terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

#481 1983 A COLHEITA MALDITA (Children of the Corn, EUA)


Direção: Fritz Kiersch
Roteiro: George Goldsmith (baseado no conto de Stephen King)
Produção: Donald P. Borchers e Terrence Kirby, Mark Lipson (Produtor Associado), Earl A. Glick e Charles Weber (Produtores Executivos)
Elenco: Peter Horton, Linda Hamilton, R.G. Armstrong, John Franklin, Courtney Gains

Adaptações da obra do Mestre do Terror Stephen King aconteciam a rodo durante o começo dos anos 80. Ter o nome do escritor nos créditos de uma produção de terror, por mais B que fosse, renderia um caminhão de grana e gente lotando as salas de cinema. Foi assim com Colheita Maldita, um dos clássicos do gênero, baseados no conto “As Crianças do Milharal” de King, produzido com 800 mil dólares pela New World Pictures (fundada por Roger Corman), que faturou só nos EUA mais de 14 milhões de bilheteria. Colheita Maldita é o típico filme que envelheceu mal. Por mais que seja louvável o tratamento da história que George Goldsmith concedeu ao roteiro, transformando um conto de 30 páginas em um longa metragem de uma hora e meia (apesar das gritantes mudanças, as quais voltarei em breve), a fita já não tem o mesmo impacto de seu lançamento e de quando assistíamos nas noites (ou tardes) do SBT anos atrás. Mas isso não desmerece o longa.  Enquanto nos anos 80 e 90 quando vi na infância havia todo o sentimento macabro de medo daquelas criancinhas sinistras com suas foices, vendo novamente depois de tantos e tantos anos, claramente é o discurso religioso fundamentalista que salta aos olhos. Tal qual a cegueira religiosa de crianças seguindo um falso profeta em nome de uma entidade obscura, o famoso “Aquele que caminha entre as fileiras”, é nitidamente claro o paralelo com o fervor religioso de doutrinas seguindo piamente o que um charlatão diz em um culto ou programa de televisão da madrugada, que levam pessoas a seguirem cegamente princípios distorcidos de poder e persuasão que o guiam à intolerância, racismo, homofobia, misoginia, violência e porque não, até morte. Essas crianças são guiadas pelo líder religioso mirim Isaac (papel icônico de John Franklin) e seu braço direito, o temível ruivo Malachai (Courtney Gains, também excelente), nomes que ficaram eternamente guardados nas mentes dos fãs de terror, que foram criados somente para o filme, pois no conto chamam-se William Renfrew e Craig Boardman, respectivamente, mas convenhamos que os nomes utilizados no longa são bem mais bacanas. Moradores da pequena cidade de Gaitilin, em Nebraska, cuja subsistência está na extensa plantação de milho que rodeia o município, os garotinhos, liderados por Isaac, que por sua vez é um receptáculo da mensagem d’Aquele que caminha entre as fileiras, assassinaram brutalmente todos os adultos e vivem naquela comunidade excêntrica apenas de crianças, enquanto todos aqueles que completam 19 anos são sacrificados para a entidade maligna. O casal Burt (Peter Horton) e Vicky (Linda “Sarah Connor” Hamilton) estão na estrada e acabam sendo obrigados a parar em Gaitlin quando acidentalmente atropelam um garoto que aparece do nada em sua frente. Na verdade o menino havia tido sua jugular cortada por Malachai ao tentar fugir da cidade em busca de ajuda. Após encontrar um daqueles sinistros donos de posto de gasolina que os alertam para ficar longe do local, Diehl (R.G. Armstrong – personagem também ausente no conto), que vai ser morto pelos capetinhas, mesmo sendo de grande valia fornecendo óleo e gasolina para as crianças, os forasteiros conhecem os irmãos Job (Robby Kiger) e Sarah (Anne Marie McEvoy), que são uma espécie de “resistência” a Isaac e sua turma, que aboliu música e brincadeira da vida dos pequenos, sendo que Sarah possui um dom premonitório e pode desenhar o futuro. Vicky é sequestrada e amarrada em uma cruz no milharal, junto com o “Homem de Azul”, que na verdade era o delegado que foi até Gaitlin investigar as mortes, e cabe a Burt tentar resgatá-la, enquanto, quando surto de pequeno poder pouco é bobagem, Malachai se revolta contra Isaac e resolve oferece-lo para Aquele que caminha entre as fileiras. A sequência final é espalhafatosa e com efeitos especiais toscos, novamente inerente à época e ao baixo orçamento. Mas o clima sinistro construído durante todo o filme, abusando de crianças terríveis, aquele aspecto de cidade abandonada, fanatismo religioso e uma música tema que mistura coro de criancinhas com um quê do “Ave Santanis” de A Profecia de Jerry Goldsmith, é muito bem executado. Como estamos falando de um filme de Hollywood, mudanças drásticas foram feitas com relação ao original,
então lá vai um parágrafo com ALERTA DE SPOILERS, e pule para o próximo caso ainda não tenha visto Colheita Maldita.
Enquanto o casal Burt e Vicky estão numa boa, no livro os dois estão passando por um grave problema conjugal e vivem se atacando. Na cena onde eles dirigem pela estrada (que tem uma cópia de “Sombras da Noite” no painel do carro, antologia de contos de King onde foi publicado “As Crianças do Milharal”) originalmente eles estão discutindo fervorosamente e Burt precisa se segurar para não agredi-la física e verbalmente. O final feliz do longa também simplesmente não existe no texto. Enquanto aqui os mocinhos sobrevivem, no conto Vicky é crucificada no milharal e tem seus olhos arrancados, enquanto Burt é assassinado pela deidade sobrenatural logo após encontrar o corpo da esposa. BEEEEEEEM mais legal! Bom, como já disse, Colheita Maldita perdeu muito de seu charme de época. É um filme correto e econômico, que entrega aquilo que promete, tem lá seus momentos de inspiração apesar da conclusão errônea e sem dúvida nenhuma marcou toda uma geração e desperta aquela sensação de saudosismo, mas que se analisado friamente fica aquém de outras adaptações para as telonas das obras de Stephen King, até da mesma época. Colheita Maldita depois ganhou um infindável número de sequências, prequelas, refilmagens, telefilmes e por aí vai. São impressionantes NOVE filmes, todos, sem exceção, de gosto duvidoso e inferiores ao original que começou com tudo, como alardeia a tagline do seu DVD de vigésimo aniversário, que tenho certeza que não agradariam em nada Aquele que caminha entre as fileiras.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/19/481-colheita-maldita-1984/

Nenhum comentário:

Postar um comentário