segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

#492 1985 DEMONS FILHOS DAS TREVAS (Dèmoni / Demons, Itália)


Direção: Lamberto Bava
Roteiro: Dario Argento, Lamberto Bava, Dardano Sacchetti e Franco Ferrini
Produção: Dario Argento
Elenco: Urbano Barberini, Natasha Hovey, Karl Zinny, Fiore Argento, Paola Cozzo, Fabiola Toledo

Lamberto Bava é filho do maestro do macabro Mario Bava, na minha humilde opinião, o melhor cineasta de terror de todos os tempos. Quem acompanha meus posts aqui no blog sabe meu apreço pela filmografia de Bava e todo seu esmero com fotografia, jogo de luz e sombra, domínio impressionante do uso das cores e uma técnica de filmagem ímpar. Além disso, ser filho de Mario Bava o torna neto de Eugenio Bava, cinegrafista e artista de efeitos óticos durante o período mudo do cinema italiano. Espera-se então que Lamberto tenha todas essas qualidade em seu DNA e seja um novo gênio do cinema. Só que não. Demons – Filhos das Trevas, que viria a ser seu mais popular filme, é um bomba trash sem tamanho. É um filme extremamente ruim de doer. Opa calma, lá. Antes de você, ó nobre leitor, vir me atirar pedras, também concordo que Demons é um clássico da bagaceira splatter italiana e delicioso de ser visto. Além disso era um filme que eu tinha um medo da porra quando criança nos anos 80. E quem hoje já passou dos trinta como eu, ficava realmente impressionado com aquela capa do VHS que descansava ali de forma aterrorizante na prateleira da locadora. Mas cá entre nós, você já assistiu Demons depois de velho, ou tem só a lembrança saudosista da infância? Aí é que está o cerne da questão. O filme é muito mal dirigido, algumas cenas, ângulos e cortes são toscos, a ideia do uso da metalinguagem do filme dentro do filme é pífia, as atuações são as mais bisonhas possíveis, assim como seus personagens (com suas vozes pateticamente dubladas em inglês), clichês oitentistas a rodo, trilha sonora esquizofrênica (que vai de Heavy Metal até Billy Idol) e ainda me cai um helicóptero do NADA dentro do cinema em seu ápice!!!! Tipo, o que vale mesmo é obviamente a sangreira e a selvageria desmedida, os efeitos especiais nojentos e as pessoas transformadas em grotescos demônios, que por sinal foram nitidamente copiadas de A Morte do Demônio de Sam Raimi. O fiapo de história é que um novo cinema está sendo inaugurado no centro da cidade, e um promoter, vestido com uma enorme túnica preta e uma máscara que se parece a mistura do Fantasma da Ópera com o Kano do Mortal Kombat, está distribuindo ingressos no metrô para uma sessão inaugural às dez da noite daquele mesmo dia. Duas amigas e mais um grupo completamente díspar de pessoas, comparecem à première na mesma noite, entre eles: um bando de adolescentes; um cafetão estereótipo dos negões dos filmes blaxploitation com suas duas funcionárias; um cego e sua namorada/ esposa vagabunda que fica se pegando com um tiozão careca enquanto o pobre não consegue ver nada; uma hostess/ lanterninha que parece saber de algo suspeito no começo do filme mas depois torna-se vítima como todos os outros; e um casal onde o velho é um rabugento e só fica dando esporro na esposa medrosa. No filme dentro do filme que é exibido no cinema, um grupo de jovens de moto descobrem uma catacumba e nela o túmulo de Nostradamus (!!!???) e neste túmulo, além de conter uma profecia maldita, há uma máscara de demônio que se usada por um ser humano, o mesmo se transformaria em uma criatura das trevas. E não é que neste mesmo cinema, no saguão de entrada está a exata máscara, além das motos e de uma estátua de samurai com uma espada (???!!!!). Uma das raparigas do cafetão (que poderia muito bem ser interpretado por Samuel L. Jackson em uma refilmagem) coloca-a sobre o rosto, causando um arranhão em sua bochecha, que logo menos irá infeccionar, estourar uma nojentíssima bolha de pus e transformá-la em uma serva do coisa ruim, deixando-a deformada e sedenta por sangue. Tal qual A Morte do Demônio ou os filmes de zumbi, todas as vítimas atacadas pelos possuídos também são transformados em demônios, e não demora muito para uma horda de filhos das trevas (assim como enfatiza o subtítulo que o filme ganhou aqui no Brasil) prender os poucos sobreviventes no gigantesco cinema multiplex, que lutarão por suas vidas. E mais, além de todos estes excelentes personagens (sarcasmo), mais um bando de punks fora da lei, que ficam rodando a cidade cheirando cocaína dentro de uma latinha de Coca-Cola também entram no cinema, só para aumentar a contagem de cadáveres. Há três momentos ápices do filme que preciso compartilhar aqui com vocês: o primeiro é quando a amiga da mocinha que ganhou o ingresso lá no começo do filme é infectada e ela ao invés de apenas se transformar em um demônio, literalmente um diabinho, com direito a chifre e tudo, sai de dentro de seu corpo e sai correndo serelepe para fazer novas vítimas; o segundo é quando o mocinho da história dá uma de Ash e pega a moto estacionada no saguão e a espada de samurai (ambos prontamente colocadas ali pela cenografia), e ao som de metal, sai acelerando pelo cinema decapitando, desmembrando e decepando todos os possuídos por ali; e por fim, a tal cena quando do nada, um helicóptero, sim, um helicóptero, cai PERFEITAMENTE no meio da sala de cinema, dando ao casal de heróis uma oportunidade de escapar pelo buraco que abriu no teto (não dentro do helicóptero, obviamente). E como se não bastasse, lembra o grupo de foras da lei que conseguiram entrar no cinema? Quem disse que eles não tinham utilidade nenhuma na trama? Ao entrarem, eles deixam um dos possuídos, mais precisamente o cego, sair na rua, que logo ataca dois policiais que estavam atrás dos marginais, e uma infestação generalizada de demônios começa a dominar o mundo, trazendo caos, incêndios, saques, pilhagens e centenas de mortes, condenado o mundo ao juízo final, como nossos heróis descobrem ao conseguir escapar do cinema e serem resgatados por uma família em um jipe, armados até os dentes, prontos para oferecer a resistência e tentar varrer aquela imundice infernal da Terra. É mole? Agora sabe o que é o mais chocante em Demons – Filhos das Trevas? É o tanto de gente boa envolvida nesta desgraça. Primeiro que o filme é produzido por ninguém menos que Dario Argento. Isso por si só já deveria ser o suficiente para um filme pouco mais classudo, sem contar o sobrenome da família Bava em jogo. Tanto que o nome do produtor aparece primeiro que o diretor na hora dos créditos iniciais. E como se não bastasse Argento produzi-lo, ele ainda assina o roteiro ao lado de Dardano Sacchetti, que tem em seu currículo nada menos que O Gato de Nove Caudas do próprio Argento, o excelente A Mansão da Morte do Bava pai, Zumbi 2 – A Volta dos Mortos e tantos outros de Lucio Fulci. E para completar, a trilha sonora é composta pelo brasileiro Claudio Simonetti, habitual parceiro de Argento e o diretor assistente ainda foi Michele Soavi em começo de carreira, que mais tarde dirigiria A Catedrale o clássico Pelo Amor e Pela Morte. Enfim, é muita gente boa junta para fazer um filme tão ruim! Mas OK, Demos – Filhos das Trevas é diversão pura, isso é inegável. É mais um daqueles filmes saudosistas, que não pode se dar como sério e a melhor coisa a se fazer é deixar se levar pela podreira e pelo jorro de sangue ininterrupto que transborda para fora da sua tela de televisão. Por mais que tecnicamente seja uma bagaceira em todos os sentidos, qualquer fã de filme de terror precisa assisti-lo pelo menos uma vez na vida. O pior de tudo é que o filme fez tanto sucesso que ainda ganhou mais uma sequência: Demons 2 – Eles Voltaram, também dirigida por Lamberto e ainda uma outra “continuação não-oficial”, chamada de Demons 3 – O Ogro, que ganhou esse título apenas para pegar carona no sucesso dos dois filmes anteriores, e não tem absolutamente nada a ver com eles. Detalhe pessoal curioso: eu ganhei certo Natal o box em DVD com os três Demons de uma ex-sogra minha. Que tipo de sogra dá um box em DVD da trilogia Demons em pleno Natal, a festa cristã???? Só se for para seu genro preferido!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/08/05/492-demons-filhos-das-trevas-1985/

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