segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
#492 1985 DEMONS FILHOS DAS TREVAS (Dèmoni / Demons, Itália)
Direção: Lamberto Bava
Roteiro: Dario Argento, Lamberto Bava, Dardano Sacchetti e Franco Ferrini
Produção: Dario Argento
Elenco: Urbano Barberini, Natasha Hovey, Karl Zinny, Fiore Argento, Paola
Cozzo, Fabiola Toledo
Lamberto Bava é filho do maestro do
macabro Mario Bava, na minha humilde opinião, o melhor cineasta de terror de
todos os tempos. Quem acompanha meus posts aqui no blog sabe meu apreço pela
filmografia de Bava e todo seu esmero com fotografia, jogo de luz e sombra,
domínio impressionante do uso das cores e uma técnica de filmagem ímpar. Além
disso, ser filho de Mario Bava o torna neto de Eugenio Bava, cinegrafista e
artista de efeitos óticos durante o período mudo do cinema italiano. Espera-se
então que Lamberto tenha todas essas qualidade em seu DNA e seja um novo gênio
do cinema. Só que não. Demons –
Filhos das Trevas,
que viria a ser seu mais popular filme, é um bomba trash sem tamanho. É um filme extremamente ruim de doer.
Opa calma, lá. Antes de você, ó nobre leitor, vir me atirar pedras, também
concordo que Demons é
um clássico da bagaceira splatter italiana
e delicioso de ser visto. Além disso era um filme que eu tinha um medo da porra
quando criança nos anos 80. E quem hoje já passou dos trinta como eu, ficava
realmente impressionado com aquela capa do VHS que descansava ali de forma
aterrorizante na prateleira da locadora. Mas cá entre nós, você já
assistiu Demons depois
de velho, ou tem só a lembrança saudosista da infância? Aí é que está o cerne
da questão. O filme é muito mal dirigido, algumas cenas, ângulos e cortes são
toscos, a ideia do uso da metalinguagem do filme dentro do filme é pífia, as
atuações são as mais bisonhas possíveis, assim como seus personagens (com suas
vozes pateticamente dubladas em inglês), clichês oitentistas a rodo, trilha
sonora esquizofrênica (que vai de Heavy Metal até Billy Idol) e ainda me cai um
helicóptero do NADA dentro do cinema em seu ápice!!!! Tipo, o que vale mesmo é
obviamente a sangreira e a selvageria desmedida, os efeitos especiais nojentos
e as pessoas transformadas em grotescos demônios, que por sinal foram
nitidamente copiadas de A Morte do Demônio de Sam Raimi. O fiapo de história é que um novo
cinema está sendo inaugurado no centro da cidade, e um promoter, vestido com
uma enorme túnica preta e uma máscara que se parece a mistura do Fantasma da
Ópera com o Kano do Mortal Kombat, está distribuindo ingressos no metrô para
uma sessão inaugural às dez da noite daquele mesmo dia. Duas amigas e mais um
grupo completamente díspar de pessoas, comparecem à première na mesma noite,
entre eles: um bando de adolescentes; um cafetão estereótipo dos negões dos
filmes blaxploitation com
suas duas funcionárias; um cego e sua namorada/ esposa vagabunda que fica se
pegando com um tiozão careca enquanto o pobre não consegue ver nada; uma
hostess/ lanterninha que parece saber de algo suspeito no começo do filme mas
depois torna-se vítima como todos os outros; e um casal onde o velho é um
rabugento e só fica dando esporro na esposa medrosa. No filme dentro do filme
que é exibido no cinema, um grupo de jovens de moto descobrem uma catacumba e
nela o túmulo de Nostradamus (!!!???) e neste túmulo, além de conter uma
profecia maldita, há uma máscara de demônio que se usada por um ser humano, o mesmo
se transformaria em uma criatura das trevas. E não é que neste mesmo cinema, no
saguão de entrada está a exata máscara, além das motos e de uma estátua de
samurai com uma espada (???!!!!). Uma das raparigas do cafetão (que poderia
muito bem ser interpretado por Samuel L. Jackson em uma refilmagem) coloca-a
sobre o rosto, causando um arranhão em sua bochecha, que logo menos irá
infeccionar, estourar uma nojentíssima bolha de pus e transformá-la em uma
serva do coisa ruim, deixando-a deformada e sedenta por sangue. Tal qual A Morte do Demônio ou os filmes
de zumbi, todas as vítimas atacadas pelos possuídos também são transformados em
demônios, e não demora muito para uma horda de filhos das trevas (assim como
enfatiza o subtítulo que o filme ganhou aqui no Brasil) prender os poucos
sobreviventes no gigantesco cinema multiplex, que lutarão por suas vidas. E
mais, além de todos estes excelentes personagens (sarcasmo), mais um bando de
punks fora da lei, que ficam rodando a cidade cheirando cocaína dentro de uma
latinha de Coca-Cola também entram no cinema, só para aumentar a contagem de
cadáveres. Há três momentos ápices do filme que preciso compartilhar aqui com
vocês: o primeiro é quando a amiga da mocinha que ganhou o ingresso lá no
começo do filme é infectada e ela ao invés de apenas se transformar em um
demônio, literalmente um diabinho, com direito a chifre e tudo, sai de dentro
de seu corpo e sai correndo serelepe para fazer novas vítimas; o segundo é
quando o mocinho da história dá uma de Ash e pega a moto estacionada no saguão
e a espada de samurai (ambos prontamente colocadas ali pela cenografia), e ao
som de metal, sai acelerando pelo cinema decapitando, desmembrando e decepando
todos os possuídos por ali; e por fim, a tal cena quando do nada, um helicóptero,
sim, um helicóptero, cai PERFEITAMENTE no meio da sala de cinema, dando ao
casal de heróis uma oportunidade de escapar pelo buraco que abriu no teto (não
dentro do helicóptero, obviamente). E como se não bastasse, lembra o grupo de
foras da lei que conseguiram entrar no cinema? Quem disse que eles não tinham
utilidade nenhuma na trama? Ao entrarem, eles deixam um dos possuídos, mais
precisamente o cego, sair na rua, que logo ataca dois policiais que estavam
atrás dos marginais, e uma infestação generalizada de demônios começa a dominar
o mundo, trazendo caos, incêndios, saques, pilhagens e centenas de mortes,
condenado o mundo ao juízo final, como nossos heróis descobrem ao conseguir
escapar do cinema e serem resgatados por uma família em um jipe, armados até os
dentes, prontos para oferecer a resistência e tentar varrer aquela imundice
infernal da Terra. É mole? Agora sabe o que é o mais chocante em Demons – Filhos das Trevas? É o tanto
de gente boa envolvida nesta desgraça. Primeiro que o filme é produzido por
ninguém menos que Dario Argento. Isso por si só já deveria ser o suficiente
para um filme pouco mais classudo, sem contar o sobrenome da família Bava em
jogo. Tanto que o nome do produtor aparece primeiro que o diretor na hora dos
créditos iniciais. E como se não bastasse Argento produzi-lo, ele ainda assina
o roteiro ao lado de Dardano Sacchetti, que tem em seu currículo nada menos
que O Gato de Nove Caudas do próprio Argento, o
excelente A Mansão da Morte do Bava pai, Zumbi 2 – A Volta dos Mortos e tantos outros de Lucio Fulci.
E para completar, a trilha sonora é composta pelo brasileiro Claudio Simonetti,
habitual parceiro de Argento e o diretor assistente ainda foi Michele Soavi em
começo de carreira, que mais tarde dirigiria A Catedrale o clássico Pelo Amor e Pela Morte. Enfim, é muita gente boa junta para fazer
um filme tão ruim! Mas OK, Demos –
Filhos das Trevas é diversão pura, isso é inegável. É mais um
daqueles filmes saudosistas, que não pode se dar como sério e a melhor coisa a
se fazer é deixar se levar pela podreira e pelo jorro de sangue ininterrupto
que transborda para fora da sua tela de televisão. Por mais que tecnicamente
seja uma bagaceira em todos os sentidos, qualquer fã de filme de terror precisa
assisti-lo pelo menos uma vez na vida. O pior de tudo é que o filme fez tanto
sucesso que ainda ganhou mais uma sequência: Demons 2 –
Eles Voltaram, também dirigida por Lamberto e ainda uma outra
“continuação não-oficial”, chamada de Demons 3 – O Ogro,
que ganhou esse título apenas para pegar carona no sucesso dos dois filmes
anteriores, e não tem absolutamente nada a ver com eles. Detalhe pessoal
curioso: eu ganhei certo Natal o box em DVD com os três Demons de uma ex-sogra
minha. Que tipo de sogra dá um box em DVD da trilogia Demons em pleno Natal, a
festa cristã???? Só se for para seu genro preferido!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/05/492-demons-filhos-das-trevas-1985/
#490 1984 O VINGADOR TÓXICO (The Toxic Avenger, EUA)
Direção: Michael Herz, Lloyd Kaufman
Roteiro: Joe Ritter, Lloyd Kaufman (história)
Produção: Michael Herz
e Lloyd Kaufman, Stuart Strutin (Produtor Associado)
Elenco: Andree
Maranda, Mitch Cohen, Jennifer Babtist, Cindy Manion, Robert Prichard, Gary
Schneider, Mark Torgl
Não há adjetivos suficientes na língua portuguesa
que descrevam O Vingador Tóxico. Esse clássico absolutíssimo da
Troma de Michael Herz e Lloyd Kaufman é simplesmente o deus do olimpo do
cinema trash de escracho. É um lixo sem noção sem precedentes, que
prova que até no cinema, a zueira não tem limites. Sério, eu nem sei por onde
começar a falar sobre essa pérola, exceto que é um filme que PRECISA ser visto,
pelo bem ou pelo mal. É retrato de uma década e mais ainda, um estilo de filme
que nunca mais terá espaço em nossa vida cotidiana, ainda mais em um mundo que
caminha para se tornar cada vez mais coxa e politicamente correto. E olha
que O Vingador Tóxico foi lançado em meio ao conservadorismo da Era
Reagan. Mas pelos retardados da Troma que estavam pouco se lixando e só queriam
causar. Fato que O Vingador Tóxico é uma cartilha do
cinema trash, do cinemacamp despretensioso, lotado de humor negro, de
situações clichês absurdas, que servem de paródia para si mesmo e para diversos
gêneros e aspectos culturais (desde o culto ao corpo oitentista, prática
ostensiva de bullying, a corrupção política e policial, até o descarte de
lixo tóxico e a sustentabilidade – palavra que sequer existia naquela época). Há
certo limiar invisível entre o escracho total e seriedade pretensiosa
(travestida na crítica à sociedade de aparências que vivemos, muito bem
delimitadas em cada um dos personagens) que não sente vergonha nenhuma em
sacanear um sujeito perdedor ao extremo, uma garota cega, deficientes, gays,
mostrar criancinhas sendo atropeladas por carros em alta velocidade, e claro,
nudez, em prol do besteirol. É para recalcado de plantão ficar boquiaberto. A
trama é das mais idiotas, escrita por Joe Ritter em cima da história do próprio
Kaufman: Na corrupta cidade de Tromavile, a Capital Mundial do Lixo Tóxico, o
nerd babaca Melvin (Mark Torgl) é faxineiro da academia de ginástica “Tromavile
Health Club” e é constantemente zuado por Bozo (Gary Schneider), sua namorada
loira tingida Julie (Cindy Manion), o clone do Ashton Kutcher Slug (Robert
Prichard) e Wanda (Jennifer Baptist). O grupinho de malfeitores tem como
fetiche sair por ai de carro e atropelar crianças e velhinhos, tirando foto dos
mesmos após ter virado pizza de asfalto, sendo que criaram um ranking de
pontuação pelas mortes. Certo dia eles resolvem aloprar Melvin e pregam uma
peça que envolve um collant rosa e uma ovelha, que terá um resultado
trágico: o garoto do esfregão humilhado se joga da janela em meio aos risos de
escárnio e cai dentro de um tambor cheio de lixo tóxico na caçamba de um
caminhão deixado estrategicamente ali enquanto os dois motoristas estão
cheirando mais cocaína. O resultado do acidente é que Melvin acaba ficando
terrivelmente deformado, porém ganha superforça e torna-se o Vingador Tóxico
(interpretado agora por Mitch Cohen), protegendo os inocentes e perseguindo
todos os bandidos e corruptos da cidade. Daí para frente é uma sessão de
absurdos com violência estilizada, com direito a muito gore para levar os
fãs à loucura definitiva, como se todo o humor pastelão, exagero e os
personagens caricatos não fossem o suficiente. Uma das minhas passagens
preferidas é quando Toxie (como é carinhosamente chamado) intercepta o
assalto/sequestro de alguns meliantes em uma lanchonete e o destino que cada um
dos malfeitores leva após tentar estuprar a garota cega Sara (Andree Maranda) e
balear seu cão-guia (politicamente incorreto o suficiente para você ou não?).
Um deles tem as mãos fritas em óleo quente, outro tem o braço arrancado e é
nocauteado pelo próprio membro e outro sujeito tem o rosto feito
de milk-shake. O saldo desse ato heroico é Melvin finalmente encontrar seu
amor, e nada melhor do que uma garota cega que não verá sua feiúra e apenas a
beleza de seu coração. Não vou nem comentar a cena em que ela que saber se está
bonita para seu herói e usa um ESPELHO EM BRAILE! A Troma sempre foi conhecida
por seus absurdos, mas O Vingador Tóxico é o hors concours e é
o cult definitivo da insana produtora de filmes trash. O longa
ainda ganhou outras três continuações. Rola até uma história, que foi
publicada pela Variety, de que Arnold Schawrzenegger estará na refilmagem e que
será uma porcaria PG-13, com uma aventura de ação com conscientização ambiental
(!!!???) Espero que pelos deuses da bagaceira esse projeto nunca vá para frente
e não saia do papel ou que se sair um dia, Toxie vá até os responsáveis e enfie
seu esfregão da justiça você sabem muito bem aonde.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/08/01/490-o-vingador-toxico-1984/
sábado, 27 de fevereiro de 2016
#488 1984 RAZORBACK AS GARRAS DO TERROR (Razorback, Austrália)
Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Everett De Roche (baseado no livro de
Peter Brennan)
Produção: Hal McElroy, Tim Sanders (Produtor
Executivo)
Elenco: Gregory
Harrison, Arkie Whiteley, Bill Kerr, Chris Haywood, David Argue, Judy Morris
Razorback – As Garras do Terror (que quando lançado em VHS
pela VTI no Brasil ganhou o infame nome de O Corte da Navalha) é um
clássico incomparável do Ozploitation.
Para quem não sabe, Ozploitation é o
termo designado para os filmes trash vindo
da Austrália (que possui uma filmografia bem prolífica do gênero e se você não
conhece até indico o documentário Além de Hollywood: O Melhor do Cinema
Australiano). E Razorback cumpre seus requisitos nesta categoria com
louvor. Razorback é a palavra inglês para porco-selvagem ou javali, e é
exatamente essa criatura que é a antagonista
neste eco-horror dirigido por Russel Mulcahy, baseado no livro de
Peter Brennan, contratado pelos produtores após dirigir o videoclipe de “Hungry
Like The Wolf” do Duran Duran e que lhe gabaritou para dirigir futuramente o
sensacional Highlander – O Guerreiro Imortal e a sua segunda parte. Ambientado
no inóspito outback australiano,
um terrível javali gigante assassino é responsável pela morte do neto de Jake
Cullen (Bill Kerr) após um ataque feroz. Acusado pelo crime, isso levou o velho
à ruína, mesmo sendo inocentado por falta de provas no tribunal. A partir daí
ele ficou obstinado em caçar e destruir o maldito javali, primeiro por
vingança, depois para provar de vez a participação do animal no trágico
acontecido e deixar de viver sob suspeita. Uma jornalista americana ativista
dos direitos animais chamada Beth Winters (Judy Morris) viaja até a cidadezinha
interiorana australiana para filmar a caçada predatória de cangurus. Obviamente
lá ela não se torna muito popular e começa a ser hostilizada pela população
local, incluindo aí dois sádicos irmãos caçadores, Benny e Dicko Baker (Chris
Haywood e David Argue respectivamente). Então de repente em um toque à lá
Hitchcock, quando você pensa que a jornalista é a mocinha do filme, eis que ela
é brutalmente assassinada pelo mesmo javali antes da metade da fita. A partir
daí, seu marido, Carl Winters (Gregory Harrison) viaja para a Austrália em
busca de informações sobre o assassinato da esposa (foi-se dito que ela havia
caído de um barranco) quando tem um encontro quase mortal com a fera. Vagando
pela estepe desértica quase à beira da morte, encontra a loira gracinha Sarah
(Arkie Whiteley), bióloga que estuda o comportamento errático dos porcos
selvagens e é próxima de Jake Cullen, que finalmente depois de dois anos
descobre por meio do forasteiro, o local onde o javali gigante está escondido,
e parte para a vingança. Fato é que Razorback é recheado de situações
absurdas e descabidas, mas que obviamente é o que dá bastante charme ao filme.
Tudo parece um grande ensaio estético de Mulcahy para meter ângulos inusitados,
filtros e diversos recursos visuais na construção de seu longa, explorando a
desoladora paisagem do outback,
personagens desequilibrados e caricatos e muita inverossimilhança. Claro que o
ator principal é o javali com seus ataques violentos e sua velocidade até
propulsora às vezes. Ou não. Parece que a lição importantíssima dada por Steven
Spielberg em seu Tubarão que quanto menos mostrar o
animal e preservar o suspense melhor, principalmente devido a problemas
técnicos e orçamentários, foi seguida a risca por Mulcahy. Vemos sempre o bicho
de relance em ângulos inventivos até demais (que até geram uma penca de erros
de continuidade) com muitos cortes rápidos (até pela sua experiência no mercado
de videoclipe) e só teremos um vislumbre do animatrônico de tamanho
natural (que custou 250 mil dólares) durante um mísero segundo na sequência
final. Mas para quem curte o gore, crueldade e filmes dessa temática
“animais assassinos”, e até uma boa dose de humor negro e caricato, Razorback –
As Garras do Terror é uma boa pedida e recomendadíssimo, até para se saber
que até nos mais inóspitos rincões do planeta Terra, uma ameaça sinistra pode
tomar forma e virar uma boa história e um bom filme de terror, e que na
Austrália há bons exemplares do gênero.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/07/30/488-razorback-as-garras-do-terror-1984/
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
#486 1984 A NOITE DO COMETA (Night of the Comet, EUA)
Direção: Thom Eberhardt
Roteiro: Tom Eberhardt
Produção: Wayne Crawford e Andrew Lane, Nancy Israel e Sandra
Scheik (Produtores Associados), Thomas Coleman e Michael Rosenblatt (Produtores
Executivos)
Elenco: Robert Beltran, Catherine Mary Stewart, Kelli
Maroney, Sharon Farrell, Mary Woronov
Amigos e amigas, que filmeco chato! Eu nem sei por
que eu decidi colocar A Noite do Cometa nesta lista. Na verdade eu
sei sim. Só para ter o prazer de achincalhá-lo com gosto. Tá bom que ele tem um
valor nostálgico indiscutível já que vomita os anos 80 em cada frame (figurino,
cabelos, luzes de neon, músicas pop), mas eu juro que preferia meus 95 minutos
de vida de volta. Naqueles idos dos anos 80 havia uma “febre do cometa”
rolando. O filme aqui citado é de 1984 e todo munda estava na expectativa da
passagem do famoso cometa Halley em 1986, que frustrou uma cambada de gente que
saiu na rua para ver o corpo celestial a olho nu e não viu porcaria nenhuma.
Claro que isso serviu de pano de fundo para despertar a criatividade de
Hollywood e explorar o fato para criar histórias de ficção científica. O diretor
e roteirista Thom Eberhardt surfou na cauda do cometa (tá, foi infame) e lançou
esse insosso thriller zumbi/ sci-fi/
apocalíptico que tem um potencial maravilhoso, mas que virou um filme
burocrático, nada inspirado e símbolo da cafonalha oitentista. Para começo de
conversa, não espere um filme zumbi gore ou
splatter. Acho que se não me engano, quatro ou cinco zumbis aparecem durante
TODO o longa. A pegada aqui é mais uma cópia deslavada de A Última Esperança da Terra (aquele do Charlton Helston baseado no livro
famoso Eu Sou a Lenda de Richard Matheson). Um cometa passa pela terra, deixa o
céu laranja como em um crepúsculo perpétuo e dizima praticamente toda a
população mundial por conta da radiação transformando-os em pó. Claro que
alguns resistem e são transformados em zumbis. Assim como duas adolescentes,
Regina (Catherine Mary Stewart) e sua irmã mais nova, Samantha (Kelli Maroney)
que devem viver naquele mundo deserto em busca de outros sobreviventes. Nesse
meio tempo elas encontram Hector (Robert Beltran) que rapidamente se transforma
na paixonte de Regina dentro da estação de rádio local. Enquanto ele precisa
voltar para San Diego para checar se sua família sobrevivera, as duas moças, ao
melhor estilo Despertar dos Mortos, vão para o shopping center
deixar transbordar seu espírito consumista e se veem as voltas com um bando
de punks que tomaram
o local para eles e começam a caçá-las. Nesse ínterim também descobrimos que
uma agência governamental de cientistas sobreviveu ao incidente e
desesperadamente procuram por uma cura para a infecção radioativa, usando até
sobreviventes como cobaias humanas (nisso inclui criancinhas) e extraindo seu
sangue para estudos. Você lendo essa resenha deve pensar: Filmaço. Tinha tudo
para tal. Mas a direção preguiçosa e o roteiro raso de Eberhardt, que erra
tanto na ficção, quanto no uso dos zumbis, quanto na velha mensagem de que “os
humanos são o maior perigo”, quanto nos diálogos primários, transforma A Noite do Cometa num marasmo que
demorou três dias para terminar de ser visto por mim, dormindo todas as
tentativas um um sono dos justos. Fora o quanto é piegas e as soluções da
trama são infantilóides, aquele finalzinho coroa tudo de ruim que o filme
apresentou. Sou obrigado a cornetar então lá vai o
ALERTA DE SPOILER (pule
para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco).
Depois de todos os mocinhos se darem bem, cinco
zumbis terem aparecido durante todo esse tempo e não representar absolutamente
nenhum perigo de verdade e eles terem se safado dos cientistas malvados, eis
que Regina, Hector e duas crianças resgatadas começam a viver como uma família
com o “peso da humanidade recaindo sobre seus ombros” e Sam está entendiada,
sozinha, emburrecida, quando um playboyzinho yuppie também sobrevivente aparece em seu conversível
(!!!!) e a chama para dar uma volta. Sobe o crédito com uma música cafona
típica daquela década: “Learn to love again” de Chris Farrer. O filme ainda
quase foi chamado de Teenage Mutant Horror Comet Zombies. Aí sim seria digno!
Que por mais que tenha pitadas de comédia, crítica social, militar e política e
algum humor negro, nada disso se sustenta e para mim, ele se leva a sério
demais. Sei lá, há quem ache A
Noite do Cometa um clássico, subestimado, retrato de uma década e
um bom filme. Eu acho um porre. E tenho dito!
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/07/26/486-a-noite-do-cometa-1984/
#485 1984 NATAL SANGRENTO (Silent Night, Deadly Night, EUA)
Direção: Charles
E. Sellier Jr.
Roteiro: Michael Hickey,
Paul Caimi (história)
Produção: Ira Barmak, Scott
Schneid e Dennis Whitehead (Produtores Executivos)
Elenco: Lilyan
Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero, Robert Brian Wilson, Britt Leach, Nancy
Borgenicht, H.E.D. Redford
Paz na terra aos homens de boa
vontade uma ova! Natal Sangrento é o politicamente incorretíssimo slasher oitentista que mete um
machado nas mãos de um maluco psicopata vestido de Papai Noel nas proximidades
da Noite Feliz, que sofreu todo tipo de abuso físico e psicológico durante a
infância e tem seus 15 minutos de parafuso solto maníaco. Fato que os slashers movies aproveitavam qualquer data comemorativa para sair
trucidando gente por aí. Era Halloween, sexta-feira 13, dia dos namorados, e
por aí vai. Mas aí chegamos ao ponto máximo da subversão, a festa cristã, sendo
usada como pano de fundo para o banho de sangue, e olha que nem foi porque o
maluco ficou ouvindo muito a enlouquecedora canção “Então é Natal” da Simone
que bombardeia nossos tímpanos na ocasião festiva. Mas o principal aspecto de Natal
Sangrento foi ele ter se tornado Cult
exatamente pela perseguição que ele gerou por chutar o pau da barraca. Imagine
o ultraje para os carolas de plantão e os defensores dos bons costumes ao ver o
Papai Noel, bom velhinho símbolo máximo da bondade e do altruísmo matando gente
com machadada, flechada, empalhamento, estrangulamento, cortando um sujeito com
estilete, decapitando esquiadores e por aí vai? Para você ter uma ideia, o
filme ficou em cartaz apenas duas semanas. Pais conservadores fizeram um
piquete contra a distribuidora, Tristar Pictures, coletando um abaixo assinado,
tiveram apoio de importantes críticos cinematográficos como Roger Ebert e Gene
Siskel, e Natal Sangrento foi retirado de cartaz depois de seis dias,
proibido na Inglaterra onde nem chegou a estrear (claro que por conta do BBFC)
e só viu a luz da vida novamente quando lançado em VHS em sua versão sem
cortes. E um detalhe curiosíssimo é que ele entrou em cartaz no mesmo dia de A Hora do Pesadelo,
e mesmo com um lançamento limitado, chegou a faturar meio milhão a mais que o
filme de Freddy Krueger, que depois se transformaria no ícone que todos
conhecemos (que acabou faturando mais no final das contas por ter mais tempo de
exibição). Isso só serviu para tornar Natal Sangrento icônico,
cultuado e um bastião vivo anti-coxice. Mas cá entre nós, a trama é bem
sórdida. O pobre garoto Billy Chapman (aos oito anos interpretado por Danny
Wagner) está excitadíssimo com o Natal até seu avô maluco que vive no asilo
sair da catatonia apenas para assustá-lo com uma história macabra sobre o Papai
Noel. Na mesma noite ele é testemunha ocular do assassinato de seus pais (e
estupro de sua mãe, diga-se de passagem) por um meliante vestido da
personificação de São Nicolau. Pronto, já é motivo mais que suficiente para o
guri ficar traumatizado pelo resto da vida e odiar o Natal. Passando a infância
e a pré-adolescência em um orfanato comandado por freiras, Billy agora com 15
anos (Jonathan Best) comerá o pão que o diabo amassou na mão da intolerante e
severa Madre Superiora (Lilyan Chauvin) até o fatídico dia que será flagrado
espiando uma freirinha dando para um rapaz e levar uma daquelas surras de
cintas dolorosíssimas. A partir daí, sexo e castigo passaram a se misturar e
ele incorpora os ensinamentos da Madre Superiora de que pecado merece uma
punição severa. Mas aos 18 anos (agora vivido por Robert Brian Wilson), Billy
está regenerado. É um bom sujeito, não bebe, é trabalhador e tudo vai mil
maravilhas em sua vida e em seu emprego em uma loja de brinquedos, onde tem até
uma paquerazinha. Até que chega o fatídico Natal. Os seus chefes o vestem de
Papai Noel e então o rapaz chega às raias da loucura quando na festinha da
firma vê um dos funcionários tentando estuprar outra funcionária no depósito.
Daí meu amigo, Billy se transforma no psicopata vestido de vermelho, preto e
branco e sai por aí aplicando suas deturpadas diretrizes de punição. Há
diversas cenas emblemáticas durante o impulso assassino do rapaz. Entre elas
quando ele ceifa a vida da scream
queen Linea Quigley (que ADORA aparecer nua em todos os filmes, como a
punk de A Volta dos Mortos-Vivos ou a biscate de A Noite dos
Demônios) pregando a moça nos chifres da cabeça de um veado empalhado de
troféu, ou o momento terrivelmente delicioso cheio de humor negro quando um
policial, na caça do Papai Noel psicopata, descarrega o pente na pessoa errada,
o padre do orfanato fantasiado que não parou aos comandos do policial por ser
surdo! E ainda meta na conta do politicamente incorreto do longa o desfecho
– ALERTA DE SPOILER –
quando Billy vai ao encontro da
Madre Superiora para se vingar e é baleado friamente na frente das criancinhas,
provavelmente dando origem a diversos outros “Billies”. Mas daí para achar que
o filme influenciaria a molecada e passaria uma imagem perversa do Papai Noel é
demais para minha cabeça. Reflexo do conservadorismo pungente da Era Reagan. Natal
Sangrento provocou uma perseguição feroz e injusta ao melhor estilo
“tochas e forcados” da inquisição e tudo bem que esse anti-marketing até ajudou
no sucesso posterior do filme, mas é extremamente maléfico a qualquer sociedade
esse tipo de censura. Hoje vimos até Papais Noeis assassinos em séries de TV,
como na segunda temporada de American Horror Story. E apesar dos apesares, o
maior vilão do filme não é Billy, e sim a Madre Superiora e seus preceitos
católicos intolerantes e arcaicos que são usados de forma firme e forte até
hoje. Natal Sangrento teve mais quatro continuações e rendeu um Horrorcast
natalino. Recomendo assisti-lo logo depois da ceia com a família toda reunida
ou então no horário do especial do Roberto Carlos. Esse sim merecia uma punição
de Billy com seu machado!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/25/485-natal-sangrento-1984/
#484 1984 A HORA DO PESADELO (A Nightmare on Elm Street, EUA)
Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Robert Shaye, Sarah Risher (Co-Produtora), John Burrows (Produtor
Associado), Stanely Dudelson e Joseph Wolf (Produtores Executivos)
Elenco: Heather Langenkamp, Robert Englund, John
Saxon, Johnny Depp, Ronee Blakely, Amanda Wyss
“Um dois, Freddy vai te pegar”.
Quem era pivete e nunca ficou com medo dessa música cantada por aquelas
espectrais garotinhas pulando corda? A Hora do Pesadelo é um dos maiores
fenômenos pop do
gênero graças ao seu vilão icônico, Fred Krueger, com sua luva de navalhas,
chapéu de feltro, blusão vermelho e verde e rosto desfigurado. A produção teve
vários toques de mestre de Wes Craven que a transformou em um sucesso de
crítica e bilheteria, além de colocá-la no panteão como um novo clássico do
terror. Entre eles, a originalidade de criar um assassino indestrutível que
ataca nos sonhos, utilizando o subterfúgio do medo inconsciente que as pessoas
têm de pesadelos. Craven usou esse terreno para poder criar ambientes e
situações oníricas, surreais e soturnas. O visual assustador de Freddy com o
rosto todo queimado representa a personificação do mal e os efeitos visuais
vanguardistas na época ajudaram a espalhar essa sensação de medo primitivo, com
mortes extremamente elaboradas e sangrentas. E mais importante que tudo isso, é
que A Hora do Pesadelo é
infinitamente mais inteligente e adulto, podemos dizer, do que todos os filmes slasher de
adolescentes sendo perseguidos por maníacos nos anos 80. Ele bebe na fonte da
literatura gótica e apresenta personagens com perfis psicológicos distintos e
bem definidos, diferente dos jovens idiotas que só prestavam para serem mortos,
como em Sexta-Feira
13, por exemplo. Fred Krueger ataca adolescentes que têm
problemas tanto de ordem social quanto psicológica e que na maioria dos casos,
são oriundos de famílias disfuncionais. Por exemplo, Tina, a primeira vítima do
assassino. Logo na primeira aparição do vilão, ao acordar de um pesadelo, ela é
repreendida pela mãe, que logo em seguida é interrompida pelo namorado,
brigando para voltarem a cama e continuarem com a trepada que a filha dela
interrompeu. Daí já percebemos que Tina é filha de pais divorciados e tem uma
mãe piranha, que no dia seguinte vai viajar com o namorado para Las Vegas,
deixando a filha em casa sozinha. Já Rod Lane, namorado de Tina, é um daqueles bad
boys incorrigíveis. Já teve passagem policial por baderna e tráfico de
drogas. Nancy Thompson, a heroína virginal, por sua vez também é filha de pais
separados e sua mãe é alcoolatra. E todos estão envolvidos nesse balaio de gato
porque Fred era um assassino pedófilo de crianças, que acabou sendo solto
devido a uma falha burocrática do sistema. Os pais revoltados querendo proteger
seus filhos, resolvem fazer justiça com as próprias mãos e o aprisionam em sua
casa, queimando-o vivo. Anos depois, ele volta a atacar os filhos dos
responsáveis pela sua morte em seus sonhos, já que ele não pode se materializar
na vida real. Craven teve a ideia de escrever o roteiro de A Hora do Pesadelo, quando leu uma
série de artigos do L.A. Times sobre o grande número de crianças tailandesas
que morriam durante o sono após sofrer de terror noturno e ter inúmeros
pesadelos subsequentes. E pegou emprestado o nome de outro vil assassino que já
havia idealizado antes, Krug de Aniversário Macabro. Robert Englund
encarnaria o titio Freddy para colocá-lo de vez no hall da fama dos filmes de
horror. O mais interessante de se assistir A Hora do Pesadelo em detrimento de suas outras sete
sequências (sem contar o crossover com Jason e o bom remake de
2010), é que Freddy é realmente um sujeito aterrador em sua primeira aparição.
Sua maquiagem de rosto é mais feia, ele é mais cruel e sinistro. Mete um baita
medo, enquanto nas sofríveis continuações ele adquire uma nova persona,
transformando-se em um falastrão piadista, com sacadinhas jocosas e frases
clichês antes ou depois de matar suas vítimas (sendo a mais célebre delas dita
em A Hora do Pesadelo 3 – Os
Guerreiros dos Sonhos, quando ele enfia a cabeça de uma jovem dentro do
tubo da televisão e solta: “Bem-vinda ao horário nobre, cadela”). Três fatos
curiosos sobre A Hora do Pesadelo:
Seu roteiro foi ignorado por todos os grandes estúdios, exceto pela Disney (?!).
A New Line topou fazê-lo, com um orçamento de 1,8 milhão de dólares, faturou
mais de 25 milhões de dólares na bilheteria e criou uma das franquias mais
lucrativas do estúdio; Johnny Depp faz aqui sua primeira aparição no cinema,
com 21 anos de idade; E em determinada noite, Nancy está assistindo televisão e
o filme que está sendo exibido é A
Morte do Demônio, que foi a retribuição de uma homenagem a
Sam Raimi, que em seu filme havia colocado o pôster de Quadrilha de Sádicos, de
Craven, no porão da cabana na floresta.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/24/484-a-hora-do-pesadelo-1984/
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
#482 1983 DUBLÊ DE CORPO (Body Double, EUA)
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Robert J. Avrech e Brian De Palma
Produção: Brian De Palma, Howard Gottfried (Produção
Executiva)
Elenco: Craig Wasson, Melanie Griffith, Gregg Henry,
Deborah Shelton, Guy Boyd, Dennis Franz
Não adianta, Brian De Palma é um sujeito capaz de
criar sentimentos dúbios nos fãs de cinema. Você pode acha-lo um gênio ou um
charlatão que apenas recicla obras de outros cineastas e também de seus
próprios filmes, numa espécie de loop fazendo
repeteco de elementos comuns, principalmente tratando-se de seu começo de
carreira. Isso para dizer que EU acho Dublê de Corpo genial. Não se deve
cair na armadilha de colocar Dublê
de Corpo (e muito da obra de De Palma) como uma cópia de Hitchcock.
Obviamente é uma homenagem rasgada ao Mestre do Suspense, como já havia feito
anteriormente em Irmãs
Diabólicas ou Vestida
Para Matar (que
considero sua obra-prima até então). Você respira tanto Janela Indiscreta quanto (e
principalmente) Um Corpo que
Cai em muitos dos frames.
Mas tendo em vista que De Palma foi o sujeito que realmente pegou o bastão do
cinema hitchcockiano, acredito que ele o tenha feito com louvor e esta fita é a
prova definitiva disso. E muito mais que recauchutar elementos até mesmo já
usados por ele, aqui De Palma manda tudo às favas e faz uma crítica elemental a
Hollywood, ao sistema, debocha dos detratores que acusaram Vestida Para Matar de um thriller erótico vulgar e
sexista e também manda uma banana para o controle dos estúdios logo depois do
árduo processo de filmagem de Scarface e
seus quatro cortes para abrandar a censura e garantir uma classificação
indicativa menor. Nada melhor que um filme de baixo orçamento que subverta o
gênero, do terror B ao pornô hardcore,
brincando com produtores, diretores, atores, até roteiristas e seus plot twist e usando e abusando
de metalinguagem para tal, como o impagável começo da fita, com seus créditos à
lá filmes da Hammer e seu final onde utiliza uma dublê de corpo para remontar a
própria cena do chuveiro de Vestida
Para Matar com a nudez arrebatadora de Angie Dickinson. A trama de
contornos nababescos e labirínticos escrita pelo próprio diretor e por Robert
J. Avrech nos apresenta Jake Scully, interpretado por um não muito inspirado
Craig Wasson (exceto nas cenas em que ele se passa por ator pornô, mas logo
chego lá), ator medíocre que estrela uma produção de baixo orçamento de vampiro
que sofre de um surto claustrofóbico (tal qual a acrofobia do personagem de
James Stewart em Um Corpo que Cai)
enquanto filma uma cena dentro de um caixão. Chutado pelo diretor (papel de
Dennis Franz – que se inspirou no próprio De Palma) ao voltar para casa
encontra sua esposa transando com outro sujeito e logo sua vida torna-se
miserável. Sem trabalho e sem ter onde morar recebe a ajuda de outro ator, Sam
Bouchard (Gregg Henry) para passar um tempo em uma esquisita mansão em
Hollywood enquanto vai viajar. Como De Palma é ainda mais vouyer que
Hitchcock, através de uma lente de aumento colocado na janela da casa, Scully
descobre sua fixação pela vizinha de frente que gosta de se exibir e se
masturbar na janela, Gloria Revelle (Deborah Shelton) e passa a observá-la (tal
qual o também personagem de James Stewart em Janela Indiscreta). Até claro, que sabemos o que vai acontecer (ou
pressupomos). Ele descobre que tem um sujeito índio deformado a perseguindo até
o clímax do assassinato, atravessada por uma broca, testemunhado por um
suspeito e paranoico Scully, que também passa a seguir Gloria tornando-se cada
vez mais obcecado, sendo desacreditado pela polícia e visto como um tarado
fetichista. A segunda metade do filme é hora do giro de 360º e percebemos que
assim como o herói falível, incompetente e decadente, que tanto nos
assemelhamos (assim como os heróis de Hitchcock, diga-se de passagem) estamos
sendo enganados como patos,
e aí vai
aquele famoso ALERTA DE SPOILER,
e se você não assistiu ao filme, pule para o próximo parágrafo ou leia por sua
conta e risco.
Na real a
trama é muito mais complexa e Scully foi usado como testemunha para livrar a
cara do marido de Revelle, uma dondoca rica, que está atrás do dinheiro do
seguro. Sam Bouchard, que é o marido em questão, arquitetou um plano infalível
ao melhor molde do Cebolinha, contratou uma atriz pornô, Holly Body (papel de
Melanie Griffith, nova, deliciosa, provocante e desbocada, que é filha de Tippi
Hedren de Os Pássaros e Marnie, Confissões de uma Ladra,
dirigidos por você sabe quem) para se passar por Gloria (ser seu dublê de
corpo), instigar o vouyerismo de Scully e usá-lo como uma peça de tabuleiro.
Gênio é pouco. Você é conduzido por maestria por De Palma que joga na sua cara
o quanto você foi um babaca, assim como o personagem principal. Sua câmera
invasiva, o abuso dos travellings característicos do diretor e
a trilha sonora incrível de Pino Donaggio te coloca dentro do filme como um
espectador incauto, tão obsessivo em entender o que se passa quanto o próprio
Jake Scully. A extensa cena sem diálogo de Scully seguindo Gloria (e, por
conseguinte o índio horroroso que a persegue) pelo shopping, pelo condomínio na praia e pelas areias é digna de um dos
grandes momentos da carreira do diretor (que coloco no mesmo patamar da cena do
museu em Vestida Para Matar,
a cena da escada na estação de trem de Os Intocáveis e a cena da escada rolante de O Pagamento Final). Isso sem contar
todos os pormenores de escancarar a sórdida relação atores, diretores, cinema
tanto do universo convencional quanto da pornografia e obviamente, os limites
da paranoia e da obsessão e da dificuldade em acreditar até em si mesmo quando
uma coisa extremamente inverossímil parece ter tomado forma, com consequências
macabras. Afinal, um pouco (ou muito) de suspensão de descrença é necessário para
não se ater em possíveis falhas de roteiro ou no absurdo do desenrolar da
trama, assim como seu final aberto onde tudo e nada são respondidos ao mesmo
tempo. Dublê de Corpo é
cinema puro. É Brian De Palma puro. É o legado de Hitchcock puro. Sórdido, lascivo,
brutal, envolvente, acachapante, que faz piada com Hollywood, faz piada com a
indústria do cinema e como profissionais e vidas podem ser descartadas em um
mundinho de vaidades, taras e obsessões.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/07/22/482-duble-de-corpo-1984/
#481 1983 A COLHEITA MALDITA (Children of the Corn, EUA)
Direção: Fritz Kiersch
Roteiro: George Goldsmith (baseado no conto de Stephen
King)
Produção: Donald P. Borchers e Terrence Kirby, Mark
Lipson (Produtor Associado), Earl A. Glick e Charles Weber (Produtores
Executivos)
Elenco: Peter Horton, Linda Hamilton, R.G. Armstrong,
John Franklin, Courtney Gains
Adaptações da obra do Mestre do Terror Stephen King
aconteciam a rodo durante o começo dos anos 80. Ter o nome do escritor nos
créditos de uma produção de terror, por mais B que fosse, renderia um caminhão
de grana e gente lotando as salas de cinema. Foi assim com Colheita Maldita, um dos clássicos do gênero, baseados no conto “As Crianças do
Milharal” de King, produzido com 800 mil dólares pela New World Pictures
(fundada por Roger Corman), que faturou só nos EUA mais de 14 milhões de
bilheteria. Colheita Maldita é
o típico filme que envelheceu mal. Por mais que seja louvável o tratamento da
história que George Goldsmith concedeu ao roteiro, transformando um conto de 30
páginas em um longa metragem de uma hora e meia (apesar das gritantes mudanças,
as quais voltarei em breve), a fita já não tem o mesmo impacto de seu
lançamento e de quando assistíamos nas noites (ou tardes) do SBT anos atrás.
Mas isso não desmerece o longa. Enquanto
nos anos 80 e 90 quando vi na infância havia todo o sentimento macabro de medo
daquelas criancinhas sinistras com suas foices, vendo novamente depois de
tantos e tantos anos, claramente é o discurso religioso fundamentalista que
salta aos olhos. Tal qual a cegueira religiosa de crianças seguindo um falso
profeta em nome de uma entidade obscura, o famoso “Aquele que caminha entre as
fileiras”, é nitidamente claro o paralelo com o fervor religioso de doutrinas
seguindo piamente o que um charlatão diz em um culto ou programa de televisão
da madrugada, que levam pessoas a seguirem cegamente princípios distorcidos de
poder e persuasão que o guiam à intolerância, racismo, homofobia, misoginia, violência
e porque não, até morte. Essas crianças são guiadas pelo líder religioso mirim
Isaac (papel icônico de John Franklin) e seu braço direito, o temível ruivo
Malachai (Courtney Gains, também excelente), nomes que ficaram eternamente
guardados nas mentes dos fãs de terror, que foram criados somente para o filme,
pois no conto chamam-se William Renfrew e Craig Boardman, respectivamente, mas
convenhamos que os nomes utilizados no longa são bem mais bacanas. Moradores da
pequena cidade de Gaitilin, em Nebraska, cuja subsistência está na extensa
plantação de milho que rodeia o município, os garotinhos, liderados por Isaac,
que por sua vez é um receptáculo da mensagem d’Aquele que caminha entre as
fileiras, assassinaram brutalmente todos os adultos e vivem naquela comunidade
excêntrica apenas de crianças, enquanto todos aqueles que completam 19 anos são
sacrificados para a entidade maligna. O casal Burt (Peter Horton) e Vicky
(Linda “Sarah Connor” Hamilton) estão na estrada e acabam sendo obrigados a
parar em Gaitlin quando acidentalmente atropelam um garoto que aparece do nada
em sua frente. Na verdade o menino havia tido sua jugular cortada por Malachai
ao tentar fugir da cidade em busca de ajuda. Após encontrar um daqueles
sinistros donos de posto de gasolina que os alertam para ficar longe do local,
Diehl (R.G. Armstrong – personagem também ausente no conto), que vai ser morto
pelos capetinhas, mesmo sendo de grande valia fornecendo óleo e gasolina para
as crianças, os forasteiros conhecem os irmãos Job (Robby Kiger) e Sarah (Anne
Marie McEvoy), que são uma espécie de “resistência” a Isaac e sua turma, que
aboliu música e brincadeira da vida dos pequenos, sendo que Sarah possui um dom
premonitório e pode desenhar o futuro. Vicky é sequestrada e amarrada em uma
cruz no milharal, junto com o “Homem de Azul”, que na verdade era o delegado
que foi até Gaitlin investigar as mortes, e cabe a Burt tentar resgatá-la,
enquanto, quando surto de pequeno poder pouco é bobagem, Malachai se revolta
contra Isaac e resolve oferece-lo para Aquele que caminha entre as fileiras. A
sequência final é espalhafatosa e com efeitos especiais toscos, novamente
inerente à época e ao baixo orçamento. Mas o clima sinistro construído durante
todo o filme, abusando de crianças terríveis, aquele aspecto de cidade
abandonada, fanatismo religioso e uma música tema que mistura coro de
criancinhas com um quê do “Ave Santanis” de A Profecia de Jerry Goldsmith, é muito
bem executado. Como estamos falando de um filme de Hollywood, mudanças
drásticas foram feitas com relação ao original,
então lá
vai um parágrafo com ALERTA DE SPOILERS,
e pule para o próximo caso ainda não tenha visto Colheita Maldita.
Enquanto o casal Burt e Vicky estão numa boa, no
livro os dois estão passando por um grave problema conjugal e vivem se
atacando. Na cena onde eles dirigem pela estrada (que tem uma cópia de “Sombras
da Noite” no painel do carro, antologia de contos de King onde foi publicado
“As Crianças do Milharal”) originalmente eles estão discutindo fervorosamente e
Burt precisa se segurar para não agredi-la física e verbalmente. O final feliz
do longa também simplesmente não existe no texto. Enquanto aqui os mocinhos
sobrevivem, no conto Vicky é crucificada no milharal e tem seus olhos
arrancados, enquanto Burt é assassinado pela deidade sobrenatural logo após
encontrar o corpo da esposa. BEEEEEEEM mais legal! Bom, como já disse, Colheita Maldita perdeu muito de
seu charme de época. É um filme correto e econômico, que entrega aquilo que
promete, tem lá seus momentos de inspiração apesar da conclusão errônea e sem
dúvida nenhuma marcou toda uma geração e desperta aquela sensação de
saudosismo, mas que se analisado friamente fica aquém de outras adaptações para
as telonas das obras de Stephen King, até da mesma época. Colheita Maldita depois ganhou um
infindável número de sequências, prequelas, refilmagens, telefilmes e por aí
vai. São impressionantes NOVE filmes, todos, sem exceção, de gosto duvidoso e
inferiores ao original que começou com tudo, como alardeia a tagline do
seu DVD de vigésimo aniversário, que tenho certeza que não agradariam em nada
Aquele que caminha entre as fileiras.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/19/481-colheita-maldita-1984/
domingo, 21 de fevereiro de 2016
sábado, 20 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
#476 1983 O RETORNO DOS ALIENS GERAÇÃO MORTAL (The Deadly Spawn, EUA)
Direção: Douglas
McKeown
Roteiro: Ted
A. Bohus, John Dods, Douglas McKewon
Produção: Ted
A. Bohus, John Dods (Produtor Associado), Ron Giannotto, Jonathan Neil Harris,
Susan Harris, Rita Hildebrandt, Tim Hildebrandt e Jeff Kimelman (Produtores
Executivos)
Elenco: Charles
George Hildebrandt, Tom DeFranco, Richard Lee Porter, Jean Tafler, Karen Tighe,
James L. Brewster
Trasheira até a medula extraterrestre!
Isso é O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal, um dos títulos mais WTF que o
mercado brasileiro de home vídeo já pode conceber. Claro que a ideia era pegar
uma picareta carona em Alien – O Oitavo Passageiro. Mas até aí, é demais. Fato é que o longa
do bravo diretor Douglas McKeown é uma daquelas gemas obscuras do
cinema sci-fi camp, desconhecido até de muitos fãs do horror. Feito com um
parco orçamento de apenas 20 mil dólares (o filme tem UMA única locação em seus
quase 81 minutos), O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal é feito
claramente por um apaixonado. Entusiasta do cinema de terror, entuba diversas
referências ao gênero, desde sua concepção e inspirações, e principalmente por
conta do personagem Charles, papel de Charles George Hildebrandt, diga-se de
passagem, um dos piores atores mirins da história. O moleque é fanático por
filmes clássicos de terror e ficção científica, obcecado por monstros,
máscaras, maquiagens e efeitos especiais (percebe-se uma idolatria por Ray
Harryhausen), possui pôsteres no seu quarto de filmes como A Maldição da
Aranha e O
Monstro do Mar e
lista entre seus preferidos Frankenstein, O
Templo do Pavor, O
Monstro do Ártico e O Terror que Vem do Espaço. Isso é bastante legal! O roteiro é o
mais manjado e clichê possível. Um meteoro cai na terra com sedentos vermes
alienígenas que se guiam por meio do som e se instalam no porão da casa de uma
família tipicamente suburbana de uma cidadezinha americana. Quatro jovens e o
moleque têm de tentar sobreviver da ameaça alienígena. Parece besta né? Só que
é o filme é um verdadeiro banho de sangue. O visual da alienígena mãe com suas
bocarras e dentes pontiagudos, que parecem uma mistura de um pepino do mar com
planta carnívora (ao melhor estilo A Loja dos Horrores), criado por John Dodds, e suas larvinhas que parecem
girinos anabolizados são extremamente toscos, mas daquele jeito que adoramos,
sabe? Só pensar no parco orçamento que já dá para imaginar que não teríamos uma
superprodução. Mas o gore não
deixa nada a desejar. A cena em que o garoto vê a o eletricista e a cabeça de
sua mãe sendo devorados pela criatura interplanetária é sensacionalmente
nojenta e sanguinária. Sem economia. E vale também a passividade com que o
péssimo ator encara tudo aquilo, de forma incólume, ainda mais se tratando da
progenitora sendo estraçalhada. Também fique ligado na hilária cena do almoço
vegetariano quando as velhinhas são atacadas pelos girinos espaciais, logo após
um deles ter caído no processador e servido de aperitivo. Total Peter
Jackson feelings. Outro fato interessantíssimo da produção e aí vai
um
ALERTA
DE SPOILER
é que a personagem de Ellen, pretê de
Peter (Tom DeFranco), o até então mocinho da trama, surpreendentemente morre no
meio da fita, tendo sua cabeça mastigada e seu corpo jogado janela abaixo.
Havia um boato de que a morte foi uma forma de se livrar da personagem, pois a
atriz Jean Tafler havia arrumado outro trabalho, mas McKeown contestou isso,
tendo já decidido previamente o fatídico destino da moça exatamente para fugir
das expectativas convencionais e chocar a audiência (fato que ele realmente
consegue, pois você fica boquiaberto com o acontecido) e explorar o subsequente
colapso de Peter. O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal por muito tempo
ficou no anonimato. Ele quase foi comprado pela Paramount Pictures para ser
lançado no cinema, mas não rolou. A famosa revista de terror Fangoria que fez
uma baita divulgação do filme mais tarde, ajudou a popularizá-lo e o tornou um
daqueles cults das produções B. Uma curiosidade é que Tim Sullivan
trabalhou como assistente de produção (e escreveu os diálogos adicionais) e ao
entrevistar Gene Simmons para a mesma Fangoria deu de presente para o roqueiro
a tal cabeça decepada da mãe do garoto. Depois ele produziu Detroit – A
Cidade do Rock e dirigiu 2001 Maníacos e Driftwood – O
Reformatório. Vale muitíssimo a pena assistir O Retorno dos Aliens – A
Geração Mortal. Claro, se você esperar um espetáculo de roteiro, atuações
oscarizadas e os alienígenas mortais verossímeis, passe longe, pois é tudo
exatamente ao contrário. Mas se você é fã da podreira, do trash e do gore, aposto um picolé de limão que você
irá adorar.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/12/476-o-retorno-dos-aliens-a-geracao-mortal-1983/
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