Direção: Charles
E. Sellier Jr.
Roteiro: Michael Hickey,
Paul Caimi (história)
Produção: Ira Barmak, Scott
Schneid e Dennis Whitehead (Produtores Executivos)
Elenco: Lilyan
Chauvin, Gilmer McCormick, Toni Nero, Robert Brian Wilson, Britt Leach, Nancy
Borgenicht, H.E.D. Redford
Paz na terra aos homens de boa
vontade uma ova! Natal Sangrento é o politicamente incorretíssimo slasher oitentista que mete um
machado nas mãos de um maluco psicopata vestido de Papai Noel nas proximidades
da Noite Feliz, que sofreu todo tipo de abuso físico e psicológico durante a
infância e tem seus 15 minutos de parafuso solto maníaco. Fato que os slashers movies aproveitavam qualquer data comemorativa para sair
trucidando gente por aí. Era Halloween, sexta-feira 13, dia dos namorados, e
por aí vai. Mas aí chegamos ao ponto máximo da subversão, a festa cristã, sendo
usada como pano de fundo para o banho de sangue, e olha que nem foi porque o
maluco ficou ouvindo muito a enlouquecedora canção “Então é Natal” da Simone
que bombardeia nossos tímpanos na ocasião festiva. Mas o principal aspecto de Natal
Sangrento foi ele ter se tornado Cult
exatamente pela perseguição que ele gerou por chutar o pau da barraca. Imagine
o ultraje para os carolas de plantão e os defensores dos bons costumes ao ver o
Papai Noel, bom velhinho símbolo máximo da bondade e do altruísmo matando gente
com machadada, flechada, empalhamento, estrangulamento, cortando um sujeito com
estilete, decapitando esquiadores e por aí vai? Para você ter uma ideia, o
filme ficou em cartaz apenas duas semanas. Pais conservadores fizeram um
piquete contra a distribuidora, Tristar Pictures, coletando um abaixo assinado,
tiveram apoio de importantes críticos cinematográficos como Roger Ebert e Gene
Siskel, e Natal Sangrento foi retirado de cartaz depois de seis dias,
proibido na Inglaterra onde nem chegou a estrear (claro que por conta do BBFC)
e só viu a luz da vida novamente quando lançado em VHS em sua versão sem
cortes. E um detalhe curiosíssimo é que ele entrou em cartaz no mesmo dia de A Hora do Pesadelo,
e mesmo com um lançamento limitado, chegou a faturar meio milhão a mais que o
filme de Freddy Krueger, que depois se transformaria no ícone que todos
conhecemos (que acabou faturando mais no final das contas por ter mais tempo de
exibição). Isso só serviu para tornar Natal Sangrento icônico,
cultuado e um bastião vivo anti-coxice. Mas cá entre nós, a trama é bem
sórdida. O pobre garoto Billy Chapman (aos oito anos interpretado por Danny
Wagner) está excitadíssimo com o Natal até seu avô maluco que vive no asilo
sair da catatonia apenas para assustá-lo com uma história macabra sobre o Papai
Noel. Na mesma noite ele é testemunha ocular do assassinato de seus pais (e
estupro de sua mãe, diga-se de passagem) por um meliante vestido da
personificação de São Nicolau. Pronto, já é motivo mais que suficiente para o
guri ficar traumatizado pelo resto da vida e odiar o Natal. Passando a infância
e a pré-adolescência em um orfanato comandado por freiras, Billy agora com 15
anos (Jonathan Best) comerá o pão que o diabo amassou na mão da intolerante e
severa Madre Superiora (Lilyan Chauvin) até o fatídico dia que será flagrado
espiando uma freirinha dando para um rapaz e levar uma daquelas surras de
cintas dolorosíssimas. A partir daí, sexo e castigo passaram a se misturar e
ele incorpora os ensinamentos da Madre Superiora de que pecado merece uma
punição severa. Mas aos 18 anos (agora vivido por Robert Brian Wilson), Billy
está regenerado. É um bom sujeito, não bebe, é trabalhador e tudo vai mil
maravilhas em sua vida e em seu emprego em uma loja de brinquedos, onde tem até
uma paquerazinha. Até que chega o fatídico Natal. Os seus chefes o vestem de
Papai Noel e então o rapaz chega às raias da loucura quando na festinha da
firma vê um dos funcionários tentando estuprar outra funcionária no depósito.
Daí meu amigo, Billy se transforma no psicopata vestido de vermelho, preto e
branco e sai por aí aplicando suas deturpadas diretrizes de punição. Há
diversas cenas emblemáticas durante o impulso assassino do rapaz. Entre elas
quando ele ceifa a vida da scream
queen Linea Quigley (que ADORA aparecer nua em todos os filmes, como a
punk de A Volta dos Mortos-Vivos ou a biscate de A Noite dos
Demônios) pregando a moça nos chifres da cabeça de um veado empalhado de
troféu, ou o momento terrivelmente delicioso cheio de humor negro quando um
policial, na caça do Papai Noel psicopata, descarrega o pente na pessoa errada,
o padre do orfanato fantasiado que não parou aos comandos do policial por ser
surdo! E ainda meta na conta do politicamente incorreto do longa o desfecho
– ALERTA DE SPOILER –
quando Billy vai ao encontro da
Madre Superiora para se vingar e é baleado friamente na frente das criancinhas,
provavelmente dando origem a diversos outros “Billies”. Mas daí para achar que
o filme influenciaria a molecada e passaria uma imagem perversa do Papai Noel é
demais para minha cabeça. Reflexo do conservadorismo pungente da Era Reagan. Natal
Sangrento provocou uma perseguição feroz e injusta ao melhor estilo
“tochas e forcados” da inquisição e tudo bem que esse anti-marketing até ajudou
no sucesso posterior do filme, mas é extremamente maléfico a qualquer sociedade
esse tipo de censura. Hoje vimos até Papais Noeis assassinos em séries de TV,
como na segunda temporada de American Horror Story. E apesar dos apesares, o
maior vilão do filme não é Billy, e sim a Madre Superiora e seus preceitos
católicos intolerantes e arcaicos que são usados de forma firme e forte até
hoje. Natal Sangrento teve mais quatro continuações e rendeu um Horrorcast
natalino. Recomendo assisti-lo logo depois da ceia com a família toda reunida
ou então no horário do especial do Roberto Carlos. Esse sim merecia uma punição
de Billy com seu machado!
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/07/25/485-natal-sangrento-1984/
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