Direção: Lamberto Bava
Roteiro: Dario Argento, Lamberto Bava, Dardano Sacchetti e Franco Ferrini
Produção: Dario Argento
Elenco: Urbano Barberini, Natasha Hovey, Karl Zinny, Fiore Argento, Paola
Cozzo, Fabiola Toledo
Lamberto Bava é filho do maestro do
macabro Mario Bava, na minha humilde opinião, o melhor cineasta de terror de
todos os tempos. Quem acompanha meus posts aqui no blog sabe meu apreço pela
filmografia de Bava e todo seu esmero com fotografia, jogo de luz e sombra,
domínio impressionante do uso das cores e uma técnica de filmagem ímpar. Além
disso, ser filho de Mario Bava o torna neto de Eugenio Bava, cinegrafista e
artista de efeitos óticos durante o período mudo do cinema italiano. Espera-se
então que Lamberto tenha todas essas qualidade em seu DNA e seja um novo gênio
do cinema. Só que não. Demons –
Filhos das Trevas,
que viria a ser seu mais popular filme, é um bomba trash sem tamanho. É um filme extremamente ruim de doer.
Opa calma, lá. Antes de você, ó nobre leitor, vir me atirar pedras, também
concordo que Demons é
um clássico da bagaceira splatter italiana
e delicioso de ser visto. Além disso era um filme que eu tinha um medo da porra
quando criança nos anos 80. E quem hoje já passou dos trinta como eu, ficava
realmente impressionado com aquela capa do VHS que descansava ali de forma
aterrorizante na prateleira da locadora. Mas cá entre nós, você já
assistiu Demons depois
de velho, ou tem só a lembrança saudosista da infância? Aí é que está o cerne
da questão. O filme é muito mal dirigido, algumas cenas, ângulos e cortes são
toscos, a ideia do uso da metalinguagem do filme dentro do filme é pífia, as
atuações são as mais bisonhas possíveis, assim como seus personagens (com suas
vozes pateticamente dubladas em inglês), clichês oitentistas a rodo, trilha
sonora esquizofrênica (que vai de Heavy Metal até Billy Idol) e ainda me cai um
helicóptero do NADA dentro do cinema em seu ápice!!!! Tipo, o que vale mesmo é
obviamente a sangreira e a selvageria desmedida, os efeitos especiais nojentos
e as pessoas transformadas em grotescos demônios, que por sinal foram
nitidamente copiadas de A Morte do Demônio de Sam Raimi. O fiapo de história é que um novo
cinema está sendo inaugurado no centro da cidade, e um promoter, vestido com
uma enorme túnica preta e uma máscara que se parece a mistura do Fantasma da
Ópera com o Kano do Mortal Kombat, está distribuindo ingressos no metrô para
uma sessão inaugural às dez da noite daquele mesmo dia. Duas amigas e mais um
grupo completamente díspar de pessoas, comparecem à première na mesma noite,
entre eles: um bando de adolescentes; um cafetão estereótipo dos negões dos
filmes blaxploitation com
suas duas funcionárias; um cego e sua namorada/ esposa vagabunda que fica se
pegando com um tiozão careca enquanto o pobre não consegue ver nada; uma
hostess/ lanterninha que parece saber de algo suspeito no começo do filme mas
depois torna-se vítima como todos os outros; e um casal onde o velho é um
rabugento e só fica dando esporro na esposa medrosa. No filme dentro do filme
que é exibido no cinema, um grupo de jovens de moto descobrem uma catacumba e
nela o túmulo de Nostradamus (!!!???) e neste túmulo, além de conter uma
profecia maldita, há uma máscara de demônio que se usada por um ser humano, o mesmo
se transformaria em uma criatura das trevas. E não é que neste mesmo cinema, no
saguão de entrada está a exata máscara, além das motos e de uma estátua de
samurai com uma espada (???!!!!). Uma das raparigas do cafetão (que poderia
muito bem ser interpretado por Samuel L. Jackson em uma refilmagem) coloca-a
sobre o rosto, causando um arranhão em sua bochecha, que logo menos irá
infeccionar, estourar uma nojentíssima bolha de pus e transformá-la em uma
serva do coisa ruim, deixando-a deformada e sedenta por sangue. Tal qual A Morte do Demônio ou os filmes
de zumbi, todas as vítimas atacadas pelos possuídos também são transformados em
demônios, e não demora muito para uma horda de filhos das trevas (assim como
enfatiza o subtítulo que o filme ganhou aqui no Brasil) prender os poucos
sobreviventes no gigantesco cinema multiplex, que lutarão por suas vidas. E
mais, além de todos estes excelentes personagens (sarcasmo), mais um bando de
punks fora da lei, que ficam rodando a cidade cheirando cocaína dentro de uma
latinha de Coca-Cola também entram no cinema, só para aumentar a contagem de
cadáveres. Há três momentos ápices do filme que preciso compartilhar aqui com
vocês: o primeiro é quando a amiga da mocinha que ganhou o ingresso lá no
começo do filme é infectada e ela ao invés de apenas se transformar em um
demônio, literalmente um diabinho, com direito a chifre e tudo, sai de dentro
de seu corpo e sai correndo serelepe para fazer novas vítimas; o segundo é
quando o mocinho da história dá uma de Ash e pega a moto estacionada no saguão
e a espada de samurai (ambos prontamente colocadas ali pela cenografia), e ao
som de metal, sai acelerando pelo cinema decapitando, desmembrando e decepando
todos os possuídos por ali; e por fim, a tal cena quando do nada, um helicóptero,
sim, um helicóptero, cai PERFEITAMENTE no meio da sala de cinema, dando ao
casal de heróis uma oportunidade de escapar pelo buraco que abriu no teto (não
dentro do helicóptero, obviamente). E como se não bastasse, lembra o grupo de
foras da lei que conseguiram entrar no cinema? Quem disse que eles não tinham
utilidade nenhuma na trama? Ao entrarem, eles deixam um dos possuídos, mais
precisamente o cego, sair na rua, que logo ataca dois policiais que estavam
atrás dos marginais, e uma infestação generalizada de demônios começa a dominar
o mundo, trazendo caos, incêndios, saques, pilhagens e centenas de mortes,
condenado o mundo ao juízo final, como nossos heróis descobrem ao conseguir
escapar do cinema e serem resgatados por uma família em um jipe, armados até os
dentes, prontos para oferecer a resistência e tentar varrer aquela imundice
infernal da Terra. É mole? Agora sabe o que é o mais chocante em Demons – Filhos das Trevas? É o tanto
de gente boa envolvida nesta desgraça. Primeiro que o filme é produzido por
ninguém menos que Dario Argento. Isso por si só já deveria ser o suficiente
para um filme pouco mais classudo, sem contar o sobrenome da família Bava em
jogo. Tanto que o nome do produtor aparece primeiro que o diretor na hora dos
créditos iniciais. E como se não bastasse Argento produzi-lo, ele ainda assina
o roteiro ao lado de Dardano Sacchetti, que tem em seu currículo nada menos
que O Gato de Nove Caudas do próprio Argento, o
excelente A Mansão da Morte do Bava pai, Zumbi 2 – A Volta dos Mortos e tantos outros de Lucio Fulci.
E para completar, a trilha sonora é composta pelo brasileiro Claudio Simonetti,
habitual parceiro de Argento e o diretor assistente ainda foi Michele Soavi em
começo de carreira, que mais tarde dirigiria A Catedrale o clássico Pelo Amor e Pela Morte. Enfim, é muita gente boa junta para fazer
um filme tão ruim! Mas OK, Demos –
Filhos das Trevas é diversão pura, isso é inegável. É mais um
daqueles filmes saudosistas, que não pode se dar como sério e a melhor coisa a
se fazer é deixar se levar pela podreira e pelo jorro de sangue ininterrupto
que transborda para fora da sua tela de televisão. Por mais que tecnicamente
seja uma bagaceira em todos os sentidos, qualquer fã de filme de terror precisa
assisti-lo pelo menos uma vez na vida. O pior de tudo é que o filme fez tanto
sucesso que ainda ganhou mais uma sequência: Demons 2 –
Eles Voltaram, também dirigida por Lamberto e ainda uma outra
“continuação não-oficial”, chamada de Demons 3 – O Ogro,
que ganhou esse título apenas para pegar carona no sucesso dos dois filmes
anteriores, e não tem absolutamente nada a ver com eles. Detalhe pessoal
curioso: eu ganhei certo Natal o box em DVD com os três Demons de uma ex-sogra
minha. Que tipo de sogra dá um box em DVD da trilogia Demons em pleno Natal, a
festa cristã???? Só se for para seu genro preferido!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/05/492-demons-filhos-das-trevas-1985/
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