Direção: Fritz Kiersch
Roteiro: George Goldsmith (baseado no conto de Stephen
King)
Produção: Donald P. Borchers e Terrence Kirby, Mark
Lipson (Produtor Associado), Earl A. Glick e Charles Weber (Produtores
Executivos)
Elenco: Peter Horton, Linda Hamilton, R.G. Armstrong,
John Franklin, Courtney Gains
Adaptações da obra do Mestre do Terror Stephen King
aconteciam a rodo durante o começo dos anos 80. Ter o nome do escritor nos
créditos de uma produção de terror, por mais B que fosse, renderia um caminhão
de grana e gente lotando as salas de cinema. Foi assim com Colheita Maldita, um dos clássicos do gênero, baseados no conto “As Crianças do
Milharal” de King, produzido com 800 mil dólares pela New World Pictures
(fundada por Roger Corman), que faturou só nos EUA mais de 14 milhões de
bilheteria. Colheita Maldita é
o típico filme que envelheceu mal. Por mais que seja louvável o tratamento da
história que George Goldsmith concedeu ao roteiro, transformando um conto de 30
páginas em um longa metragem de uma hora e meia (apesar das gritantes mudanças,
as quais voltarei em breve), a fita já não tem o mesmo impacto de seu
lançamento e de quando assistíamos nas noites (ou tardes) do SBT anos atrás.
Mas isso não desmerece o longa. Enquanto
nos anos 80 e 90 quando vi na infância havia todo o sentimento macabro de medo
daquelas criancinhas sinistras com suas foices, vendo novamente depois de
tantos e tantos anos, claramente é o discurso religioso fundamentalista que
salta aos olhos. Tal qual a cegueira religiosa de crianças seguindo um falso
profeta em nome de uma entidade obscura, o famoso “Aquele que caminha entre as
fileiras”, é nitidamente claro o paralelo com o fervor religioso de doutrinas
seguindo piamente o que um charlatão diz em um culto ou programa de televisão
da madrugada, que levam pessoas a seguirem cegamente princípios distorcidos de
poder e persuasão que o guiam à intolerância, racismo, homofobia, misoginia, violência
e porque não, até morte. Essas crianças são guiadas pelo líder religioso mirim
Isaac (papel icônico de John Franklin) e seu braço direito, o temível ruivo
Malachai (Courtney Gains, também excelente), nomes que ficaram eternamente
guardados nas mentes dos fãs de terror, que foram criados somente para o filme,
pois no conto chamam-se William Renfrew e Craig Boardman, respectivamente, mas
convenhamos que os nomes utilizados no longa são bem mais bacanas. Moradores da
pequena cidade de Gaitilin, em Nebraska, cuja subsistência está na extensa
plantação de milho que rodeia o município, os garotinhos, liderados por Isaac,
que por sua vez é um receptáculo da mensagem d’Aquele que caminha entre as
fileiras, assassinaram brutalmente todos os adultos e vivem naquela comunidade
excêntrica apenas de crianças, enquanto todos aqueles que completam 19 anos são
sacrificados para a entidade maligna. O casal Burt (Peter Horton) e Vicky
(Linda “Sarah Connor” Hamilton) estão na estrada e acabam sendo obrigados a
parar em Gaitlin quando acidentalmente atropelam um garoto que aparece do nada
em sua frente. Na verdade o menino havia tido sua jugular cortada por Malachai
ao tentar fugir da cidade em busca de ajuda. Após encontrar um daqueles
sinistros donos de posto de gasolina que os alertam para ficar longe do local,
Diehl (R.G. Armstrong – personagem também ausente no conto), que vai ser morto
pelos capetinhas, mesmo sendo de grande valia fornecendo óleo e gasolina para
as crianças, os forasteiros conhecem os irmãos Job (Robby Kiger) e Sarah (Anne
Marie McEvoy), que são uma espécie de “resistência” a Isaac e sua turma, que
aboliu música e brincadeira da vida dos pequenos, sendo que Sarah possui um dom
premonitório e pode desenhar o futuro. Vicky é sequestrada e amarrada em uma
cruz no milharal, junto com o “Homem de Azul”, que na verdade era o delegado
que foi até Gaitlin investigar as mortes, e cabe a Burt tentar resgatá-la,
enquanto, quando surto de pequeno poder pouco é bobagem, Malachai se revolta
contra Isaac e resolve oferece-lo para Aquele que caminha entre as fileiras. A
sequência final é espalhafatosa e com efeitos especiais toscos, novamente
inerente à época e ao baixo orçamento. Mas o clima sinistro construído durante
todo o filme, abusando de crianças terríveis, aquele aspecto de cidade
abandonada, fanatismo religioso e uma música tema que mistura coro de
criancinhas com um quê do “Ave Santanis” de A Profecia de Jerry Goldsmith, é muito
bem executado. Como estamos falando de um filme de Hollywood, mudanças
drásticas foram feitas com relação ao original,
então lá
vai um parágrafo com ALERTA DE SPOILERS,
e pule para o próximo caso ainda não tenha visto Colheita Maldita.
Enquanto o casal Burt e Vicky estão numa boa, no
livro os dois estão passando por um grave problema conjugal e vivem se
atacando. Na cena onde eles dirigem pela estrada (que tem uma cópia de “Sombras
da Noite” no painel do carro, antologia de contos de King onde foi publicado
“As Crianças do Milharal”) originalmente eles estão discutindo fervorosamente e
Burt precisa se segurar para não agredi-la física e verbalmente. O final feliz
do longa também simplesmente não existe no texto. Enquanto aqui os mocinhos
sobrevivem, no conto Vicky é crucificada no milharal e tem seus olhos
arrancados, enquanto Burt é assassinado pela deidade sobrenatural logo após
encontrar o corpo da esposa. BEEEEEEEM mais legal! Bom, como já disse, Colheita Maldita perdeu muito de
seu charme de época. É um filme correto e econômico, que entrega aquilo que
promete, tem lá seus momentos de inspiração apesar da conclusão errônea e sem
dúvida nenhuma marcou toda uma geração e desperta aquela sensação de
saudosismo, mas que se analisado friamente fica aquém de outras adaptações para
as telonas das obras de Stephen King, até da mesma época. Colheita Maldita depois ganhou um
infindável número de sequências, prequelas, refilmagens, telefilmes e por aí
vai. São impressionantes NOVE filmes, todos, sem exceção, de gosto duvidoso e
inferiores ao original que começou com tudo, como alardeia a tagline do
seu DVD de vigésimo aniversário, que tenho certeza que não agradariam em nada
Aquele que caminha entre as fileiras.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/19/481-colheita-maldita-1984/
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