sábado, 31 de outubro de 2015

#296 1974 O ANTICRISTO (L’anticristo / The Antichrist / The Tempter, Itália)


Direção: Alberto De Martino
Roteiro: Gianfranco Clerici, Alfredo De Martino, Vincenzo Mannino
Produção: Edmondo Amati
Elenco: Carla Gravina, Mel Ferrer, Arthur Kennedy, George Coulouris, Alida Valli, Anita Strindberg

Sempre que o cinema americano fazia um filme de sucesso, não demorava muito para os italianos copiarem a ideia e fazerem a sua versãospaghetti. O Anticristo é a versão Made in Italy de O Exorcista, de William Friedkin, lançado no ano anterior. E vou te contar que tem cenas que dá uma puta vergonha alheia de assistir a essa película. Mas apesar dos apesares, a fita do diretor Alberto de Martino tenta por quase todo o longa explorar outros aspectos e não ser estigmatizado apenas como uma cópia descarada do clássico absoluto do cinema de horror. E vou te confessar também que ele quase atinge seu objetivo. A trama desenvolve-se de forma concisa e até convincente, misturando bruxaria e satanismo, possessão, perda de fé, regressão hipnótica, um caminhão de blasfêmias, exageros sexuais, heresia, e mais uma cacetada de sacrilégios que facilmente faria William Peter Blatty, escritor do livro e do roteiro deO Exorcista, corar. Então tudo vai bem, com uma história completamente diferente do “causo” de Reagen McNeill, até a garota começar a xingar, levitar, vomitar baba verde, usar seus poderes telecinéticos para movimentar os móveis e ter uma longa cena de exorcismo com um padre católico tentando expulsar o Coisa-Ruim da mulher possuída. Aí meu amigo, só dar risada mesmo, primeiro pela cara de pau, segundo porque diferente dos efeitos revolucionários do irmãoyankee, O Anticristo tem os efeitos especiais dos mais bisonhos, incluindo aí as cenas de levitação que parecem tiradas dos episódios do Chapolim voando nos aerolitos. A trama escrita a seis mãos por De Martino, Gianfranco Clerici e Vincenzo Mannino sai da Washington para a católica apostólica Roma, onde a pobre Ippolita Oderisi (vivida por Carla Gravina, que por sinal, está muito bem no papel, principalmente quando fica possuída pelo cramunhão) uma jovem paralítica, pero no mucho, que busca na fé uma cura para seu mal, causado pelo seu pai, Massimo (Mel Ferrer), durante um acidente de carro, que também resultou na morte de sua mãe. Após não conseguir respostas através da religião, e sentir-se abandonado por Deus e pelo seu pai, que está preste a se casar com Greta (Anita Strindberg), sofrida e de alma torturada, vira o alvo perfeito para que satanás resolva possuí-la. O que não sabemos até então, e só vamos descobrir quando o psiquiatra Dr. Marcello Sinibaldi (Umberto Orsini) resolve fazer uma sessão de regressão com Ippolita, por desconfiar que sua paralisia é meramente psicológica, é que fuçando nas vidas passadas da moça, ela foi uma bruxa adoradora de satã há 400 anos, estava grávida do Tinhoso e seria a responsável por dar a luz ao Anticristo. Condenada à fogueira, a bruxa arrepende-se de seu pecado no último instante antes de virar churrasco e recebe a redenção divina, derrotando o Diabo. Acontece que o Príncipe das Trevas não ia deixar barato, e depois de todo esse tempão, possui Ippolita novamente para dar continuidade ao seu trabalho e trazer seu filho para a Terra. Em uma cena visualmente “influenciada” sem nenhuma vergonha na cara por O Bebê de Rosemary (como se não bastasse toda a cópia de O Exorcista), Ippolita se vê deitada nua em sua cama, revivendo um antigo sabá ritualístico, onde fora da primeira vez deflorada pelo Belzebú em uma missa negra cheia de gente pelada praticando orgia, liderada por um sacerdote vestindo uma cabeça de bode, que pratica com ela uma espécie de comunhão às avessas, onde a hóstia é substituída pela cabeça decepada de um sapo, ela é penetrada pelo sacerdote e ainda faz sexo oral com uma cabra, enquanto simula com línguas, caras e bocas essas sensações do passado no presente. Talvez esse seja o ponto alto do filme, em uma cena realmente tétrica impactante e bem executada e verdadeiramente forte e ofensiva, não recomendado para os sugestionáveis, puritanos e carolas. Depois disso é ladeira abaixo. A menina vira uma boca suja e de cada cinco palavras, quatro são palavrões, e seus dizeres transformam-se em uma metralhadora giratória de heresias contra a Igreja, Deus, fé, instituição familiar, tudo repleto de palavras de baixíssimo calão e insinuações sexuais gritantes. Como todo bom filme de possessão que se preze. Desesperados, e já sabendo da gravidez de Ippolita, Massimo resolve procurar ajuda de seu irmão, o bispo Ascanio Oderisi (Arthur Kennedy) que até tenta praticar um exorcismo que dá miseravelmente errado. Como ele não era páreo para os poderes do capeta, resolve recorrer a Santa Sé, que envia o experiente e velho exorcista (jura???) Padre Mittner (George Couluris), que aí sim, vai tentar arrancar o espírito do Tranca-Rua de Ippolita, enquanto a moça em uma exagerada e esquizofrênica cena final, tentará buscar mais uma vez a redenção. A ideia de O Anticristo em contraponto com O Exorcista é retomar um pouco do horror gótico em detrimento do horror contemporâneo, que já havia se tornado o principal mote do cinema de terror no início dos anos 70. Tira a atriz americana descolada e sua filha adolescente que vivem na capital dos EUA, para levar um conto de possessão demoníaca para uma família religiosamente influente da capital da Itália, com toda sua força católica e dogmas que ecoam desde a própria Idade Média, suportados pelo peso do Vaticano. E o grande mérito de De Martino é sustentar essa premissa, dando uma ênfase diferente na história e tentar andar com suas próprias pernas enquanto consegue, caindo infelizmente na armadilha do sucesso fácil de bilheteria simplesmente copiando aquilo que os americanos já fizeram. Outro ponto positivo, que há de se salientar é a junção de dois monstros das trilhas sonoras italianas trabalhando aqui neste filme: Ennio Morricone e Bruno Nicolai. Ambos já estiveram envolvidos em trilhas sonoras de diversos gialli de Dario Argento, Sergio Martino e Lucio Fulci, além de clássicos do western spaghetti. Mesmo que também inspirada na trilha de O Exorcista (só que sem uma música chave como “Tubular Bells”), abusando de órgãos, tambores, violinos e violoncelos. E apesar do filme ser dublado em inglês, prática comum das fitas italianas, a voz gutural de Ippolita quando está possuída pela Besta também está classuda. Nikolas Schrek escreveu no livro “The Satanic Screen: An Illustrated Guide to the Devil in Cinema” que O Anticristo é o melhor imitador de O Exorcista. Concordo, com ele. Poderia ser um excelente filme se não caísse na roubada dos produtores em monetizar na carona do sucesso alheio. Porque é um filme grotesco, pesado e de mau gosto, do jeito que os fãs desse gênero gostam. Infelizmente, mesmo tentando em certos momentos seguir em caminhos narrativos diferentes, apelar mais para o absurdo, heresia e nudez, derrapa nos momentos plagiados e ficará possuído e amaldiçoado para sempre pela pecha de cópia. Caiu em tentação e não se livrou do mal. Amém.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/31/296-o-anticristo-1974/ 

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