domingo, 7 de fevereiro de 2016

#466 1983 ACAMPAMENTO SINISTRO (Sleepaway Camp, EUA)


Direção: Robert Hiltzik
Roteiro: Robert Hiltzik
Produção: Jerry Silva, Michele Tatosian, Robert Hilzik (Produtor Executivo)
Elenco: Felissa Rose, Jonathan Tiersten, Karen Fields, Christopher Collet, Mike Mellin, Katherine Kamhi

Posso estar cometendo alguma injustiça, mas Acampamento Sinistro tem o final mais FODA de todos os filmes slasher EVER! Como é impossível analisar o longa sem entregar SPOILERS, então aí já fica meu aviso para se você não assistiu ao filme, leia por sua conta e risco ou volte só depois de vê-lo. E o mais curioso nessa produção escrita, dirigida e produzida por Robert Hiltzik (que o dedica à senhora sua mãe) é que ele é uma cópia carbono dos demais slashers que dominavam às salas de exibição durante o começo dos anos 80, com mortes off screen que não impressionam em nada, uma trama cheia de personagens descartáveis e uma tentativa pífia de enganar o espectador sobre a identidade do assassino, óbvia desde o primeiro segundo, até que aquele final, ahhhhh, aquele final, coloca Acampamento Sinistro num respeitoso panteão do cinema de terror. Esse pequeno clássico consegue ser chocante e ousado, e não pelo motivo da violência desmedida, claramente associado a esse tipo de produção, mas pela exploração de dois temas que ainda são tabus em pleno 2014, quem dera há exatos 30 anos. O primeiro ponto é a história de colocar uma criança como assassina. Isso por si só já é de quebrar paradigmas. O segundo ponto, é o simples fato fodástico do(a) assassino(a) ser um transex. A icônica personagem Angela (Felissa Rose), que lembra em seu final uma menina das cavernas, na verdade é um garoto, ex-Peter, que tinha um pai homossexual (a polêmica não tem fim), morto junto de sua irmã durante um acidente de barco, que ao ficar órfão, passa a ser criado pela tia, LOUCA DE PEDRA, que sempre quis ter uma menina, e como já tinha um filho, resolveu transformar Peter em Angela. Bizarríssimo! Pois bem, Angela e seu primo Ricky (Jonathan Tiersten) vão para um daqueles típicos acampamentos americanos de verão, cheio de púberes descobrindo a sexualidade e monitores com hormônios em ebulição usando as roupas mais ridículas que a moda dos anos 80 poderia prover. Com seu jeito esquisitão e calado, não demorará para Angela começar a sofrer bullying dos garotos e principalmente das meninas, incluindo aí as piriguetes Judy (Karen Fields) e Meg (Katherine Kamhi). Bom, fica claro que todos aqueles que tripudiarem em cima da então garota, terão um destino trágico. As mortes vão desde afogamento, ataque de um ninho de vespas estrategicamente colocado enquanto um sujeito fazia o número dois, uma garganta atravessada por uma flecha, uma garota esfaqueada nas costas e outra queimada com sua chapinha (infelizmente cortada pelo famigerado MPAA para conseguir uma classificação menor). Mas não posso esquecer a morte do cozinheiro pedófilo, que tenta molestar Angela (como se não tivesse polêmica suficiente no filme) terrivelmente queimado por uma panela de água fervente. Enquanto o diretor e roteirista brincam de forma nada eficaz com a hipótese de Angela ou Ricky serem a identidade do misterioso assassino (que todo mundo fala “ah, é você”, logo antes de ter sua vida ceifada), rola um romancezinho entre Paul (Christopher Collet), melhor amigo de Ricky e sua prima, que irá ajudar ainda mais a embaralhar a já doentia mente do transexual, trazendo à tona todo seu trauma, que além da confusão imposta por sua tia por conta da imposição da oposição sexual, tem o fato de ter pego, com seu irmão, o pai transando com outro homem. Você percebe que Angela/Peter tem muito mais motivo para sair por aí matando gente do que qualquer sujeito com máscara de hóquei em outros acampamentos por aí. Pois bem, o final grosso, bruto, chocante, em aberto, é realmente de impressionar. Angela/Peter convida Paul para nadar pelados, a(o) garota(o) sequer tomava banho junto com as outras e já havia repelido Paul em uma tentativa anterior de bulinada, e são encontrados por dois monitores, ensanguentada, segurando uma faca na mão, dando um grito gutural, e completamente sem roupa, mostrando que possui um pênis, e então que por meio de flashback é mostrada a bagunça que sua tia fez em sua vida, logo após a traumática morte do pai e irmã. Claro que a atriz de 13 anos na época não seria filmada nua com uma prótese de pau, então um garoto (que teve de se embebedar para conseguir fazer a cena), depilou-se, usou uma máscara de látex e fez a vez da transexual. Mas aquela cena final é impactante ao extremo, principalmente por conta da regressão à selvageria quase que primitiva, animalesca, que chega até a lembrar uma mistura da personagem de Pollyanna McIntosh de The Woman – Nem Todo Monstro Vive na Selva com aquele boneco que persegue Karen Black em Trilogia de Terror. E também vale um adendo à maquiagem do longa, muito bem executada por Ed French. Apesar das mortes off screen, os cadáveres encontrados são muito bem feitos, principalmente do sujeito queimado e do garoto encontrado afogado. Acampamento Sinistro teve um parco orçamento de 350 mil dólares, o que obviamente atrapalhará em certos momentos o desenvolver do filme, e as cenas de suspense não são nada interessantes, mas que não prejudica seu resultado por conta do final. Foi uma empreitada autoral e ousada de Robert Hiltzik que fez um baita sucesso durante sua limitada estreia nos cinemas de Nova York, ganhou um tremendo boca a boca e tornou-se esse objeto de culto para os fãs de horror.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/06/28/466-acampamento-sinistro-1983/

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