segunda-feira, 26 de outubro de 2015

#284 1973 O EXORCISTA (The Exorcist, EUA)


Direção: William Friedkin
Roteiro: William Peter Blatty
Produção: William Peter Blaty, Noel Marshall e David Salven (Produtores Executivos)
Elenco: Ellen Burstyn, Max Von Sydow, Linda Blair, Jason Mille, Lee J. Cobb

O melhor e mais assustador filme de terror de todos os tempos. Com certeza, são dois dos adjetivos mais comuns que podem ser usados para falar de O Exorcista. Sim, para mim é o filme de terror definitivo. O primeiro lugar nessa lista de 1001 filmes. Aquele que marca sua vida para sempre na primeira vez que você assiste. E por mais que haja vários outros clássicos no gênero, nenhum deles carrega a aura pesada de O Exorcista e nenhum é responsável por mexer tanto com a psique e o medo das pessoas do sobrenatural. O sucesso atemporal de O Exorcista pode ser dividido em três fatias iguais do bolo: a direção de William Friedkin, o roteiro de William Peter Blatty baseado no seu livro homônimo e sua trinca principal de atores. Ellen Burstyn como Chris McNeil, Max Von Sydow como o padre Lankester Merrin e Linda Blair como Regan, a garota possuída. Para se entender esse filme e o impacto que ele tem nas pessoas que o assiste, vou tomar a mim mesmo como exemplo para explicar uma certa teoria. A primeira vez que vi O Exorcista, como muito de vocês provavelmente, foi quando eu era criança. O filme é de 1973, mas ao que eu me lembre, devo tê-lo visto no final dos anos 80, começo dos anos 90, não sei bem ao certo. O lance todo já começa por aí, afinal os tempos eram outros, e se você parar para analisar o mundo extremamente careta e coxinha que vivemos hoje, em que sã consciência um pai ou uma mãe deixaria o filho pivete assistir a esse filme? Pois bem, tenho certeza que quase toda minha geração assistiu muito novo, e por isso ele é algo tão impressionante e ficou marcado para sempre. Quando você já é adolescente ou adulto, assisti-lo perde muito de sua graça, pois convenhamos, é um filme que não mete mais medo em ninguém. Nem a cabeça de Regan girando em 360º, o vômito de abacate, a cama levitando… E daí chegamos a minha teoria: toda criança deve assistir O Exorcista. Sei lá, deveria ser exibidos nas escolas, durante o ensino fundamental. Porque só assim, em pleno Século XXI, o filme continuará enraizado no folclore popular como o filme mais assustador de todos os tempos. O filme onde as pessoas saíam passando mal do cinema. O filme que você tinha que dormir de luz acessa com o crucifixo na cabeceira da cama. Porque se essa geração blockbuster de hoje em dia assistir a essa obra prima muito velho, vai detestar, achar besta pacas e capaz de sair falando um monte de groselha nas redes sociais. E pior, vai ficar aí uma lacuna muito grande para futuros fãs dos filmes de horror, impossível de ser preenchida por qualquer filme que venha a ser feito, e isso me preocupa muito. Porque mesmo uma geração ainda depois da minha, conseguiu até vê-lo no cinema, quando a Versão do Diretor foi lançada em 2001. E para essa molecada de hoje em dia sobra o que? Fazer um remake? Pois bem, deixando meus devaneios de lado, todo mundo deve estar careca de saber que O Exorcista traz a história da doce menina filha de uma atriz de Hollywood que fica possuída por um antigo demônio chamado Pazuzu, e após todos os testes médicos e psicológicos darem negativos, o padre e psiquiatra Damien Karras e o padre e arqueólogo Lankester Merrin tem de realizar um ritual de exorcismo para expulsar o cramunhão da garotinha. O best-seller de Blatty foi publicado pouco depois que o terreno perfeito estava completamente preparado nos EUA, com o banho de sangue no Vietnã, o ataque da Guarda Nacional contra os estudantes que protestavam contra a guerra na Universidade de Kent, os assassinatos cometidos pela família Manson e o trágico show dos Rolling Stones que acabou muito mal após uma confusão do público com os Hells Angels, que foram contratados como seguranças do evento (???!!!). Não precisa dizer que foi um sucesso de vendas, né? E a escolha de Friedkin foi o verdadeiro golpe de sorte da Warner Bros., porque além da direção magistral, ele conseguiu desenvolver todo o contraponto necessário para que o filme não caísse na armadilha carola de Blatty. Outro ponto de sucesso do filme foi claro, Linda Blair, uma verdadeira joia com sua interpretação brilhante da garota possuída. É sabido que a carreira dela foi para o buraco, limitando-se a paródias de si própria e filmes eróticos (seria mais uma das maldições que envolve a produção?). Mas sem Linda, O Exorcista não teria nem metade da sua força. E tudo que essa menina passou não é brincadeira, como a cena em que ela começa a sacudir de um lado para o outro na cama, onde era controlada por amarras que a apertavam, machucando-a de verdade. Então quando ela grita para “fazer aquilo parar”, estamos presenciando uma reação extremamente autêntica de dor. Na audição para o papel de Regan, Linda com 12 anos na época foi entrevistada por Friedkin:
– Você leu O Exorcista?
– Li
– O Livro é sobre o quê?
– Sobre uma garotinha que é possuída pelo demônio e faz um monte de coisas ruins.
– Que tipo de coisas ruins?
– Ela empurra um cara de uma janela e se masturba com um crucifixo.
– O que isso quer dizer?
– É que ela toca siririca, não é?
– É sim. E você sabe o que é tocar siririca?
– Claro que sim.
– E você faz isso?
– Claro! Você não toca punheta?
E Linda ficou com o papel! Mas apesar disso, a verdadeira força motriz do filme é o papel de Burstyn. Ela é a pedra fundamental pela qual nós vamos mensurando todas as proporções que aquele acontecimento vai tomando e a forma como acaba afetando sua vida, e nos traz próximo do terror de verdade: aquele de ver um ente querido se deteriorando, seja por uma doença ou pela tal força sobrenatural nesse caso. A mesma coisa com o atormentado padre Karras, ao ver sua mãe perdendo o juízo até ser internada em um manicômio público, já que não tem dinheiro para tratamentos ou clínicas particulares, por ter decidido ser padre e feito um voto de pobreza. E isso coloca o questionamento e renovação da fé como um tema que sempre ronda os personagens por todo o filme, até mesmo o intrépido padre Merrin, que conhece os poderes do diabo, já o encontrou antes em suas escavações no Iraque e sabe que seu corpo velho e doente têm limitações contra as artimanhas sobrenaturais da criatura. Mas tirando todo o grosso que impressionou as plateias nos anos 70 e subsequentes, ainda há cenas, mesmo que revendo trocentas vezes, como meu caso, que ainda são assustadoras, como quando Regan durante uma festa fala para o astronauta que ele irá morrer lá em cima. Ou quando Damien vê sua mãe sentada na cama no lugar da garota, perguntando por que ele a abandonou para morrer daquele jeito, em uma tática vil da entidade para desestabilizar o sacerdote. E claro, existe todo aquele, podemos dizer, charme, das maldições envoltas na produção, que adquirem o status de lenda urbana e ajudam até hoje na publicidade do filme, como a morte do ator Jack MacGrowan uma semana após terminar as filmagens (ele interpretava o diretor Burke Dennings, o primeiro a morrer na escadaria), vítima de pneumonia, ou o set de filmagens que pegou fogo, na verdade por causa da quantidade de aparelhos de ar-condicionado ligados ao mesmo tempo para deixar o quarto com uma temperatura baixíssima, e assim vai. Mas vamos pensar que é obra do capeta, né? Bem mais divertido. Para fechar, vejam só O Exorcista concorreu a 10 Oscars. Isso mesmo 10. Mas quantos ganhou? Somente dois: melhor som e melhor roteiro adaptado. Isso diz muito sobre a Academia, como sempre. Nem Linda Blair levou como coadjuvante, nem Friedkin como diretor e o maior absurdo de todos, nem Burstyn como atriz principal. Absurdo maior que esse só anos depois, quando mais uma vez ela perdeu o Oscar de melhor atriz pelo seu papel em Réquiem Para um Sonho para, pasmem… Julia Roberts! Isso sim é coisa do diabo!
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/10/15/284-o-exorcista-1973/

1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
571 1973 O EXORCISTA (The Exorcist) 

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