Direção: Robert Hiltzik
Roteiro: Robert Hiltzik
Produção: Jerry Silva, Michele
Tatosian, Robert Hilzik (Produtor Executivo)
Elenco: Felissa
Rose, Jonathan Tiersten, Karen Fields, Christopher Collet, Mike Mellin,
Katherine Kamhi
Posso estar cometendo alguma
injustiça, mas Acampamento Sinistro tem o final mais FODA de todos os
filmes slasher EVER! Como é
impossível analisar o longa sem entregar SPOILERS, então aí já fica meu
aviso para se você não assistiu ao filme, leia por sua conta e risco ou volte
só depois de vê-lo. E o mais curioso nessa produção escrita, dirigida e
produzida por Robert Hiltzik (que o dedica à senhora sua mãe) é que ele é uma
cópia carbono dos demais slashers que dominavam às salas de exibição
durante o começo dos anos 80, com mortes off screen que não
impressionam em nada, uma trama cheia de personagens descartáveis e uma
tentativa pífia de enganar o espectador sobre a identidade do assassino, óbvia
desde o primeiro segundo, até que aquele final, ahhhhh, aquele final, coloca Acampamento
Sinistro num respeitoso panteão do cinema de terror. Esse pequeno clássico
consegue ser chocante e ousado, e não pelo motivo da violência desmedida,
claramente associado a esse tipo de produção, mas pela exploração de dois temas
que ainda são tabus em pleno 2014, quem dera há exatos 30 anos. O primeiro
ponto é a história de colocar uma criança como assassina. Isso por si só já é
de quebrar paradigmas. O segundo ponto, é o simples fato fodástico do(a) assassino(a)
ser um transex. A icônica personagem Angela (Felissa Rose), que lembra em seu
final uma menina das cavernas, na verdade é um garoto, ex-Peter, que tinha um
pai homossexual (a polêmica não tem fim), morto junto de sua irmã durante um
acidente de barco, que ao ficar órfão, passa a ser criado pela tia, LOUCA DE
PEDRA, que sempre quis ter uma menina, e como já tinha um filho, resolveu
transformar Peter em Angela. Bizarríssimo! Pois bem, Angela e seu primo Ricky
(Jonathan Tiersten) vão para um daqueles típicos acampamentos americanos de
verão, cheio de púberes descobrindo a sexualidade e monitores com hormônios em
ebulição usando as roupas mais ridículas que a moda dos anos 80 poderia prover.
Com seu jeito esquisitão e calado, não demorará para Angela começar a sofrer bullying dos
garotos e principalmente das meninas, incluindo aí as piriguetes Judy (Karen
Fields) e Meg (Katherine Kamhi). Bom, fica claro que todos aqueles que
tripudiarem em cima da então garota, terão um destino trágico. As mortes vão desde
afogamento, ataque de um ninho de vespas estrategicamente colocado enquanto um
sujeito fazia o número dois, uma garganta atravessada por uma flecha, uma
garota esfaqueada nas costas e outra queimada com sua chapinha (infelizmente
cortada pelo famigerado MPAA para conseguir uma classificação menor). Mas não
posso esquecer a morte do cozinheiro pedófilo, que tenta molestar Angela (como
se não tivesse polêmica suficiente no filme) terrivelmente queimado por uma
panela de água fervente. Enquanto o diretor e roteirista brincam de forma nada
eficaz com a hipótese de Angela ou Ricky serem a identidade do misterioso
assassino (que todo mundo fala “ah, é você”, logo antes de ter sua vida
ceifada), rola um romancezinho entre Paul (Christopher Collet), melhor amigo de
Ricky e sua prima, que irá ajudar ainda mais a embaralhar a já doentia mente do
transexual, trazendo à tona todo seu trauma, que além da confusão imposta por
sua tia por conta da imposição da oposição sexual, tem o fato de ter pego, com
seu irmão, o pai transando com outro homem. Você percebe que Angela/Peter tem
muito mais motivo para sair por aí matando gente do que qualquer sujeito com
máscara de hóquei em outros acampamentos por aí. Pois bem, o final grosso,
bruto, chocante, em aberto, é realmente de impressionar. Angela/Peter convida
Paul para nadar pelados, a(o) garota(o) sequer tomava banho junto com as outras
e já havia repelido Paul em uma tentativa anterior de bulinada, e são
encontrados por dois monitores, ensanguentada, segurando uma faca na mão, dando
um grito gutural, e completamente sem roupa, mostrando que possui um pênis, e
então que por meio de flashback é mostrada a bagunça que sua tia fez
em sua vida, logo após a traumática morte do pai e irmã. Claro que a atriz de
13 anos na época não seria filmada nua com uma prótese de pau, então um garoto
(que teve de se embebedar para conseguir fazer a cena), depilou-se, usou uma
máscara de látex e fez a vez da transexual. Mas aquela cena final é impactante
ao extremo, principalmente por conta da regressão à selvageria quase que
primitiva, animalesca, que chega até a lembrar uma mistura da personagem de
Pollyanna McIntosh de The Woman – Nem Todo Monstro Vive na Selva com
aquele boneco que persegue Karen Black em Trilogia de Terror. E também
vale um adendo à maquiagem do longa, muito bem executada por Ed French. Apesar
das mortes off screen, os cadáveres encontrados são muito bem feitos,
principalmente do sujeito queimado e do garoto encontrado afogado. Acampamento
Sinistro teve um parco orçamento de 350 mil dólares, o que obviamente
atrapalhará em certos momentos o desenvolver do filme, e as cenas de suspense
não são nada interessantes, mas que não prejudica seu resultado por conta do
final. Foi uma empreitada autoral e ousada de Robert Hiltzik que fez um baita
sucesso durante sua limitada estreia nos cinemas de Nova York, ganhou um
tremendo boca a boca e tornou-se esse objeto de culto para os fãs de horror.
FONTE:
https://101horrormovies.com/2014/06/28/466-acampamento-sinistro-1983/
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