segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

DEADPOOL (EUA, 2016)


LAKE EERIE (2016)


ARQUIVO X 10ª TEMPORADA (THE X FILES, EUA, 2016)


#492 1985 DEMONS FILHOS DAS TREVAS (Dèmoni / Demons, Itália)


Direção: Lamberto Bava
Roteiro: Dario Argento, Lamberto Bava, Dardano Sacchetti e Franco Ferrini
Produção: Dario Argento
Elenco: Urbano Barberini, Natasha Hovey, Karl Zinny, Fiore Argento, Paola Cozzo, Fabiola Toledo

Lamberto Bava é filho do maestro do macabro Mario Bava, na minha humilde opinião, o melhor cineasta de terror de todos os tempos. Quem acompanha meus posts aqui no blog sabe meu apreço pela filmografia de Bava e todo seu esmero com fotografia, jogo de luz e sombra, domínio impressionante do uso das cores e uma técnica de filmagem ímpar. Além disso, ser filho de Mario Bava o torna neto de Eugenio Bava, cinegrafista e artista de efeitos óticos durante o período mudo do cinema italiano. Espera-se então que Lamberto tenha todas essas qualidade em seu DNA e seja um novo gênio do cinema. Só que não. Demons – Filhos das Trevas, que viria a ser seu mais popular filme, é um bomba trash sem tamanho. É um filme extremamente ruim de doer. Opa calma, lá. Antes de você, ó nobre leitor, vir me atirar pedras, também concordo que Demons é um clássico da bagaceira splatter italiana e delicioso de ser visto. Além disso era um filme que eu tinha um medo da porra quando criança nos anos 80. E quem hoje já passou dos trinta como eu, ficava realmente impressionado com aquela capa do VHS que descansava ali de forma aterrorizante na prateleira da locadora. Mas cá entre nós, você já assistiu Demons depois de velho, ou tem só a lembrança saudosista da infância? Aí é que está o cerne da questão. O filme é muito mal dirigido, algumas cenas, ângulos e cortes são toscos, a ideia do uso da metalinguagem do filme dentro do filme é pífia, as atuações são as mais bisonhas possíveis, assim como seus personagens (com suas vozes pateticamente dubladas em inglês), clichês oitentistas a rodo, trilha sonora esquizofrênica (que vai de Heavy Metal até Billy Idol) e ainda me cai um helicóptero do NADA dentro do cinema em seu ápice!!!! Tipo, o que vale mesmo é obviamente a sangreira e a selvageria desmedida, os efeitos especiais nojentos e as pessoas transformadas em grotescos demônios, que por sinal foram nitidamente copiadas de A Morte do Demônio de Sam Raimi. O fiapo de história é que um novo cinema está sendo inaugurado no centro da cidade, e um promoter, vestido com uma enorme túnica preta e uma máscara que se parece a mistura do Fantasma da Ópera com o Kano do Mortal Kombat, está distribuindo ingressos no metrô para uma sessão inaugural às dez da noite daquele mesmo dia. Duas amigas e mais um grupo completamente díspar de pessoas, comparecem à première na mesma noite, entre eles: um bando de adolescentes; um cafetão estereótipo dos negões dos filmes blaxploitation com suas duas funcionárias; um cego e sua namorada/ esposa vagabunda que fica se pegando com um tiozão careca enquanto o pobre não consegue ver nada; uma hostess/ lanterninha que parece saber de algo suspeito no começo do filme mas depois torna-se vítima como todos os outros; e um casal onde o velho é um rabugento e só fica dando esporro na esposa medrosa. No filme dentro do filme que é exibido no cinema, um grupo de jovens de moto descobrem uma catacumba e nela o túmulo de Nostradamus (!!!???) e neste túmulo, além de conter uma profecia maldita, há uma máscara de demônio que se usada por um ser humano, o mesmo se transformaria em uma criatura das trevas. E não é que neste mesmo cinema, no saguão de entrada está a exata máscara, além das motos e de uma estátua de samurai com uma espada (???!!!!). Uma das raparigas do cafetão (que poderia muito bem ser interpretado por Samuel L. Jackson em uma refilmagem) coloca-a sobre o rosto, causando um arranhão em sua bochecha, que logo menos irá infeccionar, estourar uma nojentíssima bolha de pus e transformá-la em uma serva do coisa ruim, deixando-a deformada e sedenta por sangue. Tal qual A Morte do Demônio ou os filmes de zumbi, todas as vítimas atacadas pelos possuídos também são transformados em demônios, e não demora muito para uma horda de filhos das trevas (assim como enfatiza o subtítulo que o filme ganhou aqui no Brasil) prender os poucos sobreviventes no gigantesco cinema multiplex, que lutarão por suas vidas. E mais, além de todos estes excelentes personagens (sarcasmo), mais um bando de punks fora da lei, que ficam rodando a cidade cheirando cocaína dentro de uma latinha de Coca-Cola também entram no cinema, só para aumentar a contagem de cadáveres. Há três momentos ápices do filme que preciso compartilhar aqui com vocês: o primeiro é quando a amiga da mocinha que ganhou o ingresso lá no começo do filme é infectada e ela ao invés de apenas se transformar em um demônio, literalmente um diabinho, com direito a chifre e tudo, sai de dentro de seu corpo e sai correndo serelepe para fazer novas vítimas; o segundo é quando o mocinho da história dá uma de Ash e pega a moto estacionada no saguão e a espada de samurai (ambos prontamente colocadas ali pela cenografia), e ao som de metal, sai acelerando pelo cinema decapitando, desmembrando e decepando todos os possuídos por ali; e por fim, a tal cena quando do nada, um helicóptero, sim, um helicóptero, cai PERFEITAMENTE no meio da sala de cinema, dando ao casal de heróis uma oportunidade de escapar pelo buraco que abriu no teto (não dentro do helicóptero, obviamente). E como se não bastasse, lembra o grupo de foras da lei que conseguiram entrar no cinema? Quem disse que eles não tinham utilidade nenhuma na trama? Ao entrarem, eles deixam um dos possuídos, mais precisamente o cego, sair na rua, que logo ataca dois policiais que estavam atrás dos marginais, e uma infestação generalizada de demônios começa a dominar o mundo, trazendo caos, incêndios, saques, pilhagens e centenas de mortes, condenado o mundo ao juízo final, como nossos heróis descobrem ao conseguir escapar do cinema e serem resgatados por uma família em um jipe, armados até os dentes, prontos para oferecer a resistência e tentar varrer aquela imundice infernal da Terra. É mole? Agora sabe o que é o mais chocante em Demons – Filhos das Trevas? É o tanto de gente boa envolvida nesta desgraça. Primeiro que o filme é produzido por ninguém menos que Dario Argento. Isso por si só já deveria ser o suficiente para um filme pouco mais classudo, sem contar o sobrenome da família Bava em jogo. Tanto que o nome do produtor aparece primeiro que o diretor na hora dos créditos iniciais. E como se não bastasse Argento produzi-lo, ele ainda assina o roteiro ao lado de Dardano Sacchetti, que tem em seu currículo nada menos que O Gato de Nove Caudas do próprio Argento, o excelente A Mansão da Morte do Bava pai, Zumbi 2 – A Volta dos Mortos e tantos outros de Lucio Fulci. E para completar, a trilha sonora é composta pelo brasileiro Claudio Simonetti, habitual parceiro de Argento e o diretor assistente ainda foi Michele Soavi em começo de carreira, que mais tarde dirigiria A Catedrale o clássico Pelo Amor e Pela Morte. Enfim, é muita gente boa junta para fazer um filme tão ruim! Mas OK, Demos – Filhos das Trevas é diversão pura, isso é inegável. É mais um daqueles filmes saudosistas, que não pode se dar como sério e a melhor coisa a se fazer é deixar se levar pela podreira e pelo jorro de sangue ininterrupto que transborda para fora da sua tela de televisão. Por mais que tecnicamente seja uma bagaceira em todos os sentidos, qualquer fã de filme de terror precisa assisti-lo pelo menos uma vez na vida. O pior de tudo é que o filme fez tanto sucesso que ainda ganhou mais uma sequência: Demons 2 – Eles Voltaram, também dirigida por Lamberto e ainda uma outra “continuação não-oficial”, chamada de Demons 3 – O Ogro, que ganhou esse título apenas para pegar carona no sucesso dos dois filmes anteriores, e não tem absolutamente nada a ver com eles. Detalhe pessoal curioso: eu ganhei certo Natal o box em DVD com os três Demons de uma ex-sogra minha. Que tipo de sogra dá um box em DVD da trilogia Demons em pleno Natal, a festa cristã???? Só se for para seu genro preferido!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/05/492-demons-filhos-das-trevas-1985/

#490 1984 O VINGADOR TÓXICO (The Toxic Avenger, EUA)


Direção: Michael Herz, Lloyd Kaufman
Roteiro: Joe Ritter, Lloyd Kaufman (história)
Produção: Michael Herz e Lloyd Kaufman, Stuart Strutin (Produtor Associado)
Elenco: Andree Maranda, Mitch Cohen, Jennifer Babtist, Cindy Manion, Robert Prichard, Gary Schneider, Mark Torgl

Não há adjetivos suficientes na língua portuguesa que descrevam O Vingador Tóxico. Esse clássico absolutíssimo da Troma de Michael Herz e Lloyd Kaufman é simplesmente o deus do olimpo do cinema trash de escracho. É um lixo sem noção sem precedentes, que prova que até no cinema, a zueira não tem limites. Sério, eu nem sei por onde começar a falar sobre essa pérola, exceto que é um filme que PRECISA ser visto, pelo bem ou pelo mal. É retrato de uma década e mais ainda, um estilo de filme que nunca mais terá espaço em nossa vida cotidiana, ainda mais em um mundo que caminha para se tornar cada vez mais coxa e politicamente correto. E olha que O Vingador Tóxico foi lançado em meio ao conservadorismo da Era Reagan. Mas pelos retardados da Troma que estavam pouco se lixando e só queriam causar. Fato que O Vingador Tóxico é uma cartilha do cinema trash, do cinemacamp despretensioso, lotado de humor negro, de situações clichês absurdas, que servem de paródia para si mesmo e para diversos gêneros e aspectos culturais (desde o culto ao corpo oitentista, prática ostensiva de bullying, a corrupção política e policial, até o descarte de lixo tóxico e a sustentabilidade – palavra que sequer existia naquela época). Há certo limiar invisível entre o escracho total e seriedade pretensiosa (travestida na crítica à sociedade de aparências que vivemos, muito bem delimitadas em cada um dos personagens) que não sente vergonha nenhuma em sacanear um sujeito perdedor ao extremo, uma garota cega, deficientes, gays, mostrar criancinhas sendo atropeladas por carros em alta velocidade, e claro, nudez, em prol do besteirol. É para recalcado de plantão ficar boquiaberto. A trama é das mais idiotas, escrita por Joe Ritter em cima da história do próprio Kaufman: Na corrupta cidade de Tromavile, a Capital Mundial do Lixo Tóxico, o nerd babaca Melvin (Mark Torgl) é faxineiro da academia de ginástica “Tromavile Health Club” e é constantemente zuado por Bozo (Gary Schneider), sua namorada loira tingida Julie (Cindy Manion), o clone do Ashton Kutcher Slug (Robert Prichard) e Wanda (Jennifer Baptist). O grupinho de malfeitores tem como fetiche sair por ai de carro e atropelar crianças e velhinhos, tirando foto dos mesmos após ter virado pizza de asfalto, sendo que criaram um ranking de pontuação pelas mortes. Certo dia eles resolvem aloprar Melvin e pregam uma peça que envolve um collant rosa e uma ovelha, que terá um resultado trágico: o garoto do esfregão humilhado se joga da janela em meio aos risos de escárnio e cai dentro de um tambor cheio de lixo tóxico na caçamba de um caminhão deixado estrategicamente ali enquanto os dois motoristas estão cheirando mais cocaína. O resultado do acidente é que Melvin acaba ficando terrivelmente deformado, porém ganha superforça e torna-se o Vingador Tóxico (interpretado agora por Mitch Cohen), protegendo os inocentes e perseguindo todos os bandidos e corruptos da cidade. Daí para frente é uma sessão de absurdos com violência estilizada, com direito a muito gore para levar os fãs à loucura definitiva, como se todo o humor pastelão, exagero e os personagens caricatos não fossem o suficiente. Uma das minhas passagens preferidas é quando Toxie (como é carinhosamente chamado) intercepta o assalto/sequestro de alguns meliantes em uma lanchonete e o destino que cada um dos malfeitores leva após tentar estuprar a garota cega Sara (Andree Maranda) e balear seu cão-guia (politicamente incorreto o suficiente para você ou não?). Um deles tem as mãos fritas em óleo quente, outro tem o braço arrancado e é nocauteado pelo próprio membro e outro sujeito tem o rosto feito de milk-shake. O saldo desse ato heroico é Melvin finalmente encontrar seu amor, e nada melhor do que uma garota cega que não verá sua feiúra e apenas a beleza de seu coração. Não vou nem comentar a cena em que ela que saber se está bonita para seu herói e usa um ESPELHO EM BRAILE! A Troma sempre foi conhecida por seus absurdos, mas O Vingador Tóxico é o hors concours e é o cult definitivo da insana produtora de filmes trash. O longa ainda ganhou outras três continuações. Rola até uma história, que foi publicada pela Variety, de que Arnold Schawrzenegger estará na refilmagem e que será uma porcaria PG-13, com uma aventura de ação com conscientização ambiental (!!!???) Espero que pelos deuses da bagaceira esse projeto nunca vá para frente e não saia do papel ou que se sair um dia, Toxie vá até os responsáveis e enfie seu esfregão da justiça você sabem muito bem aonde.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/01/490-o-vingador-toxico-1984/

sábado, 27 de fevereiro de 2016

#488 1984 RAZORBACK AS GARRAS DO TERROR (Razorback, Austrália)


Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Everett De Roche (baseado no livro de Peter Brennan)
Produção: Hal McElroy, Tim Sanders (Produtor Executivo)
Elenco: Gregory Harrison, Arkie Whiteley, Bill Kerr, Chris Haywood, David Argue, Judy Morris

Razorback – As Garras do Terror (que quando lançado em VHS pela VTI no Brasil ganhou o infame nome de O Corte da Navalha) é um clássico incomparável do Ozploitation. Para quem não sabe, Ozploitation é o termo designado para os filmes trash vindo da Austrália (que possui uma filmografia bem prolífica do gênero e se você não conhece até indico o documentário Além de Hollywood: O Melhor do Cinema Australiano). E Razorback cumpre seus requisitos nesta categoria com louvor. Razorback é a palavra inglês para porco-selvagem ou javali, e é exatamente essa criatura que é a antagonista neste eco-horror dirigido por Russel Mulcahy, baseado no livro de Peter Brennan, contratado pelos produtores após dirigir o videoclipe de “Hungry Like The Wolf” do Duran Duran e que lhe gabaritou para dirigir futuramente o sensacional Highlander – O Guerreiro Imortal e a sua segunda parte. Ambientado no inóspito outback australiano, um terrível javali gigante assassino é responsável pela morte do neto de Jake Cullen (Bill Kerr) após um ataque feroz. Acusado pelo crime, isso levou o velho à ruína, mesmo sendo inocentado por falta de provas no tribunal. A partir daí ele ficou obstinado em caçar e destruir o maldito javali, primeiro por vingança, depois para provar de vez a participação do animal no trágico acontecido e deixar de viver sob suspeita. Uma jornalista americana ativista dos direitos animais chamada Beth Winters (Judy Morris) viaja até a cidadezinha interiorana australiana para filmar a caçada predatória de cangurus. Obviamente lá ela não se torna muito popular e começa a ser hostilizada pela população local, incluindo aí dois sádicos irmãos caçadores, Benny e Dicko Baker (Chris Haywood e David Argue respectivamente). Então de repente em um toque à lá Hitchcock, quando você pensa que a jornalista é a mocinha do filme, eis que ela é brutalmente assassinada pelo mesmo javali antes da metade da fita. A partir daí, seu marido, Carl Winters (Gregory Harrison) viaja para a Austrália em busca de informações sobre o assassinato da esposa (foi-se dito que ela havia caído de um barranco) quando tem um encontro quase mortal com a fera. Vagando pela estepe desértica quase à beira da morte, encontra a loira gracinha Sarah (Arkie Whiteley), bióloga que estuda o comportamento errático dos porcos selvagens e é próxima de Jake Cullen, que finalmente depois de dois anos descobre por meio do forasteiro, o local onde o javali gigante está escondido, e parte para a vingança. Fato é que Razorback é recheado de situações absurdas e descabidas, mas que obviamente é o que dá bastante charme ao filme. Tudo parece um grande ensaio estético de Mulcahy para meter ângulos inusitados, filtros e diversos recursos visuais na construção de seu longa, explorando a desoladora paisagem do outback, personagens desequilibrados e caricatos e muita inverossimilhança. Claro que o ator principal é o javali com seus ataques violentos e sua velocidade até propulsora às vezes. Ou não. Parece que a lição importantíssima dada por Steven Spielberg em seu Tubarão que quanto menos mostrar o animal e preservar o suspense melhor, principalmente devido a problemas técnicos e orçamentários, foi seguida a risca por Mulcahy. Vemos sempre o bicho de relance em ângulos inventivos até demais (que até geram uma penca de erros de continuidade) com muitos cortes rápidos (até pela sua experiência no mercado de videoclipe) e só teremos um vislumbre do animatrônico  de tamanho natural (que custou 250 mil dólares) durante um mísero segundo na sequência final. Mas para quem curte o gore, crueldade e filmes dessa temática “animais assassinos”, e até uma boa dose de humor negro e caricato, Razorback – As Garras do Terror é uma boa pedida e recomendadíssimo, até para se saber que até nos mais inóspitos rincões do planeta Terra, uma ameaça sinistra pode tomar forma e virar uma boa história e um bom filme de terror, e que na Austrália há bons exemplares do gênero.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/30/488-razorback-as-garras-do-terror-1984/

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

#486 1984 A NOITE DO COMETA (Night of the Comet, EUA)


Direção: Thom Eberhardt
Roteiro: Tom Eberhardt
Produção: Wayne Crawford e Andrew Lane, Nancy Israel e Sandra Scheik (Produtores Associados), Thomas Coleman e Michael Rosenblatt (Produtores Executivos)
Elenco: Robert Beltran, Catherine Mary Stewart, Kelli Maroney, Sharon Farrell, Mary Woronov

Amigos e amigas, que filmeco chato! Eu nem sei por que eu decidi colocar A Noite do Cometa nesta lista. Na verdade eu sei sim. Só para ter o prazer de achincalhá-lo com gosto. Tá bom que ele tem um valor nostálgico indiscutível já que vomita os anos 80 em cada frame (figurino, cabelos, luzes de neon, músicas pop), mas eu juro que preferia meus 95 minutos de vida de volta. Naqueles idos dos anos 80 havia uma “febre do cometa” rolando. O filme aqui citado é de 1984 e todo munda estava na expectativa da passagem do famoso cometa Halley em 1986, que frustrou uma cambada de gente que saiu na rua para ver o corpo celestial a olho nu e não viu porcaria nenhuma. Claro que isso serviu de pano de fundo para despertar a criatividade de Hollywood e explorar o fato para criar histórias de ficção científica. O diretor e roteirista Thom Eberhardt surfou na cauda do cometa (tá, foi infame) e lançou esse insosso thriller zumbi/ sci-fi/ apocalíptico que tem um potencial maravilhoso, mas que virou um filme burocrático, nada inspirado e símbolo da cafonalha oitentista. Para começo de conversa, não espere um filme zumbi gore ou splatter. Acho que se não me engano, quatro ou cinco zumbis aparecem durante TODO o longa. A pegada aqui é mais uma cópia deslavada de A Última Esperança da Terra (aquele do Charlton Helston baseado no livro famoso Eu Sou a Lenda de Richard Matheson). Um cometa passa pela terra, deixa o céu laranja como em um crepúsculo perpétuo e dizima praticamente toda a população mundial por conta da radiação transformando-os em pó. Claro que alguns resistem e são transformados em zumbis. Assim como duas adolescentes, Regina (Catherine Mary Stewart) e sua irmã mais nova, Samantha (Kelli Maroney) que devem viver naquele mundo deserto em busca de outros sobreviventes. Nesse meio tempo elas encontram Hector (Robert Beltran) que rapidamente se transforma na paixonte de Regina dentro da estação de rádio local. Enquanto ele precisa voltar para San Diego para checar se sua família sobrevivera, as duas moças, ao melhor estilo Despertar dos Mortos, vão para o shopping center deixar transbordar seu espírito consumista e se veem as voltas com um bando de punks que tomaram o local para eles e começam a caçá-las. Nesse ínterim também descobrimos que uma agência governamental de cientistas sobreviveu ao incidente e desesperadamente procuram por uma cura para a infecção radioativa, usando até sobreviventes como cobaias humanas (nisso inclui criancinhas) e extraindo seu sangue para estudos. Você lendo essa resenha deve pensar: Filmaço. Tinha tudo para tal. Mas a direção preguiçosa e o roteiro raso de Eberhardt, que erra tanto na ficção, quanto no uso dos zumbis, quanto na velha mensagem de que “os humanos são o maior perigo”, quanto nos diálogos primários, transforma A Noite do Cometa num marasmo que demorou três dias para terminar de ser visto por mim, dormindo todas as tentativas um um sono dos justos. Fora o quanto é piegas e as soluções da trama são infantilóides, aquele finalzinho coroa tudo de ruim que o filme apresentou. Sou obrigado a cornetar então lá vai o 
ALERTA DE SPOILER (pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco).
Depois de todos os mocinhos se darem bem, cinco zumbis terem aparecido durante todo esse tempo e não representar absolutamente nenhum perigo de verdade e eles terem se safado dos cientistas malvados, eis que Regina, Hector e duas crianças resgatadas começam a viver como uma família com o “peso da humanidade recaindo sobre seus ombros” e Sam está entendiada, sozinha, emburrecida, quando um playboyzinho yuppie também sobrevivente aparece em seu conversível (!!!!) e a chama para dar uma volta. Sobe o crédito com uma música cafona típica daquela década: “Learn to love again” de Chris Farrer. O filme ainda quase foi chamado de Teenage Mutant Horror Comet Zombies. Aí sim seria digno! Que por mais que tenha pitadas de comédia, crítica social, militar e política e algum humor negro, nada disso se sustenta e para mim, ele se leva a sério demais. Sei lá, há quem ache A Noite do Cometa um clássico, subestimado, retrato de uma década e um bom filme. Eu acho um porre. E tenho dito!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/26/486-a-noite-do-cometa-1984/

#485 1984 NATAL SANGRENTO (Silent Night, Deadly Night, EUA)


Direção: Charles E. Sellier Jr.
Roteiro: Michael Hickey, Paul Caimi (história)
Produção: Ira Barmak, Scott Schneid e Dennis Whitehead (Produtores Executivos)
Elenco: Lilyan Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero, Robert Brian Wilson, Britt Leach, Nancy Borgenicht, H.E.D. Redford

Paz na terra aos homens de boa vontade uma ova! Natal Sangrento é o politicamente incorretíssimo slasher oitentista que mete um machado nas mãos de um maluco psicopata vestido de Papai Noel nas proximidades da Noite Feliz, que sofreu todo tipo de abuso físico e psicológico durante a infância e tem seus 15 minutos de parafuso solto maníaco. Fato que os slashers movies aproveitavam qualquer data comemorativa para sair trucidando gente por aí. Era Halloween, sexta-feira 13, dia dos namorados, e por aí vai. Mas aí chegamos ao ponto máximo da subversão, a festa cristã, sendo usada como pano de fundo para o banho de sangue, e olha que nem foi porque o maluco ficou ouvindo muito a enlouquecedora canção “Então é Natal” da Simone que bombardeia nossos tímpanos na ocasião festiva. Mas o principal aspecto de Natal Sangrento foi ele ter se tornado Cult exatamente pela perseguição que ele gerou por chutar o pau da barraca. Imagine o ultraje para os carolas de plantão e os defensores dos bons costumes ao ver o Papai Noel, bom velhinho símbolo máximo da bondade e do altruísmo matando gente com machadada, flechada, empalhamento, estrangulamento, cortando um sujeito com estilete, decapitando esquiadores e por aí vai? Para você ter uma ideia, o filme ficou em cartaz apenas duas semanas. Pais conservadores fizeram um piquete contra a distribuidora, Tristar Pictures, coletando um abaixo assinado, tiveram apoio de importantes críticos cinematográficos como Roger Ebert e Gene Siskel, e Natal Sangrento foi retirado de cartaz depois de seis dias, proibido na Inglaterra onde nem chegou a estrear (claro que por conta do BBFC) e só viu a luz da vida novamente quando lançado em VHS em sua versão sem cortes. E um detalhe curiosíssimo é que ele entrou em cartaz no mesmo dia de A Hora do Pesadelo, e mesmo com um lançamento limitado, chegou a faturar meio milhão a mais que o filme de Freddy Krueger, que depois se transformaria no ícone que todos conhecemos (que acabou faturando mais no final das contas por ter mais tempo de exibição). Isso só serviu para tornar Natal Sangrento icônico, cultuado e um bastião vivo anti-coxice. Mas cá entre nós, a trama é bem sórdida. O pobre garoto Billy Chapman (aos oito anos interpretado por Danny Wagner) está excitadíssimo com o Natal até seu avô maluco que vive no asilo sair da catatonia apenas para assustá-lo com uma história macabra sobre o Papai Noel. Na mesma noite ele é testemunha ocular do assassinato de seus pais (e estupro de sua mãe, diga-se de passagem) por um meliante vestido da personificação de São Nicolau. Pronto, já é motivo mais que suficiente para o guri ficar traumatizado pelo resto da vida e odiar o Natal. Passando a infância e a pré-adolescência em um orfanato comandado por freiras, Billy agora com 15 anos (Jonathan Best) comerá o pão que o diabo amassou na mão da intolerante e severa Madre Superiora (Lilyan Chauvin) até o fatídico dia que será flagrado espiando uma freirinha dando para um rapaz e levar uma daquelas surras de cintas dolorosíssimas. A partir daí, sexo e castigo passaram a se misturar e ele incorpora os ensinamentos da Madre Superiora de que pecado merece uma punição severa. Mas aos 18 anos (agora vivido por Robert Brian Wilson), Billy está regenerado. É um bom sujeito, não bebe, é trabalhador e tudo vai mil maravilhas em sua vida e em seu emprego em uma loja de brinquedos, onde tem até uma paquerazinha. Até que chega o fatídico Natal. Os seus chefes o vestem de Papai Noel e então o rapaz chega às raias da loucura quando na festinha da firma vê um dos funcionários tentando estuprar outra funcionária no depósito. Daí meu amigo, Billy se transforma no psicopata vestido de vermelho, preto e branco e sai por aí aplicando suas deturpadas diretrizes de punição. Há diversas cenas emblemáticas durante o impulso assassino do rapaz. Entre elas quando ele ceifa a vida da scream queen Linea Quigley (que ADORA aparecer nua em todos os filmes, como a punk de A Volta dos Mortos-Vivos ou a biscate de A Noite dos Demônios) pregando a moça nos chifres da cabeça de um veado empalhado de troféu, ou o momento terrivelmente delicioso cheio de humor negro quando um policial, na caça do Papai Noel psicopata, descarrega o pente na pessoa errada, o padre do orfanato fantasiado que não parou aos comandos do policial por ser surdo! E ainda meta na conta do politicamente incorreto do longa o desfecho
– ALERTA DE SPOILER –
quando Billy vai ao encontro da Madre Superiora para se vingar e é baleado friamente na frente das criancinhas, provavelmente dando origem a diversos outros “Billies”. Mas daí para achar que o filme influenciaria a molecada e passaria uma imagem perversa do Papai Noel é demais para minha cabeça. Reflexo do conservadorismo pungente da Era Reagan. Natal Sangrento provocou uma perseguição feroz e injusta ao melhor estilo “tochas e forcados” da inquisição e tudo bem que esse anti-marketing até ajudou no sucesso posterior do filme, mas é extremamente maléfico a qualquer sociedade esse tipo de censura. Hoje vimos até Papais Noeis assassinos em séries de TV, como na segunda temporada de American Horror Story. E apesar dos apesares, o maior vilão do filme não é Billy, e sim a Madre Superiora e seus preceitos católicos intolerantes e arcaicos que são usados de forma firme e forte até hoje. Natal Sangrento teve mais quatro continuações e rendeu um Horrorcast natalino. Recomendo assisti-lo logo depois da ceia com a família toda reunida ou então no horário do especial do Roberto Carlos. Esse sim merecia uma punição de Billy com seu machado!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/25/485-natal-sangrento-1984/


#484 1984 A HORA DO PESADELO (A Nightmare on Elm Street, EUA)


Direção: Wes Craven
Roteiro: Wes Craven
Produção: Robert Shaye, Sarah Risher (Co-Produtora), John Burrows (Produtor Associado), Stanely Dudelson e Joseph Wolf (Produtores Executivos)
Elenco: Heather Langenkamp, Robert Englund, John Saxon, Johnny Depp, Ronee Blakely, Amanda Wyss

“Um dois, Freddy vai te pegar”. Quem era pivete e nunca ficou com medo dessa música cantada por aquelas espectrais garotinhas pulando corda? A Hora do Pesadelo é um dos maiores fenômenos pop do gênero graças ao seu vilão icônico, Fred Krueger, com sua luva de navalhas, chapéu de feltro, blusão vermelho e verde e rosto desfigurado. A produção teve vários toques de mestre de Wes Craven que a transformou em um sucesso de crítica e bilheteria, além de colocá-la no panteão como um novo clássico do terror. Entre eles, a originalidade de criar um assassino indestrutível que ataca nos sonhos, utilizando o subterfúgio do medo inconsciente que as pessoas têm de pesadelos. Craven usou esse terreno para poder criar ambientes e situações oníricas, surreais e soturnas. O visual assustador de Freddy com o rosto todo queimado representa a personificação do mal e os efeitos visuais vanguardistas na época ajudaram a espalhar essa sensação de medo primitivo, com mortes extremamente elaboradas e sangrentas. E mais importante que tudo isso, é que A Hora do Pesadelo é infinitamente mais inteligente e adulto, podemos dizer, do que todos os filmes slasher de adolescentes sendo perseguidos por maníacos nos anos 80. Ele bebe na fonte da literatura gótica e apresenta personagens com perfis psicológicos distintos e bem definidos, diferente dos jovens idiotas que só prestavam para serem mortos, como em Sexta-Feira 13, por exemplo. Fred Krueger ataca adolescentes que têm problemas tanto de ordem social quanto psicológica e que na maioria dos casos, são oriundos de famílias disfuncionais. Por exemplo, Tina, a primeira vítima do assassino. Logo na primeira aparição do vilão, ao acordar de um pesadelo, ela é repreendida pela mãe, que logo em seguida é interrompida pelo namorado, brigando para voltarem a cama e continuarem com a trepada que a filha dela interrompeu. Daí já percebemos que Tina é filha de pais divorciados e tem uma mãe piranha, que no dia seguinte vai viajar com o namorado para Las Vegas, deixando a filha em casa sozinha. Já Rod Lane, namorado de Tina, é um daqueles bad boys incorrigíveis. Já teve passagem policial por baderna e tráfico de drogas. Nancy Thompson, a heroína virginal, por sua vez também é filha de pais separados e sua mãe é alcoolatra. E todos estão envolvidos nesse balaio de gato porque Fred era um assassino pedófilo de crianças, que acabou sendo solto devido a uma falha burocrática do sistema. Os pais revoltados querendo proteger seus filhos, resolvem fazer justiça com as próprias mãos e o aprisionam em sua casa, queimando-o vivo. Anos depois, ele volta a atacar os filhos dos responsáveis pela sua morte em seus sonhos, já que ele não pode se materializar na vida real. Craven teve a ideia de escrever o roteiro de A Hora do Pesadelo, quando leu uma série de artigos do L.A. Times sobre o grande número de crianças tailandesas que morriam durante o sono após sofrer de terror noturno e ter inúmeros pesadelos subsequentes. E pegou emprestado o nome de outro vil assassino que já havia idealizado antes, Krug de Aniversário Macabro. Robert Englund encarnaria o titio Freddy para colocá-lo de vez no hall da fama dos filmes de horror. O mais interessante de se assistir A Hora do Pesadelo em detrimento de suas outras sete sequências (sem contar o crossover com Jason e o bom remake de 2010), é que Freddy é realmente um sujeito aterrador em sua primeira aparição. Sua maquiagem de rosto é mais feia, ele é mais cruel e sinistro. Mete um baita medo, enquanto nas sofríveis continuações ele adquire uma nova persona, transformando-se em um falastrão piadista, com sacadinhas jocosas e frases clichês antes ou depois de matar suas vítimas (sendo a mais célebre delas dita em A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos, quando ele enfia a cabeça de uma jovem dentro do tubo da televisão e solta: “Bem-vinda ao horário nobre, cadela”). Três fatos curiosos sobre A Hora do Pesadelo: Seu roteiro foi ignorado por todos os grandes estúdios, exceto pela Disney (?!). A New Line topou fazê-lo, com um orçamento de 1,8 milhão de dólares, faturou mais de 25 milhões de dólares na bilheteria e criou uma das franquias mais lucrativas do estúdio; Johnny Depp faz aqui sua primeira aparição no cinema, com 21 anos de idade; E em determinada noite, Nancy está assistindo televisão e o filme que está sendo exibido é A Morte do Demônio, que foi a retribuição de uma homenagem a Sam Raimi, que em seu filme havia colocado o pôster de Quadrilha de Sádicos, de Craven, no porão da cabana na floresta.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/24/484-a-hora-do-pesadelo-1984/

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

#482 1983 DUBLÊ DE CORPO (Body Double, EUA)


Direção: Brian De Palma
Roteiro: Robert J. Avrech e Brian De Palma
Produção: Brian De Palma, Howard Gottfried (Produção Executiva)
Elenco: Craig Wasson, Melanie Griffith, Gregg Henry, Deborah Shelton, Guy Boyd, Dennis Franz

Não adianta, Brian De Palma é um sujeito capaz de criar sentimentos dúbios nos fãs de cinema. Você pode acha-lo um gênio ou um charlatão que apenas recicla obras de outros cineastas e também de seus próprios filmes, numa espécie de loop fazendo repeteco de elementos comuns, principalmente tratando-se de seu começo de carreira. Isso para dizer que EU acho Dublê de Corpo genial. Não se deve cair na armadilha de colocar Dublê de Corpo (e muito da obra de De Palma) como uma cópia de Hitchcock. Obviamente é uma homenagem rasgada ao Mestre do Suspense, como já havia feito anteriormente em Irmãs Diabólicas ou Vestida Para Matar (que considero sua obra-prima até então). Você respira tanto Janela Indiscreta quanto (e principalmente) Um Corpo que Cai em muitos dos frames. Mas tendo em vista que De Palma foi o sujeito que realmente pegou o bastão do cinema hitchcockiano, acredito que ele o tenha feito com louvor e esta fita é a prova definitiva disso. E muito mais que recauchutar elementos até mesmo já usados por ele, aqui De Palma manda tudo às favas e faz uma crítica elemental a Hollywood, ao sistema, debocha dos detratores que acusaram Vestida Para Matar de um thriller erótico vulgar e sexista e também manda uma banana para o controle dos estúdios logo depois do árduo processo de filmagem de Scarface e seus quatro cortes para abrandar a censura e garantir uma classificação indicativa menor. Nada melhor que um filme de baixo orçamento que subverta o gênero, do terror B ao pornô hardcore, brincando com produtores, diretores, atores, até roteiristas e seus plot twist e usando e abusando de metalinguagem para tal, como o impagável começo da fita, com seus créditos à lá filmes da Hammer e seu final onde utiliza uma dublê de corpo para remontar a própria cena do chuveiro de Vestida Para Matar com a nudez arrebatadora de Angie Dickinson. A trama de contornos nababescos e labirínticos escrita pelo próprio diretor e por Robert J. Avrech nos apresenta Jake Scully, interpretado por um não muito inspirado Craig Wasson (exceto nas cenas em que ele se passa por ator pornô, mas logo chego lá), ator medíocre que estrela uma produção de baixo orçamento de vampiro que sofre de um surto claustrofóbico (tal qual a acrofobia do personagem de James Stewart em Um Corpo que Cai) enquanto filma uma cena dentro de um caixão. Chutado pelo diretor (papel de Dennis Franz – que se inspirou no próprio De Palma) ao voltar para casa encontra sua esposa transando com outro sujeito e logo sua vida torna-se miserável. Sem trabalho e sem ter onde morar recebe a ajuda de outro ator, Sam Bouchard (Gregg Henry) para passar um tempo em uma esquisita mansão em Hollywood enquanto vai viajar. Como De Palma é ainda mais vouyer que Hitchcock, através de uma lente de aumento colocado na janela da casa, Scully descobre sua fixação pela vizinha de frente que gosta de se exibir e se masturbar na janela, Gloria Revelle (Deborah Shelton) e passa a observá-la (tal qual o também personagem de James Stewart em Janela Indiscreta). Até claro, que sabemos o que vai acontecer (ou pressupomos). Ele descobre que tem um sujeito índio deformado a perseguindo até o clímax do assassinato, atravessada por uma broca, testemunhado por um suspeito e paranoico Scully, que também passa a seguir Gloria tornando-se cada vez mais obcecado, sendo desacreditado pela polícia e visto como um tarado fetichista. A segunda metade do filme é hora do giro de 360º e percebemos que assim como o herói falível, incompetente e decadente, que tanto nos assemelhamos (assim como os heróis de Hitchcock, diga-se de passagem) estamos sendo enganados como patos,
e aí vai aquele famoso ALERTA DE SPOILER, e se você não assistiu ao filme, pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e risco.
 Na real a trama é muito mais complexa e Scully foi usado como testemunha para livrar a cara do marido de Revelle, uma dondoca rica, que está atrás do dinheiro do seguro. Sam Bouchard, que é o marido em questão, arquitetou um plano infalível ao melhor molde do Cebolinha, contratou uma atriz pornô, Holly Body (papel de Melanie Griffith, nova, deliciosa, provocante e desbocada, que é filha de Tippi Hedren de Os Pássaros e Marnie, Confissões de uma Ladra, dirigidos por você sabe quem) para se passar por Gloria (ser seu dublê de corpo), instigar o vouyerismo de Scully e usá-lo como uma peça de tabuleiro. Gênio é pouco. Você é conduzido por maestria por De Palma que joga na sua cara o quanto você foi um babaca, assim como o personagem principal. Sua câmera invasiva, o abuso dos travellings característicos do diretor e a trilha sonora incrível de Pino Donaggio te coloca dentro do filme como um espectador incauto, tão obsessivo em entender o que se passa quanto o próprio Jake Scully. A extensa cena sem diálogo de Scully seguindo Gloria (e, por conseguinte o índio horroroso que a persegue) pelo shopping, pelo condomínio na praia e pelas areias é digna de um dos grandes momentos da carreira do diretor (que coloco no mesmo patamar da cena do museu em Vestida Para Matar, a cena da escada na estação de trem de Os Intocáveis e a cena da escada rolante de O Pagamento Final). Isso sem contar todos os pormenores de escancarar a sórdida relação atores, diretores, cinema tanto do universo convencional quanto da pornografia e obviamente, os limites da paranoia e da obsessão e da dificuldade em acreditar até em si mesmo quando uma coisa extremamente inverossímil parece ter tomado forma, com consequências macabras. Afinal, um pouco (ou muito) de suspensão de descrença é necessário para não se ater em possíveis falhas de roteiro ou no absurdo do desenrolar da trama, assim como seu final aberto onde tudo e nada são respondidos ao mesmo tempo. Dublê de Corpo é cinema puro. É Brian De Palma puro. É o legado de Hitchcock puro. Sórdido, lascivo, brutal, envolvente, acachapante, que faz piada com Hollywood, faz piada com a indústria do cinema e como profissionais e vidas podem ser descartadas em um mundinho de vaidades, taras e obsessões.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/22/482-duble-de-corpo-1984/

A COLHEITA MALDITA 3 A COLHEITA URBANA (Children of the Corn 3, EUA, 1995)



A COLHEITA MALDITA 2 O SACRIFÍCIO FINAL (Children of the Corn 2, EUA, 1993)


#481 1983 A COLHEITA MALDITA (Children of the Corn, EUA)


Direção: Fritz Kiersch
Roteiro: George Goldsmith (baseado no conto de Stephen King)
Produção: Donald P. Borchers e Terrence Kirby, Mark Lipson (Produtor Associado), Earl A. Glick e Charles Weber (Produtores Executivos)
Elenco: Peter Horton, Linda Hamilton, R.G. Armstrong, John Franklin, Courtney Gains

Adaptações da obra do Mestre do Terror Stephen King aconteciam a rodo durante o começo dos anos 80. Ter o nome do escritor nos créditos de uma produção de terror, por mais B que fosse, renderia um caminhão de grana e gente lotando as salas de cinema. Foi assim com Colheita Maldita, um dos clássicos do gênero, baseados no conto “As Crianças do Milharal” de King, produzido com 800 mil dólares pela New World Pictures (fundada por Roger Corman), que faturou só nos EUA mais de 14 milhões de bilheteria. Colheita Maldita é o típico filme que envelheceu mal. Por mais que seja louvável o tratamento da história que George Goldsmith concedeu ao roteiro, transformando um conto de 30 páginas em um longa metragem de uma hora e meia (apesar das gritantes mudanças, as quais voltarei em breve), a fita já não tem o mesmo impacto de seu lançamento e de quando assistíamos nas noites (ou tardes) do SBT anos atrás. Mas isso não desmerece o longa.  Enquanto nos anos 80 e 90 quando vi na infância havia todo o sentimento macabro de medo daquelas criancinhas sinistras com suas foices, vendo novamente depois de tantos e tantos anos, claramente é o discurso religioso fundamentalista que salta aos olhos. Tal qual a cegueira religiosa de crianças seguindo um falso profeta em nome de uma entidade obscura, o famoso “Aquele que caminha entre as fileiras”, é nitidamente claro o paralelo com o fervor religioso de doutrinas seguindo piamente o que um charlatão diz em um culto ou programa de televisão da madrugada, que levam pessoas a seguirem cegamente princípios distorcidos de poder e persuasão que o guiam à intolerância, racismo, homofobia, misoginia, violência e porque não, até morte. Essas crianças são guiadas pelo líder religioso mirim Isaac (papel icônico de John Franklin) e seu braço direito, o temível ruivo Malachai (Courtney Gains, também excelente), nomes que ficaram eternamente guardados nas mentes dos fãs de terror, que foram criados somente para o filme, pois no conto chamam-se William Renfrew e Craig Boardman, respectivamente, mas convenhamos que os nomes utilizados no longa são bem mais bacanas. Moradores da pequena cidade de Gaitilin, em Nebraska, cuja subsistência está na extensa plantação de milho que rodeia o município, os garotinhos, liderados por Isaac, que por sua vez é um receptáculo da mensagem d’Aquele que caminha entre as fileiras, assassinaram brutalmente todos os adultos e vivem naquela comunidade excêntrica apenas de crianças, enquanto todos aqueles que completam 19 anos são sacrificados para a entidade maligna. O casal Burt (Peter Horton) e Vicky (Linda “Sarah Connor” Hamilton) estão na estrada e acabam sendo obrigados a parar em Gaitlin quando acidentalmente atropelam um garoto que aparece do nada em sua frente. Na verdade o menino havia tido sua jugular cortada por Malachai ao tentar fugir da cidade em busca de ajuda. Após encontrar um daqueles sinistros donos de posto de gasolina que os alertam para ficar longe do local, Diehl (R.G. Armstrong – personagem também ausente no conto), que vai ser morto pelos capetinhas, mesmo sendo de grande valia fornecendo óleo e gasolina para as crianças, os forasteiros conhecem os irmãos Job (Robby Kiger) e Sarah (Anne Marie McEvoy), que são uma espécie de “resistência” a Isaac e sua turma, que aboliu música e brincadeira da vida dos pequenos, sendo que Sarah possui um dom premonitório e pode desenhar o futuro. Vicky é sequestrada e amarrada em uma cruz no milharal, junto com o “Homem de Azul”, que na verdade era o delegado que foi até Gaitlin investigar as mortes, e cabe a Burt tentar resgatá-la, enquanto, quando surto de pequeno poder pouco é bobagem, Malachai se revolta contra Isaac e resolve oferece-lo para Aquele que caminha entre as fileiras. A sequência final é espalhafatosa e com efeitos especiais toscos, novamente inerente à época e ao baixo orçamento. Mas o clima sinistro construído durante todo o filme, abusando de crianças terríveis, aquele aspecto de cidade abandonada, fanatismo religioso e uma música tema que mistura coro de criancinhas com um quê do “Ave Santanis” de A Profecia de Jerry Goldsmith, é muito bem executado. Como estamos falando de um filme de Hollywood, mudanças drásticas foram feitas com relação ao original,
então lá vai um parágrafo com ALERTA DE SPOILERS, e pule para o próximo caso ainda não tenha visto Colheita Maldita.
Enquanto o casal Burt e Vicky estão numa boa, no livro os dois estão passando por um grave problema conjugal e vivem se atacando. Na cena onde eles dirigem pela estrada (que tem uma cópia de “Sombras da Noite” no painel do carro, antologia de contos de King onde foi publicado “As Crianças do Milharal”) originalmente eles estão discutindo fervorosamente e Burt precisa se segurar para não agredi-la física e verbalmente. O final feliz do longa também simplesmente não existe no texto. Enquanto aqui os mocinhos sobrevivem, no conto Vicky é crucificada no milharal e tem seus olhos arrancados, enquanto Burt é assassinado pela deidade sobrenatural logo após encontrar o corpo da esposa. BEEEEEEEM mais legal! Bom, como já disse, Colheita Maldita perdeu muito de seu charme de época. É um filme correto e econômico, que entrega aquilo que promete, tem lá seus momentos de inspiração apesar da conclusão errônea e sem dúvida nenhuma marcou toda uma geração e desperta aquela sensação de saudosismo, mas que se analisado friamente fica aquém de outras adaptações para as telonas das obras de Stephen King, até da mesma época. Colheita Maldita depois ganhou um infindável número de sequências, prequelas, refilmagens, telefilmes e por aí vai. São impressionantes NOVE filmes, todos, sem exceção, de gosto duvidoso e inferiores ao original que começou com tudo, como alardeia a tagline do seu DVD de vigésimo aniversário, que tenho certeza que não agradariam em nada Aquele que caminha entre as fileiras.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/19/481-colheita-maldita-1984/

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

WINTER ON FIRE UKRAINE’S FIGHT FOR FREEDOM (UCRÂNIA, 2015)


VESTÍGIOS DE UM CRIME (SOLACE, EUA, 2015)


MAR NEGRO (BRASIL, 2013)


#476 1983 O RETORNO DOS ALIENS GERAÇÃO MORTAL (The Deadly Spawn, EUA)


Direção: Douglas McKeown
Roteiro: Ted A. Bohus, John Dods, Douglas McKewon
Produção: Ted A. Bohus, John Dods (Produtor Associado), Ron Giannotto, Jonathan Neil Harris, Susan Harris, Rita Hildebrandt, Tim Hildebrandt e Jeff Kimelman (Produtores Executivos)
Elenco: Charles George Hildebrandt, Tom DeFranco, Richard Lee Porter, Jean Tafler, Karen Tighe, James L. Brewster

Trasheira até a medula extraterrestre! Isso é O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal, um dos títulos mais WTF que o mercado brasileiro de home vídeo já pode conceber. Claro que a ideia era pegar uma picareta carona em Alien – O Oitavo Passageiro. Mas até aí, é demais. Fato é que o longa do bravo diretor Douglas McKeown é uma daquelas gemas obscuras do cinema sci-fi camp, desconhecido até de muitos fãs do horror. Feito com um parco orçamento de apenas 20 mil dólares (o filme tem UMA única locação em seus quase 81 minutos), O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal é feito claramente por um apaixonado. Entusiasta do cinema de terror, entuba diversas referências ao gênero, desde sua concepção e inspirações, e principalmente por conta do personagem Charles, papel de Charles George Hildebrandt, diga-se de passagem, um dos piores atores mirins da história. O moleque é fanático por filmes clássicos de terror e ficção científica, obcecado por monstros, máscaras, maquiagens e efeitos especiais (percebe-se uma idolatria por Ray Harryhausen), possui pôsteres no seu quarto de filmes como A Maldição da Aranha e O Monstro do Mar e lista entre seus preferidos FrankensteinO Templo do PavorO Monstro do Ártico e O Terror que Vem do Espaço. Isso é bastante legal! O roteiro é o mais manjado e clichê possível. Um meteoro cai na terra com sedentos vermes alienígenas que se guiam por meio do som e se instalam no porão da casa de uma família tipicamente suburbana de uma cidadezinha americana. Quatro jovens e o moleque têm de tentar sobreviver da ameaça alienígena. Parece besta né? Só que é o filme é um verdadeiro banho de sangue. O visual da alienígena mãe com suas bocarras e dentes pontiagudos, que parecem uma mistura de um pepino do mar com planta carnívora (ao melhor estilo A Loja dos Horrores), criado por John Dodds, e suas larvinhas que parecem girinos anabolizados são extremamente toscos, mas daquele jeito que adoramos, sabe? Só pensar no parco orçamento que já dá para imaginar que não teríamos uma superprodução. Mas o gore não deixa nada a desejar. A cena em que o garoto vê a o eletricista e a cabeça de sua mãe sendo devorados pela criatura interplanetária é sensacionalmente nojenta e sanguinária. Sem economia. E vale também a passividade com que o péssimo ator encara tudo aquilo, de forma incólume, ainda mais se tratando da progenitora sendo estraçalhada. Também fique ligado na hilária cena do almoço vegetariano quando as velhinhas são atacadas pelos girinos espaciais, logo após um deles ter caído no processador e servido de aperitivo. Total Peter Jackson feelings. Outro fato interessantíssimo da produção e aí vai um 
ALERTA DE SPOILER 
é que a personagem de Ellen, pretê de Peter (Tom DeFranco), o até então mocinho da trama, surpreendentemente morre no meio da fita, tendo sua cabeça mastigada e seu corpo jogado janela abaixo. Havia um boato de que a morte foi uma forma de se livrar da personagem, pois a atriz Jean Tafler havia arrumado outro trabalho, mas McKeown contestou isso, tendo já decidido previamente o fatídico destino da moça exatamente para fugir das expectativas convencionais e chocar a audiência (fato que ele realmente consegue, pois você fica boquiaberto com o acontecido) e explorar o subsequente colapso de Peter. O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal por muito tempo ficou no anonimato. Ele quase foi comprado pela Paramount Pictures para ser lançado no cinema, mas não rolou. A famosa revista de terror Fangoria que fez uma baita divulgação do filme mais tarde, ajudou a popularizá-lo e o tornou um daqueles cults das produções B. Uma curiosidade é que Tim Sullivan trabalhou como assistente de produção (e escreveu os diálogos adicionais) e ao entrevistar Gene Simmons para a mesma Fangoria deu de presente para o roqueiro a tal cabeça decepada da mãe do garoto. Depois ele produziu Detroit – A Cidade do Rock e dirigiu 2001 Maníacos e Driftwood – O Reformatório. Vale muitíssimo a pena assistir O Retorno dos Aliens – A Geração Mortal. Claro, se você esperar um espetáculo de roteiro, atuações oscarizadas e os alienígenas mortais verossímeis, passe longe, pois é tudo exatamente ao contrário. Mas se você é fã da podreira, do trash e do gore, aposto um picolé de limão que você irá adorar.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/12/476-o-retorno-dos-aliens-a-geracao-mortal-1983/