Direção: Bernard
L. Kowalski
Roteiro: Hal
Dresner, Daniel C. Striepeke (história)
Produção: Daniel
C. Striepeke, Robert Butner (Produtor Associado), David Brown e Richard D. Zanuck
(Produtores Executivos)
Elenco: Strother Martin, Dirk Benedict, Heather Menzies, Richard B.
Shull, Tim O’Conner, Jack Ging
Quando você tomava
muito sol e descascava, e seus pais diziam que você estava se transformando no
Homem-Cobra, que pânico! Ou isso não acontecia com vocês, só meus pais eram
terríveis a esse ponto? Fato é que há toda uma mística assustadora por trás
dessa fita produzida pela dupla David Brown e Richard D. Zanuck (responsáveis
por Tubarão, o filme
definitivo de animais assassinos), que se dissipa quando você o assiste mais
velho. Falando com o coração, O Homem-Cobra é um filme lendário,
apavorante, objeto do imaginário popular de toda uma geração. Falando com a
razão, é um filme chato pra danar, que envelheceu muito mal e perdeu
completamente seu charme. Recomendado apenas para saudosistas, porque duvido
que a molecada de hoje em dia vá se impressionar e não achá-lo enfadonho. Mas
que verdade seja dita: a maquiagem ainda é bem bacana pros dias de hoje. Sem
computação gráfica pilantra, o visual do rapaz que vai se transformando em uma
bizarra mutação réptil e tem sua pele transformada em escamas foi criada por
Daniel C. Striepeke, que também é produtor e idealizador da história original e
leva na bagagem os efeitos de maquiagem de filmes como O Planeta dos
Macacos, A Ilha do Dr.
Moreau, Grease – Nos Tempos da Brilhantina, O Resgate do
Soldado Ryan e Forrest Gump – O Contador de Histórias (sendo que
por esse dois últimos, foi indicado ao Oscar). No começo do filme, já somos
avisados logo de cara que todas as cobras utilizadas no filme eram reais,
importadas do sudeste asiático, e que os atores se puseram em grande perigo ao
contracenar com os ofídios. E vale lembrar que tem muita gente por aí que
tem pavor de cobras, então mais um motivo para o filme ser traumático. Abre a
história com o cientista louco da vez, Dr. Carl Stoner (Strother Martin),
vendendo u de seus experimentos que deu terrivelmente errado (que não sabemos
até então) para um dono de um circo de aberrações, por 800 dólares. Obstinado
em sua pesquisa, o outrora proeminente herpetológo procura por outro
assistente, e encontra o jovem David Blake (vivido por Dirk Benedict, o eterno
Templeton “Cara de Pau” Peck do seriado Esquadrão Classe A), indicado pelo
infame Dr. Ken Daniels (Richard B. Shull), rival acadêmico do agora decadente e
desacreditado Dr. Stoner. Enquanto o pobre estagiário pensa que vai ajudar nas
pesquisas de veneno e ainda por cima, se dar bem pegando a filha do cientista,
a doce Kristina (Heather Menzies), mal ele sabe que o Dr. Stoner é um louco de
pedra travestido na figura de um simpático velhinho bonachão que gosta de se
embebedar junto com sua píton de estimação, e que na verdade, irá testar uma
fórmula experimental no rapaz e gradativamente transformá-lo em uma criatura metade
homem, metade cobra, com a desculpa de injetá-lo um soro que irá imunizá-lo do
veneno dos répteis. Descobrimos então que o assistente anterior do Dr. Stoner,
que estava dado como desaparecido, é a tal aberração vendida ao circo no começo
do filme, sendo que ele não havia chegado ao estágio completo de
desenvolvimento e a experiência deu errado. Kristina é enviada para recolher
uma cobra rara para mantê-la longe de David, assim ficando à par do que está
acontecendo com o recém caso amoroso, e acaba por descobrir o paradeiro do
antigo assistente e vê a criatura bizarra em que ele se transformou. Logo ela
sabe que o namorado está correndo sério perigo, ao mesmo tempo em que a polícia
começa a ficar na bota do herpetólogo por conta dos misteriosos desaparecimentos
do Dr. Daniels e de um rapaz que se envolvera em uma briga com David por
xavecar Kristina, e acaba por assassinar a cobra de estimação deles. ALERTA DE
SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
Desesperada, ela retorna para casa apenas para descobrir que dessa vez o
experimento do pai fora bem sucedido, e em uma cena ruim de doer que mistura
trucagem de câmera e os primórdios dos efeitos especiais, David se transforma
em uma Cobra-rei, um dos mais perigosos e venenosos espécimes do planeta. Essa
cena derruba todo o filme. Lembrou-me bastante de O
Homem-Crocodilo, sci-fi dos anos 50 que traz uma premissa
bastante parecida, e um ótimo efeito de maquiagem até a criatura ter sua
mutação concluída a estragar tudo. Ainda dá tempo do Dr. Stoner ser picado por
outra Cobra-rei que ele hipnotizava em seu show para poder conseguir uns
trocados e de David ser morto pelo terrível mangusto, único mamífero predador
que rivaliza com o réptil e é imune ao seu veneno. No frigir dos ovos o Dr.
Stoner é um sujeito cheio de boas intenções. O problema é que como diz o ditado
popular, de boas intenções o inferno está cheio. Então a maluquice de querer
fazer experiências genéticas para mesclar duas espécies (algo que absolutamente
NUNCA terminou bem no cinema de horror) e tentar criar uma raça híbrida é
apenas para dar um salto na lenta teoria da evolução das espécies. Claro que a
obstinação se confunde com instinto assassino desprovido de qualquer humanidade
e remorso. E dá uma dó desgraçada do pobre David se contorcendo, e gritando de
dor quando aos poucos vai se transformando naquela criatura peçonhenta. Isso
sim metia medo! E somente nos momentos finais a mutação passa a ser o foco
principal do filme e a criatura é vista, mantendo um climão de suspense e
fazendo escola, assim como aconteceu, por exemplo, com A Mosca de David Cronenberg
futuramente. Bom, como disse lá em cima, O Homem-Cobra é filme para
os trintões ou quarentões, que viveram o esplendor de ser criança ou
adolescente no melhor momento possível da humanidade para tal, quando éramos
brindados por filmes como esse sendo exibidos nos canais abertos, logo após a
Semana do Presidente e aquela mensagem sinistra de Jesus Cristo (“paz, amor,
fé, esperança, luz e união…”), ainda tendo o prazer de ouvir Silvio Santos
dizendo que uma de suas filhas havia assistido e recomendava, e nossos pais nos
deixavam ver um filme de terror tarde da noite, mandando o politicamente
correto às favas.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/10/18/287-o-homem-cobra-1973/
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