Direção: Bo Arne Vibenius (Usou o
pseudônimo de Alex Fridolinski)
Roteiro: Bo Arne Vibenius
Produção: Bo Arne Vibenius
Elenco: Christina Lindberg, Heinz
Hopf, Despina Tomazani, Per-Axel Arosenius, Solveig Anderson
Dentro do gênero rape and
revenge (mulheres que são estupradas e abusadas fisicamente e partem para
o revide da forma mais sádica possível), sem dúvida Thriller – A
Cruel Picture é um marco, e um dos seus mais importantes
exemplares, ao lado de A Vingança de Jennifer. Mesmo tecnicamente não se
tratando de um estupro nesse caso. O filme do sueco Bo Arne Vibenius vai além:
é promissor, inovador, uma aula de cinema, mostrando ali no começo dos anos 70
todas as possibilidades estéticas e recursos que poderiam ser usados em um
filme de cinema, criando a definição singular do sexploitation. Pupilo do
mestre Ingmar Bergman, Vibenius fez em Thriller… o
seu cult definitivo, que traçou padrões copiados até hoje no cinema
de ação. Para se ter uma ideia, Quentin Tarantino o considera O FILME sobre
vingança, e claramente Kill Bill bebe desta fonte e os irmãos (quer
dizer, irmão e irmã agora) Wachowsky também não tem vergonha em esconder
semelhanças chupinadas em Matrix e as diversas cenas em câmera lenta
e sem contar o figurino. Apelativo e provocante, Vibenius não perdeu tempo em
levantar temas extremamente chocantes e de abusar de ação e violência
estilizada, entre diversas cenas de nudez e sexo explícito (incluindo aí uma
gozada anal!!!!), rodadas com dublês de corpo (que dá para se perceber
claramente) que eram prostitutas de Estocolmo contratadas para essas
sequências. O roteiro de Vibenius traz o que há mais baixo na natureza
humana e joga na cara do espectador sem o menor pudor ou cerimônia. A bela
ninfeta Madeline/Frigga (Christina Lindberg) é abusada sexualmente por um homem
quando criança, e devido a experiência traumática fica muda após o acontecido.
Passam-se 15 anos e quando a adolescente perde o ônibus para a escola, ela
decide aceitar a carona de Tony (Heinz Hopf), que com seu carrão e sua lábia de
gaiato, leva a garota para um jantar e logo a seguida a sequestra, colocando-a
em prisão domiciliar, drogando-a com heroína e obrigando a moçoila a se
prostituir. Logo após o primeiro programa, Madeline/Frigga arranha o rosto de
seu cliente, e para pagar pelo que fez, Tony arranca um de seus olhos com um
bisturi (em cena claramente inspirada em O Cão Andaluz de Buñiel) em
uma cena em câmera lenta, sem diálogos, onde um cadáver de verdade foi usado
para a extração real do olho. Caolha (ela começa a ser chamada de One Eye),
tendo que usar um tapa-olho, viciada e obrigada a fazer sexo por dinheiro com
homens e mulheres, Madeline/Frigga às escondidas começa a treinar caratê,
aprende a atirar e manejar armas de fogo e perícias automobilísticas para fugas
e perseguições em alta velocidade, pagos com a grana que recebe dos programas.
Tudo isso para conseguir escapar no momento certo e colocar em prática seu
plano de vingança. A gota d’água para a sofrida jovem é quando sua amiga Sally
(Solveig Andersson) é assassinada e seus pais se suicidam ao receber uma carta
escrita pelo escroto do Tony, dizendo que ela fugiu por não aguentar mais
aquela merda de vida na fazenda. Depois da primeira metade do filme que mistura
drama e pornô hardcore vem a segunda metade onde o filme dá uma guinada de 360º
e no melhor conceito WWG (women with guns), Madeline/Frigga inicia sua vingança
com tiroteios, perseguições em alta velocidade e o pior de todos os castigos,
reservado para Tony. Uma vingança calculada, fria, em câmera lenta e
extremamente violenta muda completamente o tom do filme, deixando de lado a
pobre e indefesa garotinha, para dar vida a uma mulher forte, poderosa,
decidida, movida por apenas algo completamente inesperado para os padrões da
época. Apesar dos absurdos gritantes e das falhas de roteiro, o filme é
completamente experimental. Seu ritmo arrastado, seus diálogos cafonas e todos
os maneirismos podem não ser aconselháveis para essa nova geração que está
acostumada com filmes de ação alucinantes. Mas há certa, digamos, beleza
poética contida nos quadros e na forma como Vibenius conduz o seu filme. Há uma
genialidade por trás de tudo aquilo, mas que não tinha a menor intenção de se
tornar uma referência doexploitation, ou um filme cultuado por gerações de
cinéfilos e cineastas. Era puro oportunismo mesmo como o próprio diretor
alegou: fazer “um filme comerical ruim que nem o diabo” para cobrir o rombo
financeiro causado por seu primeiro longa. Até por isso ele assina a direção
com o pseudônimo de Alex Fridolinski (havia até uma cláusula contratual para
que os atores não pudessem revelar que era o real diretor do filme). Fato é que
o tiro de Thriller… foi certeiro. Ou saiu pela culatra se Vibenius
pensar na reação de Bergman que o “deserdou” após assistir ao filme. Claro que
ele iria detestar o mergulho naquele abismo de profanação visual que seu pupilo
havia se jogado. Imagine só Bergman assistindo ao filme? Gostaria que tivesse
uma câmera filmando sua reação ao vivo! Não preciso nem dizer que foi vetado
nos cinemas do Reino Unido pelo BBFC e sua campanha promocional alardeou
erroneamente que foi o primeiro filme banido na Suécia. E temos que tirar o
chapéu para a atuação de Christina (que não diz uma palavra sequer durante os
104 minutos de projeção, usa um tapa-olho, veste sobretudo de couro preto –
quando não está seminua na primeira metade – e carrega uma espingarda na mão),
que não tinha nem carteira de motorista e dirigia em ritmo alucinante nas cenas
na floresta e em perseguições, e ainda treinou com armas de fogo usando munição
de verdade. Cinema verité é isso aí. Querendo ou não, sendo de mau
gosto ou não, chocante e oportunista ou não, Thriller – A Cruel Picture, é
definitivamente uma aula de cinema. O assistente de direção
de Persona de Bergman abusa de violência gráfica e sexo explícito
para criar uma obra prima ímpar da subversão cinematográfica.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/29/294-thriller-a-cruel-picture-1973/
Nenhum comentário:
Postar um comentário