflagrando uma epidemia que irá atingir
praticamente todo e qualquer morador do local, afinal, todo mundo bebe água. À
surdina, o exército, sem alertar a população, coloca a cidade toda em
quarentena, formando sua base no escritório do Dr. Brookmyre (Will Disney, sem
parentesco com Walt), de onde despacharão o Major Ryder (Harry Spillman) e o
Coronel Peckem (Lloyd Hollar), que enviarão centenas de soldados, vestidos com
roupas brancas de proteção e máscaras de gás, recolherem todos os munícipes e
os confinarem na escola local para testes e contenção. Custe o que custar. Há
três fugitivos desse cerco: os bombeiros David (Will McMillan) e Clank (Harold
Wayne Jones) e a namorada grávida de David, Judy (Lane Carrol). Judy descobriu
sobre a existência do vírus e foi testemunha dos métodos nada pacíficos do tal
“exército do extermínio”, pois é enfermeira do consultório do Dr. Brookmyre.
Junto dos dois, eles levam consigo em sua escapada Artie (Richard Liberty) e
Kathy (Lynn Lowry), pai e filha. Enquanto não se sabe quem são mais loucos, se
os moradores infectados pelos vírus, que irão matar familiares e militares, em
reações adversas entre medo e efeitos patológicos do experimento, ou os
soldados que abusam de poder e força bruta, seguindo apenas ordens dos altos
escalões governamentais americanos, que não pouparão esforços para que a
quarentena não seja quebrada e a praga se espalhe pelo interior do país. Enquanto
o exército se mostra completamente ineficaz, seguindo ordens rígidas que
impedem até que o Dr. Watts (Richard France), cientista que desenvolveu o
vírus, trabalhe em uma cura, os cinco tentam salvar suas vidas, usando dos
mesmos métodos violentos, não se importando nem um pouco de abater também os
soldados. Porém, os efeitos nocivos do contágio começam a aparecer aos poucos
no pequeno grupo, elevando o nível de desconfiança e intolerância entre eles,
levando aquele relacionamento forçado a se igualar a um rastilho de pólvora
pronto para se acender e explodir. Para aumentar ainda mais o clima de tensão,
tome balas e mais balas cuspindo das metralhadoras dos igualmente assustados
soldados, banho de sangue, assassinatos frios desenfreados, velhinhas outrora
dóceis matando guerrilheiros com agulhas de crochê, desejos obscuros aflorando
(como a desconcertante cena em que o pai superprotetor tenta estuprar a filha
em um ato febril de descontrole) e um ritmo alucinado de filmagem imposto por
Romero. E o ritmo talvez seja o grande pulo de gato do diretor, pois é ele que
segura o interesse na premissa até o final pessimista e aberto do longa (outra
das características ímpares de Romero) e mistura momentos de adrenalina pura de
busca pela sobrevivência, da insurreição e revolta dos “loucos” e da sufocante
tomada de decisões do exército e de seus superiores, com momentos mais contidos
de reflexão psicológica e de crítica velada. E pensando no contexto
histórico, O Exército do Extermínio foi lançado dois anos antes do
final da Guerra do Vietnã, já com seu quadro absurdo de baixas, e seus
desdobramentos já começavam a sepultar o American Way of Life e
trazer à tona o pessimismo misturado do fim do sonho americano, o que servia
como combustível para a exploração de temas pertinentes como o uso do poderio
militar contra civis e armas químicas e biológicas (associado ao Napalm, um dos
símbolos desta barbárie). Sendo assim, Romero acertaria mais uma vez na mosca
colocando toda essa mensagem subliminar em sua obra. E muito fácil traçar paralelos
em cenas como, por exemplo, Clank ficando louco e saindo pelo meio da floresta
atirando como se fosse o Rambo personificado, com as atitudes americanas no
sudeste asiático. O roteiro de O Exército de Extermínio foi escrito
originalmente por Paul McCollough sob o título de “The Mad People”, porém o
foco era muito mais na história dos sobreviventes do que na histeria militar,
que estaria presente apenas nas 10 primeiras páginas do script. Quando o
produtor Lee Hessel leu o material, interessou-se em produzir e distribuir o
longa, com um orçamento de 270 mil dólares, porém pediu modificações na
história, por considerar a tomada da cidade pelo exército muito mais
interessante. Romero aceitou e este passou a ser o mote principal do filme. O
longa foi filmado tanto na própria cidade de Evans quanto em Zelienople, duas
cidadezinhas da Pennsylvania, 30 minutos ao norte de Pittsburgh e teve muito de
seus locais trabalhando como extras, além de próprios bombeiros das cidades e
adolescentes dos colégios usando as roupas brancas anti contaminação para
representar os soldados. Com o fracasso, atribuído a Romero pela pequena
distribuição da fita nos cinemas americanos, mesmo com o esforço dos produtores
em relançarem em várias cidades com nomes diferentes, o diretor logo teve de
voltar seus olhos para seus zumbis novamente, e entregar cinco anos mais tarde
o magnífico Despertar dos Mortos. Mais tarde, até pelo sucesso do cinema
morto-vivo de Romero, O Exército do Extermínio ganharia o status de uma de
suas obras mais cultuadas. De quebra, em 2010 ganhou um
decente remake atualizado que no Brasil foi batizado de A Epidemia,
mais parecido com a ideia do roteiro originalmente descartado, pois foca muito
mais na insurreição dos “loucos”, seus atos violentos e a luta pela
sobrevivência dos três protagonistas que o cerco militar em si.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/12/283-o-exercito-do-exterminio-1973/
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