Direção: Alberto De Martino
Roteiro: Gianfranco Clerici,
Alfredo De Martino, Vincenzo Mannino
Produção: Edmondo Amati
Elenco: Carla Gravina, Mel Ferrer,
Arthur Kennedy, George Coulouris, Alida Valli, Anita Strindberg
Sempre que o cinema americano fazia um
filme de sucesso, não demorava muito para os italianos copiarem a ideia e
fazerem a sua versãospaghetti. O Anticristo é
a versão Made in Italy de O Exorcista, de William Friedkin, lançado no ano anterior. E
vou te contar que tem cenas que dá uma puta vergonha alheia de assistir a essa
película. Mas apesar dos apesares, a fita do diretor Alberto de Martino
tenta por quase todo o longa explorar outros aspectos e não ser estigmatizado
apenas como uma cópia descarada do clássico absoluto do cinema de horror. E vou
te confessar também que ele quase atinge seu objetivo. A trama desenvolve-se de
forma concisa e até convincente, misturando bruxaria e satanismo, possessão,
perda de fé, regressão hipnótica, um caminhão de blasfêmias, exageros sexuais,
heresia, e mais uma cacetada de sacrilégios que facilmente faria William Peter
Blatty, escritor do livro e do roteiro deO Exorcista, corar. Então tudo vai
bem, com uma história completamente diferente do “causo” de Reagen McNeill, até
a garota começar a xingar, levitar, vomitar baba verde, usar seus poderes
telecinéticos para movimentar os móveis e ter uma longa cena de exorcismo com
um padre católico tentando expulsar o Coisa-Ruim da mulher possuída. Aí meu
amigo, só dar risada mesmo, primeiro pela cara de pau, segundo porque diferente
dos efeitos revolucionários do irmãoyankee, O Anticristo tem os
efeitos especiais dos mais bisonhos, incluindo aí as cenas de levitação que
parecem tiradas dos episódios do Chapolim voando nos aerolitos. A trama escrita
a seis mãos por De Martino, Gianfranco Clerici e Vincenzo Mannino sai da
Washington para a católica apostólica Roma, onde a pobre Ippolita Oderisi
(vivida por Carla Gravina, que por sinal, está muito bem no papel,
principalmente quando fica possuída pelo cramunhão) uma jovem
paralítica, pero no mucho, que busca na fé uma cura para seu mal, causado
pelo seu pai, Massimo (Mel Ferrer), durante um acidente de carro, que também
resultou na morte de sua mãe. Após não conseguir respostas através da religião,
e sentir-se abandonado por Deus e pelo seu pai, que está preste a se casar com
Greta (Anita Strindberg), sofrida e de alma torturada, vira o alvo perfeito
para que satanás resolva possuí-la. O que não sabemos até então, e só vamos
descobrir quando o psiquiatra Dr. Marcello Sinibaldi (Umberto Orsini) resolve
fazer uma sessão de regressão com Ippolita, por desconfiar que sua paralisia é
meramente psicológica, é que fuçando nas vidas passadas da moça, ela foi uma
bruxa adoradora de satã há 400 anos, estava grávida do Tinhoso e seria a
responsável por dar a luz ao Anticristo. Condenada à fogueira, a bruxa
arrepende-se de seu pecado no último instante antes de virar churrasco e recebe
a redenção divina, derrotando o Diabo. Acontece que o Príncipe das Trevas não
ia deixar barato, e depois de todo esse tempão, possui Ippolita novamente para
dar continuidade ao seu trabalho e trazer seu filho para a Terra. Em uma cena
visualmente “influenciada” sem nenhuma vergonha na cara por O Bebê de
Rosemary (como se não bastasse toda a cópia de O
Exorcista), Ippolita se vê deitada nua em sua cama, revivendo um antigo sabá
ritualístico, onde fora da primeira vez deflorada pelo Belzebú em uma missa
negra cheia de gente pelada praticando orgia, liderada por um sacerdote
vestindo uma cabeça de bode, que pratica com ela uma espécie de comunhão às
avessas, onde a hóstia é substituída pela cabeça decepada de um sapo, ela é
penetrada pelo sacerdote e ainda faz sexo oral com uma cabra, enquanto simula
com línguas, caras e bocas essas sensações do passado no presente. Talvez esse
seja o ponto alto do filme, em uma cena realmente tétrica impactante e bem
executada e verdadeiramente forte e ofensiva, não recomendado para os
sugestionáveis, puritanos e carolas. Depois disso é ladeira abaixo. A menina
vira uma boca suja e de cada cinco palavras, quatro são palavrões, e seus
dizeres transformam-se em uma metralhadora giratória de heresias contra a
Igreja, Deus, fé, instituição familiar, tudo repleto de palavras de baixíssimo
calão e insinuações sexuais gritantes. Como todo bom filme de possessão que se
preze. Desesperados, e já sabendo da gravidez de Ippolita, Massimo resolve
procurar ajuda de seu irmão, o bispo Ascanio Oderisi (Arthur Kennedy) que até
tenta praticar um exorcismo que dá miseravelmente errado. Como ele não era
páreo para os poderes do capeta, resolve recorrer a Santa Sé, que envia o
experiente e velho exorcista (jura???) Padre Mittner (George Couluris), que aí
sim, vai tentar arrancar o espírito do Tranca-Rua de Ippolita, enquanto a moça
em uma exagerada e esquizofrênica cena final, tentará buscar mais uma vez a
redenção. A ideia de O Anticristo em contraponto com O
Exorcista é retomar um pouco do horror gótico em detrimento do horror
contemporâneo, que já havia se tornado o principal mote do cinema de terror no
início dos anos 70. Tira a atriz americana descolada e sua filha adolescente
que vivem na capital dos EUA, para levar um conto de possessão demoníaca para
uma família religiosamente influente da capital da Itália, com toda sua força
católica e dogmas que ecoam desde a própria Idade Média, suportados pelo peso
do Vaticano. E o grande mérito de De Martino é sustentar essa premissa, dando
uma ênfase diferente na história e tentar andar com suas próprias pernas
enquanto consegue, caindo infelizmente na armadilha do sucesso fácil de
bilheteria simplesmente copiando aquilo que os americanos já fizeram. Outro
ponto positivo, que há de se salientar é a junção de dois monstros das trilhas
sonoras italianas trabalhando aqui neste filme: Ennio Morricone e Bruno
Nicolai. Ambos já estiveram envolvidos em trilhas sonoras de
diversos gialli de Dario Argento, Sergio Martino e Lucio Fulci, além
de clássicos do western spaghetti. Mesmo que também inspirada na trilha
de O Exorcista (só que sem uma música chave como “Tubular Bells”),
abusando de órgãos, tambores, violinos e violoncelos. E apesar do filme ser
dublado em inglês, prática comum das fitas italianas, a voz gutural de Ippolita
quando está possuída pela Besta também está classuda. Nikolas Schrek escreveu
no livro “The Satanic Screen: An Illustrated Guide to the Devil in Cinema”
que O Anticristo é o melhor imitador de O Exorcista. Concordo,
com ele. Poderia ser um excelente filme se não caísse na roubada dos produtores
em monetizar na carona do sucesso alheio. Porque é um filme grotesco, pesado e
de mau gosto, do jeito que os fãs desse gênero gostam. Infelizmente, mesmo
tentando em certos momentos seguir em caminhos narrativos diferentes, apelar
mais para o absurdo, heresia e nudez, derrapa nos momentos plagiados e ficará
possuído e amaldiçoado para sempre pela pecha de cópia. Caiu em tentação e não
se livrou do mal. Amém.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/31/296-o-anticristo-1974/
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