domingo, 7 de fevereiro de 2016

#409 1980 O ILUMINADO (The Shining, EUA, Reino Unido)


Direção: Stanley Kubrick
Roteiro:Stanley Kubrick, Diane Johnson (baseado na obra de Stephen King)
Produção: Stanely Kubrick, Robert Fryer, Mary Lea Johnson e Martin Richards (Produtores Associados), Jan Harlan (Produtor Executivo)
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers

Talvez O Iluminado seja, até hoje, a mais assustadora e impactante obra prima do cinema de terror. Três forças poderosíssimas convergem nessa produção, sendo destinado a todos eles uma fama inabalável daqui por diante: o diretor Stanley Kubrick, o escritor Stephen King, e o ator Jack Nicholson. Antes de mais nada, O iluminado é um filme de diretor. É um respeito conquistado por uma produção do gênero que nenhuma outra conseguiu, e dificilmente conseguirá. E isso só foi possível graças a técnica de filmagem empregada por Kubrick, que até aqui já nos havia brindado com outros marcos do cinema como 2001, Uma Odisseia no Espaço e Laranja Mecânica. São os planos abertos em corredores labirínticos minuciosamente decorados, em enquadramentos que alternam os personagens totalmente centralizados (o tal do ponto de fuga de Kubrick, presente em grandes partes de seus filmes, como você pode conferir aqui) com planos em close em ambientes fechados e de menor espaço físico, dando ao mesmo tempo o contraste entre a real magnitude do Hotel Overlook e a sensação do aprisionamento claustrofóbico em seu interior. É a direção de arte precisa. É o jogo de cores berrantes. A fotografia impecável. A trilha sonora assustadora e paranoica. É o ritmo que por vezes é arrastado e por vezes é alucinante. Tudo isso faz de O Iluminado o clássico que ele é hoje. Jack Nicholson provavelmente tem o papel mais marcante de sua carreira como Jack Torrance, ex-alcoólatra que aceita o emprego de zelador do hotel de veraneio Overlook, localizado nas montanhas do Colorado, durante o inverno. Ele acredita que lá terá cinco meses de paz para poder terminar de escrever o seu livro. Logo na sequência de abertura do filme, um pequeno Fusca está em uma estrada subindo até as montanhas, com uma exuberante e imensa paisagem a sua volta, acompanhado de uma trilha sonora fúnebre tocada em órgão, a Dies Irae, tudo para mostrar o quão isolado esse homem estará durante todo um rigoroso inverno Jack muda-se para o Overlook com sua esposa Wendy (Shelley Duvall) e seu filho Danny (Danny Lloyd), dotado de poderes psíquicos que o cozinheiro do hotel, Dick Halloran (Scatman Crothers), chama de ser “iluminado”. Esses poderes fazem com que Danny tenha o dom de prever o futuro, conversar telepaticamente com outros iluminados e também ter capacidades pós-cognitivas de ver fantasmas. E disso o Overlook está cheio. Fantasmas esses, que inclui o zelador anterior, Delbert Grady (Phillip Stone), que se suicidou e esquartejou sua família, que tem como missão póstuma influenciar Jack, que aos poucos vai perdendo sua sanidade, fazendo com que sua loucura gradual o leve a perseguir esposa e filho com um machado pelo interior do hotel. Bom, apesar de ser um filme esteticamente perfeito, com uma direção magnífica e com uma atuação magnânima de Nicholson, para mim o grande pecado de O Iluminado está no roteiro. Pode ser que você até para de ler esse post e nunca mais volte no meu blog depois de ler isso, mas tenho que confessar uma coisa: com relação a história, eu prefiro a minissérie feita para televisão em 1997, dirigida por Mick Garris e com roteiro do próprio King, praticamente ipsis literis do seu livro. Ora, não me joguem pedras. Até o próprio Stephen King DETESTOU o filme de Kubrick, que nem é o meu caso, pelo menos. Mas vamos lá, eu explico: O Iluminado é meu livro preferido do Mestre do Terror. E apesar das quase duas horas de metragem do filme, ele acaba ficando bem raso e todo o potencial explosivo do Overlook é simplesmente deixado de lado, para mostrar o personagem de Nicholson ficando maluco gratuitamente. Parece muito mais que ele está sofrendo de febre da cabana do que realmente influenciado pelas forças sobrenaturais que residem no hotel. E isso só começa a ser explorado, e de forma bem superficial, quando ele encontra pela primeira vez o garçom (ou melhor, o espírito dele) no salão de baile. Kubrick ignora completamente até aí o fato de que Torrance era um alcoólatra inveterado (assim como o próprio Stephen King) e já havia agredido o filho antes, quebrando seu braço. Além disso o álcool destruiu sua vida como professor e escritor, o que o levou ao fundo do poço de ter de buscar um emprego como zelador, seu último recurso. Fora que a família se desestabilizou após essa agressão e sempre há um clima de desconfiança pesando sobre os ombros de Jack, principalmente de Wendy, que não é a songa monga que Shelley Duvall personificou aqui. Outro lance é do Tony, o amigo imaginário com quem Dany conversa e pede auxílio quando está com medo. No livro, Tony é REALMENTE um amigo imaginário, uma projeção espectral, e não o dedo indicador do moleque que fala com ele com uma voz diferente. A história do Overlook também nem dá as caras aqui. Como ele virou um local mal assombrado? Kubrick passa batido sobre todas as mortes trágicas que ocorreram ali. Quando houve um acerto de contas da máfia durante o famoso baile, ou quando, como e por que a madame do quarto 237 (ou 217 no livro) cortou seus pulsos na banheira. Uma pena. Claro que há todo um mérito de liberdade poética e narrativa do diretor. E faça-se justiça: não posso deixar de comentar que essa liberdade rendeu cenas que entraram para os anais da história do cinema de terror, que não estão no livro, que são simplesmente espetaculares. Como Danny andando nos corredores do hotel com seu triciclo, ou a aparição terrivelmente macabra das duas garotinhas mortas chamando o coitadinho para brincar, intercalada com a imagem delas ensanguentadas caídas ao chão. Ou o mar de sangue que sai de dentro do elevador e invade um dos corredores do hotel. E mesmo brilhantemente trocar um taco de críquete usado no livro por um ameaçador machado, com o qual Jack “recepciona” Dick Halloran que saiu das suas férias na ensolarada Flórida para tentar ajudar o menino, e que usa para arrebentar a porta do banheiro ao perseguir uma apavorada Shelley Duvall e dizer a famosa frase que entra para a história da sétima arte: Aqui está Johnny! Quer duas dicas? Assista O Iluminado de Stanely Kubrick. Depois leia o livro de Stephen King. E finalmente assista a minissérie para TV. Nessa ordem! Assim você desfruta de três visões diferentes de uma das histórias de terror mais famosas do século XX. A outra é que se você é fã de teorias da conspiração das mais malucas, não deixe de assistir ao documentário Room 237, que revela algumas das ideias mais chapadas possíveis sobre os diferentes subtextos por trás do filme e da cabeça louca da Kubrick. Entre eles, de que O Iluminado era um filme sobre o genocídio indígena na América, ou de que na verdade é uma alegoria nazista ou que é uma confissão do diretor por ter feito o filme falso do primeiro homem pisando na Lua.
FONTE: http://101horrormovies.com/2014/04/08/409-o-iluminado-1980/

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