Direção: Umberto
Lenzi
Roteiro: Francesco
Barilli, Massimo D’Avak
Produção: Ovidio G.
Assonitis, Giorgio Carlo Rossi (Produtor Executivo)
Elenco: Ivan
Rassimov, Me Me Lai, Prasitak Singhara, Sulallewan Suxantat, Ong Ard, Prapas
Chindang
Mundo Canibal é a porta de
entrada do cinema italiano no famosíssimo ciclo canibal, onde da Terra da Bota,
brotaram violentos filmes com essa temática, sempre abusando de tudo que um
filme exploitation poderia proporcionar. Aqui, vemos um exemplar
ainda bem modesto e comedido que seus irmãos, mas ainda assim, com elementos
suficientes para chocar plateias, trazendo, além do controverso tema do
canibalismo, estupro coletivo, desmembramento, tortura e claro, crueldade com
animais. Umberto Lenzi, o pai do gênero, que mais tarde iria entregar um dos
mais famosos filmes do ciclo, Cannibal Ferox, que sempre compete com Cannibal Holocaust de Ruggero
Deodato como o suprassumo do gênero, mostra não ter a menor dó de pessoas e
animais, e invoca o pretexto de civilizações perdidas no limiar do mundo, longe
de qualquer costume civilizado, que ainda funcionam em sociedades tribais,
quase pré-históricas, para contar uma história que tem seus momentos de selvageria
e violência, mas que no resultado final, mostra-se um filme dos mais chatos e
arrastados, parecendo que você está assistindo a um
ensaio exploitation contido de A Lagoa Azul. Isso porque
cá entre nós, se você quer assistir a um filme italiano de canibais, você quer
ver barbaridade! Tudo bem que mostre lá umas línguas sendo arrancadas,
selvagens comendo uma mãozinha aqui, uma perna acolá enquanto fatiam sua
vítima, toda sorte de bicho sendo morto explicitamente na frente das câmeras
(cobras, jacarés, bodes e javalis são os preferidos) e crueldade animal na
forma de um mangusto tretando com uma naja e dois galos de rinha brigando. Mas
no grosso, o filme é uma história de amor cafoníssima ente o homem branco e a
garota indígena, com um melodrama piegas forçado, que vai te deixando de saco
cheio do filme e torcendo para que ele acabe logo. A trama à la Um Homem
Chamado Cavalo acontece porque o fotógrafo britânico John Bradley (Ivan
Rassimov), está na Tailândia fotografando os costumes locais, e após assistir a
uma luta de Muay Thai (que me veio logo na hora O Grande Dragão
Branco e seu Kumite), se embebeda em um bar e acidentalmente, arruma
confusão com um local e acaba esfaqueando-o e assassinando-o. Em fuga, Bradley
afasta-se cada vez mais de Bangock e paga um guia para levá-lo rio acima, e
aproveitar para tirar fotos da fauna e flora local. Tudo está numa boa, mesmo
com seu guia, Tuan, avisando-o dos perigos de continuar seguindo em frente. Mas
mesmo assim, Bradley insiste em voltar depois de apenas mais um dia de
exploração, até que ele adormece, e ao acordar, encontra Tuan morto e acaba
capturado por uma tribo de nativos, que lhe dão logo o apelido de Homem-Peixe,
devido a sua roupa de mergulho e pés de pato. Ele é levado para o povoado, e
começa a comer o pão que o diabo amassou como cativo da tribo, presenciando os
exóticos costumes locais, como o corte da língua de membros de uma tribo
canibal capturados, um estupro coletivo quando o esposo de uma das índias
morre, isso para demonstrar que ela agora era de todo mundo e claro, a melhor
parte, ver todas as nativas peladinhas a torto e a direito tomando banho no
riacho. Acontece que Marayá, a filha do chefe da tribo, Luhaná, começa a se
engraçar com Bradley, que terá que passar por uma prova de sobrevivência, sendo
alvejado com dardos pontiagudos de zarabatanas e ficar amarrado em uma pedra
embaixo de um sol escaldante sem água e sem comida, para mostrar sua força como
guerreiro, e poder ter o direito de se casar com a moçoila. A cena em que a
noiva escolhe seu pretendente é antológica: ela fica dentro de uma cabana, e os
índios enfiam apenas a mão e ficam apertando os seios e o massageando o sexo da
índia! Já pensou se essa moda pega? Já Bradley, com seu charme ocidental, ao
invés de bulinar Marayá, resolve acariciar e seu braço e entrelaçar seus dedos
nos dedos dela. Ah, que romântico. Bradley é o escolhido, eles se casam, e
Marayá fica grávida. O fotógrafo está cada vez mais imerso na cultura primitiva
local, praticamente deixando sua vida ocidental de lado, e ao poucos vai
interagindo com os costumes do seu novo povo (incluindo correr pelado atrás de
Marayá e dar um creu nela em qualquer lugar) e ensinando algumas palavras e
costumes civilizados, como, por exemplo, alguns conhecimentos médicos, fazendo
uma traqueostomia em um garoto com difteria, que morreria se ficasse apenas na
mão dos conhecimentos curandeiros do pajé da tribo. Marayá adquire uma
misteriosa doença durante a gravidez que vai debilitando-a cada vez mais, até
deixá-la cega. E depois de toda esse lenga-lenga, faltando meia-hora para
acabar o filme, finalmente vemos os primeiros canibais fazendo um lanchinho,
quando atacam um casal de jovens indígenas. Bradley e um grupo de guerreiros
acabam dando uma coça neles, o que vai ser o estopim para uma retaliação,
quando a tribo rival invade o povoado para assassinar alguns dos seus e meter
fogo em suas ocas, bem quando Marayá está em trabalho de parto e dá a luz ao
filho dos dois, para morrer logo em seguida. Nesse tempo todo, um helicóptero
vira e mexe sobrevoa a aldeia, e Bradley sempre tenta chamá-lo para tentar ser
resgatado. Na cena final do filme, o mesmo helicóptero dá um voo rasante e
Bradley, como os outros nativos, dessa vez se esconde, aceitando de vez que ali
é seu lugar, e onde criará seu filho, os ajudará a reconstruir o vilarejo e
provavelmente, será um aliado importante na luta contra a tribo canibal
vizinha. E daí o filme acaba. É um verdadeiro saco de se assistir. Quando
termina, você até agradece o final da fita. Na verdade Lenzi sempre deixou
claro que o intuito de Mundo Canibal não era realmente focar no
canibalismo em si, mas nos costumes exóticos de outras culturas. O interessante
é que a chocante combinação da floresta tropical com o canibalismo, nunca havia
sido vista antes, e abriu precedente para um boom do gênero que efetivamente ganhou notoriedade com o
lançamento de O Último Mundo Canibal de Ruggero Deodato em 1977, e os
subsequentes lançamentos, como Os Vivos Serão Devorados, de Lenzi, e Holocaust e
Ferox já citados no texto. Até Emanuelle teve suas aventuras
sexuais com antropófagos em Emanuelle e os Últimos Canibais de Joe
D’amato. Claro que há diversas cenas de selvageria, brutalidade e gore,
que seria marca registrada deste ciclo, e sendo assim, o filme foi alvo de críticas
e censura, principalmente no que se diz respeito a violência com animais vivos,
e o fez entrar na famosa lista negra dos Nasty Videos, que o DPP britânico
(Department of Public Prosecutions) declaravam obscenos, contra a moral e os
bons costumes e foi banido na terra da rainha. Anos mais tarde, Mundo Canibal
recebeu um simples R do MPAA durante seu lançamento em DVD nos EUA. Aqui no
Brasil, até chegou a ser lançado pela Ocean Pictures em sua versão sem cortes.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/09/27/272-mundo-canibal-1972/
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